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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Escolas cívico-militares e os três inimigos históricos de Lula - Percival Puggina

         Não resta dúvida de que o PT foi trazido de volta ao poder para cumprir seu destino histórico e destruir o país
Eu sabia – já escrevi tanto a respeito! – mas era consequência do que podia ler nos fatos; agora, Lula verbalizou tudo, audível e claramente, aos amigos da sua Pátria Grande reunidos no Foro de São Paulo. Disse ele:Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo, ou seja, o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater”.
 
Qual a principal trincheira desse combate? 
Onde a frente ampla da desgraça nacional avança sem encontrar resistência alguma? 
Onde, num total desequilíbrio de forças se estabelece o domínio dos corações e das mentes
É nas salas de aula do país, convertidas em crematório do futuro ao longo de toda a cadeia produtiva do ensino.
 
Não surpreende o entendimento entre o MEC e o Ministério da Defesasim, você leu certo que acabou com as escolas cívico-militares criadas em 2019
Afinal, os três inimigos contra os quais a liderança esquerdista do continente “aprendeu historicamente, etc., etc” estão presentes nesses educandários: 
1º) as famílias, que junto com os professores, em assembleia e por votação decidem adotar esse modelo; 
2º) os bons costumes, porque traficantes, malfeitores e desordeiros mantêm distância e os alunos são orientados para condutas civilizadas voltadas ao aprendizado
3º) o patriotismo, porque nessas escolas, o sadio e produtivo amor à pátria não é reprovado, mas estimulado.
 
De um modo gradual, elas serão absorvidas pela mesmice de um sistema cujos péssimos resultados gritam nas aferições internas e rankings internacionais que avaliam o desempenho escolar em todos os níveis de ensino. “É que não se faz Educação sem dinheiro!”, exclamarão em coro as salas de professores. 
No entanto, em 2019, o Brasil ocupava o 6º lugar no investimento em Educação, medido na proporção com o PIB, perdendo apenas para os países nórdicos e para a Bélgica.
 
Mas é só isso que a esquerda no poder combate historicamente e põe as escolas cívico-militares de joelhos com a nuca exposta? Não, tem muito mais. 
Ela substitui o moralmente correto pelo “politicamente correto”, a História por um elenco de narrativas capciosas, a solidariedade pelo antagonismo, o amor ao pobre pelo ódio ao rico.
 
Essa esquerda combate a estrutura familiar pela condenação do suposto patriarcado, como se a paternidade fosse apenas poder e não amor, responsabilidade, serviço e sacrifício.  
A sala de aula não pode ser o vertedouro das frustrações de quem detém o toco de giz.
 
Ela desrespeita a inocência das crianças. Contra a vontade unânime dos parlamentos do país, introduz pela janela a ideologia de gênero nas salas de aula enquanto os valores saem pela porta.  
Como alavanca ideológica, não estimula o respeito à propriedade privada, nem o empreendedorismo, nem o valor econômico do conhecimento e das competências individuais.  
 
Poderia prosseguir pois nada há de meu apreço que não seja combatido pela esquerda em sua guerra cultural ou contra o Ocidente, ou por uma nova ordem mundial. O desejado pluralismo de ideias é substituído pela exclusão da divergência
O Estado que deveria servir a sociedade põe a sociedade a seu serviço. 
O Estado e a política que os camaradas da Pátria Grande querem precisa dos necessitados de seu auxílio, sem os quais desaparecem politicamente.
 
Vejam o quanto essa esquerda é dependente de um sistema de ensino que não ensine, cujo foco não esteja no aluno e sua aprendizagem, mas em difusos e sinistros objetivos político-ideológicos. 
Tal sistema, quando fala em escola de tempo integral, mais me assusta do que me alegra!

PS – Os muitos bons e valiosos professores têm meu louvor e sabem contra o que também se empenham.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 29 de maio de 2023

Esquerda pressiona Lula, se divide e causa desgaste para o Planalto

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A divisão do butim - Rodrigo Constantino

VOZES - Gazeta do Povo

Já fui processado pelo PT por chamar o partido de quadrilha, e venci. Afinal de contas, teve ministro supremo que assim definiu a agremiação política comandada por Lula, à época do mensalão e do petrolão. Hoje muita gente tenta passar uma borracha no passado, mas eu tenho memória - e decência.

Portanto, sejamos francos: o PT parece muito uma quadrilha. E quadrilha não tem aliados, mas cúmplices, comparsas.  
O que une figuras como Renan Calheiros em torno de Lula é a sede por recursos públicos, poder, nada mais. 
Não há um projeto de nação; apenas um projeto de poder totalitário.

Os monstros do pântano já estão salivando com a expectativa de agarrar nacos do estado no próximo governo. Eis o "plano de governo" de Lula, que sequer foi apresentado durante a campanha: tomar de assalto o estado e promover a divisão do butim entre seus companheiros. Estão todos de olho na pilhagem da coisa pública, tratada como cosa nostra por essa máfia golpista.

É por isso que torneiras serão abertas, o teto será furado e os ministérios serão ampliados. É preciso dar conta dos "acordos", leia-se negociatas de bastidores para atrair o apoio da tal "frente ampla", que não quer democracia coisa alguma, e sim a volta da roubalheira. O ladrão queria voltar à cena do crime, alertou Alckmin antes de aderir ao esquema.

É por isso que teremos a recriação de inúmeros ministérios, para acomodar os apaniguados, oferecer os cabides de emprego, os recursos e o poder aos companheiros. 
Lula já indicou que dividirá o Ministério da Economia em três pastas: Planejamento, Fazenda e Pequenas Empresas. O mesmo deve ocorrer com Igualdade Racial, Direitos Humanos e Mulher, [esses três ramos seriam perfeitamente atendidos como subsecretarias de uma Secretaria do Ministério da Cidadania.]  também unificados no governo Bolsonaro. Previdência Social e Segurança Pública também devem ganhar status de ministério, além de Pesca (hoje anexada à Agricultura) e Cultura (que integra a estrutura do Turismo).[lembrem-se que nos tempos da quadrilha petista, Ideli Salvati, então titular da Pesca, comprou lanchas para serem utilizadas em serras.
Já imaginamos o trabalho que o Lúcio Vaz -  Blogueiro da Gazeta do Povo, que cuida dos gastos públicos, indo das lagostas consumidas pelos supremos do STF a outros desperdícios -  irá ter após o eleito se transformar em empossado.]

