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quarta-feira, 26 de maio de 2021

TODOS CONTRA O MAL, MAS QUEM PELO BEM? - Percival Puggina

Cuidado, pessoal. As bandeiras do falso progressismo, como a liberação de certas drogas, acabam elegendo os Joe Bidens da vida.

A frase acima é uma provocação ao leitor. O que estou querendo afirmar neste artigo é que esse “progressismo” entre aspas que assola o Ocidente defende a liberação da maconha e outras drogas como se elas fossem um problema apenas individual e não um gravíssimo problema social, na raiz de muitos dos males que a todos atingem e em quase uníssono condenamos.

Nessa linha, desconsiderando o fato de tantos de seus atores e artistas terem sido vitimados por esses vícios que a empresa quer ver descriminalizados e liberados, o jornal O Globo afirmou em editorial de 14 de novembro do ano passado:

 “(...) Ao mesmo tempo que  a maioria dos eleitores americanos tratava de tirar Donald Trump da Casa Branca, muitos também votavam em plebiscitos estaduais para ampliar a liberação do uso recreativo e da aplicação medicinal das drogas. Tais consultas mostram quanto o Brasil está atrasado nesse campo, apesar dos esforços de legisladores, juízes e pesquisadores.

Estou plenamente advertido sobre o fato de que o uso medicinal da  maconha não se confunde com o recreativo. Aquele pressupõe o emprego da cannabis sativa processada em laboratórios para pacientes com enfermidades e não para gerar dependências e sequelas em pessoas sadias. Sei, também, que o hábito de encher a cara é anterior ao Antigo Testamento; que os ameríndios mascavam folha de coca, fumavam cachimbo e destilavam a própria aguardente; que no início do século XIX houve uma guerra entre a Inglaterra e a China pelo transporte dos derivados da papoula, e que a dependência do ópio já era um flagelo na Antiguidade. Sei, por fim, que nos filmes da Netflixuma das referências do “progressismo fuma-se mais maconha do que cigarros de tabaco porque é “muito mais divertido”.

Ouvir em meios culturais e de comunicação um discurso de tolerância em relação à maconha e outras drogas, ou, o que talvez seja ainda pior, perceber que se difunde por repetição a ideia de que maconha não faz mal algum (“porque é até medicinal”), resulta inquietante para quem tem informação verdadeira e objetiva sobre o assunto. Pergunte, leitor, a profissionais da área de saúde que lidam com dependência química. Ouça peritos a respeito dos efeitos neurológicos, psicológicos e comportamentais da maconha e suas consequentes companheiras. Indague a pais e professores sobre o impacto que o uso dessa droga determina na capacidade intelectiva, na concentração, na disciplina e na vida escolar de milhões de jovens.

Nunca esqueça ter sido ela que abriu a caixa de maldades e perversidades desencadeadas em nosso país nas últimas décadas. Primeiro gerando o hábito social, em seguida o vício, e, depois, puxando a longa corrente das drogas cada vez mais pesadas que invadiram o mercado com seu poder de destruição, violência e corrupção.

Triste a nação que renuncia à tarefa de transmitir valores às suas gerações! Se as famílias cuidam apenas da subsistência material, se as escolas se encarregam, quando muito, de transmitir conteúdos didáticos, se as Igrejas só se ocupam de questões sociais e políticas, se os meios de comunicação deixam de lado sua responsabilidade social, quem, afinal de contas, vai orientar a sociedade para o bem?

Observe o trabalho dessas meritórias instituições que assumem a missão de recuperar os destroços humanos deixados pelas drogas. 
O que oferecem? Qual sua receita? 
Saudável orientação moral, abstinência do vício, espiritualidade, disciplina e trabalho. Mas, onde o trabalho das grandes instituições? 
Elas, que durante séculos responderam social e responsavelmente por tais tarefas, foram tragadas por um alinhamento automático ao “progressismo” que as queria derrotar. Deus abençoe a resistência conservadora!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Ele ganha. E como governa?

Ele ganha. Governa?

Há também na onda Bolsonaro eleitores liberais no sentido amplo da palavra: na política, na economia e nos costumes



Ok, tem uma onda conservadora que carrega Bolsonaro, mas as pessoas que ali se juntam são bem diferentes e chegaram lá por motivos diferentes.

Há eleitores que estão assustados com a falta de segurança. E não gostam das lideranças e movimentos que criticam a ação da polícia quando esta se mete em confrontos e mata bandidos. Acham que é preciso mais e não menos polícia. Mas não são justiceiros.

São pessoas que têm medo de sair de casa, ficam preocupadas com os parentes que demoram a voltar. Assim, compram o discurso que a polícia precisa endurecer, mesmo que Bolsonaro não diga como será a política de segurança. [a política de segurança de Bolsonaro é tão óbvia que até dispensa comentários - aliás, qualquer política de segurança para funcionar não pode prescindir de:
- mais polícias nas ruas;
- leis mais duras, tanto para os criminosos que ainda estão na condição de primários, quanto para os reincidentes: estes e os autores de crimes hediondos, poderão ser punidos desde prisão com trabalhos forçados a prisão perpétua;
- legislação especial, com penas mais severas para os traficantes de droga e também para os usuários.
Não havendo usuário, não há demanda e quem vai traficar algo que não tem mercado consumidor?] Também aprovam a redução da maioridade penal e uma maior liberação da posse de armas. Mas, atenção, não são pessoas que estão prontas para comprar armas e sair matando bandido. Lembram-se do referendo do desarmamento? Uma imensa maioria manifestou-se contra a proibição da venda de armas. E não houve aumento na venda de armas. [uma grande maioria  não adquiriu armas,  devido o governo - jogando sujo como é habitual nos governos petistas -mesmo proibido de proibir   a venda de armas, criou uma proibiu de fato estabelecendo uma série de entraves burocráticos que na prática dificultou que o cidadão comum adquirisse, legalmente, sua arma.
Sem esquecer que a crise economica gerando pelo governo petista - mais de 12.000.000 de desempregados  e outra dezena de milhões com o emprego em risco - não foi um estímulo para o cidadão comprar sua arma.]

