Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador incumbent. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador incumbent. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A frente ampla e a margem de manobra de Bolsonaro - Alon Feuerwerker

Análise Política

As pesquisas convergem para duas constatações sobre 2022. O presidente Jair Bolsonaro permanece competitivo e tem uma reserva para ir ao segundo turno. Claro que nas condições normais, e atuais, de temperatura e pressão. Por outro lado, todos os levantamentos indicam um segundo turno duríssimo para ele. As margens hoje sobre os desafiantes são estreitas, além do que seria saudável para um incumbent, como dizem os americanos.

O estilo e a linha do presidente, sabe-se, têm dois efeitos. Garantem a fidelidade de um núcleo duro,
mas também estimulam a aproximação entre os potenciais adversários. Este segundo movimento hoje acontece numa velocidade compatível com a era digital. A dúvida? Qual será a capacidade de o desafiante escolhido no primeiro turno agrupar o antibolsonarismo no segundo.

Trata-se do repisado tema da “frente ampla”. O benchmark mais abrangente é a coalizão formada na transição para a Nova República em 1985. O caso histórico bem conhecido do deslocamento para o oposicionismo de personagens que haviam apoiado a deposição de João Goulart em 1964. Na estocada final, um pedaço inteiro do governista PDS (antes Arena) juntou-se ao PMDB (antes MDB) com a marca de Frente Liberal. Depois viraria partido (PFL, hoje Democratas).

Mas ali foi a culminância de uma caminhada de duas décadas, na qual a esquerda e os progressivamente convertidos foram se aproximando ao longo de sucessivas eleições e movimentos político-sociais antirregime. Dois (quatro?) anos não são vinte. Ainda que, como foi dito, a velocidade seja bem maior no mundo da internet. E tem outro aspecto, ainda mais significativo. Ali havia um acordo: todos os grupos oposicionistas aceitavam-se na frente.

Mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, que depois no PT construiria um caminho próprio, apoiou Fernando Henrique Cardoso (MDB) para o Senado em 1978. Sobre aquela época, pode-se argumentar que a aceitação mútua era facilitada por um detalhe: a hegemonia ali estava pré-estabelecida, havia um único partido permitido de oposição e era completamente controlado pelo que hoje se chama de “centro”. Ainda que persistisse no MDB uma disputa entre “autênticos” e “moderados”. Estes últimos dispostos a uma eventual negociação com o regime em torno da transição.

Tem mais. Do emedebismo raiz à esquerda, todos estavam excluídos do poder. E aí certa hora juntaram-se para fazer a passagem. É possível argumentar que o PT não votou em Tancredo Neves. Verdade. Mas talvez tenha sido também porque a vitória do mineiro era garantida. Nunca saberemos - e esta afirmação leva a vantagem de não poder ser derrubada pelos fatos -, mas é possível que se os votos do PT fossem decisivos contra Paulo Maluf a posição do partido teria sido outra.

Mais um detalhe. Havia na oposição razoável consenso sobre a necessidade de uma política econômica à época rotulada de heterodoxa. Foi a era de ouro dos economistas nacionalistas, defensores do papel do Estado. Depois deu errado. José Sarney atravessou sucessivas borrascas econômicas, editou sucessivos planos econômicos, que fracassaram todos, e quase caiu. Até cruzar a linha de chegada com a língua de fora. Mas isso foi depois.

Hoje 1) uma gorda parte da possível frente ampla está aninhada no Estado,  
2) não há acordo básico sobre, por exemplo, os de fora do segundo turno apoiarem quem for à decisão e 
3) o neo-oposicionismo apoia resolutamente a condução da economia pela dupla Bolsonaro-Paulo Guedes. São obstáculos intransponíveis para a formação da frente? Não. Mas indicam que, mesmo com todas as dificuldades, o governo mantém margem de manobra. Resta saber como, e se, vai usar. 
PIB - 2020 - vale a pena ler
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

As coisas irem bem nunca é garantia - Alon Feuerwerker




As eleições nos Estados Unidos serão parâmetro para medir a competitividade do discurso de esquerda, ou progressista, ancorado em teses 
1) identitárias, 
2) ditas globalistas e 
3) voltadas a lançar os sacrifícios econômicos também nas costas dos ricos. Uns mais para cá, outros para lá, qualquer desafiante democrata de Donald Trump vai acabar abraçando algum conjunto de propostas ancorado nisso. Já o incumbent só depende de convencer que o capitalismo funciona.

