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domingo, 1 de janeiro de 2023

A PICANHA PROMETIDA AO POVO POR LULA - Sérgio Alves Oliveira

Sabidamente, o pessoal do PT, e “familiares”, tem muita afinidade com os negócios da carne. Investiram pesado nesse negócio. Tem “petralha” por aí com tanta terra povoada de bois que nessas terras o sol nunca se põe.

Por outro lado, o maior exportador de carne bovina fresca e congelada do Brasil integra o grupo da JBS, ”íntima” do PT, e que se viu às voltas com inúmeros processos de corrupção durante as gestões do PT, de 2013 a 2016, com muita propina distribuída entre os “fiéis” dessa legenda partidária.

Qualquer dona de casa brasileira  tem curso de pós graduação no assunto e bem sabe  que o marco divisório entre a facilidade e a dificuldade, pelo alto preço, de comprar carne, especialmente de gado bovino, pode ser fixado no ano de 2016,final do governo de Dilma Rousseff, do PT, que em agosto desse mesmo ano foi impichada pelo Congresso Nacional.

Mas um pouco antes de deixar o Governo, Dilma foi “credenciada” pela JBS para ir aos Estados Unidos vender a carne bovina brasileira,da qual era o principal exportador. Com todas as pompas do mundo,Dilma  embarcou no “seu” Airbus Presidencial A-219, voando para os Estados Unidos  para “cumprir” missão que lhe fora dada de vender  a carne da JBS para os “gringos”, bem mais ricos que os brasileiros. Lá chegando,“festivamente” foi recebida pelo Presidente americano  “esquerdopata” Barack Obama, que lhe abriu as portas para os negócios  que viera fazer.

Durante o IX Comitê Consultivo Agrícola (CCA),realizado no primeiro semestre 2016,em Washington,D.C, finalmente foi aprovada a compra da carne bovina brasileira fresca e congelada, logrando êxito a viagem presidencial  para vender a carne da JBS.

Os “economistas” informais que vivem o dia-a-dia das famílias brasileiras conseguem perfeitamente distinguir que principalmente a partir da abertura do mercado norte-americano para a carne bovina brasileira começou a ficar quase impossível aos brasileiros consumir carne de gado, em virtude de uma “concorrência desleal” entre os consumidores “gringos”, com dólares no bolso e maior poder aquisitivo, e os brasileiros, com “reais”, e menor poder aquisitivo. 

É claro que a partir desse marco, o referencial para fixação do preço da carne no Brasil passou a ser em dólares dos Estados Unidos,praticamente tornando impossível  a compra de carne pelos brasileiros de mais baixa renda. De modo especial o quilo do corte de “picanha”passou a ser cobrado hoje  no Brasil em torno de 17 a 18 dólares, só acessível aos ricos. A costela, que “era” o churrasco dos pobres,está sendo comercializada  em torno dos 8 dólares, também inacessível.

“Engraçado” em toda essa história é ´que essa alta extraordinária do preço da carne bovina no Brasil deu-se exatamente durante um governo do PT, que deveria ser para os “pobres”, como costumam dizer, mas que acabaram favorecendo  um determinado “financiador” de campanhas do PT e corruptos.

“Picanha-para-o-trabalhador”, conforme a promessa descarada de Lula, durante a sua campanha eleitoral, jamais será possível com um salário mínimo de  pouco mais que  200 dólares. Seria preciso um salário mínimo de 1.000 dólares para poder  comer picanha.

Sou gaúcho, da classe média, e por tradições culinárias de vez em quando me “cobram” fazer algum churrasco. Mas minha churrasqueira nem se “lembra” mais o que é uma picanha.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

 

domingo, 27 de março de 2022

Guerra na Ucrânia: os três ciberataques russos que as potências ocidentais mais temem

 BBC

Joe Tidy - Repórter de segurança cibernética

Segundo Biden, a inteligência norte-americana acredita haver indícios de que a Rússia está planejando um ataque cibernético contra os Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, convocou empresas e organizações nos EUA a "trancar suas portas digitais". Segundo Biden, a inteligência norte-americana acredita haver indícios de que a Rússia está planejando um ataque cibernético contra seu país.

