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domingo, 18 de setembro de 2022

Corporativismo midiático - Revista Oeste

 Rodrigo Constantino

Os jornalistas dos principais veículos de comunicação criaram uma espécie de clubinho, de patota onde ninguém solta a mão de ningué

Foto: Shutterstock

 Foto: Shutterstock 

Não tenho a pretensão de ser um ombudsman da imprensa, mas muito antes de virar um comentarista político eu já era bastante crítico a duas posturas que me incomodam muito na maioria dos jornalistas: o viés ideológico mascarado de imparcialidade e o excessivo corporativismo. É verdade que esse “espírito de corpo” não é exclusividade da imprensa e existe em várias áreas, mas nunca vi nada igual nesse setor.

Os jornalistas dos principais veículos de comunicação criaram uma espécie de clubinho, de patota, de tribo onde ninguém solta a mão de ninguém. Uma vez parte desse clubinho, você será protegido pelos colegas, estará blindado de críticas, até mesmo quando confundir coisas óbvias, como aquilo que está escrito em nossa bandeira nacional. 
Você vai receber prêmios que são enaltecidos apenas pelo próprio clubinho, terá afagos constantes no ego, trocando elogios mútuos com seus pares.
 
O personagem de humor mais famoso das redes sociais, Joaquim Teixeira, resumiu bem: “Para quem não gosta de responsabilidades, eu indico o jornalismo: você pode falar o que quiser e quando é questionado sobre algo é só alegar que foi agredido”
Ele se referia ao novo ato de vitimização da jornalista Vera Magalhães, que mentiu dizendo que foi agredida pelo deputado Douglas Garcia, alegando que precisou até de escolta para sair do local onde estavam.
 
As imagens mostram fatos bem distintos: o deputado pode ter sido inconveniente ao cobrar explicações da jornalista naquele momento e daquela forma, mas jamais a atacou. 
Já Vera apertou o queixo do deputado, que é negro e gay, e chamou seguranças. 
Um colega seu da TV Cultura, Leão Serva, arrancou o telefone da mão do deputado e o arremessou longe, xingando-o de F.D.P. e o mandando para a P.Q.P. Quem foi agressor no caso?
Podemos trocar de personagens num cenário hipotético para deixar mais claro o absurdo. Vamos imaginar que um parlamentar do Psol resolve questionar um “blogueiro bolsonarista” sobre seus ganhos públicos.  
Um colega blogueiro arranca seu celular e o arremessa longe, xingando-o e mandando-o para aquele lugar. O parlamentar é negro e gay. 
Qual a reação da velha imprensa? Sabemos a resposta a essa pergunta retórica: seria uma histeria sem tamanho contra os jornalistas, não contra o deputado!
 
Não obstante, todo o clubinho midiático embarcou na narrativa de que Vera Magalhães foi agredida, e o ministro Alexandre de Moraes, o imperador onipresente, chegou a determinar que a “ofensa” do deputado fosse analisada pela procuradoria eleitoral de São Paulo. 
O sistema tucanopetista se protege, não é mesmo?  
Eu adoraria que alguém me explicasse onde consta a ofensa ou o ataque na simples opinião pessoal de que determinado jornalista representa uma vergonha para o jornalismo nacional…

Eis a triste verdade: esse clubinho corporativista de jornalistas se acha acima do bem e do mal, pois exala empáfia e arrogância com sua visão de que são missionários numa cruzada moral, guias que devem apontar o rumo para o progresso a uma horda de ignorantes e bárbaros — sua própria audiência, formada por um monte de Homer Simpsons, segundo eles. Esses jornalistas jamais aceitariam ser cobrados na mesma moeda em que cobram os outros

Eles não entenderam que a bolha estourou com as redes sociais. Ou entenderam, e por isso mesmo fazem de tudo para censurá-las.

O antibolsonarismo histérico, seja por viés ideológico ou por corrupção, tem sido a cola que une essa patota corporativista. É assim que uma simples opinião vira “ataque”

Quando há o Congresso em Foco, uma eleição dos melhores parlamentares escolhidos por jornalistas, invariavelmente temos a turma da esquerda radical como preferida. Uma reportagem de Bruna Komarchesqui na Gazeta do Povo mostrou estudo que aponta o viés: “Em sua edição mais recente, uma das maiores pesquisas feitas com jornalistas brasileiros mostra que a maioria esmagadora (81%) dos que responderam sobre convicções políticas se declarara de esquerda (52,8%) ou centro-esquerda (29%). Por outro lado, apenas 4% dos jornalistas disseram ter posicionamento mais à direita (sendo 1,4% de direita e 2,5% de centro-direita). Até mesmo os que se identificam como extrema esquerda (2%) superam os que os que se dizem de direita”.

Mas, se você aponta o óbvio, o viés esquerdista da patota, você é recebido com pedras. Eles precisam manter as aparências, afinal, o ideal de isenção e imparcialidade aprendido na faculdade de jornalismo. Eles são JOR-NA-LIS-TAS, não esquerdistas ou militantes. Não importa que todos possam perceber o duplo padrão escancarado de quando entrevistam um petista ou um bolsonarista. Nossa mídia virou partido de oposição, os entrevistadores se acham debatedores quando o “alvo” é de direita, e, quando são cobrados da mesma forma com que cobram os políticos, bancam a vítima e alegam que foram “atacados”.

Não custa lembrar que são os mesmos que dizem que os atos patrióticos pacíficos e ordeiros do 7 de Setembro representam “ataques” às instituições democráticas. Estão todos unidos num esforço conjunto para derrubar Bolsonaro, mesmo que para tanto seja preciso trazer o ladrão de volta à cena do crime. 

São “jornalistas” que não se importam quando jornalistas, tratados como “blogueiros bolsonaristas”, são presos pelo arbítrio supremo. São “jornalistas” que pregam a censura a veículos de comunicação independentes e plurais, como a Jovem Pan — que possui mais petistas em seu quadro de comentaristas do que qualquer concorrente possui de conservadores.

A mais nova investida do clubinho foi justamente contra a emissora de rádio que virou TV e faz enorme sucesso por romper com essa “omertà” mafiosa, a espiral de silêncio imposta pelo clubinho. Guilherme Fiuza comentou: “A resistência democrática encontrou seu plano genial: capar a audiência dos Pingos nos Is na internet. Bravo! A censura é a alma da democracia. Ainda assim, considerem a possibilidade de um dia sair do armário. Vocês vão ver como é bonita a vista aqui fora”. Fiuza passou a chamar essa mídia corrompida de “consórcio”, e lamenta profundamente no que se transformou a velha imprensa. Resta a ironia mesmo: “Sobe para 99,9% o índice de jornalistas em transe dispostos a tudo para eleger um ladrão”.

A militância é tão bizarra que esses jornalistas precisam apagar o passado recente. Bolsonaro passou a representar a maior ameaça à liberdade de imprensa, sendo que não moveu uma palha contra o trabalho da mídia, enquanto Lula fala abertamente em controlar a imprensa e, quando esteve no poder, criou o famoso “PIG”, Partido da Imprensa Golpista. Sua tática consistia em ataques machistas e blogs “chapas-brancas” para radicalizar os ataques à imprensa independente.

O antibolsonarismo histérico, seja por viés ideológico ou por corrupção, tem sido a cola que une essa patota corporativista. É assim que uma simples opinião vira “ataque”, enquanto os constantes ataques contra o presidente viram mera opinião — ou pior, “reportagem”. Mas todos fora da bolha notam, e por isso a credibilidade da velha imprensa só faz desabar. Dentro da bolha, porém, ninguém larga a mão de ninguém, e um fica bajulando o outro. É constrangedor…

 Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A apuração secreta da eleição de Dilma em 2014, tornou inválida, de fato e de direito, a própria eleição e todos os fatos dela decorrentes – o que inclui a posse da 'eleita'



O império da ignorância
Só pessoas prodigiosamente incultas podem ter alguma dificuldade de compreender que uma eleição presidencial com apuração secreta, sem transparência nenhuma, é inválida em si mesma.

Vamos falar o português claro: Aquele que não dá o melhor de si para adquirir conhecimento e aprimorar-se intelectualmente não tem nenhum direito de opinar em público sobre o que quer que seja.

Nem sua fé religiosa, nem suas virtudes morais, se existem, nem os cargos que porventura ocupe, nem o prestígio de que talvez desfrute em tais ou quais ambientes lhe conferem esse direito. Discussão pública não é mera troca de opiniões pessoais, nem torneio de auto-imagens embelezadas: é eminentemente intercâmbio de altos valores culturais válidos para toda uma comunidade humana considerada na totalidade da sua herança histórica e não só num momento e lugar. O direito de cada um à atenção pública é proporcional ao seu esforço de dialogar com essa herança, de falar em nome dela e de lhe acrescentar, com as palavras que dirige à audiência, alguma contribuição significativa.

O resto, por "bem intencionado" que pareça, é presunção vaidosa e vigariceTodos os males do Brasil provêm da ignorância desses princípios. Políticos, empresários, juízes, generais e clérigos incultos, desprezadores do conhecimento e usurpadores do seu prestígio, são os culpados de tudo o que está acontecendo de mau neste país, e que, se esses charlatães não forem expelidos da vida pública, continuarão aumentando, com ou sem PT, com ou sem "impeachment", com ou sem "intervenção militar", com ou sem Smartmatic, com ou sem Mensalão e Petrolão. Desprezo pelo conhecimento e amor à fama que dele usurpa mediante o uso de chavões e macaquices são os pecados originais da "classe falante" no Brasil.

