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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Esquartejamento de Ciro pode custar caro a Lula

Lula não frita, esquarteja Ciro Gomes. Ensanguentado, Ciro tornou-se um personagem novo na sucessão.  


Até aqui, atirava contra o próprio pé. Agora, dispõe de um alvo novo: Lula. A morte de Ciro ainda não é fava contada. Na pior hipótese, tombará atirando. Na melhor, entrará na briga pela simpatia dos 51% de eleitores que informaram ao Datafolha que não votariam num poste de Lula.   Na noite desta quarta-feira, horas depois de saber que Lula passara na lâmina o PSB, último pedaço do seu projeto de coligação, Ciro reagiu com método. Em entrevista à Globonews, lembrou que conhece o esquartejador de perto: “Apoiei o Lula todos os dias, sem faltar nenhum, ao longo de 16 anos.” Colocou-se na posição de credor: “Ouvi dele, chorando, que devia muito a mim.”

Em seguida, Ciro desceu à trincheira. Diante das câmeras, exibiu o armamento. “Se o Lula se considera inocente, o Palocci é réu confesso. Comandou a economia por oito anos.” Ciro referia-se à delação de Antonio Palocci. Nela, o ex-ministro da Fazenda repetiu na Polícia Federal, entre outras coisas, algo que dedurara ao juiz Sergio Moro: Lula firmou com a Odebrecht um “pacto de sangue” que rendeu R$ 300 milhões em propinas.
Ao longo da entrevista, Ciro desdenhou da candidatura de Lula —“Sabemos que a Lei da Ficha Limpa não permite a um condenado em segunda instância ser candidato”—, tratou a tática petista como uma aventura —“Estão ensaiando uma valsa na beira do abismo”—, ironizou a greve de fome dos seis militantes recrutados por João Pedro ‘MST’ Stédile —“Virou religião”— e redefiniu o projeto de poder traçado por Lula desde a cela especial de Curitiba —“Isso não é política, é caudilhismo do mais barato.”

Perto das observações desairosas, as poucas referências elogiosas que Ciro fez a Lula durante a entrevista pareceram asteriscos. “O Lula loteou a Petrobras”, atacou a certa altura. Quando parecia que dava voltas em torno do óbvio, Ciro insinuou que o velho bordão de Lula —“Eu não sabia”— não se aplica à petrorroubalheira: “Cansei de dizer pra ele aquele VDM.” Em cirês, o idioma de Ciro, o significado de VDM é “vai dar merda.”
Mal comparando, Lula tenta fazer com Ciro o que Dilma Rousseff fez com Marina Silva na sucessão de 2014. A diferença é que Marina, triturada no moedor do marqueteiro João Santana, recolheu-se. Ciro, ao contrário, ergue barricadas. “A disputa é comigo. Não querem que eu seja o candidato que vai representar uma renovação do pensamento progressista brasileiro. Vamos ver se eles vão conseguir, porque tem um negócio aí muito maravilhoso, que é o povo.” O novo adversário do petismo soou confiante: “Já, já eu venço eles.” [vencer quem coronel Ciro?  (o coronel aqui não é um oficial das FFAA, PM ou BM e sim aqueles coronéis da Guarda Nacional da primeira metade do século passado.) O PT é apenas uma perda total.]
A vitória de Ciro não é provável. Mas está claro que o  esquartejamento de sua coligação pode custar caro a Lula. Empurrado para as margens de uma espécie de Rubicão imaginário, Ciro não é o tipo de personagem que vai ao rio para pescar.

Blog do Josias de Souza


 

quinta-feira, 3 de maio de 2018

‘Nossos inimigos são a turma do Alckmin e Bolsonaro’, afirma dirigente do MST

João Paulo Rodrigues disse ainda que ataque a tiros contra acampamento foi sinal de luta política 

[João Paulo, o 'frouxo' do general da banda Stédile amarelou - Dilma foi 'escarrada', Lula está engaiolado e o 'exército' de vocês nem piou.

Stédile renunciou ou você tomou o comando dele? lembre-se de pedir o apoio do presidente da CUT, é um apoio e tanto, ainda hoje esperamos que ele pegue em armas  para reempossar a Dilma como ameaçou.

Por anda o Zé Rainha? ainda puxando cana? mas a de Lula será maior que a dele.

Juntando o candidato de vocês e o do Boulos - você e ele também cobram aluguel das propriedades que invadem? - não chega nem a dois por cento dos votos.]

O dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Paulo Rodrigues afirmou nesta quinta-feira (3) que os inimigos do movimento na disputa pela Presidência nas eleições deste ano são a turma do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).   “Inimigos nossos são a turma do Alckmin e Bolsonaro. Não eles, mas o que defendem: o neoliberalismo”, afirmou Rodrigues durante um café de apresentação da terceira edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, no parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo.  A declaração foi dada após o dirigente ser questionado pela Folha se havia convidado Ciro Gomes (PDT) para outro café, que será realizado na manhã de sábado no local, com presenças de Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PC do B).


Rodrigues afirmou que o diálogo está aberto com os candidatos progressistas, com quem pretendem dialogar sobre reforma agrária e outras pautas, mas reafirmou o apoio do movimento ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  “Nosso candidato é o Lula, já deixamos muito claro desde o início. Eles não virão aqui para fazer alianças ou discutir eleição”, afirmou.

Segundo ele, o MST sempre recebeu um tratamento cordial de Alckmin enquanto governador do estado de São Paulo. Márcio França, que assumiu o cargo no início de abril, foi convidado para prestigiar a feira. Porém, Rodrigues afirma que o diálogo não significa que o movimento apoie o projeto político de Alckmin.  O dirigente também lembrou o aumento das mortes no campo, [as mortes aumentaram devido o aumento de invasões: todo proprietário tem o DIREITO de defender sua propriedade, podendo usar os meios necessário.] citando o último relatório da CPT (Comissão Pastoral da Terra), que aponta o ano passado como o mais violento no campo desde 2003, com um total de 70 assassinatos.

Sobre o ataque a tiros ao acampamento Marisa Letícia, em Curitiba, Rodrigues declarou que os tiros não surpreendem, pois as mortes e ataques no campo são frequentes por parte dos latifundiários, mas que “a novidade está na luta política”, uma vez que o movimento defende a candidatura de Lula.  Ele afastou a possibilidade de o movimento se defender com armas e disse que só será possível enfrentar as ações violentas a partir do momento em que a sociedade rejeitar tais atos. [a Sociedade está cansada do reinado de banditismo que se tornou maior a partir de 2002.]

DESABAMENTO

A terceira edição da feira realizada em São Paulo é justamente, segundo dirigentes, um momento para estabelecer o diálogo com a população e prestar contas sobre a produção que tem sido feita nos assentamentos da reforma agrária. No local também haverá um brechó para arrecadar recursos para o acampamento em Curitiba.  Segundo a dirigente Débora Nunes, há um discurso feito há 500 anos que busca criminalizar os movimentos sociais. Um dos reflexos, seria a onda de críticas aos movimentos de moradia e ao MST após o desabamento do prédio no largo do Paissandu na madrugada de terça-feira (1º). “Camponeses são mortos e nós somos colocados como terroristas”, disse.

Rodrigues classificou como absurda a informação de que o movimento cobra taxas na ocupação, porém não desmentiu moradores. Ele explica que cada ocupação atua com um modelo e que existem despesas que precisam ser custeadas. Segundo Débora, se os moradores recebessem os R$ 4.378 de auxílio-moradia destinados a juízes, não existiria problema.

 Folha de S. Paulo



domingo, 15 de abril de 2018

Vai entender a Justiça




STF passou duas tardes discutindo habeas corpus de Palocci, que pedia para sair da cadeia porque já fora condenado à prisão


Se muitas vezes você simplesmente não entende o que votam os ministros do Supremo Tribunal Federal, fique tranquilo, você não está sozinho. Os ministros dialogam uns com os outros, naquela linguagem pomposa e repleta de vênias, e quase sempre apenas no arremate final se entende para onde estão indo ou como vão votar. Mas, no episódio do habeas corpus impetrado em favor do ex-ministro Antonio Palocci, que é uma aula de como a lei brasileira pode produzir equívocos, ficou claro como alguns juízes raciocinam.

O que estava em jogo na votação do habeas corpus pedido pela defesa de Palocci era se ele sairia da cadeia ou seguiria preso de maneira provisória por ordem do juiz Sergio Moro. A defesa alegava que as razões que geraram o encarceramento já não eram mais válidas porque seu julgamento havia sido concluído na primeira instância. Verdade, Palocci foi condenado a 12 anos e quatro meses de prisão por Moro. A prisão preventiva do ex-ministro foi decretada porque ele poderia interferir no processo de investigação, praticar novos crimes ou pôr em risco a ordem pública.