Além disso, Lula já prometeu criar o ministério dos Povos Originários, "para que eles nunca mais sejam desrespeitados, para que eles nunca mais sejam tratados como cidadãos de segunda categoria". Finge acreditar nessa narrativa fajuta quem quer, pois nós sabemos o que realmente está em jogo aqui.[o eleito deveria era cuidar para que os indios,  brasileiros que são,  passem a ter os mesmos DEVERES,     DIREITOS e OBRIGAÇÕES dos brasileiros = são todos brasileiros.]

Os nomes que começam a ser aventados como futuros ministros denunciam a trama. Fala-se até em Guilherme Boulos como ministro, e das Cidades ainda por cima! [o individuo citado, especialista em convencer incautos a participarem de invasões nas cidades e após concretizada a invasão, tal individuo passa a receber aluguel dos babacas que o ajudaram na empreitada criminosa.] É a invasão de propriedade como política de governo!   
O nome de João Pedro Stédile também circulou, [outro bandido que sob o governo Bolsonaro colocou o rabo entre as pernas,  passando a andar de 'quatro', agora quer voltar; aliás, o que mais se observa no CCBB, local da transição, é a abundância de defuntos petistas voltando = verifiquei uma lista e mais parecia relação de bandidos procurados.]  possivelmente como o bode na sala, para acharmos mais palatável nomes como o de Fernando Haddad depois.

Mas todos os nomes levantados como balão de ensaio são péssimos, e exalam o critério do "companheirismo", ou seja, um prêmio pelo apoio, não uma escolha minimamente técnica e com espírito público
É pura divisão do butim, nada mais. 
No passado recente foi igual, e vários desses companheiros do alto escalão terminaram presos. [quando se aglomeram,  a maior parte deles, a quase totalidade, não resiste a testar a forma para roubar, especialmente celulares (prática delituosa que o eleito já condenou ser motivo de prisão para seus praticantes)  tanto que, o índice de furto de celulares naquela região, está em alta - obviamente, que não comunicam às autoridades policiais os furtos que estão ocorrendo.] Acho pouco provável ser diferente dessa vez - se a Justiça ainda puder funcionar de forma minimamente independente.

O PT é um atraso para o Brasil, um retrocesso sem igual. O "partido" se cerca do que há de pior, pois o único intuito é se apropriar da riqueza que os outros produzem. São como piratas, mas com o manto de "justiça social" para enganar um ou outro trouxa por aí.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 8 de outubro de 2022

A frente ampla antipetista liderada por Jair Bolsonaro - Gazeta do Povo

VOZES - Guilherme Macalossi

 


  • Zema e Bolsonaro: parceiros agora e, possivelmente, em 2026 -  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
O final do 1º turno da eleição foi pautado pelo movimento de Lula em nome da criação de uma frente ampla contra Jair Bolsonaro
Estimulada pelos números das pesquisas, a campanha do petista imaginava que poderia vencer já no último dia 2 de outubro. Deu início a uma enorme campanha de voto útil tendo como principais alvos Ciro Gomes e Simone Tebet. Os levantamentos, entretanto, estavam errados e, ainda que Lula tenha tido mais votos, Bolsonaro acabou triunfando por ter um desempenho muito acima do projetado. Ao final, a distância entre ambos foi de apenas 5%, dando fôlego ao atual presidente, que agora lidera sua própria frente: a antipetista.

O lulismo, ainda que permaneça reafirmando confiança, vai trocando o clima de "já ganhou" e sendo empurrado para a dúvida e o receio de uma derrota outrora considerada impensável.

O início do segundo turno da eleição foi marcado pela acomodação de boa parte dos que haviam rompido ou se desvinculado de Bolsonaro. O caso mais notório é de Sergio Moro.  
O ex-juiz já buscava a aproximação desde antes de ser eleito senador pelo Paraná. No dia 4 de outubro escreveu em seu Twitter queLula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro”. A ele se seguiu o agora deputado Deltan Dallagnol, ex-coordenador dos procuradores que atuaram na Lava Jato.

Sob a lógica da rejeição ao PT, há uma inegável confluência de forças políticas no campo da direita. A todos, mesmo aqueles considerados até pouco tempo como traidores do presidente, está sendo oferecido um lugar na mesa. O clima antipetista do 2º turno de 2022 vai se moldando ao que se viu no Brasil no 2º turno de 2018. O importante é mandar a esquerda “para Cuba”.

O antipetismo também dividiu os partidos do centro. Ainda que figuras como Fernando Henrique Cardoso, Simone Tebet e Roberto Freire tenham anunciado apoio a Lula, o fato é que as bases do PSDB, do MDB e do Cidadania não aderiram uniformemente à decisão de seus líderes. No PSDB, o governador de São Paulo Rodrigo Garcia anunciou apoio a Bolsonaro, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, neutralidade. No MDB, há ainda especulação sobre o posicionamento de Michel Temer. Apesar de o ex-presidente ter divulgado nota oficial sem definir apoio, parece inclinado em favor de Bolsonaro. Já o Cidadania viu sua bancada federal se rebelar contra o apoio a Lula e pedir neutralidade para que cada integrante da sigla defina seu futuro.

Há quem, ainda em 2022, negue que o antipetismo seja um fenômeno político suficientemente denso a ponto de tornar secundários os vícios profundos do atual governo. Bolsonaro, entretanto, já fez sua aposta nele e vai colhendo resultados. 
A estratégia é inverter a pauta, afastando os questionamentos sobre seu primeiro mandato e fazer um plebiscito sobre o período de Lula e Dilma, fortalecendo o sentimento antipetista. Inclusive avançando em temas morais, que são caros a uma parte expressiva do eleitorado brasileiro.