Autoridades do Reino Unido responsáveis por tecnologia e internet estão de acordo com os pedidos da Casa Branca por "aumento das precauções de segurança cibernética", embora não tenho sido fornecida nenhuma evidência de que a Rússia esteja planejando um ataque cibernético.

Moscou declarou em outras oportunidades que acusações do tipo são "russofóbicas".

No entanto, a Rússia é uma superpotência cibernética com hackers e grande capacidade de ataques disruptivos e potencialmente destrutivos. Do ponto de vista cibernético, a Ucrânia foi relativamente pouco atacada no atual conflito entre os dois países, mas especialistas agora apontam preocupações de que os alvos sejam os aliados da Ucrânia. "Os alertas de Biden parecem plausíveis, principalmente porque países do Ocidente determinaram mais sanções contra a Rússia, houve o envolvimento de ativistas hackers na briga e a movimentação em terra da invasão aparentemente não está saindo como planejado", diz Jen Ellis, da empresa de segurança cibernética Rapid7.

Abaixo, os ataques que os especialistas mais temem:

"BlackEnergy"

A Ucrânia é frequentemente descrita como um campo de testes dos hackers russos, por meio de de ataques realizados aparentemente com intuito de experimentar técnicas e ferramentas.

Em 2015, a rede elétrica da Ucrânia foi atingida por um ataque cibernético chamado "BlackEnergy", que causou um apagão de curta duração que afetou 80 mil pessoas no oeste do país.

Estação de energia na Ucrânia
Reuters
A rede elétrica ucraniana já foi alvo de hackers mais de uma vez

Quase um ano depois, outro ataque cibernético, que ficou conhecido como "Industroyer", bloqueou o fornecimento de energia elétrica em cerca de um quinto de Kiev, a capital ucraniana, por cerca de uma hora.

[comentário/pergunta de leigos: ministro Barroso,  após a leitura atenta da presente matéria, que comprova a força dos hackers, perguntamos: como é possível que  só o sistema de informática do TSE seja a prova de ataques hackers.?]

Os EUA e a União Europeia atribuíram o incidente a hackers militares russos.

"É totalmente possível que a Rússia tente executar um ataque como esse contra países ocidentais para demonstrar seu poderio e mandar um recado", diz a responsável pela segurança cibernética ucraniana Marina Krotofil, que ajudou a investigar os ataques de corte de energia.

"No entanto, nenhum ataque cibernético contra uma rede elétrica resultou em interrupção prolongada do fornecimento de energia. A execução de ataques cibernéticos de maneira eficiente em sistemas complexos de engenharia é extremamente difícil. Alcançar um efeito prejudicial prolongado muitas vezes é impossível devido aos esquemas de proteção."

Especialistas como Krotofil também levantam a hipótese de que esse tipo de conflito possa se voltar contra a Rússia, já que países ocidentais também têm condições de atingir redes russas.

A força do NotPetya

O NotPetya é considerado o ataque cibernético que mais prejuízos financeiros causou na história. A autoria foi ligada pelas autoridades dos EUA, Reino Unido e UE a um grupo de hackers militares russos.

O software com poder de destruição foi colocado em uma atualização de um programa de computador bastante usado para contabilidade na Ucrânia, mas se espalhou pelo mundo, devastando sistemas de computador de milhares de empresas e causando aproximadamente US$ 10 bilhões em danos.

Hackers norte-coreanos também foram acusados ??de causar grandes transtornos com um ataque parecidos um mês antes.

WannaCry
Reprodução/Webroot
O 'pedido de resgate' que aparecia com o worm WannaCry

O "worm" (um tipo de vírus ainda mais destrutivo) WannaCry foi usado para truncar ou borrar dados em aproximadamente 300 mil computadores em 150 países. O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido foi forçado a cancelar um grande número de consultas médicas."Esse tipo de ataque pode ser a maior oportunidade para gerar caos em massa, instabilidade econômica e até perda de vidas", diz Jen Ellis.

