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domingo, 16 de agosto de 2020

A derrota da realidade - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Se os fatos não correspondem às versões, danem-se os fatos; Bolsonaro agradece

A realidade e os fatos vão para um lado, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro vai para o outro, confirmando que a propaganda é a alma do negócio e que o grande desafio dos governantes em processo de reeleição não é dar bons exemplos, agir estrategicamente e tomar as decisões mais adequadas ao País, mas manter um eleitorado cativo, cooptar o indeciso e atacar sem piedade qualquer tipo de opositor.

[as versões, em sua grande maioria, distorcem os fatos, adaptando-os com a maximização de 'erros', supostamente do governo.
Quem interpreta os fatos é quem os manda se danar.
O que se percebe é sempre considerado realidade e a percepção depende em muito da versão.] 


Não importam os princípios, importa o que bate diretamente no bolso. Não importam os fatos, importam as versões. Os esquemas da família Bolsonaro, de rachadinhas, funcionários fantasmas e do vício de pagar em dinheiro vivo escola, plano de saúde e até apartamentos não têm efeito na popularidade nem na rejeição do presidente. Diminui daqui, soma dali, o resultado é que Jair Bolsonaro continua sendo o único candidato à Presidência em 2022 e está em ascensão.

Também não interessa o desempenho trágico do presidente no combate ao coronavírus, que até aqui matou perto de 110 mil brasileiros. Como não importam o desmanche do Ministério da Saúde, a disparada das queimadas na Amazônia, o desdém pelo meio ambiente, o abandono da Educação, a exclusão da cultura da pauta nacional e a política externa desastrosa. Sergio Moro, Lava Jato e órgãos de combate à corrupção? Já vão tarde. Quem está interessado nisso? Em Polícia Federal? Coaf? Receita? PGR? Só essa mídia “esquerdista”, “petista”, para desmistificar o “mito”. O “povo” tem mais o que fazer e com o que se preocupar.
[IMPORTANTEa pesquisa tenta forçar uma resposta desfavorável ao presidente Bolsonaro, mas não consegue.
VEJAMOS:
1 - apresenta duas perguntas sobre a responsabilidade do presidente Bolsonaro pelas mortes resultantes da covid-19 - a pergunta tinha que ser apresentada de forma neutra;
2 -  faz outra pergunta tentando atribuir aos governadores a responsabilidade .
CONCLUSÃO: por questionar de forma explícita a responsabilidade de um dos Poderes da União e não questionar a dos outros dois Poderes, a parcialidade, contra o Poder Executivo = presidente BOLSONARO = se torna evidente, indiscutível.
3 - Por uma questão de Justiça deveria constar uma pergunta sobre a responsabilidade do Poder Judiciário e do Poder Legislativo.
Gostem ou não, os dois Poderes praticaram atos que ajudaram e/ou atrapalharam o combate à peste maligna.] 
Igualmente pouco importa se Bolsonaro assassinou as promessas de campanha e voltou à “velha política” e ao Centrão. Os bolsonaristas raiz, de memória curta, continuam fiéis e o número de desgarrados é compensado nas pesquisas por outro tipo de rebanho: o dos que precisam do Estado para sobreviver, até para comer. Para esses, não interessa se Bolsonaro apenas cedeu ao Congresso, mas sim que é ele quem distribui os R$ 600 e o socorro a empresas.

Além desse fator objetivo, que muda a percepção no Nordeste e entre os desempregados e os que ganham até dois salários mínimos, houve também uma guinada estratégica que estancou a sangria na classe média e entre os escolarizados: Bolsonaro parou de prejudicar Bolsonaro. [esta é uma das poucas versões que combina com os fatos.] Pôs de lado a metralhadora giratória contra tudo e todos, saiu das manchetes e reverteu a curva: deixou de cair, passou a subir.

Portanto, a nova pesquisa Datafolha, apurando que Bolsonaro atingiu o melhor índice de aprovação desde a posse – 37% - e reduziu sua rejeição em dez pontos porcentuais – para 34% - pode ter definido dois jogos internos no governo: a favor de estourar o teto de gastos para vitaminar a campanha do presidente e, portanto, contra Paulo Guedes.

Se Rogério Marinho, Tarcísio de Freitas e o time militar têm o Datafolha para convencer Bolsonaro de que gastança garante reeleição, o que Guedes tem para contrapor? Um crescimento econômico pífio em 2019, antes da pandemia, e... mais nada. Ah! Mas foi o presidente quem atrapalhou a reforma tributária e vetou a administrativa! Ok, é verdade. Mas quem quer saber da verdade, se a versão bolsonarista é que importa?

