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quinta-feira, 18 de julho de 2019

O que mudou e falta mudar no gás - Míriam Leitão

 
O governo tem falado de várias iniciativas que tomará, mas ainda são intenções. A liberação de dinheiro do FGTS tem fôlego curto. A reforma tributária ainda não foi explicada. As privatizações não aconteceram. Mas a tentativa de mudar o mercado de gás teve algum avanço. O acordo do Cade com a Petrobras para acabar com o monopólio da empresa no setor foi um passo na direção correta. Há muitos obstáculos a superar para viabilizar o gás do pré-sal a preços competitivos. O maior deles será construir a infraestrutura de transporte, o que deve consumir bilhões de dólares em investimentos e alguns anos em obras.

Outro problema será lidar com as concessões estaduais de distribuição, que não poderão ser revistas de uma hora para outra e vão exigir muita negociação para evitar que o tema seja judicializado.  O ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn diz que o acordo entre o órgão de defesa da concorrência e a Petrobras aconteceu muito mais por iniciativa da empresa, que precisa vender ativos e se concentrar nas áreas mais lucrativas do negócio. Para se ter uma ideia, a taxa de retorno na exploração de petróleo pode chegar a 30%, enquanto no setor de gás gira em torno de 7% a 8%. Ele acha que o Cade demorou demais a agir contra o monopólio e lembra que o órgão só se manifestou oficialmente após a greve dos caminhoneiros. —É um movimento atrasado, mas antes tarde do que nunca. Hoje, para fazer gasoduto é muito mais difícil do que há 20 anos. Há um adensamento populacional que dificulta a passagem do duto. Há restrições ambientais maiores e custos mais elevados para aumentara rede, que é incipiente no Brasil. Vamos termais gás do que infraestrutura aqui —afirmou.

Segundo dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) o Brasil produz 112 milhões de m3 de gás natural e a expectativa é dobrar esse número nos próximos 10 anos. O investimento é alto: para levar o gás do pré sal até a costa terão que ser construídos mais três gasodutos a um custo de US$ 9 bilhões. Hoje, há apenas dois, e um terceiro está em fase final de obras. Além disso, será preciso mais três Unidades de Processamento de Gás Natural, que custariam US$ 3 bilhões, e a malha de transporte e distribuição em terra teria que ser ampliada fortemente. — A infraestrutura brasileira tem 9,4 mil km de gasodutos de transporte e 34,6 mil km de gasodutos de distribuição. Os Estados Unidos têm uma malha cerca de 100 vezes maior. A Argentina, com 1/3 do território brasileiro, tem 16 mil km de gasodutos de transporte, quase o dobro do Brasil — explica Adriano Pires, do CBIE.

Zylbersztajn diz que há três opções em estudo sobre a melhor opção de logística para o gás do pré-sal: — Esse gás pode chegar à costa por dutos, mas pode também ser transformado em energia elétrica no alto-mar, construindo uma térmica ao lado das plataformas e aí se levar a energia. Há ainda uma terceira possibilidade, que é construir uma usina de liquefação e trazer o gás de navio. Tem que ver o que é mais competitivo.

Seja como for, o gás tem aumentado a sua importância na matriz energética mundial, porque é fonte mais barata e pouco poluente. É o combustível de transição na busca de uma matriz com menos emissão. O Brasil terá que aproveitar as enormes reservas do pré-sal não só do ponto de vista econômico, mas também ambiental.

O gasoduto Brasil-Bolívia já não tem mais a importância que teve no passado. Hoje, representa 30% do gás que é consumido no país, mas isso poderá ser substituído pelo gás da costa brasileira. Zylbersztajn acha que é possível renegociar contratos para ter preços mais baratos dos bolivianos: —Estamos falando de um projeto que já tem 20 anos e que já foi bastante amortizado. Na época, fazia sentido, porque o Brasil tinha pouco gás. Hoje, temos o pré-sal e é viável tentar uma renegociação para reduzir os preços.

A negociação com as distribuidoras de gás ainda é incerta. Elas têm contratos de concessão de longo prazo que garantem o monopólio nos estados. A Petrobras é sócia em várias delas e terá que vender sua parte, pelo acordo com o Cade. Há muita a fazer. Mas o Brasil será empurrado para aproveitar o gás do pré-sal porque há um limite técnico do que pode ser reinjetado nos poços, como acontece hoje. E queimar o gás aumenta as emissões. Por tudo isso, os especialistas acham que o projeto irá adiante.
 