"Pode ser difícil de se imaginar, mas a infraestrutura crítica [de sistemas] geralmente depende de tecnologias conectadas, tal qual nossas vidas no mundo moderno. Vimos o potencial para isso com o impacto do WannaCry nos hospitais do Reino Unido."

Alan Woodward, professor e cientista da computação da Universidade de Surrey, no Reino Unido, lembra que esses ataques também trazem riscos para a Rússia."Esses tipos de hacks incontroláveis ??são muito mais parecidos com guerra biológica, pois é muito difícil atingir infraestrutura crítica de forma específica, localizada. O WannaCry e o NotPetya também fizeram vítimas na Rússia."

Ataque ao fornecimento de combustível

Em maio de 2021, vários Estados dos EUA adotaram esquemas de emergência depois que hackers conseguiram bloquear as operações de um oleoduto importante.

Filas em postos de combustível nos EUA
Getty Images
Ataque cibernético provocou corrida a postos de combustível nos EUA

O oleoduto transporta 45% do suprimento de diesel, gasolina e combustível de aviação da Costa Leste dos Estados Unidos. O ataque provocou uma corrida a postos de combustível.

Esse ataque não foi realizado por hackers ligados ao governo russo, mas pelo grupo de ransomware (modalidade em que criminosos exigem pagamento para desbloquear um sistema) DarkSide, que especialistas apontam estar baseado na Rússia.

A empresa afetada admitiu pagar aos criminosos US$ 4,4 milhões (mais de R$ 21 milhões) em Bitcoin com rastreabilidade dificultada para retomar o funcionamento dos sistemas.

Linha de produção da JBS
Reuters
A empresa brasileira JBS também foi alvo de ataque

Algumas semanas depois, o fornecimento de carne foi impactado quando outra equipe de ransomware chamada REvil atacou a brasileira JBS, a maior processadora de carne bovina do mundo.

Um dos grandes temores que os especialistas têm sobre as capacidades cibernéticas russas é que o Kremlin possa instruir grupos a coordenar ataques a alvos dos EUA, para maximizar a interrupção. "A vantagem de usar cibercriminosos para realizar ataques de ransomware é o caos geral que eles podem causar. Em grande número, eles podem causar sérios danos econômicos", diz Woodward, da Universidade de Surrey.

"Também vêm com o bônus de que é possível negar ligação com esses grupos, pois eles não têm uma conexão formal com o Estado russo".

Como os EUA poderiam responder?

No caso altamente improvável de que um país-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) seja alvo de um ataque cibernético que cause perda de vidas ou danos irreparáveis, isso poderia desencadear o Artigo 5, a cláusula de defesa coletiva da aliança. Mas especialistas dizem que isso arrastaria a Otan para uma guerra da qual a organização não quer fazer parte, então é mais provável que as respostas venham diretamente dos EUA ou de aliados próximos.

Biden disse que os EUA "estão preparados para responder" se a Rússia lançar um grande ataque aos EUA.

Mas qualquer ação provavelmente será ponderada com muito cuidado.

Correio Braziliense


quinta-feira, 17 de março de 2022

“O Brasil vai alimentar o mundo”

 Revista Oeste

Para Celso Moretti, presidente da Embrapa, está na hora de o país sair do corner e ir para o centro do ringue brigar pela verdade quando o assunto é produção agropecuária e preservação ambiental 


Celso Moretti, presidente da Embrapa | Foto: Jorge Duarte/ EMBRAPA
Celso Moretti, presidente da Embrapa -  Foto: Jorge Duarte/ EMBRAPA
 
“Vivo repetindo para a minha equipe que precisamos fazer três coisas: comunicar, comunicar e comunicar”, explica Celso Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desde julho de 2019. Engenheiro-agrônomo com mestrado e doutorado em produção vegetal, ele tem uma certeza quando fala sobre meio ambiente e agronegócio brasileiros: “Nós perdemos a batalha da narrativa”, diz. “Não fomos capazes de deixar claro que podemos produzir sem desmatar.”