Palocci pediu então para ser solto porque já estava condenado à prisão. Parece paradoxal. E é. Veja o que disse o ministro Lewandowski ao votar a favor da libertação do condenado: “Com a proclamação da sentença, a prisão preventiva já exauriu todos os seus requisitos no tocante da conveniência da execução criminal, não mais subsistindo o risco de interferência na produção probatória, razão pela qual não se justifica sob este fundamento a manutenção da custódia cautelar”. Em outras palavras, já que ele foi condenado à prisão, não pode mais atrapalhar as investigações e deve ser solto.

O STF voltou indiretamente a discutir a prisão em segunda instância. Afinal, o paradoxo de Palocci atende exatamente àquela determinação legal de que a prisão pode, sim, ser executada após a confirmação da sentença em segunda instância. Significa, pelo que não está escrito, que a sentença da primeira instância é insuficiente. Então, livrar Palocci da cadeia atendia exatamente a esta premissa. Como ele foi julgado e condenado, agora pode esperar em liberdade a decisão da segunda instância.  Ocorre que, além de tudo, Palocci é réu confesso que tenta reduzir sua pena oferecendo escancaradamente uma colaboração premiada. Os quatro ministros que votaram pela soltura de Palocci (Toffoli, Lewandowski, Gilmar e Marco Aurélio) ignoraram isso e se ativeram à tese da segunda instância. E defenderam ainda a instituição do habeas corpus. Ignoram também que o “paciente” tentou, mesmo depois de preso, esconder propinas transferindo recursos de sua conta para as de outras pessoas.

A tese da defesa de Palocci perdeu de 7 x 4, como todos sabem, mas isso não é importante. O que se depreende ao final de cada votação é que há diversas cabeças e diversas sentenças no tribunal mais alto do país. O que é bom e adequado, por isso os tribunais são colegiados. Mas, por vezes, não poucas, o STF produz decisões que espantam muito mais do que consolidam uma orientação às instâncias inferiores da Justiça. No caso do habeas corpus de Lula, por exemplo, por muito pouco o STF não desautorizou uma decisão do STJ que foi baseada em decisão anterior do próprio Supremo. Seria um exercício de autoimolação, que por seis votos a cinco foi evitado. Há casos em que o STF acaba gerando até mesmo certa insegurança jurídica. Além destas votações com elevado teor político, existem decisões que atropelam a lei e mudanças de entendimento de ministros sobre assuntos consolidados que confundem a todos. Uma consultora de investimentos diz que muitos dos seus clientes estrangeiros que pensam em investir no Brasil pisam no freio toda vez que prosperam iniciativas como a de Lewandowski, que, ao arrepio da Constituição, não permitiu que os direitos políticos de Dilma fossem cassados no ato do seu impeachment. Ou como a de Gilmar, que anunciou ter mudado de ideia um ano e meio depois de votar a favor da prisão após julgamento em segunda instância.

(...)

ALOPRADO NÚMERO 2
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) declarou na tribuna do Senado que de fato aconselhou o ex-presidente Lula a não sair do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC onde esteve entrincheirado por dois dias antes de se entregar à PF. Disse que assim o PT poderia ter pressionado melhor o STF na decisão sobre prisão em segunda instância. Alguma novidade? Nada, apenas mais uma alopração.

FALA SÉRIO
O PT resolveu fazer uma vaquinha para que, segundo um blog amigo, “os filhos de Lula não morram de fome". Lembra aquela outra vaquinha feita para ajudar José Dirceu a pagar a multa de R$ 971 mil determinada pelo STF no caso mensalão. Mais de 3,9 mil pessoas deram dinheiro para Dirceu pagar a pena. Alguns anos depois, ao condenar o ex-ministro por outro crime de corrupção, o juiz Sergio Moro congelou R$ 20 milhões do pobre e desamparado petista.

(...)
 

SAÚDE, PRA QUE SAÚDE?
Desde 2014 o governo do estado do Rio descumpre sistematicamente a determinação legal de gastar pelo menos 12% do seu orçamento com Saúde. A cada ano os recursos são menores. Em 2014, foram 10,82%. Em 2015, caíram para 8,81%, e, em 2016, despencaram para 5,76%. 

No ano passado, apenas 5,10% do orçamento estadual foram aplicados em saúde, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro. Na próxima quinta, o governador Pezão terá de se explicar em audiência no Tribunal de Justiça.

