Os que elegemos para fazer leis têm sido lenientes com os
criminosos. As leis penais brasileiras não desestimulam o assalto, a
corrupção. No próximo dia 2 de outubro é o momento de escolher
legisladores que mudem isso
A 16ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São
Paulo acaba de confirmar a condenação de uma funcionária com 20 anos de
empresa, por fraudar vale-alimentação, como gerente desse benefício.
Aproveitando-se da confiança dos patrões, fez 117 operações fraudadas,
totalizando 2,7 milhões de reais. A condenação é de 3 anos, 10 meses e
21 dias… em regime aberto! Ou seja, é apenas um registro de que foi
condenada. O resto da pena é "prestação de serviços à comunidade" e
perda de bens e valores — isto é, valores que restam, de que ela ainda
não desfrutou e bens que ela talvez tenha deixado em nome dela. Um
estímulo a quem deseje se aproveitar de cargos de confiança, tendo o
mesmo desvio de caráter daquela mulher.
No mesmo dia, em Brasília, o juiz da 10ª Vara Federal
mandou para o arquivo processo contra Lula, Dilma e Mercadante, acusados
de obstrução à Justiça — evitar a colaboração premiada do líder do PT,
senador Delcídio do Amaral.
Ocorre que Lula e Dilma têm mais de 70 anos,
e a prescrição cai para a metade. Aí, o Ministério Público oficiou ao
juiz sobre o prazo vencido.
O juiz, diferente de Alexandre de Moraes,
arquivou. Já havia ocorrido isso com outros processos contra Lula que,
pelo Supremo, estariam erradamente em Curitiba. Como se vê, até o CEP e o
calendário contribuem para que a Justiça não seja consumada.
No sábado, morreu de câncer o ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto Costa, aos 68 anos. Estava condenado a 70 anos, mas, como
colaborou com a Justiça, estava "cumprindo" pena em casa. Foi o primeiro
a contar como funcionava o esquema de corrupção institucionalizada,
envolvendo Petrobras, empreiteiras e partidos políticos.
Também na semana passada, os que revelaram o
organograma da corrupção foram punidos pelo Tribunal de Contas.
A pessoa
que estava no centro do organograma virou ficha limpa e é candidata a
voltar ao cargo que ocupava.
Os então integrantes do Ministério Público,
o chefe Rodrigo Janot e o coordenador da Lava-jato, Deltan Dallagnol,
foram condenados pelo TCU a pagar 2,8 milhões por gastos no inquérito.
Jornais mostram que ministros do TCU gastam bem mais do que isso em
viagens a Paris, Londres, Roma, Viena, Dubai, Aruba, Argel e Maldivas.
Na noite de domingo, Abílio de Brito estava sentado em
frente à sua modesta casa, na zona norte de Teresina. Um assaltante
chegou de moto e exigiu o celular. Abílio não tem, não saberia usá-lo
por uma deficiência mental. Levou dois tiros na cabeça. O jovem
criminoso roubou-lhe a vida, em vez do celular. O crime é banalizado.
Acabo de ouvir de novo o vídeo em que um ex-presidente
da República menciona que, por falta de perspectiva, jovens são presos
roubando celular.
Todos os dias se vê assaltante preso ser devolvido às
ruas na audiência de custódia, para desespero da polícia.
Como dizer a
uma criança que o crime não compensa, se as novas gerações estão vendo
esses maus exemplos?
Os que elegemos para fazer leis têm sido lenientes
com os criminosos.
As leis penais brasileiras não desestimulam o
assalto, a corrupção.
No próximo dia 2 de outubro é o momento de escolher legisladores que mudem isso.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
Aproveitando o espaço
Eles estão tentando voltar ao poder: os ex-deputados distritais
Benício Tavares (Patriota), Berinaldo (Pros), Bispo Renato (PL),
Brunelli (PTB), Cristiano Araújo (MDB), Edimar Pireneus (Avante), Olair
Francisco (União), Patrício (PT), Paulo Roriz (PTB), Ricardo Vale (PT),
Sandra Faraj (União), Wasny (PV) e Wellington Luiz (MDB) registraram
candidatura.