Mas ele não renuncia à briga. Em Copenhague, passou uma hora tentando explicar a uma dona de casa que a Amazônia não pode ser considerada o pulmão do mundo também porque é uma floresta muito antiga. Ainda na capital da Dinamarca, almoçou com militantes que tentaram impedir sua palestra bloqueando a entrada com cartazes que culpavam o Brasil pelas mudanças climáticas. E, em Bangladesh, não sossegou até provar na conversa com um taxista que a Amazônia estava muito longe da destruição.

Sempre decidido a restabelecer a verdade sobre a agricultura e a pecuária brasileiras
, ele voltou a Dubai nesta semana. Há menos de um mês, durante a Expo Dubai, 114 empresas brasileiras negociaram mais de US$ 1 bilhão em proteína animal. “Estamos há anos no corner, tomando direto no fígado e só nos defendendo”, observa. “Está na hora de ir para o centro do ringue. Fornecemos comida para mais de 800 milhões de pessoas, usando menos de 30% do território. A verdade é que o Brasil vai alimentar o mundo.”

Confira os principais trechos da entrevista.

Como foi o desempenho do Brasil na Expo Dubai?

Além da Expo 2020 Dubai, participei da Gulfood, a maior feira de alimentos e bebidas do Oriente, onde estavam presentes 114 empresas brasileiras. Do ponto de vista dos negócios, foi fantástico para o Brasil, principalmente na área de carne bovina e proteína animal, que para os países árabes são frangos e patos, já que eles não comem suínos. Foram fechados negócios de mais de US$ 1 bilhão nos próximos 12 meses. Estavam presentes a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). Conseguimos também desmistificar muitas coisas durante o evento.

Quais são os principais mitos que envolvem o agronegócio brasileiro?

Destacaria os assuntos ligados à preservação ambiental. O desmatamento ilegal precisa ser tratado como caso de polícia, não no âmbito do agronegócio. Posso garantir que cerca de 99% dos produtores rurais brasileiros respeitam a legislação. Gosto de três frases do William Edwards Deming, cientista de dados norte-americano, que prestou consultoria para a indústria japonesa durante muitos anos. Primeira: “Quem não mede não gerencia”. Ou seja, se você não tem indicadores para medir o seu desempenho, você não consegue gerenciar uma empresa, um negócio, ou a Embrapa, por exemplo. As outras duas são: “Em Deus nós acreditamos. Todos os outros têm que trazer dados”; e “Sem dados, você só é mais uma pessoa com opinião”. O que eu falo é baseado em dados, não há achismo.

O Brasil realmente consegue conciliar produção com preservação do meio ambiente?
Segundo dados tanto da Nasa quanto da Embrapa, o Brasil utiliza menos de 8% do seu território para a produção de grãos e outros cerca de 20% são pastagens, sejam nativas sejam plantadas. Somado tudo, usamos algo em torno de 30% do território para alimentar 800 milhões de pessoas por ano no mundo. 
Ao mesmo tempo, protegemos dois terços do país: mais de 65%. E essas não são só informações nossas. Recentemente, o Mapbiomas, que tem a Google por trás, confirmou esse número. Classifico quem critica o Brasil em três grandes grupos. Os desinformados, que simplesmente não têm acesso à informação; os bobos úteis, que recebem a informação errada e a multiplicam; e existem também os que participam de um jogo comercial pesado. Por exemplo: há três anos, a rede de supermercados Tesco, uma das maiores da Europa, interrompeu a compra de carne brasileira, sob o argumento de que ela, além de não ser rastreada, era produto do desmatamento. Ao almoçar com um diretor deles, mostrei que conseguíamos rastrear do rebanho ao bife que está na gôndola do supermercado. Mas não adianta. É uma propagação de mentiras. Nós perdemos a batalha da narrativa. Não fomos capazes de deixar claro que podemos produzir sem desmatar.

