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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Opinião: Neymar erra feio com a autocrítica de aluguel


[mais uma mancada do Neymar: erra feio quando pensa que todo brasileiro é otário - o usual é que os que pensam assim, sejam os otários.]

Craque divulga vídeo em que justifica comportamento, mas é uma propaganda

Neymar "falou" de novo. Se a princípio preferiu o silêncio após a Copa, quando muitos queriam respostas sobre sua atuação no Mundial e os danos causados à sua imagem, a má repercussão de tudo que fez parece ter criado internamente um jeito de se pronunciar em segurança. Primeiro, pequenas entrevistas em um evento organizado pelo seu staff. Na noite deste domingo, declarações mais fortes, um "textão" narrado onde dá explicações para tudo. Diz, por exemplo, que quando parece malcriado "não é porque eu sou um moleque mimado. Mas é porque eu ainda não aprendi a me frustrar". Tudo isso em uma propaganda de uma marca de barbeador que termina com a frase edificante: "um novo homem todo dia".

Em outro trecho, Neymar diz, com um tom de voz onde se esforça para passar sinceridade, que "demorou para aceitar as suas críticas. Eu demorei a me olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu tô aqui, de cara limpa, de peito aberto". Além de citar o slogan da campanha de marketing, afirma estar de cara limpa e peito aberto. Em uma propaganda. Difícil pensar um meio pior para Neymar querer mudar sua imagem do que em um comercial. O resultado final, provavelmente, vai ser só reiterar que tudo que vem dele é pasteurizado, fake, irreal. O "menino Ney", que nunca se pronuncia sem ajuda de terceiros, dá um passo para frente na sua transformação completa em produto e dois para trás na mudança de menino para homem.


Por certo Neymar recebeu muito dinheiro por este vídeo. Não é bem um problema, é justo. Porém, não é recebendo uma óbvia e evidente remuneração por uma propaganda a melhor maneira de se convencer o público que é difícil ser Neymar, e nem entender o que ele passa fora do campo. O que Neymar faz no vídeo é uma autocrítica de aluguel. Será que agora só ouviremos declarações substanciais do maior craque do futebol brasileiro se pagarem? Se existir uma campanha de marketing por trás? Ao que tudo indica, a realidade pretendida pela equipe do craque não é muito diferente.

A má repercussão nos primeiros minutos após a veiculação do vídeo dá o tom: Neymar, ou os que controlam sua vida, erraram de novo e deram mais um tiro no pé. Se fosse uma declaração em suas redes sociais, ou em uma entrevista à imprensa, com pelo menos uma impressão de maior naturalidade, por certo que tudo seria melhor recebido. Ainda que haja problemas claros na declaração: não é admissível um jogador sério, de alto nível [afinal ele está entre os dez melhores jogadores de pôquer do Brasil.] , de 26 anos, reconhecer, na cara dura, que exagera nas simulações e que ainda é um menino. O que Neymar precisa fazer é desculpar se por isso, pela malcriação do passado, e fazer diferente no futuro. Responder com bola, gols, maturidade na hora de falar. E entender que a propaganda não pode, sempre, ser a alma do negócio.

Desabafo em comercial rende mais de R$ 1 milhão a Neymar

'Ele saiu menor da Copa', analisa publicitário. Craque reclama de 'encheção de saco'

Atacante deu ‘tiro no pé publicitário’ ao dizer, com três semanas de atraso, o que deveria ter dito na Rússia, sem ser pago - PLACAR

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A opção pela baderna

A hostilidade a Michel Temer por deputados do PT revela a incapacidade do partido de entender como funciona uma democracia representativa e seus rituais – entre os quais se encontra o respeito solene ao decoro

Desde sua fundação, há mais de três décadas, o PT nunca perdeu uma chance para demonstrar menosprezo pela democracia e suas instituições. Assim, não surpreende o comportamento lamentável, próprio de arruaceiros, que alguns parlamentares do PT exibiram no instante em que o presidente em exercício Michel Temer foi ao Congresso, na segunda-feira passada, para encaminhar a revisão da meta fiscal. O incidente demonstra de maneira cabal que o PT confunde oposição firme, legítima em qualquer democracia, com baderna, que é própria de quem não conhece outra forma de fazer prevalecer suas vontades que não seja no grito e na marra.

Em pleno Senado, três deputados petistas, Paulo Pimenta, Helder Salomão e Moema Gramacho, acompanhados de servidores por eles arregimentados, vaiaram e hostilizaram Temer. Aproveitando-se do mal-estar gerado por uma gravação clandestina que comprometeu o senador Romero Jucá – custando-lhe o cargo de ministro do Planejamento por sugerir que ele ajudou a articular o impeachment da presidente Dilma Rousseff com a intenção de frear a Lava Jato –, receberam o presidente em exercício aos gritos de “golpista”.

O menor dos absurdos desse episódio é o uso inapropriado de servidores públicos para funções estranhas a seu trabalho, mormente a participação em protestos políticos. É preciso lembrar que os funcionários do Legislativo, mesmo os que servem nos gabinetes, são pagos pelo Estado, e não é sua função compor claques.  O mais grave, contudo, é a incapacidade dos petistas de entender como funciona uma democracia representativa e seus rituais – entre os quais se encontra o respeito solene ao decoro. A atitude truculenta dos deputados petistas, típica do gangsterismo sindical do partido, infringiu diversos pontos do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.

No artigo 3.º, lê-se que é dever fundamental dos deputados zelar pelo prestígio, aprimoramento e valorização das instituições democráticas e representativas e pelas prerrogativas do Poder Legislativo”. O artigo 5.º afirma que atenta contra o decoro parlamentar “praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa” e “praticar ofensas físicas ou morais” contra colegas, servidores e autoridades. Ao chamar de “golpista” o presidente em exercício, que está no cargo por decisão soberana do Congresso, há não apenas uma ofensa às regras de boa conduta, mas uma clara ação que desprestigia e desvaloriza o Legislativo.

As exigências de decoro não são um capricho. Ao exigir que os parlamentares tenham comportamento civilizado, o código parlamentar procura preservar a essência da democracia, que é limitar o confronto de ideias ao terreno da política – em que prevalece o debate e a negociação. Por maiores que sejam as diferenças de opinião entre os diversos grupos representados no Parlamento, deve-se observar, sempre, o respeito aos oponentes – que, afinal, lá estão também porque receberam votos. É assim que funciona em democracias maduras.

Mas o PT nunca demonstrou tal maturidade. Ao contrário: a democracia, para a tigrada, sempre foi mero instrumento para tomar o Estado de assalto e acabar com a alternância de poder. Para lastrear esse projeto de força, mais do que de poder, a máquina de propaganda petista criou o mito segundo o qual o único movimento político verdadeiramente democrático no Brasil era o PT; logo, qualquer derrota do PT é tratada como derrota da própria democracia.

Foi esse espírito que presidiu a manifestação desrespeitosa dos deputados petistas contra Temer. Não importa que o afastamento da presidente Dilma tenha sido decidido pelo Congresso conforme o estabelecido pela Constituição, tampouco interessa se o país precisa urgentemente de um esforço coletivo para superar a imensa crise que a inépcia de Dilma e a corrupção lulopetista criaram. A única coisa que importa é causar confusão e, por meio da acusação fajuta de “golpe”, impedir que o governo tenha condições de consertar as lambanças de Dilma e, assim, expor a todos o mal que o PT causou ao país.

Fonte: Editorial - O Estadão