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segunda-feira, 7 de março de 2022

Potássio para dar e vender - Revista Oeste

Artur Piva

Embora as reservas brasileiras sejam capazes de suprir o país por mais de 200 anos, o mineral ainda é importado

Não são apenas os ataques a usinas nucleares e alvos civis ou os milhões de refugiados que deixam a Ucrânia rumo a outras paragens da Europa o que preocupa o Brasil na guerra que acontece do lado de lá do Atlântico. O potássio, um mineral de cor marrom que, depois de processado, é transformado em pequenas porções que lembram ração de cachorro, é indispensável para a produção de fertilizantes usados nas lavouras brasileiras. E boa parte desse potássio é importada da Rússia


 Cloreto de potássio é um fertilizante mineral vermelho -  Foto: Andrei Dubadzel/Shutterstock
 
Apesar dessa dependência do mercado externo, o Brasil tem uma das maiores reservas de potássio do mundo. O mapa dessa mina é conhecido há mais de uma década. Localizada no Amazonas, a quantidade de minério depositada ali pode suprir a demanda nacional por mais de 200 anos.

Reinhold Stephanes, que comandou o Ministério da Agricultura no governo Lula entre 2007 e 2010, afirmou que o grupo canadense Falcon já havia comprado uma grande área na região quando ele estava à frente da pasta. “Eles me disseram que havia ali a perspectiva de existir a terceira maior reserva de potássio do mundo”, contou Stephanes.

A área faz parte de uma jazida que pode se estender até o Pará. Ao todo, estimam-se mais de 3 bilhões de toneladas de minério. Boa parte dele está localizada em Autazes (AM), município a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus, encostado nos rios Madeira e Amazonas. A quantidade existente ali é estimada em quase 800 milhões de toneladas de silvinita (sais de potássio), segundo estudos realizados pela Potássio do Brasil Ltda., empresa que pretende explorar a área. 

O potássio na agricultura
Em 2020, as plantações brasileiras consumiram pouco mais de 10 milhões de toneladas de fertilizante à base de potássio. Cerca de 95% disso não foi produzido aqui, segundo os dados do Ministério de Minas e Energia. O problema é que todo o potencial encontrado no Norte do país ainda está longe de ser aproveitado.

O setor privado deseja começar a produzir esses fertilizantes no país desde 2010, quando a Potássio do Brasil anunciou a descoberta “de potássio no projeto de pesquisa na Bacia do Rio Amazonas”. Mas a burocracia brasileira emperra a operação há mais de uma década. Embora não esteja dentro de reservas indígenas, o fato de estar poucos quilômetros distante de algumas delas impede o início da mineração. [Ministério Público Federal, por favor, se não querem ajudar, pelo menos não atrapalhem.  
Esse negócio de reservas indígenas pode até ter prioridade, desde que não comprometa a segurança nacional, no caso também a segurança alimentar de milhões de brasileiros.
Se trata de assunto urgente e tem que ser tratado com URGÊNCIA E PRIORIDADE TOTAL. 
Igual quando alguém está infartando e chega no hospital - primeiro se socorre e depois se discute quem paga a conta.
O indígena é igual a qualquer outro brasileiro, nem mais nem menos. Se as reservas estivessem na propriedade de algum brasileiro, não índio, vocês desapropriariam,fazendo o que fosse preciso. Qual a razão de com o índio ser diferente?]

Sob o argumento dessa “proximidade”, o Ministério Público Federal pediu, em 2016, a suspensão das licenças que a Potássio do Brasil já tinha para fazer pesquisas no local e iniciar as obras do complexo de processamento. Elas haviam sido concedidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, órgão estadual. A Justiça atendeu os procuradores, e tudo ficou parado.

O “Projeto Potássio da Amazônia”, nome dado à empreitada, inclui instalar uma fábrica, uma linha de transmissão de energia e um porto para escoar a produção. A estrutura aproveitará as barcaças que navegam pelo Rio Madeira carregadas com a produção agrícola do Centro-Oeste rumo à foz no Oceano Atlântico. No retorno, em vez de voltar vazias, seriam utilizadas para levar o insumo aos produtores.

A operação ainda traria ganhos ao meio ambiente, uma vez que muito menos cargas viriam do extremo norte do planeta. Atualmente, a maior parte do potássio aplicado nas lavouras brasileiras vem dessa faixa do globo. O Brasil importa o produto principalmente do Canadá, de Belarus e da Rússia. 

A invasão da Ucrânia
Nos últimos anos, essa dependência deixou o Brasil refém das mudanças de preço do dólar. Agora, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o problema se tornou ainda mais sensível. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, trabalha para evitar que a guerra vire uma tragédia também para a agropecuária. O setor, vital para a economia brasileira, somou o Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1 trilhão e faturou mais de US$ 100 bilhões com exportações em 2021.

Russos e bielorrussos passam por sanções econômicas em razão do conflito. A retirada deles do mercado impede os envios do minério para o Brasil. A ministra busca suprir a necessidade nacional com outros parceiros. Além do Canadá, entram na lista de possíveis fornecedores o Chile, Israel, alguns países árabes, como a Arábia Saudita e o Catar, além do Irã.

“O Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”

Tereza Cristina se reunirá com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para buscar alternativas. A estratégia é mostrar ao órgão da ONU que fertilizantes e alimentos têm a mesma importância: sem adubo, não há comida. Portanto, os dois itens devem ser tratados da mesma forma: com uma política de zero sanções.

Ainda que funcione, ela avisa que o mercado deve passar por ajustes. “Os preços ficarão mais altos”, alertou, numa entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan. “Essa é uma dificuldade, mas o produtor sabe que, nesse primeiro momento, teremos o aumento do preço desses insumos importantes para agricultura.” 
 
Menos produção e mais dependência
Segundo a ministra, “o Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”. “Nós ficamos cada vez mais dependentes”, lamentou. Tereza Cristina comentou os casos de Estados Unidos e China, outros grandes players do agronegócio mundial, que optaram pelo caminho oposto e hoje produzem 80% da necessidade local de fertilizantes. 

A “mina em Autazes”, de acordo com a ministra, é uma solução de longo prazo. “É tão grande que temos nela o suficiente para abastecer o país por 200 anos”, disse, lembrando do entrave burocrático que impede a exploração. Caso tudo corra bem, a jazida pode começar a suprir um quarto da necessidade nacional até 2025. Ou cinco vezes mais que a produção atual brasileira, que hoje está praticamente toda concentrada no complexo Taquari-Vassouras, em Sergipe.

Antônio Cabrera, ministro da agricultura do governo Collor, resume o problema em três palavras: falta de liberdade. “Todo potencial que existe aqui não pode ser utilizado em razão da nossa burocracia, da nossa capacidade de não aproveitar os recursos naturais”, disse. Segundo Cabrera, falta aos governantes brasileiros uma percepção básica: “Mais liberdade significa menos pobreza e mais alimentos”.

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Artur Piva, colunista - Revista Oeste