LOBBY DAS ARMAS
Cidades inteiras foram destruídas na Síria por bombas e mísseis. Milhares de civis foram mortos por tiros de fuzis e metralhadoras. O que os EUA fizeram? Nada.


Os aloprados perderam

O fato é que não houve mobilização popular em favor de Lula

No dia mais importante da história recente do Brasil, os aloprados perderam e o bom senso, o respeito às leis e às instituições prevaleceu. Por alguns momentos desde a emissão da ordem de prisão contra Lula, temeu-se o pior. Os conhecidos revoltados do PT e dos partidos e dos movimentos que circulam o PT como satélites cerraram os punhos e sustentaram que Lula não sairia da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para a cadeia.

O líder do MTST Guilherme Boulos conclamou sua turma a resistir “em trincheira" contra a prisão de Lula. A amigos escreveu, na noite de quinta-feira, que havia um pacto para que Lula não se entregasse, e pediu que a militância ocupasse pelo menos 30 quarteirões em torno do sindicato. Gilberto Carvalho pediu que a militância fizesse uma barreira humana para impedir a entrada da polícia. Desenhava-se uma tragédia.

O aloprado pai, João Pedro Stédile, do MST, chamou seus liderados para ocuparem as praças e as ruas de São Bernardo do Campo. “Vamos nos insurgir", bradou o líder. Não colou. As praças ficaram vazias e só mesmo as ruas ao redor do sindicato se encheram. Não aconteceu o “mar de gente" sonhado por outro ativista do caos, o senador petista Lindbergh Farias. Aparentemente, não houve tempo para Stédile arrumar ônibus e quentinhas e juntar o seu “exército”. [não foi por falta de tempo para arregimentar marginais;
o que houve é que com o PT fora do poder, o general da banda Stédile só pode fornecer passagem de coletivo urbano (nada de fretar ônibus especial) e fornecer pão com margarina.
Também há o fato do Stédile ser um valentão de palanque e sabe que qualquer bobeira que der, terá o mesmo fim do Renato Rainha, outro ex-chefão do 'mst' que curte uma cadeia.
Os juízes de agora mandam prender e a Polícia só precisa de um mandado de prisão para tirar das ruas esses marginais de araque.]
 
O fato é que não houve mobilização popular em favor de Lula. Talvez por isso tenha prevalecido o bom senso. Os discursos da inflamada presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, também não funcionaram. Desde a sentença de Moro, antes mesmo da sua confirmação no TRF-4, Gleisi falava de uma insurreição nacional. Imaginava que as ruas das cidades seriam tomadas por multidões em favor de Lula. Chegou a dizer que, para prender Lula, “vai ter que matar gente". Ninguém matou, ninguém morreu. [Gleisi começa a se preocupar é com sua própria liberdade; é questão de dias ser condenada por uma série de crimes, inclusive já teve todos os seus bens bloqueados.
Felizmente, para Gleisi e outras candidatas ao honroso cargo de presidiária, a prisão federal a ser inaugurada em Brasilia tem uma ala feminina com capacidade para quase 100 detentas.]
 
Os advogados recomendaram fortemente a rendição de Lula. Argumentaram que uma desobediência à Justiça atrapalharia muito as próximas etapas do processo. Eles acreditam que, antes do final do ano, e, se derem sorte, bem antes mesmo da eleição de outubro, conseguirão colocar o ex-presidente em prisão domiciliar.  O próprio Lula, pragmático como é, preferiu seguir o bom senso. Apesar de ser incendiário no discurso, porque fala para uma plateia que espera isso dele, Lula sabia que o que estava em jogo ontem era, antes de tudo, a sua pele. Qualquer movimento errado poderia ter impacto negativo em sua vida pessoal. Na sua vida no cárcere, na duração da sua prisão, no seu futuro. Até a perda da cela especial guardada para ele na sede da PF em Curitiba entrou no seu raciocínio.

Também era difícil medir os resultados políticos que resultariam de uma resistência. Seus efeitos poderiam inclusive ser ruins para o PT. Por isso também os aloprados perderam. Enquanto a militância ouvia discursos enfáticos na frente do sindicato, lá dentro Lula e seus advogados negociavam com a Polícia Federal a forma em que se daria sua rendição. Lula será preso a qualquer momento, talvez depois da missa em homenagem a dona Marisa Letícia, que será realizada neste sábado no próprio sindicato. O acordo não ofendeu a Justiça, que foi sábia e deu a Lula a tranquilidade e o tempo que ele precisava para se entregar.


Ascânio Seleme - O Globo