“Hoje, usamos pouco mais de 70 milhões de hectares para a produção de grãos. Mas temos a capacidade de no mínimo dobrar essa área”

Como fomos capazes de perder essa batalha?
Faltou organização do agronegócio. E eu me incluo nisso. Em vez de reagir, de ter uma postura proativa, ainda estamos no corner, tomando direto no fígado, no queixo. Só nos defendendo. Poderíamos estar no meio do ringue distribuindo pancada. Nós alimentamos 800 milhões de pessoas usando menos de 30% do território. Enquanto o mundo está falando em descarbonizar, a agricultura brasileira já é descarbonizada há mais de duas décadas. Faltou as diferentes empresas se juntarem para fazer um branding Brasil.

De tanto levar pancada, o Brasil está cada vez mais acuado?
Não sei se é medo. Parece algo antropológico, essa síndrome de vira-lata. No agro, somos líderes globais. Somos uma potência agroambiental. O Brasil passou muitos anos olhando só para o seu umbigo. Aqui na Embrapa, tenho falado para o meu time que a arena agora é global e é lá que vamos jogar. Nenhum país é mais competente que nós no mundo tropical. Temos de mostrar isso. Ver quem está batendo e conversar. Sentar com representantes dos jornais Le Monde e Le Figaro, por exemplo, e fazer um seminário para eles. Mais do que a qualidade da alimentação, o problema do planeta ainda é a alimentação em si. Quase 1 bilhão de pessoas vivem hoje com menos de US$ 2 por dia. É preciso ofertar comida para essa gente.

Os países europeus sentem medo da potência do agro brasileiro?
A verdade é que o Brasil vai alimentar o mundo.
 
Hoje, usamos pouco mais de 70 milhões de hectares para a produção de grãos. Mas temos a capacidade de no mínimo dobrar essa área. 
E não estou falando da Amazônia, mas de terras localizadas principalmente no Nordeste e Centro-Sul do país.  
Imagina como isso não incomoda um produtor de leite do interior da França, por exemplo. Ele nunca vai conseguir competir com o produtor brasileiro na hora em que decidirmos começar a exportar leite. Existe um jogo comercial pesado. E só conseguiremos vencê-lo com muita comunicação. Falo para a minha equipe que precisamos fazer três coisas: comunicar, comunicar e comunicar.

Como o agronegócio brasileiro será afetado pela invasão da Ucrânia pela Rússia?
Depende muito da duração do conflito. Uma das grandes preocupações diz respeito à dependência que temos dos fertilizantes. Estamos alertando para isso há pelo menos duas décadas. No ano passado, importamos 85% dos fertilizantes para soja, milho e algodão. Não é possível depender totalmente de um insumo tão importante. Cerca de 50% do potássio que utilizamos vem da Rússia e de Belarus.

O Brasil sempre dependeu tanto da importação de fertilizantes? Quando começou essa dependência?
No início dos anos 2000, o governo Fernando Henrique Cardoso tirou todos os impostos para a importação de fertilizantes. Assim, ficou mais barato importar do que produzir. Para mim, isso é falta de visão de futuro. Os Emirados Árabes, por exemplo, pensam o país para os próximos 30, 40 anos, não a curto prazo. Se tivéssemos a mesma capacidade de planejamento, não teríamos deixado isso acontecer. Até pouco tempo atrás, a Petrobras estava trabalhando na produção de adubo nitrogenado, mas por uma série de questões decidiu-se que a estatal não produziria mais amônia. Em Altazes, no Pará, temos uma reserva de potássio gigantesca, mas para explorá-la é preciso destravar as questões ambientais.

O que a Embrapa tem feito para que as consequências da guerra afetem menos possível o agronegócio brasileiro?
A Embrapa começará agora a caravana FertiBrasil. Vamos percorrer 30 polos agrícolas do país para ensinar ao produtor eficiência no uso de fertilizantes. Até setembro, nosso objetivo é aumentar essa eficiência de 60% para 70%. Isso pode significar uma economia na próxima safra de US$ 1 bilhão em custo de produção. Muitos produtores utilizam receitas prontas para aplicar adubos no solo. Uma receita mágica é a fórmula 4, 14, 8 (4 partes de nitrogênio para 14 de fósforo e 8 de potássio). Com ela, você até fornece o que a planta precisa de comida. Mas, em vez de fazer isso, é muito melhor analisar o solo e ver exatamente do que ele precisa, dependendo da cultura plantada ali. Dando esse tipo de informação, o produtor brasileiro pode ser muito mais eficiente no uso de fertilizantes.

Leia também “Christian Lohbauer: ‘As críticas aos pesticidas são ideológicas’”

Branca Nunes, jornalista - Revista Oeste



sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Na balança os números e os fatos - Míriam Leitão


O Globo

O aliado preferencial escolhido pelo governo é também um competidor

O comércio exterior é aquele ponto no qual a ideologia se dissolve, e o pragmatismo é meio inevitável. A balança comercial do ano passado foi ruim porque a Argentina entrou em crise, a China e os Estados Unidos passaram o ano em guerra comercial, e o Brasil cresceu menos do que se esperava. Uma Argentina em crise é um mau negócio para o Brasil, seja de que tendência for o seu governo. A guerra entre Estados Unidos e China foi ruim, mas a paz pode trazer também perda para o Brasil porque um dos compromissos que os chineses assumirão no próximo dia 15 será comprar mais dos agricultores americanos, e isso pode significar menos exportações brasileiras.

O Brasil teve um grande saldo, de US$ 46 bilhões, mas foi o menor desde 2015. Ser menor não significa em si uma má notícia. O problema é que a corrente de comércio caiu também 5,7%. Ou seja, o Brasil vendeu menos e comprou menos. Só a crise argentina tirou do saldo brasileiro US$ 5,2 bilhões.  Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, continua no seu delírio, a vida real exige atenção. Ele escreveu na mensagem de fim de ano que é preciso em 2020 “continuar lutando contra o mecanismo esquerdista” e alertou: “não basta fazê-lo dentro do Brasil.” Explicou que “a esquerda é sempre transnacional” e por isso “há que combater na frente externa”.

O mundo cada vez mais complexo, e o Brasil com um chanceler caça-fantasmas. “O lulopetismo+isentoleft são expressão de um projeto de poder global e globalista”, diz Araújo. A Argentina, como se sabe, recolocou a esquerda no poder. Se o novo governo conseguir atenuar a crise, ou superá-la, será uma excelente notícia para a indústria brasileira, até porque ela não tem mercados alternativos. A baixa competitividade dos manufaturados brasileiros faz com que o mercado argentino seja muito importante.  A China, que também deve ser parte desse “mecanismo esquerdista” que o ministro acha que tem que combater, no ano passado comprou US$ 65,4 bilhões do Brasil, mais do que o dobro dos US$ 29,5 bi dos Estados Unidos. [a China é um caso a parte, visto usar o comunismo, as regras da esquerda para o campo político, quanto ao seu comportamento no campo comercial é mais capitalistas que os Estados Unidos.]
 
A análise da balança comercial precisa ir além do olhar sobre o saldo comercial e até das exportações. As importações, por exemplo, revelam bastante sobre o nível de atividade e a recuperação da economia. Nesse ponto, há números que chamam atenção sobre o mês de dezembro. As importações caíram 7,4% sobre o mesmo mês de 2018, com queda dos bens de capital e forte aumento, de 12%, dos bens de consumo. Ou seja, por um lado, há menos gastos para investimentos e, por outro, consumo maior de bens que poderiam estar sendo vendidos pela indústria brasileira. No acumulado de janeiro a dezembro, as importações recuaram 3,3%.

Outro dado que chama atenção é o peso da importação de combustíveis e lubrificantes. Embora tenha ocorrido queda de 7,3% em 2019 com a compra desses produtos, o país ainda gastou US$ 20 bilhões nesses itens, o que significa 11% de tudo o que importamos. Em dezembro, os combustíveis foram o principal item da pauta importadora, acima dos eletrônicos e dos equipamentos mecânicos.