Vitaminado pelo seu próprio desempenho e de seus aliados, Bolsonaro costura palanques em estados importantes como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. 

Com isso, sua militância antipetista vai criando um clima de virada que já começa a se materializar como possível até mesmo nas contestadas pesquisas eleitorais. 
Do outro lado, o lulismo, ainda que permaneça reafirmando confiança, vai trocando o clima de "já ganhou" e sendo empurrado para a dúvida e o receio de uma derrota outrora considerada impensável.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Uma frente difícil - Alon Feuerwerker

Análise política

Por que os opositores não se reúnem numa frente ampla contra Jair Bolsonaro? A explicação está ao alcance
Qual dos candidatos a participar da frente vê no capitão uma ameaça significativamente maior que a representada pelos possíveis aliados táticos contra o presidente da República?

Pois seria simples de resolver. Bastaria todos firmarem o compromisso de apoiar quem for ao segundo turno contra Bolsonaro. Se o presidente estiver no segundo turno. Poupariam tempo e energia. E cada um faria seus próprios comícios, passeatas e que tais. Sem o risco de ser apupado pelos amigos de hoje, que amanhã voltarão a ser os inimigos de ontem.

Qual é o obstáculo? Em largas parcelas do espectro político-social-empresarial apoiar Bolsonaro ou manter certa neutralidade, no primeiro ou no segundo turnos, continua sendo uma opção à mesa. E alianças políticas só se consolidam quando se cristaliza a consciência, ou a circunstância, de uma ameaça externa qualitativamente maior.

Um exemplo aliancista sempre lembrado é a Frente Ampla costurada por Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek, que tentaram atrair João Goulart. No fim, o regime militar implodiu a articulação e ela acabou sendo o canto de cisne político dos três. Eram inimigos e só começaram a conversar sobre juntar-se quando a ameaça existencial política já tinha desabado ou estava apontada para todos eles. Lacerda fora um líder de 1964. E JK votara no marechal Castelo Branco na eleição indireta para substituir o deposto Jango.

Outro episódio de referência é a Segunda Guerra Mundial. 
União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido uniram-se para derrotar a Alemanha. 
O incauto pode ser induzido a acreditar na fábula das três potências que certa hora decidiram salvar a humanidade, deixaram para depois as diferenças e deram-se as mãos na urgente tarefa comum.

O Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha quando esta invadiu a Polônia, mas britânicos e franceses esconderam-se numa guerra de mentirinha ("phoney war"), ou pelo menos de baixa intensidade, até os alemães atacarem a França. A União Soviética só passou a combater a Alemanha quando foi invadida por ela, em junho de 1941. Antes, firmara em 1939 um pacto de não-agressão com Berlim, para neutralizar a pressão que britânicos e franceses faziam sobre os alemães para estes atacarem os soviéticos. E os Estados Unidos só entraram na guerra quando atacados pelos japoneses em Pearl Harbor, em dezembro de 1941.

Súditos da rainha, liderados de Stalin e comandados por Roosevelt só se deixaram arrastar para a guerra quando se viram diante de uma ameaça existencial direta. A eles mesmos (URSS), a seu império (Reino Unido) ou à sua área de influência no Pacífico (EUA). Que futuro o PT oferece ao “centro” para este fechar as portas definitivamente a Bolsonaro? 
E que garantias a esquerda raiz tem de vida mais fácil num governo da “terceira via”?

Dizer "vamos tirar o Bolsonaro e só depois eu corto teu pescoço" não chega a ser uma sedução irresistível.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

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Publicado na revista Veja de 29 de setembro de 2021, edição nº 2.757


domingo, 25 de abril de 2021

O cachorro do Pavlov - Alon Feuerwerker

Na culinária e na política, nem sempre quem faz o bolo come o bolo. Em 1992, o PT ofereceu a base popular para depor o presidente Fernando Collor de Mello. Certa hora, achou-se que Luiz Inácio Lula da Silva emergiria do processo imbatível em 1994. Mas Fernando Henrique Cardoso reagrupou as tropas dispersas do collorismo, pegou o trem do Plano Real e matou o sonho do PT de surfar a onda do impeachment rumo ao poder.

Deu-se o mesmo na queda de Dilma Rousseff. PSDB e PMDB (hoje MDB) decretaram o fim do quarto governo petista, reuniram-se em torno de Michel Temer e projetaram poder adiante no tempo. Mas a entropia trazida pela Lava Jato foi além da conta e acabaram ambos tragados pelo tornado bolsonarista. O antipetismo trouxe junto a antipolítica e o antitudo, e tucanos e peemedebistas viram o bolo escapar na undécima hora.

Esse fenômeno não se dá só em situações contaminadas por derrubadas de governos. Acontece também em transições normais, decorrentes de eleições convencionais. Quantas vezes se viu a polarização eleitoral, antes resiliente, ser atropelada por um azarão de última hora? Aí o oposicionista que fez de tudo e consumiu as melhores energias para minar o incumbente fica na poeira. Pois se tem algo difícil de combinar antecipadamente com o eleitor é o resultado de uma eleição.

Assiste-se agora à ofensiva da esquerda e da ex-direita, rebranded como centro, contra Jair Bolsonaro.                                                                     No momento, o objetivo de ambas é enfraquecê-lo para derrotá-lo na urna. Até porque Hamilton Mourão não tem sido, por enquanto, um replay de Itamar Franco ou Michel Temer. Não dá esperanças aos políticos hoje excluídos do poder. Nem estes andam dispostos a cozinhar o bolo e, de novo, ficar a ver navios. E Bolsonaro vai navegando...

Mas os mares andam cada vez mais turbulentos. Inclusive por certos incômodos que a condução governamental desencadeou e fez crescer na pandemia. Um deles, importante: 
pela primeira vez, a elite sente algo parecido com as gentes do povão quando ficam doentes e não têm certeza de que vão encontrar um leito vazio de hospital ou UTI. Atenção, eu disse “algo parecido”. Mesmo hoje, continuam situações no limite incomparáveis.

