O que faz o presidente? Jair Bolsonaro insuflou uma crise de confiança na sua capacidade de liderar o país na devastação. Talvez consciente da própria inconsciência, resolveu apostar no agravamento da situação.
Ele se esforça para submeter o ministro da Saúde à tortura da humilhação pública. Até agora, só conseguiu aumentar o respaldo a Luiz Mandetta nas pesquisas e o estresse na gerência do socorro à população.

Alguns veem fobia paranoica na fantasia de criar inimigos para afirmar o poder. Outros percebem em Bolsonaro apenas um político oportunista, à procura de dividendos na tragédia, interessado só na reeleição. [sejam os alguns ou os outros, um olhar isento mostra que se trata de pessoas recalcadas que não aceitaram Bolsonaro Presidente da República e que são tomados pelo desespero com a simples possibilidade dele concluir o atual mandato e ser reeleito para outro.
Nosso conselho: já que o ... inevitável, relaxem e .... ]
Podem ser as duas coisas, mas a insistência de Bolsonaro no falso dilema entre salvar vidas ou a economia, talvez seja ainda mais reveladora sobre o presidente-candidato.

Mostra que, na prática, ele opera com a lógica da busca pelo número “mágico” de vítimas da pandemia — o do total de mortos que imagina “aceitável” pela sociedade em troca de pontos de aumento do PIB.
Incapaz de conduzir políticas que evitem o colapso econômico sem aumentar o número de caixões, recorre à exaltação do seu poder legitimado nas urnas. Porém, a política é cruel, dizia Tancredo Neves: “Voto você teve. Você não tem, você teve”.

Quando, tacitamente, estimula ministros e a parentela a reverberar racismo contra a China, transforma a suposta paranoia em fator de risco ao país, porque os chineses são principais sócios estrangeiros na infraestrutura e compram um terço de tudo que o Brasil exporta. O sinais de prejuízos já são notáveis em redutos de Bolsonaro, dependentes das exportações, e que lhe deram mais de 70% dos votos locais em 2018. [estamos em 2020, o que torna sem sentido projetar pesquisas - que 'tele entrevistam' mil e poucos eleitores, por telefone - para 20222. Se impõe que tenham em conta o cenário de janeiro deste ano e o de agora - abril.] 
Ao fomentar crises interna e externa em plena pandemia, Bolsonaro passa a flertar com o suicídio político.

José Casado, jornalista - O Globo