Só o homem de cultura pode julgar as coisas na escala da humanidade, da História, da civilização. Os outros seguem apenas a moda do momento, criada ela própria por jornalistas incultos e professores analfabetos, e destinada a desfazer-se em pó à primeira mudança da direção do vento. A cultura pessoal é a condição primeira e indispensável do julgamento objetivo. A incultura aprisiona as almas na subjetividade do grupo, a forma mais extrema do provincianismo mental. Vou lhes dar alguns exemplos de desastres nacionais causados diretamente pela incultura dos personagens envolvidos.
Só pessoas prodigiosamente incultas podem ter alguma dificuldade de compreender que uma eleição presidencial com apuração secreta, sem transparência nenhuma, é inválida em si mesma, independentemente de fraudes pontuais terem ocorrido ou não. O número de jumentos togados e cretinos de cinco estrelas que, mesmo opondo-se ao governo, raciocinam segundo a premissa de que a Sra. Dilma Rousseff foi eleita democraticamente em eleições legítimas, premissa que lhes parece tão auto evidente que não precisa sequer ser discutida, basta para mostrar que o estado de calamidade política e econômica em que se encontra o país vem precedido de uma calamidade intelectual indescritível, abjeta, inaceitável sob todos os aspectos.

Quando na década de 90 os militares aceitaram e até pediram a criação do “Ministério da Defesa”,
foi sob a alegação de que nas grandes democracias era assim, de que só republiquetas tinham ministérios militares. Respondi várias vezes que isso era raciocinar com base no desejo de fazer boa figura, e não no exame sério da situação local, onde a criação desse órgão maldito só serviria para aumentar o poder dos comunistas. Mil vezes o Brasil já pagou caro pela mania de macaquear as bonitezas estrangeiras em vez de fazer o que a situação objetiva exige. Esse caso foi só mais um da longa série.
Mesmo agora, quando a minha previsão se cumpriu da maneira mais patente e ostensiva, ainda não apareceu nenhum militar honrado o bastante para confessar sua incapacidade de relacionar a estrutura administrativa do Estado com a disputa política substantiva. Continuam teimando que a idéia foi boa, apenas, infelizmente, estragada pelo advento dos comunistas ao poder – como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra, como se fosse tudo uma soma fortuita de coincidências, como se a demolição do prestígio militar não fosse um item constante e fundamental da política esquerdista no país e como se, já no governo FHC, a criação do Ministério não fosse concebida como um santo remédio, com aparência legalíssima, para quebrar a espinha dos militares. Um dos traços mais característicos da incultura brasileira, já assinalado por escritores e cientistas políticos desde a fundação da República pelo menos, é a subserviência mecânica a modelos estrangeiros copiados sem nenhum critério.
Numa sociedade culturalmente atrofiada, a coisa mais inevitável é que todas as correntes de opinião que aparecem na discussão pública sejam apenas cópias ou reflexos de modelos impostos, desde o exterior, por lobbies e grupos de pressão que têm seus próprios objetivos globais e não estão nem um pouco interessados no bem-estar do nosso povo. Cada “formador de opinião” é aí um boneco de ventríloquo, repetidor de slogans e chavões que não traduzem em nada os problemas reais do país e que, no fim das contas, só servem para aumentar prodigiosamente a confusão mental reinante.

Como é possível que, num país onde cinquenta por cento dos universitários são  reconhecidamente analfabetos funcionais e
os alunos dos cursos secundários tiram sistematicamente os últimos lugares nos testes internacionais, o currículo acadêmico de um professor continue sendo aceito como prova inquestionável de competência? Não deveria ser justamente o oposto? Não deveria ser um indício quase infalível de que, ressalvadas umas poucas exceções, o portador dessa folha de realizações é muito provavelmente, por média estatística, apenas um incompetente protegido por interesses corporativos? Terá sido revogado o “pelos frutos os conhecereis”? A interproteção mafiosa de carreiristas semi-analfabetos unidos por ambições grupais e partidárias tornou-se critério de qualificação intelectual?
Não é mesmo um sinal, já não digo de mera incultura, mas de positiva debilidade mental, que os mesmos apologistas do establishment universitário fossem os primeiros a apontar como mérito imarcessível do candidato Luís Ignácio Lula da Silva, em duas eleições, a sua total carência de quaisquer estudos formais ou informais? Não chegava a prodigiosa incultura do personagem a ser louvada como sinal de alguma sabedoria infusa?
Todo sujeito que, à exigência de conhecimento, opõe o louvor evangélico aos “simples”, é um charlatão. Jesus prometeu aos “simples” um lugar no paraíso, não um palanque ou uma cátedra na Terra. [só que o estrupício do Lula é comunista e o comunismo pressupõe ser ateu o que garante aos merecedores do Paraíso a não convivência com Lula.]

Escrito por: Olavo de Carvalho - Publicado no Diário do Comércio. http://olavodecarvalho.org