Na tempestade da pandemia, esquerda e centro ensaiam juntar-se para fazer o bolo da lipoaspiração do atual presidente. Mas sempre com um olho no peixe, Bolsonaro, e outro no gato, o aliado de momento e já garantido adversário de amanhã. E, ao contrário de situações históricas anteriores, desta vez nem tentam disfarçar. Não é mais um jogo de dois, bolsonarismo e antibolsonarismo, ou petismo e antipetismo, mas de três.

Jogo de três é sempre mais complicado de operar. Se até o cachorro do Pavlov aprendeu, desenvolveu reflexos condicionados, não é difícil supor que os políticos também tenham aprendido. De viver, estudar ou ouvir falar, tanto faz. Entrar de gaiato numa “frente ampla” para confeitar o bolo e correr o risco de ficar sem nenhum pedacinho dele na hora de comer talvez não atraia mais tantos incautos como no passado.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico - Publicado na revista Veja de 28 de abril de 2021, edição nº 2.735

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A frente ampla e a margem de manobra de Bolsonaro - Alon Feuerwerker

Análise Política

As pesquisas convergem para duas constatações sobre 2022. O presidente Jair Bolsonaro permanece competitivo e tem uma reserva para ir ao segundo turno. Claro que nas condições normais, e atuais, de temperatura e pressão. Por outro lado, todos os levantamentos indicam um segundo turno duríssimo para ele. As margens hoje sobre os desafiantes são estreitas, além do que seria saudável para um incumbent, como dizem os americanos.

O estilo e a linha do presidente, sabe-se, têm dois efeitos. Garantem a fidelidade de um núcleo duro,
mas também estimulam a aproximação entre os potenciais adversários. Este segundo movimento hoje acontece numa velocidade compatível com a era digital. A dúvida? Qual será a capacidade de o desafiante escolhido no primeiro turno agrupar o antibolsonarismo no segundo.

Trata-se do repisado tema da “frente ampla”. O benchmark mais abrangente é a coalizão formada na transição para a Nova República em 1985. O caso histórico bem conhecido do deslocamento para o oposicionismo de personagens que haviam apoiado a deposição de João Goulart em 1964. Na estocada final, um pedaço inteiro do governista PDS (antes Arena) juntou-se ao PMDB (antes MDB) com a marca de Frente Liberal. Depois viraria partido (PFL, hoje Democratas).

Mas ali foi a culminância de uma caminhada de duas décadas, na qual a esquerda e os progressivamente convertidos foram se aproximando ao longo de sucessivas eleições e movimentos político-sociais antirregime. Dois (quatro?) anos não são vinte. Ainda que, como foi dito, a velocidade seja bem maior no mundo da internet. E tem outro aspecto, ainda mais significativo. Ali havia um acordo: todos os grupos oposicionistas aceitavam-se na frente.

Mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, que depois no PT construiria um caminho próprio, apoiou Fernando Henrique Cardoso (MDB) para o Senado em 1978. Sobre aquela época, pode-se argumentar que a aceitação mútua era facilitada por um detalhe: a hegemonia ali estava pré-estabelecida, havia um único partido permitido de oposição e era completamente controlado pelo que hoje se chama de “centro”. Ainda que persistisse no MDB uma disputa entre “autênticos” e “moderados”. Estes últimos dispostos a uma eventual negociação com o regime em torno da transição.

Tem mais. Do emedebismo raiz à esquerda, todos estavam excluídos do poder. E aí certa hora juntaram-se para fazer a passagem. É possível argumentar que o PT não votou em Tancredo Neves. Verdade. Mas talvez tenha sido também porque a vitória do mineiro era garantida. Nunca saberemos - e esta afirmação leva a vantagem de não poder ser derrubada pelos fatos -, mas é possível que se os votos do PT fossem decisivos contra Paulo Maluf a posição do partido teria sido outra.

Mais um detalhe. Havia na oposição razoável consenso sobre a necessidade de uma política econômica à época rotulada de heterodoxa. Foi a era de ouro dos economistas nacionalistas, defensores do papel do Estado. Depois deu errado. José Sarney atravessou sucessivas borrascas econômicas, editou sucessivos planos econômicos, que fracassaram todos, e quase caiu. Até cruzar a linha de chegada com a língua de fora. Mas isso foi depois.

Hoje 1) uma gorda parte da possível frente ampla está aninhada no Estado,  
2) não há acordo básico sobre, por exemplo, os de fora do segundo turno apoiarem quem for à decisão e 
3) o neo-oposicionismo apoia resolutamente a condução da economia pela dupla Bolsonaro-Paulo Guedes. São obstáculos intransponíveis para a formação da frente? Não. Mas indicam que, mesmo com todas as dificuldades, o governo mantém margem de manobra. Resta saber como, e se, vai usar. 
PIB - 2020 - vale a pena ler
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Frente anti-Bolsonaro remói nova derrota após eleição da Câmara e prevê obstáculos para 2022 - Folha de S. Paulo

Carolina Linhares

União da oposição já naufragou outras vezes, mas deputados são otimistas em relação ao diálogo entre partidos  

naufrágio do bloco que apoiava Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara expôs os entraves para a formação de uma frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022. A união de diferentes ideologias, com caciques de MDB, PT, PDT, PSB, PC do B, Cidadania, Rede, PV, PSDB, DEM e PSL (os dois últimos acabaram abandonando o barco), foi vista como um ensaio da tal frente, que já fracassou outras duas vezes.

Na segunda-feira (1º), porém, quando o governista Arthur Lira (PP-AL) derrotou Baleia, contando com implosões e rachas nos partidos que apoiavam o emedebista, o recado foi que as siglas e os deputados definem seu lado mais com base em vantagens pragmáticas para se reelegerem, como verbas e cargos, do que pela convicção de derrotar Bolsonaro.  Deputados ouvidos pela Folha acreditam ser difícil uma união da esquerda, do centro e da direita moderada em uma candidatura presidencial única em 2022, mas avaliam que o eventual segundo turno, dependendo de quem nele estará, pode forçar isso.

Especialistas concordam que o sistema partidário e eleitoral não dá incentivos para que haja uma frente ampla, pelo contrário: o natural é que diferentes partidos lancem seus projetos ao menos no primeiro turno.  O consenso em Brasília e na academia é que os cenários para 2022 não podem ser cravados agora, pois tudo depende de como o governo vai se comportar e de como as crises econômica e sanitária irão afetar a popularidade do presidente.

A força ou fraqueza eleitoral de Bolsonaro, o tamanho da oposição e o nível de entendimento sobre ele representar uma ameaça à democracia são fatores que poderão unir os partidos para derrotá-lo ou, ao contrário, fazê-los seguir fragmentados. Parlamentares mais otimistas veem, sim, possibilidade de frente ampla em 2022, seja num segundo turno, seja numa redução de candidaturas no primeiro —uma de centro-direita, uma de centro-esquerda e Bolsonaro.

De forma geral, porém, deputados avaliam como positiva a união em torno de Baleia. O episódio teve o mérito de criar um diálogo entre siglas distantes. Parlamentares ouvidos pela reportagem preveem que haverá no Congresso uma união da oposição ao governo, do PSOL ao PSDB, sobretudo para barrar pautas como ampliação do armamento, ensino domiciliar e brechas para violência policial. [uma união de nulidades para barrar pautas que levaram a eleição do presidente Bolsonaro - partidos sem valor, que entendem oposição consiste unicamente em atrapalhar o governo.]

Mais do que isso: creem que esse bloco vai crescer conforme Bolsonaro não consiga entregar cargos e emendas prometidas ao centrão ou enterre de vez sua popularidade com crises agudas. Já quando o assunto for economia e reformas, a esquerda deve ficar sozinha na oposição, com alas oposicionistas de partidos como PSL, DEM e PSDB aderindo à pauta do ministro da Economia, Paulo Guedes. O tema do impeachment só sai do banho-maria, dizem parlamentares, se a vacinação proporcionar mobilização de massa. [o êxito da vacinação, ou de qualquer outro caminho que reduza a pandemia (até o passar do tempo conspira a favor do capitão) mantém o impeachment no arquivo e seus apoiadores com o mesmo destino de deputado Maia = o ostracismo = morte política.] 

A frente ampla contra Bolsonaro já sucumbiu anteriormente devido a diferentes atores. A primeira tentativa foi ainda no segundo turno de 2018, mas Ciro Gomes (PDT) viajou a Paris, e João Doria (PSDB) aderiu ao voto Bolsodoria. Em meados de 2020, na pandemia, quando a postura de Bolsonaro já indicava prejuízo à saúde pública, foi a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) jogar água fria nos manifestos contra o presidente afirmando não ser “maria vai com as outras” e se recusando a estar ao lado de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na eleição municipal do ano passado, partidos de esquerda se uniram no primeiro turno somente em Florianópolis e Belém (sem o PSB); enquanto frentes contra bolsonaristas só se formaram no segundo turno no Rio de Janeiro e em Fortaleza. Na eleição da Câmara, o ônus ficou com DEM e PSL, que saíram do bloco de Baleia, rumo que o PSDB quase tomou. Na esquerda, o PSOL foi criticado por lançar candidatura para marcar posição, enquanto Baleia tinha chances reais de derrotar Bolsonaro. Agora, o partido reforça a opinião de que a esquerda tem que ter candidatura própria e não pode contar com a oposição de direita —o PT ainda defende a postura pragmática como a correta naquele momento.

O movimento do DEM o aproximou do governoÀ Folha, o presidente da sigla, ACM Netoafirmou que não descarta apoiar a reeleição de Bolsonaro em 2022. Mas se mantêm abertas as possibilidades de apoiar PSDB, MDB e Cidadania, com Doria ou Luciano Huck, ou PDT e PSB, com Ciro. O desafio da unificação existe também na esquerda, onde PSOL e PT podem não abrir mão de candidatura própria. Lula é ficha-suja, mas poderia ser candidato caso o Supremo Tribunal Federal julgue Sergio Moro parcial e anule suas condenações.

Entre os otimistas em relação à frente ampla está o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), que vê chance de que a união da oposição se estenda a 2022.  “Não é fácil unificar, mas se iniciou a discussão para o amadurecimento de que precisamos de uma alternativa. A candidatura do Baleia foi um marco, é uma chama que se acendeu e deve ser levada adiante."

O líder do PSDB na Câmara, Rodrigo de Castro (MG), afirma que o partido resistiu com Baleia apesar das pressões e que o movimento a favor de Lira se deve à sua boa articulação e ao pragmatismo de alguns deputados, mas não enfraquece a oposição.  Para ele, se os partidos não estarão juntos no primeiro turno, ao menos “quebraram o gelo” para um eventual segundo. “Há um ano não tinha esse diálogo e hoje tem.” Fora do campo eleitoral, os deputados já dão exemplos da manutenção da unidade da oposição, já que todos agiram em conjunto contra a determinação de Lira de deixá-los de fora da Mesa Diretora. [não  foi uma união formada entre opositores do capitão, e sim entre indivíduos que perderam cargos e prestígio.]

Carlos Zarattini (PT-SP) diz que as alas de DEM e PSDB fiéis a Rodrigo Maia (DEM-RJ) agora estão marcadas como oposição e que o autoritarismo de Lira exigirá que todos joguem juntos na Câmara —embora acordos para 2022 não sejam possíveis na visão dele.  Elmar Nascimento (DEM-BA), que aderiu a Lira, afirma que antecipar 2022 para a eleição da Câmara foi um equívoco e que o cenário das urnas só será discutido no ano que vem. Para ele, o discurso de que o bloco de Baleia era uma frente contra Bolsonaro foi uma estratégia de Maia para obter a adesão da esquerda.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, e o líder do partido na Câmara, André Figueiredo (CE), acham possível a adesão do DEM a Ciro, mas veem o PT fora da aliança.  Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), é necessário haver ações conjuntas de partidos e da sociedade civil contra Bolsonaro, “mas isso não projeta imediatamente soluções para 2022”.

A cláusula de barreira, a necessidade de fazer uma boa bancada de deputados, a eleição em dois turnos e a quantidade de partidos no país dificultam uma frente ampla, avaliam os professores Marta Arretche, da USP, e Felipe Nunes, da UFMG e diretor da consultoria Quaest. “Os incentivos institucionais obrigam os partidos a lançar candidatura no primeiro turno. É um atributo do próprio sistema”, diz Nunes.  “A ideia de formar uma grande frente contra Bolsonaro é inspirada em Joe Biden, nos EUA, mas nosso sistema é diferente. Bolsonaro montou uma coalizão de sustentação, mas não revelou até agora habilidade necessária para manter coesa a situação, e o tamanho da oposição vai depender dos movimentos que ele fizer”, afirma Arretche.

FRACASSOS DA FRENTE AMPLA
2º turno de 2018
A união em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro não decolou. No segundo turno, Ciro Gomes (PDT) foi a Paris. Já João Doria (PSDB) aderiu ao 'Bolsodoria'

Manifestos suprapartidários
Em meados de 2020, quando o presidente chegou a participar de ato antidemocrático, surgiram manifestos suprapartidários. A iniciativa não teve o apoio de Lula (PT), que disse não ser "maria vai com as outras" e se recusou a estar ao lado de FHC (PSDB)
 
Candidatura de Baleia Rossi
A campanha do emedebista à presidência da Câmara teve o apoio de MDB, PT, PDT, PSB, PC do B, Cidadania, Rede, PV, PSDB, DEM e PSL, mas, na reta final, os dois últimos partidos desembarcaram da coalizão, e o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira, venceu

 Carolina Linhares - Folha de S. Paulo

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Enquanto opositores brigam, o presidente alcança novos eleitores - Blog Thomas Traumann

Como Bolsonaro montou sua própria frente ampla  

As oposições têm falado sobre a formação de uma “Frente Ampla”, uma espécie de Arca de Noé onde caberiam todos os animais que rejeitam Jair Bolsonaro. O problema é que a “Frente Ampla” é daquelas expressões bonitas de falar e que na vida real funcionam como no ditado “farinha pouca, o meu pirão primeiro”: só alimenta quem chega antes ao tacho. Enquanto se estapeiam pela comida insuficiente, as oposições poderiam aprender a montar uma “Frente Ampla” com o político que nos últimos dois anos alargou seus laços para além de seus apoiadores originais. Sim, ele mesmo: Jair Bolsonaro.

Eleito por uma pororoca de interesses cujo denominador comum era a ojeriza ao PT, Bolsonaro reforçou os laços com alguns grupos fundamentais para sua vitória em 2018. Ele consolidou a inédita unidade de apoio das várias denominações pentecostais, tornou mais robusto o alinhamento com o Exército e as Polícias Militares e ganhou ainda mais popularidade junto ao agro com o desmonte do Ibama e o projeto de regularização de terras griladas na Amazônia. O mercado financeiro que se enamorou de Bolsonaro sob o pretexto de que estava votando em Paulo Guedes, já descobriu que o presidente é um despreparado, mas não vai abandonar o barco enquanto tiver bônus no fim-do-ano. Em 2020, com todos os solavancos, o bônus foi generoso.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro estendeu seus domínios. Aos miseráveis, ofereceu o Auxílio Emergencial – de longe o maior feito do seu governo. Aos políticos do Centrão, o presidente soltou emendas parlamentares como nenhum antecessor. Nêmesis dos governos petistas, o Ministério Público foi enquadrado pelo novo procurador geral, enquanto a Polícia Federal passou a enxergar erros apenas nos governos adversários.

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Feitas as contas, Bolsonaro ganhou mais que perdeu. Se a eleição fosse neste ano, o campo bolsonarista seria favorito.

Mas como escrevi aqui, Bolsonaro não foi eleito para enfrentar os problemas da economia ou salvar vidas do coronavírus. Ele foi eleito para “acabar com tudo isso daí”, o desmonte do aparato político e social que sustenta o Estado desde a Constituição de 1988. E isso ele está entregando. [Um pequeno trecho da matéria linkada: "........
A obsessão de Bolsonaro é acabar com o que ele chama de “estado petista”, um misto de direitos liberais que incluem as legislações ambientais e de direitos humanos, a ação das ONGs, o laicismo no serviço público, os sindicatos, a liberdade de imprensa, o movimento LGBTQI+, as universidades, a urna eletrônica, a diplomacia multilateral, as manifestações de rua, enfim “tudo isso daí....... ”. (nem tanto, há alguns exageros)]

O que as oposições podem aprender com Bolsonaro é que falar com quem não votou em você não tira pedaço. É irônico, mas Bolsonaro que perdeu em todo o Nordeste, tem hoje mais acesso - via políticos do Centrãoaos moradores de uma pequena cidade do Piauí do que um candidato de esquerda como Fernando Haddad ou Guilherme Boulos na Savassi, em Belo Horizonte. Assim, como é mais fácil Bolsonaro cruzar aplaudido o calçadão da rua XV de Novembro, em Curitiba, do que João Doria sequer ser notado. Uma Frente Ampla que representa aqueles que já não votam em Bolsonaro não nem frente, nem ampla.

Em VEJA - Blog Thomas Traumann - leia MATÉRIA COMPLETA

 

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Change partners - Valor Econômico

 Bruno Carazza

Pode estar em curso uma troca de base popular na qual se ancora o presidente

Logo após a derrota para Collor no segundo turno das eleições de 1989, Lula fez a seguinte avaliação sobre o resultado das urnas: “A verdade nua e crua é que quem nos derrotou, além dos meios de comunicação, foram os setores menos esclarecidos e mais desfavorecidos da sociedade. Nós temos amplos setores da classe média com a gente, mas a minha briga é sempre esta: atingir o segmento da sociedade que ganha salário mínimo. Nós temos que ir para a periferia, onde estão milhões de pessoas que se deixam seduzir pela promessa fácil de casa e comida”.

De outro, o escândalo do mensalão afastou do PT parte de seu eleitorado cativo na classe média, decepcionada pelo partido ter rasgado a bandeira da ética - num processo que acabou se aprofundando alguns anos depois, com a operação Lava Jato. A reeleição de Lula em 2006 evidencia essa guinada nas preferências por Lula: segundo os cálculos do Datafolha, na parcela do eleitorado que ganhava até 2 salários mínimos, o petista batia seu rival Geraldo Alckmin (PSDB) de lavada (por 64% a 25%), enquanto entre os mais ricos (com renda familiar mensal superior a 10 SM), o tucano aparecia à frente nas pesquisas com 54% a 36%. “No lulismo a polarização se dá entre ricos e pobres, e não entre esquerda e direita”, de acordo com Singer. Daí em diante, esse padrão foi mantido em todas as eleições presidenciais.

Na última sexta-feira, a pesquisa XP/Ipespe atestou que, mesmo após a saída de Sergio Moro e o acúmulo de mortos pela pandemia, Bolsonaro conseguiu, pelo menos por ora, estancar a sangria da sua popularidade. Analisando os dados desagregados, é possível identificar um expressivo crescimento na avaliação positiva do presidente nos segmentos mais vulneráveis da população, como jovens, indivíduos com baixa e média escolaridade, desempregados, com renda de até 2 salários mínimos e localizados no Nordeste e em cidades pequenas.

A melhoria da imagem de Bolsonaro perante um eleitorado que nunca foi prioritariamente seu pode ser atribuída, entre outros fatores, à concessão do auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia. E a mensagem foi captada pelo presidente e sua equipe, a ponto de Paulo Guedes ter anunciado, na última reunião ministerial, a intenção de lançar o programa Renda Brasil.

É verdade que, em tempos de covid-19, com arrecadação em queda e dívida crescente, há pouco espaço fiscal para algo muito revolucionário. Mas, por mais paradoxal que possa parecer, a própria pandemia pode ajudar a viabilizar um amplo programa bolsonarista voltado para os mais pobres, pois uniu economistas e políticos de diversos matizes no apoio a iniciativas de renda mínima. Pode surgir daí, portanto, um clima propício para uma remodelação de políticas sociais esparsas e mal focalizadas, a serem concentradas num único “Bolsa Família turbinado” que pode dar a Bolsonaro um grande capital político com vistas a 2022.

Nas últimas semanas o presidente tem alternado movimentos de defesa e ataque buscando não apenas manter seu eleitorado cativo mobilizado, mas também ampliar seu capital político para, assim, sobreviver à tempestade em que, de certa forma, ele próprio se colocou. Numa frente de batalha, fustiga os demais Poderes e investe com a Polícia Federal em investigações que tendem a enfraquecer os governadores, enquanto na retaguarda coopta o Centrão e acena com benefícios à parcela mais pobre do eleitorado.

Ainda é cedo para afirmar que Bolsonaro será bem sucedido em manter e ampliar sua aprovação junto aos mais desfavorecidos - não podemos perder de vista que Lula conseguiu fazê-lo não apenas com o Bolsa Família, que era apenas um dos ingredientes num processo que envolvia ainda PIB, emprego e renda em alta. Mas uma eventual estratégia do atual presidente em deixar de lado a dicotomia esquerda e direita, pela qual foi eleito, para focar num público que condiciona seu voto mais à melhoria de suas condições do que em aspectos ideológicos, tal qual Lula fizera no seu primeiro mandato, pode tornar ainda mais complicadas as pretensões de uma “frente ampla” que deseja ver Bolsonaro fora do Palácio do Planalto - seja por meio de um impeachment, uma decisão do TSE ou no voto, em 2022.

Se Bolsonaro conseguir atrair para si parcelas mais expressivas do eleitorado mais pobre, uma “frente ampla” só será vitoriosa se, além de superar rivalidades e vaidades de seus protagonistas, conquistar também corações e mentes das classes média e alta insatisfeitas com o ex-capitão. E isso passa, necessariamente, pela cicatrização de feridas ainda abertas relacionadas à valorização do combate à corrupção, de um lado, e ao combate às desigualdades sociais, de outro.

Enquanto Bolsonaro chama os pobres para dançar, os integrantes de uma frente ampla precisam virar o disco com o qual estão acostumados a ouvir nos últimos 15 anos e entenderem que a defesa da ética está no mesmo compasso do progressismo social.

Bruno Carazza, mestre em economia -  Valor Econômico


segunda-feira, 8 de junho de 2020

A útil maquiagem do passado - Alon Feuerwerker

Análise Política


Idealizar e embelezar o passado é um método útil para construir narrativas cujo objetivo é alicerçar propostas políticas no presente. A última moda na oposição é reescrever a história das Diretas Já, movimento político que deu um gás na transição do último general a ocupar a presidência da República, João Figueiredo, para o governo civil de Tancredo Neves (que morreu antes de assumir) e José Sarney.
O tema costuma ser introduzido nos debates como se em certo momento o conjunto dos líderes oposicionistas tivesse deixado as diferenças de lado para juntar forças pelo objetivo comum de restaurar a democracia. É uma maneira de ver. Outra: numa certa ocasião, todos os potenciais candidatos da oposição a suceder Figueiredo uniram esforços para que o sucessor fosse escolhido não no Colégio Eleitoral mas na urna.
Parece a mesma coisa, mas a diferença existe, apesar de sutil. Uma sutileza que esconde o essencial. O que move os políticos profissionais não é principalmente um idealismo programático, mas a busca (ou manutenção) do poder. Quando têm sorte, esse objetivo converge para a onda do momento. A sabedoria está em saber surfar a onda certa no momento certo. Ou evitar a onda agora para tentar pegar uma mais favorável adiante.
Raramente a narrativa lembra que quando as diretas pararam no plenário da Câmara dos Deputados foi cada um para um lado. Leonel Brizola lançou no ar a prorrogação por dois anos do mandato de Figueiredo, e diretas em 1986. Luiz Inácio Lula da Silva caiu fora e o PT não votou a favor de Tancredo na indireta. Os deputados que votaram ou saíram ou foram saídos. Sobraram na aliança, de expressivos, o PMDB e a dissidência do PDS (ex-Arena).
Pouco menos de cinco anos depois, Lula e Brizola disputaram a vaga no segundo turno para enfrentar Fernando Collor. Os candidatos herdeiros da Aliança Democrática vitoriosa em 1985 ficaram literalmente na poeira. Todos vitimados pelo fracasso de Sarney na luta contra a inflação e pelas acusações de corrupção e “fisiologismo”, expressão celebrizada na época por quem pretendia ganhar músculos explorando o ódio à “Porex” (política realmente existente).
Não se trata aqui de comparar momentos históricos. Há diferenças claras. Ali a ideia de ditadura sofria uma natural fadiga de material. Hoje ela é introduzida com alguma desenvoltura no debate, apesar de ainda enfrentar barreiras difíceis de transpor: a oposição da opinião pública e da maioria da sociedade, conforme evidenciam todas as pesquisas que procuram saber o que acha o eleitor sobre o assunto. 
Mas é o caso de comparar sim a motivação dos personagens. Os líderes que precisariam ser reunidos para a formação de uma frente ampla contra Jair Bolsonaro estão todos amarrados ao próprio cálculo. Para uns o melhor é o impeachment. Para outros a cassação da chapa pelo TSE. Para Lula nada disso adianta se ele permanecer inelegível. Para os demais não interessa de jeito nenhum Lula elegível. É o gato da “luta contra os extremismos” escondido com o rabo de fora.
E para o presidente da Câmara, que tem na mão a chave da largada do impeachment, o destino dos antecessores que comandaram impeachments de sucesso (Ibsen Pinheiro, cassado; Eduardo Cunha, cassado e preso) não chega a ser propriamente estimulante.

Alan Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sexta-feira 13, 51 anos depois - Míriam Leitão

O Globo

Numa sexta-feira 13, há exatamente 51 anos, o AI-5 caiu sobre o país como um viaduto. O Brasil era outro. Dos brasileiros de hoje, 76,21% não haviam nascido. São 160,2 milhões de brasileiros nascidos depois daquele dia. Pelo tempo passado e pela renovação populacional, esse deveria ser um assunto esquecido e pacificado. Mas o AI-5 foi um dos assuntos mais falados no país este ano, em função do estranho sonho autoritário de pessoas que hoje ocupam posição de poder.

Há vários mitos sobre a ditadura que andam sendo repetidos numa demonstração de que é preciso voltar a falar do assunto. Os militares chegaram dizendo que ficariam pouco tempo e ainda hoje alguns grupos defendem que o regime foi brando. Não existe ditadura suave e a dinâmica do caminho autoritário é incontrolável. O general Castello Branco dizia que o regime seria temporário e ele durou 21 anos. O primeiro Ato Institucional foi apresentado como sendo o único e houve 17. O AI-5 duraria um ano, durou 10. O SNI seria apenas um pequeno serviço de inteligência e, como registra Elio Gaspari, virou um “monstro” na definição do seu próprio criador, Golbery do Couto e Silva. No final tinha seis mil funcionários, escritórios em cada ministério, em cada órgão estatal, envolveu-se em inúmeras maracutaias, do garimpo na Amazônia às negociatas com café.

O país não estava “indo para o comunismo”, mas sim vivendo um governo de muita instabilidade e que se aproximava do seu final. No ano seguinte haveria uma eleição em que se enfrentariam Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, com grande chance de vitória do primeiro. Os dois se juntaram depois na Frente Ampla, que incluiu também João Goulart, uma aliança impensável entre o golpista Lacerda e o presidente deposto. Eles passaram por cima das diferenças pela causa comum do retorno à democracia. A frente foi proscrita pelo governo no interminável ano de 1968.

Na economia, a ditadura começou fazendo um plano anti-inflacionário e de ajuste das contas públicas. Através do PAEG, a inflação foi reduzida com um mecanismo de correção salarial pela média dos 24 meses anteriores e que levou a uma redução de salário real. Após o ajuste, o país acelerou o crescimento do PIB. Se o país estava crescendo, isso deveria ter desanuviado o clima político, mas a direita no poder decidiu radicalizar.
A coincidência entre o melhor momento da economia e o pior período da repressão é até estranha. O crescimento acelerado, em qualquer país, produz uma taxa maior de aceitação do governo. O PIB cresceu em média 11,2% de 1968 a 1973, segundo André Lara Resende no livro “130 anos da República”. Os militares queriam mais que apoio, ambicionavam a unanimidade. Para calar todas as vozes discordantes foi disparada a violência desmedida do Ato Institucional que fechou o Congresso por quase um ano, estabeleceu a censura prévia contra alguns órgãos de imprensa, suspendeu todas as garantias constitucionais, cassou parlamentares, expulsou estudantes e professores das universidades e expandiu a máquina de tortura e morte.

O crescimento do país era desigual. Segundo Pedro Ferreira de Souza, a parcela da riqueza nacional apropriada pelos brasileiros que estavam entre os 1% mais ricos subiu de 17,7% para 25,8% entre 1964 e 1970. Oito pontos percentuais em seis anos. O tempo de forte alta do PIB é apenas uma parte dos 21 anos. Ficou restrito ao final dos 60 e começo dos 70. Houve o período de recessão, inflação, dívida externa e bagunça fiscal. “Quando, na segunda metade dos anos 1970, os desequilíbrios das contas externas e as pressões inflacionárias reapareceram, agora combinados com a correção monetária, estava montado o quadro para quase duas décadas de estagnação e aceleração inflacionária”, escreve Lara Resende.

Não deveria ser preciso dizer que o AI-5 abriu um tempo maldito que jamais pode provocar saudosismo nos governantes. Mas também não deveria ser preciso dizer que torturador não é herói e que presidentes não falam, com naturalidade, sobre instrumentos de tortura. Não deveria ser necessário dizer que os problemas da democracia só podem ser corrigidos com mais democracia. Contudo, ainda é preciso lembrar como foram terríveis aqueles dias, aqueles anos, que começaram numa sexta-feira 13, há 51 anos.

Blog da Míriam Leitão, colunista - Com Alvaro Gribel de São Paulo - O Globo