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segunda-feira, 16 de março de 2020

‘O Jovem Hitler’ vai da formação política à vida sexual do nazista - VEJA - Brasil - Entretenimento




Na juventude, Adolf Hitler viveu situações de atração e repulsa pelo sexo oposto. Transcorria a primavera de 1906 quando o então adolescente da cidade austríaca de Linz anunciou a um amigo que estava apaixonado. A escolhida era uma garota mais velha, alta e loira. O fato de Stefanie Isak ter sobrenome judeu mostra que, aos 17 anos, o futuro condutor das atrocidades nazistas ainda não exibia nem sinal do ódio que ceifaria 6 milhões de vidas no Holocausto. Ao contrário: por quatro anos, Hitler escreveu róseas cartas de amor para sua paixão judia. Nunca, no entanto, chegou a enviá-las nem a se declarar a Stefanie: o encanto platônico se quebrou quando ela se casou com outro. Mais tarde, nos anos conturbados da I Guerra Mundial (1914-1918), o combatente Hitler revelou-se incomodado com a ideia de fazer sexo com mulheres. Na reta final da fragorosa derrota alemã, aos 29 anos, ele usou de um argumento já bem próximo de suas infames teses racistas para rechaçar o convite para uma noite de prazer em companhia de belas francesas. Deitar-se com estrangeiras no front seria, em sua visão distorcida da realidade, trair a “nacionalidade” alemã.

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Enquanto os colegas arrasados pela experiência da guerra buscavam válvulas de escape na bebida e nas farras, Hitler era objeto de chacota por manter-se crente na vitória e inquebrantável na vontade de lutar. “Vocês ainda vão ouvir muito sobre mim”, vociferava. Os trechos de O Jovem Hitler, do jornalista e historiador australiano Paul Ham, demonstram que já era possível vislumbrar o homem que o mundo tristemente viria a conhecer nas histórias frugais sobre a descoberta do amor ou nas suas dificuldades em se iniciar sexualmente.

Poucas figuras históricas tiveram a vida tão esquadrinhada quanto o líder nazista. Além das biografias monumentais de autores como o alemão Joachim Fest e o inglês Ian Kershaw, há um sem-número de livros que abordam desde a saúde do ditador da Alemanha até a suposta influência de drogas sobre seu comportamento cruel.
Quem precisa, enfim, de mais uma biografia de Hitler? 
Paul Ham prova que vale insistir na investigação do personagem. Seu livro ilumina fatos obscuros, como a paixonite de Hitler pela moça judia. Com lances desenterrados de sua atuação na I Guerra, põe ainda em evidência uma fase bastante estudada, mas pouco valorizada: os anos de formação do político Hitler. “Nenhum biógrafo até hoje deu a merecida ênfase a seus tempos como soldado no conflito que ele próprio definia como essencial para forjar quem era”, diz Ham.

+ Compre o box Hitler, de Joachim Fest

O JOVEM HITLER,  
de Paul Ham (tradução de Leonardo Alves; Objetiva; 304 páginas; 64,90 reais e 39,90 reais na
versão digital) ./.

Para traçar um retrato de Hitler quando jovem, o autor navega em águas turvas: é preciso separar os fatos de fake news nos relatos de gente disposta a bajular ou difamar o líder nazista. A disposição feroz do Führer em dourar lances de seu passado e apagar detalhes inconvenientes — o que incluía a eliminação de testemunhas e antigos companheiros — é outro complicador. Remando nesse mar de contradições, Ham consegue extrair uma visão palpável do garoto que adorava a mãe, mas temia e desprezava os modos “cosmopolitas” do pai violento; do adolescente que sonhava em ser pintor, mas sobrevivia da venda de cartões-postais de paisagens junto com um amigo trambiqueiro; e dos obscuros dias de juventude em que Hitler, no fundo do poço, vivia como mendigo nas ruas de Viena.

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Em VEJA - Entretenimento, MATÉRIA COMPLETA



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Juiz do Rio revoga a Constituição e restabelece a censura

Editoras vão recorrer da decisão que proibiu a venda de ‘Minha luta’ no Rio

Juiz proibiu a comercialização, exposição e divulgação da obra a pedido do MP

As editoras no Brasil do livro “Minha luta”, de Adolf Hitler, afirmaram que vão recorrer da decisão da 33ª Vara Criminal da Capital que proibiu a comercialização, exposição e divulgação da obra do líder nazista no estado do Rio. Nesta quarta-feira, o juiz Alberto Salomão Junior acolheu pedido do procurador-geral do Estado, Marfan Vieira, e do promotor Alexandre Themístocles, com a justificativa de que “Minha luta” incita o ódio contra judeus, ciganos, negros e homossexuais e contraria valores humanos e jurídicos estabelecidos pela república brasileira. 
 
O juiz também expediu mandados de busca e apreensão para a obra. Os diretores de livrarias ficarão responsáveis pela guarda dos livros. Na sua decisão, Salomão Júnior escreveu: "a obra em questão tem o condão de fomentar a lamentável prática que a história demonstrou ser responsável pela morte de milhões de pessoas inocentes, sobretudo, nos episódios ligados à Segunda Guerra Mundial e seus horrores oriundos do nazismo preconizado por Adolf Hitler".

O livro de Hitler tem duas editoras no Brasil: a Centauro e a Geração Editorial. A edição da Centauro, que traz apenas o texto original traduzido e não tem comentários, chegou às livrarias no início do ano. A da Geração Editorial será lançada em março, com textos de apresentação, comentários e notas. Adalmir Caparros Fagá, sócio da Centauro, disse que já está tomando as providências e vai recorrer da decisão. O advogado Mario Villas Boas, que representa a editora, afirma que já tinha impetrado um habeas corpus preventivo antes do julgamento da ação. Ele argumenta que há uma deliberação do Tribunal de Justiça sobre o tema de 2006, favorável à publicação do livro. — Em janeiro de 2006, o juízo da 28º Vara Criminal examinou o assunto e decidiu que a publicação de "Minha luta" pela Centauro Editora não é crime. Só esse juízo tem competência sobre essa matéria. E essa é uma decisão já transitada em julgado, não houve recurso e não pode ser modificada — explica Villas Boas, lembrando que há uma decisão em vigor do Tribunal de Justiça de São Paulo, validada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que garante que qualquer obra pode ser editada e comercializada no Brasil.

Luiz Fernando Emediato, publisher da Geração Editorial, classificou a decisão da justiça do Rio como inócua e informou que a editora ainda não foi citada.  — Trata-se de decisão inócua, pois o livro de Hitler pode ser baixado grátis pela internet, em vários idiomas, inclusive português. No nosso caso, vamos esperar a citação e recorrer, porque a Constituição Federal nos garante o direito da livre expressão. Acredito que o próprio juiz poderá rever sua decisão, ao verificar e confirmar que nossa edição, crítica e comentada, presta um serviço à humanidade, pois desmente, refuta e condena as ideias de Hitler — afirma Emediato.


Fonte: O Globo