Coluna da Míriam Leitão, por Alvaro Gribel  - Publicada em O Globo
 
 

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Tabela maluca


O governo se atrapalhou ao divulgar a tabela que define o custo mínimo do frete rodoviário no país. A ANTT fará novos cálculos porque há absurdos assim: transportar carga perigosa ou refrigerada está mais barato do que levar cargas a granel. “Do jeito que está, é melhor transportar aço em um caminhão refrigerado. Ficará mais barato”, se espanta Maurício Lima, diretor-geral do Instituto Ilos de Logística. A tabela custará R$ 80 bilhões.

Desde a divulgação da Medida Provisória, no último dia 30, as empresas contratantes estão fazendo e refazendo contas para saber o quanto pagarão a mais pelo transporte. Segundo Lima, o tabelamento torna o frete impraticável para vários setores e representa um forte aumento no custo logístico do país.  — Alguns setores estão com aumento de 50%, o que inviabiliza o frete. O pior é que a tabela já está valendo, porque foi feita via Medida Provisória. Os caminhoneiros estão com ela nas mãos e os contratantes não sabem o que fazer. O custo rodoviário subirá R$ 80 bilhões — explicou.

A situação é tão estranha, diz Lima, que até as ações das empresas de transporte, que deveriam se beneficiar com a medida, estão em queda na bolsa. Isso porque elas também terão aumento de gastos ao terceirizar o serviço com a contratação de motoristas autônomos. Além disso, há o risco jurídico.  A ANTT disse que fará mudanças na tabela, mas os caminhoneiros estão ameaçando uma nova paralisação se ela cair.  O governo terá que optar entre correr o risco de uma nova greve ou impor um forte aumento de custos que tornará a economia brasileira ainda menos competitiva.

[obviamente que o governo tem que rever a tabela - contém absurdos impossíveis e que envergonham até os seus autores;

 o Brasil não pode viver sob ameaça de greve - seja de caminhoreiro ou qualquer categoria - e o remédio para exemplar os possíveis futuros grevistas (ou chantagistas) é simples:

- NÃO ANISTIAR AS MULTAS - tanto as aplicadas à caminhoneiros quanto à empresas transportadoras; 

- INICIAR IMEDIATAMENTE A COBRANÇA DAS MULTAS -  utilizando todos os recursos que o Código de Trânsito, Código Civil e legislação pertinente, permite. (cumpre destacar que as multas aplicadas em função da decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, não podem ser objeto de recurso administrativo - decisão judicial prevalece sobre qualquer tipo de recurso administrativo; 

só podem ser objeto de recurso as aplicadas com base no Código de Trânsito.]

Mais importante: se os caminhoneiros começarem qualquer movimento, jogar duro tanto na desobstrução de estradas quanto a só aceitar negociar com as  estradas desbloqueadas. ] 


Não é comigo
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, que representa as montadoras de veículos, negou a tese de que a venda subsidiada de caminhões no governo Dilma seja uma das causas para a paralisação dos caminhoneiros. “Este ano, as vendas de caminhões estão em alta de 52% de janeiro a maio. Se houvesse excesso de oferta, isso não aconteceria”, afirmou. No auge do PSI, que incentivou o setor, a venda de caminhões chegou a 68 mil unidades, de janeiro a maio de 2011. Este ano, foi a 26 mil. Ele é contra subsídio ao diesel.


Andar para trás
Na primeira semana após o fim da greve, o economista-chefe para América Latina do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, avalia que os impactos sobre o PIB serão limitados. O problema, diz, é que o governo ficou mais vulnerável às pautas setoriais, com riscos de aumento de gastos. “O governo tem menos força para resistir. Isso é mais preocupante do que a parada na economia por uma semana. Podemos ter mais interferência nas estatais, houve tabelamento de frete, a privatização da Eletrobras ficou mais difícil. O receio é como isso vai afetar a confiança dos consumidores e dos empresários”, explicou.


Gás da indústria
O consumo industrial de gás subiu 3,2% em abril, segundo levantamento inédito da Abegás. No acumulado do ano, o aumento é de 5,8%. Poderia ser melhor, se não houvesse monopólio da Petrobras. “O país precisa aumentar o número de ofertantes de gás natural, cuja comercialização é feita hoje exclusivamente pela Petrobras”, afirma o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon.


DESCONFIANÇA
Os juros com vencimento em 2021 foram a 9,39%, o maior patamar desde novembro de 2017, segundo Pablo Spyer, da corretora Mirae Asset.