E Trump está sobrevivendo à pressão do establishment liberal e da imprensa pró-democrata porque nos EUA o capitalismo está num bom momento. Os Estados Unidos atingiram na prática o pleno emprego, e em situações assim é muito difícil derrubar, nas urnas ou no braço, o candidato sentado na cadeira. Como será difícil no Brasil derrotar Jair Bolsonaro se Paulo Guedes conseguir operar o milagre de até 2022 baixar o desemprego para em torno de 6 ou 7%. E aqui nunca um presidente perdeu a reeleição. [o Brasil espera e confia cque até meados de 2022, o desemprego será  inferior a 500.000 - abaixo de 5%, -  e outros progressos econômicos - que ocorrerá com a economia sob comando não necessariamente doministro Paulo Guedes.

A mania dele de retirar beneficios dos trabalhadores - não apenas dos funcionários públicos, estes ele quer extinguir - e criar novos impostos, entre eles a maldita CPMF, não é boa política.]

Mas, cuidado. Não é assim mecânico. Tabus existem para serem quebrados. A explosão da rua em 2013 se deu com desemprego baixo. [porém, sem governo, o que existia tinha alta INCOMPETÊNCIA.] Ali transbordou algo nascido da chamada frustração de expectativas. O PIB começava a perder fôlego e a inflação voltava a ficar inquieta. A boca do jacaré (as duas curvas) começava a fechar, e o mal-estar potencial foi habilmente aproveitado pelos pescadores de águas turvas, no vocabulário do presidente Ernesto Geisel (1974-79).

O Chile é outro exemplo de que tudo pode desandar mesmo quando as coisas vão bem, segundo o senso comum. Ali o problema parece não ser tanto a desigualdade, mas a injustiça. A ortodoxia sem contrapesos fez a direita subestimar a necessidade de uma mínima proteção estatal/social aos pobres, aos ditos excluídos e aos velhos. Deu no que deu. O Chile tem uma chance de canalizar o mal-estar para soluções institucionais, pela Constituinte. Vai aproveitar?

A explosão social costuma vir antes da ruptura política
. No Brasil a ruptura já aconteceu em 2018, também como resultado de 2013, que depois produziu 2015/16. Daí uma certa modorra, mesmo com a escassez de resultados. O governo Bolsonaro ainda tem um tempo antes de ser fortemente cobrado pelo povão. Para a oposição, portanto, a etapa ainda é defensiva, com foco na redução de danos enquanto espera a hora de tentar virar o jogo.

Mas a boa defesa sempre embute a preparação do ataque, como ensinam os mestres do futebol. E, já que não dá para saber que fagulha vai incendiar a pradaria, o negócio é ir garimpando em todos os temas disponíveis. É o que faz a oposição, também ajudada pelas bolas que o governo e o presidente levantam todo dia, às vezes mais de uma vez por dia. E, em meio à fumaça, sempre é útil tentar enxergar, afinal, de onde virá a esperada oportunidade.

Vale a pena prestar atenção em como o Congresso vai reagir à suspensão monocrática do juiz de garantias. Vale a pena observar se o funcionalismo público terá poder de fogo para enfrentar a reforma administrativa. [será fácil, com duas fontes de poder de fogo;

- 2020, ano eleitoral; e, Paulo Guedes ajudando a obter e usar aquele poder.] E vale muito a pena começar a olhar para as eleições municipais. Os atritos do presidente com os governadores vão valorizar algumas delas que em princípio estariam em segundo plano. Como São Luís, Salvador e Porto Alegre. 


Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política