As exportações de carne bovina in natura aumentaram 48% em dezembro, sobre o mesmo mês de 2018, enquanto as vendas de carne suína subiram 72% e as de frango, 6,3%. São os efeitos da peste suína na China, que matou 40% da população de porcos do país. As empresas brasileiras do complexo de carne estão direcionando as vendas para a China e isso explica por que o preço da carne subiu tanto no país nos últimos meses. Por outro lado, com a devastação do rebanho suíno chinês, houve menor importação de soja. O Brasil vendeu mais carne e menos soja.

Na guerra comercial dos Estados Unidos e China no ano passado houve um impacto forte no comércio mundial, que afetou o mundo inteiro e alimentou o temor de uma recessão global. As negociações terminaram num acordo cuja primeira fase será assinada no dia 15 de janeiro, e a segunda fase, se tudo der certo, em março. O problema é que a paz entre eles está sendo selada com o compromisso de a China comprar mais grãos e cereais dos produtores americanos. O aliado preferencial escolhido pelo governo Bolsonaro é também um competidor nosso. Pobre Brasil que num mundo cheio de complexidades tem no comando da diplomacia alguém que acha que sua missão é combater “a esquerda na frente externa”. [temos que reconhecer que o 'grego' que está ministro do Exterior complica;
mas, vamos ser sinceros e reconhecer que em toda a movimentação no comércio exterior, apresentada nesta matéria, não ocorreu influência do chanceler, - se alguma houve foi ínfima.
Os fatos expostos ocorreriam, fosse chanceler o Barão do Rio Branco, Saraiva Guerreiro ou qualquer outro.]


Blog da Míriam Leitão, jornalista  - Com Alvaro Gribel,  São Paulo - O Globo

 

sábado, 24 de agosto de 2019

Fogo, floresta e crise mundial - Míriam Leitão

 O Globo
A pressão sobre o Brasil aumentou ontem com outros governantes do G7 apoiando a ideia de que a Amazônia seja assunto da reunião de cúpula, e líderes europeus querendo que se rediscuta o acordo UE-Mercosul. Nas redes, a campanha é por boicote ao produto brasileiro. O dólar disparou batendo o maior valor em um ano, e a bolsa caiu abaixo de 98 mil pontos, porque houve uma grave escalada do conflito EUA-China. O mercado brasileiro também teme o atraso na reforma da Previdência, com o adiamento da leitura do relatório. Como já escrevi aqui, o risco é a tempestade perfeita que misture a crise externa com barreiras aos produtos brasileiros por razões ambientais.

[Detalhes que não podem ser esquecidos:

- os franceses não são confiáveis; em 1982, na Guerra das Malvinas, (Argentina x Inglaterra) a França forneceu misseis Exocet aos 'hermanos' e os argentinos afundaram navios ingleses.

Só que,  traiçoeiramente,  os franceses passaram para os ingleses os códigos dos 'exocet' e com isso deixaram os argentinos totalmente incapacitados de se defender e atacar os ingleses, tanto que perderam a guerra.

- Ameaça militar não impressiona o Brasil;

nossas FF AA não estão bem preparadas, bem equipadas - o descaso com o poderio bélico tem sido uma constante no Brasil, mas, a vastidão territorial favorece ações de defesa e eventuais agressores não podem usar armas nucleares (querem preservar a Amazônia e isto os impede de utilizar armamento nuclear ou mesmo bombardeios convencionais de grande intensidade). Não é um bom caminho para os 'donos' do Mundo.

- parar de comprar produtos brasileiros - carne e alimentos do agro negócio -  não é tão simples para os boicotadores. Vão comprar de quem? se seus agricultores tivessem condições imediatas de atendê-los, de há muito não comprariam do Brasil. E,. caso vendam toda sua produção para os países que boicotarem o Brasil, vai ser insuficiente e mais grave é que outros países terão que buscar novos fornecedores e o Brasil tem

Todos tem que comer todo dia (é um 'hábito' que não pode deixar de ser  cumprido,  até por nós, brasileiros, imagine os europeus e outros.), assim, terão que se curvar, mais rápido do que imaginam, diante do Brasil. Poder militar não funciona quando há interesse em preservar o alvo = Amazônia, rebanhos brasileiros e grãos.