Há uma classe média que está farta do peso do Estado e do governo em suas vidas. Gente que não consegue abrir um negócio legalmente sem pagar propinas ou mesmo sem pagar taxas abusivas antes de começar a trabalhar. Gente que paga imposto demais e ainda percebe que precisa colocar seus filhos em escola particular e comprar plano de saúde.

Há também na onda Bolsonaro os eleitores liberais no sentido amplo da palavra: liberais na política, na economia e nos costumes. Na economia, pedem um Estado menor e mais espaço para a iniciativa privada. Na política, apoiam as posições e grupos independentes de partidos. Nos costumes, não é que sejam contra a “agenda progressista” (raça, gênero, etc.), mas acham que o Estado não tem que se meter nisso e deixar que cada um resolva como quiser o seu modo de vida. Ou seja, são contra a imposição daquela agenda, ou por lei (cotas, por exemplo, que consideram injustas) ou por pressão das elites e formadores de opinião. [podemos dizer que são liberais, - um direito que tem - mas, contrários ao progressismo exagerado, imposto pelo Estado, com medidas muitas vezes mais criminosas do que o crime que supostamente tais medidas pretendem combater - tem racismo pior do que o oficialmente imposto pelas cotas? 
as cotas são tão racistas como a proibição vigente durante o 'apartheid' na África do Sul de negros viajarem sentados no transporte coletivo;
as cotas restringem, até mesmo proíbem, o acesso de pessoas as universidades, aos empregos, pelo simples fato de não serem negras.]  Mas frequentemente, são favoráveis a agendas como a liberação da maconha.

Mas há também eleitores que simplesmente estão cansados da agenda progressista. Acham que não tem nada a ver com o dia a dia. Querem saber de emprego e bons serviços públicos.  Há ainda uma maioria difusamente conservadora, pela família, religião, Brasil. E que se assusta com a “libertinagem” da sociedade moderna e do que considera coisa das elites que não trabalham. [são pessoas que muitas vezes estão acompanhadas de filhos crianças ou adolescentes, ou dos netos, e são obrigados a verem duas pessoas vestidas de homem, com aspecto de homem, andando de mãos dadas ou se beijando na boca;
pessoas que tem ciência que a adoção de crianças por casal gay, vai causar o constrangimento, a desorganização na cabeça da adotada, o cidadão, de sua 'mãe' (ou 'pai')  ir buscá-la na escola e no dia seguinte seus coleguinhas interrogarem o motivo da 'mãe' dela usar barba ou do 'pai' usar saias.
O constrangimento de entrar uma mulher, casada, entrar em um banheiro público com sua filha de, digamos, oito anos, e se deparar com um cidadão com aspecto de homem, utilizando o mictório com seu instrumento sexual à mostra. (não é devaneio de um eleitor de Bolsonaro,: em Brasília houve a tentativa de criar banheiros públicos,  unissex, houve oposição,  e a matéria foi parar no Supremo Tribunal Federal e está aguardando ser pautada - se percebe que próprio Supremo se apequena quando aceita analisar uma causa dessa natureza.]

E, claro, os antipetistas, antipolíticos, anti­corrupçãovertente na qual cabem todas as anteriores. Aqui encontram-se eleitores que dizem: não precisa de reforma da previdência, nem aumentar impostos, nem cortar gastos, nada; basta eliminar a roubalheira e os privilégios dos políticos. Tudo considerado, essa grande maioria não é formada por fascistas, homofóbicos, autoritários ou violentos. Há os radicais, perigosos, certamente, mas no geral são pessoas de bem, que pouco a pouco foram ficando fartas de um país que não deslancha, que não cria bons empregos. Estão cansadas de viver em cidades em que passar perto de um tiroteio, ter o carro roubado ou ser assaltado na rua é tão normal que nem vale a pena chamar a polícia. Deve-se incluir aí uma  classe média mais rica, assustada com a escassez de oportunidades para seus filhos.

Como esse povo todo foi parar em Bolsonaro? Por pura falta de opção.
Mais ainda: as pessoas, cada uma de seu lado, reconhecem as carências de seu candidato. “Sim, ele é fraco, mas se a gente aguentou tanto tempo o PT …” já me disseram. [Bolsonaro nos dá a certeza, a segurança, de que fará um bom Governo e muita coisa ruim será neutralizada;
mas, vamos ser bem pessimistas, e considerar que mesmo fazendo um péssimo Governo, um Governo Bolsonaro não conseguirá ser pior do que o do PT.]
Outras ainda têm certeza que sua agressividade é da boca para fora, que não haverá ameaça à democracia e à liberdade das pessoas.
Resulta daí um enorme problema. Com essa massa, Bolsonaro ganha a eleição, mas terá dificuldades para governar. Ele certamente está sendo eleito para fazer e para não fazer a reforma da previdência. Para privatizar e para estatizar – só para citar dois pontos cruciais. Ou seja, o governo vai incluir e excluir eleitores. E ainda não se sabe como. [alguns poderão não gostar de um Governo Bolsonaro, mas, no momento em que começarem a avaliar e que Bolsonaro realizou mais coisas positivas do que coisas que desagradaram - no caso o eleitor desgostoso - verão que o Brasil e os brasileiros ganharam e com isso esse eleitor será um ex-desgostoso e mais um a pedir Bolsonaro mais uma vez.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista