Inevitável a
analogia entre o que eu assisti e o que vejo nestes tempos em que querem
encobrir o passado com fundamentos tão inexistentes quanto terra bruta
na calçada da minha rua. Não obstante, zelosamente, as patinhas
traseiras se movem.
Há quem se
preste para isso. Ontem, a CPMI sobre os acontecimentos do dia 8 de
janeiro, que o governo se apressou em pedir e desapoiou tão logo a
oposição passou a endossar, revelou algo realmente atávico na esquerda
brasileira.
Refiro-me ao hábito de invadir bens públicos e privados.
Essa prática revolucionária iniciou na década de 50 com as Ligas
Camponesas organizadas por Francisco Julião e teve continuidade com a
criação do MST nos anos 80. Foi uma dissidência do MTST, liderada pelo
Bruno Maranhão, um dos fundadores do PT, que invadiu e depredou a Câmara
dos Deputados em 6 de junho de 2006 deixando 24 feridos, um dos quais
em estado grave.
Nas jornadas
de 2013, o Brasil conheceu os black blocs. Infiltrados nas manifestações
sadias contra a corrupção, depredaram bancos, redes de lojas e viaturas
policiais.
Em 12 de fevereiro de 2014, cerca de 20 mil manifestantes do
MST derrubaram as grades de proteção e invadiram o STF.
Doze policiais
foram feridos na contenção e expulsão dos invasores.
Em abril de 2017,
manifestantes contrários ao governo Temer, quebraram vidraças da Câmara
dos Deputados, entraram no prédio e foram contidos pela Polícia
Legislativa.
No mês seguinte, manifestações convocadas pela CUT
promoveram ataques aos ministérios da Agricultura, da Cultura e da
Fazenda. Quarenta e nove pessoas ficaram feridas.
Então,
enquanto o país assistia os atos de violência gratuita do dia 8 de
janeiro, percebia-se em tudo aquilo um carimbo atávico, geneticamente
reconhecível. Ele ficou ainda mais evidente quando, em meio a um total
desinteresse em ouvir agentes do governo diretamente relacionados com a
suposta prevenção dos fatos, aconteceu o “vazamento” de vídeos que
estavam sob ... sigilo. E as cenas eram estarrecedoras!
Com a CPMI,
tudo deveria se encaminhar para o necessário esclarecimento e
responsabilização de cada ator daquele espetáculo deplorável, onde até
“diretor de cena” foi flagrado em plena atuação. O que se tem, no
entanto, é um pouco mais do mesmo mal atávico: o PT e seu governo
invadiram a CPMI!
Não sei o quanto de responsabilidade lhes corresponde
nas invasões do dia 8 de janeiro. Mas que eles invadiram a CPMI para
impedir a elucidação dos fatos, não fica a menor dúvida.
O ato é tão
simbólico, a tomada de assalto tão contundente, que seus objetivos
dispensam explicação. As patinhas traseiras falam por si.
E você aí,
leitor, andando por este Brasil saído das urnas de 2022, cuide onde
pisa. Os donos do poder estão, digamos assim, obrando.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.