Moro foi dormir ídolo e acordou Judas, [qualquer traidor ganha o codinome Judas, e o ex-juiz e ex-ministro não seria a exceção.]Luiz Henrique Mandetta era um poço de popularidade e secou, [o ex-ministro médico, traiu os dois lados:
 - o presidente da República nos comícios, que chamavas de entrevistas, quando era contra o seu chefe - criticar o presidente era a regra;
- traiu os seus admiradores quando pregava o isolamento social e se despediu de servidores sem máscara, sem nada do que diz wser essencial para combater a pandemia.]  o general Santos Cruz era líder e virou uma ilha entre militares. Guedes pode ir se preparando. Os “gabinetes do ódio” (no plural) não atuam só contra críticos e esquerdistas, mas para apagar a verdade e massificar versões e fake news. As pesquisas depois colhem o resultado. Descobrem, por exemplo, que Bolsonaro não tem nada a ver com as 106 mil mortes!!! [por favor !!! quem souber de um só ato - unzinho que seja - do presidente Bolsonaro que atrapalhou, prejudicou, o combate ao coronavírus, por favor, nos informe. Que resultou em uma morte que seja. 
Não valem, comentários e opiniões do presidente  que não se transformaram em ações.] Bolsonaro e bolsonaristas vão muito bem. Não se pode dizer o mesmo do Brasil e dos brasileiros. 

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 30 de julho de 2018

Opinião: Neymar erra feio com a autocrítica de aluguel


[mais uma mancada do Neymar: erra feio quando pensa que todo brasileiro é otário - o usual é que os que pensam assim, sejam os otários.]

Craque divulga vídeo em que justifica comportamento, mas é uma propaganda

Neymar "falou" de novo. Se a princípio preferiu o silêncio após a Copa, quando muitos queriam respostas sobre sua atuação no Mundial e os danos causados à sua imagem, a má repercussão de tudo que fez parece ter criado internamente um jeito de se pronunciar em segurança. Primeiro, pequenas entrevistas em um evento organizado pelo seu staff. Na noite deste domingo, declarações mais fortes, um "textão" narrado onde dá explicações para tudo. Diz, por exemplo, que quando parece malcriado "não é porque eu sou um moleque mimado. Mas é porque eu ainda não aprendi a me frustrar". Tudo isso em uma propaganda de uma marca de barbeador que termina com a frase edificante: "um novo homem todo dia".

Em outro trecho, Neymar diz, com um tom de voz onde se esforça para passar sinceridade, que "demorou para aceitar as suas críticas. Eu demorei a me olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu tô aqui, de cara limpa, de peito aberto". Além de citar o slogan da campanha de marketing, afirma estar de cara limpa e peito aberto. Em uma propaganda. Difícil pensar um meio pior para Neymar querer mudar sua imagem do que em um comercial. O resultado final, provavelmente, vai ser só reiterar que tudo que vem dele é pasteurizado, fake, irreal. O "menino Ney", que nunca se pronuncia sem ajuda de terceiros, dá um passo para frente na sua transformação completa em produto e dois para trás na mudança de menino para homem.


Por certo Neymar recebeu muito dinheiro por este vídeo. Não é bem um problema, é justo. Porém, não é recebendo uma óbvia e evidente remuneração por uma propaganda a melhor maneira de se convencer o público que é difícil ser Neymar, e nem entender o que ele passa fora do campo. O que Neymar faz no vídeo é uma autocrítica de aluguel. Será que agora só ouviremos declarações substanciais do maior craque do futebol brasileiro se pagarem? Se existir uma campanha de marketing por trás? Ao que tudo indica, a realidade pretendida pela equipe do craque não é muito diferente.

A má repercussão nos primeiros minutos após a veiculação do vídeo dá o tom: Neymar, ou os que controlam sua vida, erraram de novo e deram mais um tiro no pé. Se fosse uma declaração em suas redes sociais, ou em uma entrevista à imprensa, com pelo menos uma impressão de maior naturalidade, por certo que tudo seria melhor recebido. Ainda que haja problemas claros na declaração: não é admissível um jogador sério, de alto nível [afinal ele está entre os dez melhores jogadores de pôquer do Brasil.] , de 26 anos, reconhecer, na cara dura, que exagera nas simulações e que ainda é um menino. O que Neymar precisa fazer é desculpar se por isso, pela malcriação do passado, e fazer diferente no futuro. Responder com bola, gols, maturidade na hora de falar. E entender que a propaganda não pode, sempre, ser a alma do negócio.

Desabafo em comercial rende mais de R$ 1 milhão a Neymar

'Ele saiu menor da Copa', analisa publicitário. Craque reclama de 'encheção de saco'

Atacante deu ‘tiro no pé publicitário’ ao dizer, com três semanas de atraso, o que deveria ter dito na Rússia, sem ser pago - PLACAR