Livre das
amarras que o cargo de ministro da Justiça lhe impunha, Sergio Moro se equipa
para a disputa presidencial de 2022. Faz isso com método. Em nova entrevista,
dessa vez à Folha, Moro exibe a retórica de um provável candidato
anti-Bolsonaro. A estratégia do presidenciável não declarado está escancarada
em três pontos da entrevista. Num, Moro se apropria da agenda anticorrupção,
que Bolsonaro tomara emprestado e jogou no lixo. Noutro, equipara o ex-chefe ao
PT. Num terceiro ponto, esgrime um discurso moderado, distante da polarização.
"Alianças
com algumas figuras políticas questionáveis não contribuem para a imagem do
governo", declarou Moro, numa alusão à aliança de Bolsonaro com o centrão.
Ele acrescentou: "Entregar cargos, com orçamentos expressivos, para serem
preenchidos por indicações políticas provenientes de pessoas condenadas ou
acusadas de corrupção contraria tudo o que a Lava Jato representou." [Moro ficará chateado quando descobrir que lhe faltam votos e credibilidade - esta ele jogou no lixo quando saiu fazendo acusação não provadas o presidente em um popular 'cuspir no prato que comeu'.]
Em 2018, Bolsonaro enrolou-se na bandeira da Lava Jato. O que o ex-juiz
da 13ª Vara de Curitiba declarou, com outras palavras, foi mais ou menos o
seguinte: "Ninguém melhor para fazer o papel de porta-bandeira da Lava
Jato do que eu."
A certa altura, Moro critica o petismo por não fazer uma
autocrítica. Ele equipara a aversão do PT ao reconhecimento dos próprios erros
ao negacionismo de Bolsonaro em relação ao coronavírus. Eis o que afirmou Moro:
"A estratégia que eles adotam, negando os crimes que foram praticados
durante a presidência do PT, durante o período que o partido tinha o controle
sobre a Petrobras, junto a seus aliados, é mais ou menos o equivalente à
postura do presidente da República, que nega a existência de uma pandemia no
momento atual. É um erro isso." Nesse ponto, o autor da sentença que levou
Lula a passar uma temporada na cadeia se credencia como beneficiário do
antipetismo —uma força eleitoral que impulsionou a vitória de Bolsonaro em
2018.
Noutro trecho, Moro revela-se disposto a rubricar manifestos em defesa
de valores democráticos supostamente ameaçados por Bolsonaro. "Essa é uma
questão em aberto. Minhas posições sempre foram muito favoráveis à democracia e
ao Estado de Direito, e assim tenho me manifestado publicamente." A
eventual companhia de políticos de esquerda, mesmo aqueles que criticam seu
trabalho como juiz, não parece incomodar Moro: "Na democracia temos muito
mais pontos em comum do que divergências. As questões pessoais devem ser
deixadas de lado." Com essas palavras, Moro posiciona-se na conjuntura
como uma espécie de placa de trânsito, como se desejasse sinalizar aos
brasileiros cansados de polarizações e extremos que basta segui-lo para chegar
ao centro.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista
Moro exibe discurso de
candidato anti-Bolsonaro ... - Veja mais em
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