Miriam Leitão - O Globo

domingo, 24 de janeiro de 2016

Um barril de erros

Quando o petróleo despenca, é inevitável pensar no tempo irremediavelmente perdido pelo erro de mudar o marco regulatório. Foram suspensas as rodadas que traziam investidores para o país entre 2008 e 2013, para fazer a mudança do modelo de concessão para partilha. Nesse período, o barril subiu e ficou acima de US$ 100. O mundo buscava novas fontes de produção e estava interessado no pré-sal.

Hoje, o panorama é outro. O preço despencou e oscila na casa de US$ 20 a US$ 30, a Petrobras está superendividada, sem caixa, precisando vender ativos. A corrupção atingiu a empresa, se espalhando por todos os campos em desenfreadas prospecções. A petrolífera está anêmica e tem a obrigação de ser operadora de todos os campos. É por isso que especialistas fazem o diagnóstico de que só há duas opções para o pré-sal: continuar dependente da Petrobras e atrasar investimentos ou ser feita alteração de regras para atrair outras empresas. Apesar da queda dos preços, o setor de óleo e gás poderia ajudar a recuperação do país. Mas, a exemplo do que aconteceu com a energia elétrica, a área sofre os efeitos das intervenções desastradas dos governos Lula e Dilma.

O diretor executivo da Accenture Strategy, Daniel Rocha, líder da área de Energia da consultoria no Brasil, mapeou o setor em estudo feito em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele explica que o modelo de partilha adotado pelo governo Lula ainda gera muitas dúvidas entre os investidores, mesmo seis anos após a sua aprovação. No ritmo em que está, o país não consegue se tornar autossuficiente na área de óleo e gás antes de 2022. Continuará tendo fortes déficits comerciais na energia, com muita importação de petróleo leve, gás natural, gasolina, diesel e outros tipos de derivados. Não acho que seja necessário rever o modelo porque isso provocaria mais paralisia. Mas é fundamental alterar regras, como o conteúdo nacional, que não tem dado resultado, e também a obrigatoriedade da Petrobras ser operadora em todos os campos — afirmou Rocha.

Se antes as rodadas de licitação ficaram congeladas pela mudança do modelo; hoje elas pouco acontecem porque a Petrobras não tem capacidade de investir: Mesmo com preços baixos, se houver segurança, haverá investimento. Isso pode ajudar o país a sair da crise, com o governo aumentando a arrecadação via bônus de assinatura, royalties e participação especial. A cadeia de produção é longa e pode ser reestruturada se as rodadas tiverem continuidade.

Daniel Rocha explica que o custo de US$ 8 na exploração do pré-sal divulgado pela Petrobras é apenas o lifting cost, ou seja, o quanto se gasta na extração do óleo nos campos atuais, que já estão operando. Mas o breakeven do modelo de negócio, ou seja, o preço mínimo para ter lucro, que inclui o investimento em novos campos, exploração e venda dos produtos, continua na casa de US$ 35 a US$ 40. [enquanto o petróleo BRENT, de qualidade superior ao do pré-sal,  tem o preço abaixo de US$ 30.]
 
Quando o estudo da Accenture e da FGV foi divulgado, em outubro do ano passado, os preços do petróleo do tipo brent estavam na casa de US$ 50. Esta semana, bateram em US$ 27. A estimativa da consultoria é de que aconteça uma recuperação nos próximos meses, mas existe um “teto” para o preço, em torno de US$ 50 a US$ 55. Isso porque somente o Irã será capaz de vender no mercado cerca de 600 mil barris/dia este ano, podendo elevar a produção para mais de 3 milhões no ano que vem. Além disso, a nova tecnologia de extração não convencional nos EUA consegue colocar em operação um campo paralisado em apenas três meses, respondendo rapidamente a um aumento dos preços. — Há a desaceleração da China, e o mundo está buscando cada vez mais a eficiência energética, para diminuir a dependência do petróleo. Isso muda as projeções de consumo — afirmou Daniel Rocha.

Por causa da política dos preços de combustíveis, o Brasil ficou com o pior nos dois mundos. Na era da alta cotação do petróleo, a Petrobras foi descapitalizada pelo subsídio populista à gasolina
Agora, com os preços baixos, a energia derruba a inflação no mundo inteiro, mas não no Brasil, e a Petrobras corre o risco levar outro prejuízo com a importação de outras empresas.

Foram decisões assim que enfraqueceram a maior companhia do país. A corrupção foi o verme que contaminou o organismo da petrolífera. A operação Lava-Jato faz parte da solução.

Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo