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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Delegado Waldir admite derrota, e Eduardo Bolsonaro é o novo líder do PSL - O Globo

Por Gabriel Shinohara

Mais cedo, deputados do partido protocolaram uma nova lista para tornar o filho do presidente o novo ocupante do cargo 

 O Delegado Waldir (PSL-GO), líder do PSL na Câmara, divulgou um vídeo nesta segunda em que admite a derrota e reconhece novo líder do partido na Câmara. O deputado de Goiás disse estar à disposição da nova liderança. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) assinou um ofício em que registra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como novo líder do partido. O nome do deputado já aparece como líder no sistema da Câmara. - Já estarei à disposição do novo líder para de forma transparente passar para ele toda a liderança do PSL - afirmou Delegado Waldir.


Mais cedo nesta segunda-feira, o líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO) protocolou mais uma lista pedindo a alteração da liderança do partido na Casa. 29 deputados assinaram a nova lista que pede que Eduardo Bolsonaro se torne líder da legenda. Para a oficialização, as assinaturas ainda serão conferidas pela Secretaria-Geral da Mesa. Para a a troca de liderança é preciso apoio de mais da metade dos deputados, ou seja 27 assinaturas, pois a bancada tem 53 deputados.

Bolsonaro sobre crise com PSL : 'É igual a uma ferida, cicatriza naturalmente'
Delegado Waldir, porém, disse que não está subordinado a nenhum presidente e afirmou que a Constituição prevê que o executivo não deve interferir no Parlamento.

- Queria agradecer aos parlamentares que confiaram nesse nosso projeto, dizer que não sou subordinado a nenhum governador, nenhum presidente, mas sim ao meu eleitor e vou continuar defendendo todas as prerrogativas do parlamento. Nós não rasgamos a Constituição ainda, nós não rasgamos a Constituição. A Constituição prevê que o executivo não deve interferir no parlamento em nenhum ação - disse o deputado. [lembrete ao deputado delegado Waldir
a CF também prevê que o STF não pode legislar, o Senado e a Câmara não podem tentar sufocar o Executivo e o Judiciário, o Executivo não pode interferir no Judiciário nem no Legislativo o STF não pode intervir nas atribuições constitucionais do Executivo e nada disso é respeitado e quem mais sofre é o Poder Executivo, cujo chefe - o Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR BOLSONARO - encontra grandes dificuldades para governar devido as interferências indevidas, mesmo absurdas.
No dia que o principio de 'cada um no seu quadrado' for respeitado, ais coisas melhorarão e muito.]

No mesmo vídeo, o deputado afirmou que partido decidiu retirar a ação que pedia a suspensão de cinco deputados, Alê Silva (PSL-MG), Bibo Nunes (PSL-RS), Carla Zambelli (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ) e Filipe Barros (PSL-PR).

Disputa da listas
Na semana passada, os deputados do PSL apresentaram três listas , duas pedindo a destituição do Delegado Waldir do partido e uma apoiando a permanência do deputado na liderança. As listas contrárias ao Delegado Waldir tiveram 27 assinaturas, sendo que na primeira uma foi invalidada e na segunda, três. Na lista que apoia o deputado de Goiás, foram 31 assinaturas e duas não foram confirmadas pela área técnica.

As assinaturas não reconhecidas pela Secretaria-Geral da Mesa foram invalidadas porque houve divergência na caligrafia. Isso não significa que há fraude, pois, frequentemente deputados assinam listas para apoio de projetos de lei, por exemplo, em pé ou caminhando. Isso pode alterar a forma de assinatura. Pela invalidação das listas dos deputados aliados ao presidente da República, o deputado Delegado Waldir continuou líder da legenda.

O Globo, para mais detalhes
 

sexta-feira, 15 de março de 2019

O mercado aposta em Maia e estuda Mourão

Aprovação de alguma reforma é dada como certa

Nada parece mover o inabalável otimismo no mercado financeiro em relação à aprovação de uma reforma da Previdência: nenhum vídeo obsceno postado pelo próprio presidente, nenhuma intriga alimentada por Olavo de Carvalho, nenhum tuíte inexplicável do vereador Carlos Bolsonaro, ou trapalhada do ministro da Educação. Acredita-se que há duas esferas no poder em Brasília: uma é a movida a estrondo e fúria, navegando no mundo da instantaneidade e do espetáculo e tem o próprio presidente como protagonista.

