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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Só pensam naquilo - Merval Pereira

O Globo

A vitória do petista Fernando Haddad sobre Bolsonaro num terceiro turno hipotético proposto pela recente pesquisa do Datafolha vem comprovar que o embate entre os extremos da política brasileira é o que mais atende ao anseio dos dois.   O resultado não tem maior importância, pois o momento atual não é favorável ao presidente, como mostram diversas pesquisas. Mas confirma o arrependimento de segmentos de eleitores que escolheram o antipetismo em 2018, e hoje já aceitariam Haddad, diante da situação conturbada que vivemos, graças ao caráter belicoso do presidente, e da estagnação econômica.

Mas colocar apenas essas opções para o eleitor é aceitar que essa disputa continuará permanentemente, quando o objetivo de muitos é justamente sair dessa polarização. As pesquisas recentes mostram que existem opções par o centro político, embora muitas potenciais alternativas estejam em dificuldades no momento. O ministro da Justiça Sérgio Moro continua sendo o mais popular ministro em atuação, seguido do ministro da Economia Paulo Guedes.  Mas, na oposição, Bolsonaro se beneficia da estagnação ou queda de adversários, como o governador de São Paulo João Doria, até agora visto como a opção mais competitiva da centro-direita. Na pesquisa do Atlas Político, Doria teve a imagem negativa elevada a nível recorde: 58,3%, quando em julho era de 42,5.

Não é à toa que Bolsonaro outro dia fez um comentário sarcástico a respeito de uma eventual candidatura presidencial de Dória: “Esse está morto para 2022”.  O ex-presidente Lula continua com uma imagem negativa superior à positiva: 57,8% e 34%. E o ex-candidato Fernando Haddad tem imagem negativa ainda maior que o seu líder, desaprovado por 58,4%. Justamente por isso a suposta vitória de Haddad hoje é apenas uma curiosidade, não servindo para definir tendências. Que só  será essa se a polarização dos extremos não for quebrada. Todas as pesquisas de opinião mostram que o índice de desaprovação do governo do presidente Bolsonaro está maior do que o de aprovação, o que indica que o eleitorado de centro começa a abandoná-lo. Mas nenhum candidato oposicionista surge como alternativa.

Essa polarização agrada ao PT, que está completamente sem rumo, sem conseguir assumir o controle da oposição como pretendia.  A presidente do partido nomeada por Lula, deputada Gleisi Hoffman, por isso mesmo considera que o centro político não existe. Ou melhor, que quem não está do lado do PT está no lado de Bolsonaro, uma extrema-direita que não tem coragem que assumir sua posição e finge ser de centro.No máximo centro-direita.

No auge do PT, todo mundo se dizia de esquerda, [todo mundo é muita gente, mas não é tudo.] com vergonha de ser de direita. O Brasil era então o único país do mundo que não tinha uma direita política organizada. Na eleição de 2018 essa direita, que vinha se mostrando desde as manifestações de 2013, assumiu a candidatura de Bolsonaro, e o choque dos extremos esmagou o centro político.  Manter essa situação é o melhor dos mundos tanto para Bolsonaro quanto para o PT, na esperança de que o medo e o desapontamento continuem a empurrar os eleitores para um lado e para o outro.

Mas há grupos trabalhando para gestar uma candidatura de centro-direita que possa agregar a esquerda não dogmática numa eventual disputa futura contra os dois extremos. O ministro Sérgio Moro continua sendo uma aposta viável, embora essa condição lhe traga dificuldades no entorno do presidente Bolsonaro, e com o próprio presidente.  O apresentador Luciano Huck continua como potencial candidato, [eleitores, por favor, não esqueçam que ser um bom animador de auditório,  um bom palhaço, humorista, cantor não significa que tem condições de ser um bom presidente.] num trabalho de bastidores de preparação de futuros candidatos ao Congresso e às Câmaras de Vereadores. Desse trabalho, em que é auxiliado pelo ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, pode sair uma candidatura de centro.