Temos que preservar a Amazônia e todo o meio ambiente, mas, sem aceitar regras impostas pelos estrangeiros e cujo objetivo é: impedir que o Brasil alcance o primeiro lugar no mundo como fornecedor de alimentos.]

Adianta pouco acusar o mundo como tem feito o governo. Muito mais produtivo é se entender e negociar. Foi por este caminho que o governo acabou anunciando ontem, no meio da crise, o acordo do Mercosul com a Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. O presidente quis mostra ração contra o desmatamento e no pronunciamento à noite em cadeia nacional disse que proteger a floresta é nosso dever. Se tivesse agido diante do primeiro alerta do Inpe, teria ganhado tempo.
Quando o quadro econômico internacional está pior há menos espaço para errar, e o Brasil tem errado muito. A China e os Estados Unidos tiver amontem mais um dia de ataques mútuos. Trump criticou o Fed, chamando-o de “inimigo dos Estados Unidos”. Isso não tem precedentes. Mas tem motivo: Trump quer um bode expiatório para a desaceleração da economia americana. Os erros da política ambiental permitiram que se formasse esse movimento contra os produtos brasileiros. O Brasil é grande exportador de proteína animal, para ficar só num exemplo. A Europa consome 10% de tudo o que o Brasil vende de carne bovina, mas é mercado de maior valor agregado e havia expectativa de aumento das compras após o acordo UE-Mercosul. É grande comprador também de outros alimentos. No caso da carne, a Irlanda também é exportadora. Fora da Europa outro produtor é o Canadá. E os Estados Unidos. A França é conhecida pelos eu protecionismo.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a França é contra o acordo UE-Mercosul. O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, disse que não há maneira de o seu país apoiar o acordo. A convocação de Macron de discutir a Amazônia no G 7 foi apoiada pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. “Eu não podia concordar mais”, disse Trudeau. Todos eles têm interesses comerciais envolvidos? Têm sim, mas isso não explica tudo. Até porque a Inglaterra do conservador Boris Johnsns e juntou ao clamor. A chanceler Angela Merkel aceitou a proposta de Macron. A Finlândia também se manifestou. Bolsonaro só teve o afago, já no fim do dia, de Donald Trump. Queira ou não, o mundo tem o direito de se preocupar com o futuro da floresta que está tão ligada ao destino do planeta. A Amazônia pertence a nove países, ainda que seja 60% brasileira.
Na dinâmica hoje dos mercados o consumidor tem voz ativa. O embaixador Sérgio Amaral, que já comandou as embaixadas em Londres, Paris e Washington, explicou essa nova categoria de proteção que não depende dos governos: —São padrões de consumo, que se um supermercado puser um produto que resulta de desmatamento ele não vai vender. Os distribuidores já retiram das prateleiras. Da mesma forma que não compram produtos que engordam, que derivam de trabalho infantil. Existe o compromisso da sociedade. Esse é o ponto. É o risco que estamos correndo. [O boicote pontual a um produto é fácil;
mas, quando o produto falta em todos os pontos de venda e milhões o querem, a coisa fica feia para quem boicota.]
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que é preciso diferenciar queimada de incêndio. E que é comum acontecer isso nesta época do ano: —Queimada tem todo ano. Tem que se fazer uma diferença entre os dois acontecimentos. Este ano está mais seco e as queimadas estão maiores. Eles precisavam saber do Brasil o que está acontecendo antes de tomar qualquer tipo de medida. 
Ao contrário do que disse a ministra, este ano está havendo uma estiagem mais suave, como mostrou a nota técnica do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam). Queimadas acontecem todos os anos, mas, como disse a ex-ministra Marina Silva, “nunca incentivadas pelo discurso de um presidente”. [essa Marina ainda existe? ela calada não fazia falta, agora que falou, o silêncio dela passou a fazer falta.] A ministra faria melhor se ecoasse o que estão falando os líderes do agronegócio: eles estão condenando fortemente o desmatamento. E é o aumento do desmatamento que está alimentando as queimadas.
Blog da Míriam Leitão -Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo