Fala de Putin sugere problemas com aliados do seu governo
Putin e sua 'cara de preocupado' com as interpretações que a mídia militante, pró Biden e trupe, apresenta sobre o que ele pensa
A população russa só recebe informações da imprensa estatal.
Jornalistas estrangeiros foram expulsos. Logo, apenas pessoas
privilegiadas e com boa posição dentro do sistema de governo podem ter
acesso a outras informações – essas produzidas [criadas] pela imprensa ocidental
mostrando os fracassos das tropas terrestres russas e a forte
resistência dos ucranianos. É claro que os comandantes russos e o
próprio Putin têm essas informações – outro sinal de que há vazamentos
internos. [o mais triste é que enquanto a mídia pró esquerdismo progressista narra que Putin perde a guerra, centenas de ucranianos morrem em uma luta, que não possuem nenhuma condição de vencer e da qual só resta a opção pragmática, inclusive já aventada por Israel.]
A conclusão não é difícil: ao atacar a quinta coluna, os traidores locais, Putin está nos indicando que membros de seu governo sabem e comentam sobre a real situação da guerra. Estariam presos? Mortos?
Claro, não se sabe, mas pela reação do ditador, surgiu alguma oposição ou resistência a seu comando. Além disso, Putin fez um ataque direto aos oligarcas, aqueles, afirmou, que não podem viver sem suas casas em Miami ou Biarritz, sem ostras, sem foie gras — e por aí foi. Ora, todos os oligarcas russos alcançaram esse gosto pela vida de ostentação graças à amizade e aos favores de Putin. Se o ditador os ataca tão diretamente, eis aí outro sinal: há oligarcas, os primeiros atingidos pelas sanções econômicas do Ocidente, que estão pedindo o fim da invasão.
Detalhe: entre os que têm casa em Biarritz está uma das filhas de
Putin, Katerina Tikhonova, que a herdou de seu ex-marido, Kyrill
Shamalov, filho de um banqueiro. A casa foi adquirida de Gennady
Timchenko, oligarca do setor de petróleo, um dos mais próximos de Putin. A mansão, aliás, foi invadida por um ativista francês, que pretende utilizá-la como refúgio para exilados ucranianos.[convenhamos que residir, 'se refugiar' em Biarritz,não combina com a condição de exilado.]
A população russa não sabe disso. E Putin não está preocupado com essas mentiras. Mas parece, sim, preocupado com rachaduras no seu sistema ditatorial. No Ocidente, essa situação causa, ao mesmo tempo, alento e preocupação. Alento, porque sugere que Putin pode ser derrubado pela sua própria turma, o que já aconteceu com outras ditaduras. E preocupação porque um líder totalitário acuado pode desencadear mais violência – tanto interna, quanto externa. Ele tem armas químicas e nucleares.
Como o Ocidente pode reagir? Entregar a Ucrânia de mão beijada, por medo do que Putin possa fazer, seria simplesmente consagrar a ditadura. [será que o destaque "consagrar a ditadura' embute alguma pretensão de desencadear um apocalipse mundial = acabar com o planeta para demonstrar repúdio a uma ditadura? demonstração que só será vista pela tripulação da estação espacial internacional na ocasião da hecatombe nuclear.] A OTAN entrar na guerra diretamente, com aviões, por exemplo, pode ser o pretexto que Putin espera para fazer alguma loucura mais raivosa.
Resta o que se está fazendo: armar as forças do presidente Zelensky, fornecer mantimentos e recursos financeiros. [o inconveniente do que dizem está fazendo, é que tem um único resultado concreto: aumenta a mortandade dos ucranianos = mais civis inocentes mortos em uma guerra já perdida.]Neste último aspecto, é notável a ação de algumas empresas, como a do sistema Airbnb. Pessoas de países ocidentais entram no site e alugam casas de ucranianos, enviando o pagamento imediatamente. Dinheiro na mão de famílias cujas residências estão sendo atacadas.
Estamos vendo exemplos práticos de algo que se discute há muito tempo por aqui: a responsabilidade moral das empresas. Perdem dinheiro para defender os valores da democracia, das liberdades individuais, do respeito à lei internacional. Pode parecer romântico, mas é disso que se trata: Zelensky torna-se um herói mundial, aplaudido em parlamentos de diversos países, pelo seu patriotismo e pela defesa de valores.
Foi o grande erro de Putin. Acreditar no que ele mesmo dizia quando ainda podia participar de reuniões Internacionais, como as do G20: que a democracia ocidental estava morta, que o “progressismo” era uma bobagem e que a União Europeia era um saco de gatos.
Agora, estão todas as democracias unidas contra a ditadura. Resta uma dor imensa: é o povo da Ucrânia que está carregando o fardo mais pesado. [vale a pena para o povo da Ucrânia? morrer para defender posições que só interessam aos aliados de palanque?]
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 19 de março de 2022