A outra é bifronte e eficaz: são protagonistas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), visto como o mais credenciado negociador da reforma da Previdência; e o vice-presidente Hamilton Mourão. A banca não tem absoluta certeza, mas acredita que Mourão vocaliza e opera em nome de todo o grupo militar, visto como mais preparado e dotado de maior estratégia política do que Bolsonaro, sua família e seus aliados mais próximos, em um pacote que inclui o próprio ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O grupo militar seria a verdadeira espada e escudo de interesses que convergem para o mercado, frente ao qual o restante seria espuma. A contenção dos desvarios bolsonaristas em relação a Venezuela e transferência da embaixada para Israel seriam sinais eloquentes neste sentido. O ministro da Economia, Paulo Guedes, está fora da equação, e não por ser desimportante, ao contrário. Guedes não é visto ainda como um homem do mundo de Brasília, um dos beligerantes na conflagração por poder. Ele é um universo à parte, que montou uma reforma da Previdência sólida do ponto de vista fiscal, com muita gordura para negociar. Não deve, contudo, ser o condutor do processo de barganha.

A ansiedade do ministro em propor a emenda da desvinculação simultaneamente à reforma da Previdência, depois de a ter apresentado como "plano B", é vista mais como um sinal de sua inexperiência do que de sua visão tática. Do ponto de vista do curto prazo para o mercado, Rodrigo Maia é a figura-chave. É descrito como o primeiro-ministro do governo, o operador para se garantir a aprovação de algo entre 50% e 80% da meta de Guedes em relação à reforma. No pacote a ser tocado por Maia no Congresso ainda estão a nova política em relação ao salário mínimo, com evidente impacto fiscal, e o represamento de aumentos para o funcionalismo dos três Poderes.

Quem busca estudar Mourão no mercado está preocupado com o longo prazo. Ele é visto, no mínimo, como um possível presidenciável em 2022, ao lado de outros nomes como o de Bolsonaro, Moro, Doria e do próprio Rodrigo Maia. Em um cenário extremo, como uma alternativa ao atual presidente antes do fim do mandato. Os exemplos da década deixaram o sistema financeiro atento em relação a eventuais pontes para o futuro. Um dos pontos que chamaram a atenção no vice é a sua transformação, como se Mourão buscasse estabelecer alguma espécie de contraste em relação ao titular do cargo. Durante a campanha eleitoral, sobretudo no período que precedeu a facada de Juiz de Fora, não foi o que se viu: Mourão fez declarações de caráter antidemocrático e que denotavam preconceito racial. Atrapalharam e muito a campanha de Bolsonaro. A questão que cabe no momento é qual o motivo para existir agora um vice que é a voz do bom senso, um comentarista permanente de todos os fatos que tenham relação direta ou remotíssima com o governo.

Supremo
Há um autoritarismo de baixo para cima, um clima de revolução cultural maoísta alimentado pelas redes sociais no Brasil, mas com o sinal trocado. Na China dos anos 60 eram colados em muros pela Guarda Vermelha, os 'dazibaos', onde a elite intelectual e administrativa do País era acusada de traição ao grande timoneiro. A instabilidade era permanente, dado o macartismo às avessas em que qualquer um acusava quem quer que fosse de qualquer coisa, sem blindagem possível.

Em baixa sempre estão a tolerância, o respeito às instituições como mecanismo de solução de controvérsias, a mediação política, a veiculação da informação com responsabilidade. Por mais mesquinhas que sejam suas motivações, não é possível dissociar deste quadro a iniciativa do presidente do STF, Dias Toffoli de instaurar uma investigação de ofício sobre 'fake news' contra os ministros do Supremo.

À parte tudo isso, é preciso ponderar sobre a gravidade da decisão de ontem da Corte, que tornou crimes comuns passíveis de serem julgados pela Justiça Eleitoral. É claro que abriu-se uma porta para se afrouxar o combate à relação espúria que se estabeleceu entre políticos e o empresariado. Talvez seja precipitado cravar que a decisão signifique o fim de uma era, como festejam petistas e deploram os protagonistas da Operação, mas o sentido da decisão é incontroverso. Não há dúvida sobre a colocação de um limite crucial no poder do Ministério Público, a três dias do quinto aniversário do começo da Operação. Travou-se ontem uma disputa de poder, como mencionou Gilmar Mendes.

A indignação das redes sociais contra um STF que poda a Lava-Jato torna-se um catalisador para reações em cadeia. No âmbito do Congresso, a movimentação começou pelo Senado. Conforme registrou Cristiane Agostine e Carolina Freitas no Valor Pro, o líder do PSL na Casa, Major Olímpio, apresentou um projeto de lei para retirar da Justiça Eleitoral o julgamento de crime comum. Outro senador, Alessandro Vieira (PPS-SE), articula uma CPI "Lava Toga". Um terceiro, Lasier Martins (PSD-RS), emprestou o gabinete ontem para o advogado Modesto Carvalhosa protocolar mais um pedido de impeachment contra o ministro Gilmar Mendes. 
 
O Judiciário terá que resistir a uma ofensiva muito mais consistente do que qualquer quartelada que envolva um cabo e um soldado.
 
 César Felício - Valor Econômico