Huck aparece na pesquisa do Atlas Político como das mais bem avaliadas personalidades. Não é por acaso, portanto, que o presidente Bolsonaro começa a bombardeá-lo, e ao governador João Dória, com supostas irregularidades, como utilizar financiamentos do BNDES para a compra de jatos particulares. [bobagem falar sobre: eles apenas compraram jatinhos com juros de 4% ao ano, claro que os contribuintes, nós povão, bancamos a benesse.]
Negócios perfeitamente normais, e estimulados pelo banco de desenvolvimento para dar apoio à Embraer, que disputa um mercado mundial competitivo. O presidente Bolsonaro escreveu em seu twitter que ainda é cedo para pensar na eleição municipal do ano que vem.  Mas só pensa na reeleição, embora tenha prometido que não se candidataria. Assim como prometeu que não daria mais indulto a presos, e já especula sobre o tema de maneira temerária, anunciando perdão para policiais civis e militares condenados. [condenados em primeira instância, sem trânsito em julgado, destacando-se que em alguns casos outros acusados pelo mesmo crime, foram absolvidos a pedido do Ministério Público e outros tiveram julgamento anulado.]

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

TSE indefere a participação de Lula em debate

O Tribunal Superior Eleitoral indeferiu o pedido de Lula para participar do debate presidencial na Rede TV!, nesta sexta-feira. A decisão foi tomada pelo ministro Sérgio Banhos. Em seu despacho, ele anotou que a Justiça Eleitoral não tem poderes para interferir na execução da pena de Lula, preso em Curitiba desde 7 de abril.

O ministro anotou: ''Carece esta Justiça especializada de atribuição constitucional e legal para intervir em ambiente carcerário, no qual em curso o cumprimento, ainda que provisório, de sanção penal, dispondo sobre a eventual utilização intramuros de aparato tecnológico que possibilite, para além de todas as demais questões jurídicas certamente envolvidas, a participação do requerente (Lula), por videoconferência ou por meio de vídeos pré-gravados, em debates a serem realizados nos mais diversos meios de comunicação social''.

Sérgio Banhos incluiu em sua negativa a videoconferência e os vídeos pré-gravados porque os advogados do PT haviam mencionado na petição a hipótese de Lula participar do debate à distância, desde a superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso.  Os advogados alegaram que a a execução antecipada da pena de Lula é uma ''situação excepcional e que tolhe a sua liberdade de ir e vir''.  Sustentaram que, por uma questão de isonomia em relação aos demais candidatos ao Planalto, ele ''não poderia ser prejudicado'' no exercício dos seus direitos. A argumentação não colou. A Vara de Execuções Penais de Curitiba já havia negado a Lula o pedido para gravar vídeos para o horário eleitoral e conceder entrevistas. [a prosperar entendimento tão incabível, tão sem noção, até mesmo estúpido, quanto o apresentado pela defesa de Lula, criminosos condenados e encarcerados tipo Marcola e Fernandinho Beira-Mar poderiam apresentar candidatura e a pretexto de obedecer a uma absurda isonomia participarem de debates, saindo das prisões para os estúdios de TV.
Afinal o que diferencia Lula do Fernandinho e do Marcola são os anos de prisão que os três tem a cumprir por enquanto, Marcola e Fernandinho tem mais anos de cadeia a puxar, mas, com as futuras condenações de Lula - que virão - o presidiário petista pode até ultrapassar os dois veteranos.]
 
Provável substituto de Lula como candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad esteve nesta quinta-feira com o hipotético cabeça da chapa. Após visitar Lula em sua cela especial, sem saber da decisão do TSE sobre o debate da Rede TV!, o vice provisório do PT declarou:  “…O Lula tem o direito, enquanto o TSE julga o seu registro, ele tem a prerrogativa de participar de tudo: de debate, de horário eleitoral, fazer as gravações como qualquer outro candidato. Nós vamos defender o seu direito." [assista aqui.]

Blog do Josias de Souza