A poucos dias de deixar o cargo, o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, recebeu
o aval dos nove ministros do Supremo presentes à primeira parte da sessão de
ontem, que rejeitaram o pedido da defesa de Michel Temer para que ele fosse
declarado suspeito em investigações sobre o presidente. O ministro Edson
Fachin, relator do caso, votou contra e foi seguido pelos demais. Não surtiram
efeito argumentos do advogado Antonio Mariz, de Temer, como o de que o uso da
imagem das “flechas” que seriam disparadas enquanto houvesse “bambu”
indicaria uma intensa inimizade do procurador com relação ao presidente,
prejudicando, assim, sua atuação como procurador.
Não
houve concordância dos ministros. Na segunda parte da sessão, com a presença do
ministro Gilmar Mendes, que não esconde divergências com Janot e o Ministério
Público no encaminhamento da colaboração premiada de Joesley Batista, foi
iniciada a discussão sobre a validade das provas oriundas dessa delação. Não
houve tempo de se começar a votação, e a presidente da Corte, Cármen Lúcia,
encerrou a sessão, que deve ser retomada na próxima quarta.
Ao sair do STF, o
ministro Celso de Mello esclareceu que Rodrigo Janot, enquanto estiver no cargo
— que transfere para Raquel Dodge na manhã de segunda —, pode atuar como
procurador-geral. O presidente tem procurado capitalizar alguns bons resultados
que vêm sendo produzidos pela economia. Mas não tem sido fácil compensar os
efeitos negativos de fatos que surgem de investigações e delações em curso. A
descoberta de malas e caixas com R$ 51 milhões em dinheiro vivo, em um
apartamento emprestado, com impressões digitais do ex-ministro Geddel Vieira em
cédulas, tem impacto forte no Planalto.
Uma vez que, além de Geddel ter sido
ministro do presidente, é um dos mais próximos a ele. Passou a pairar sobre o
Palácio a possibilidade de Geddel fechar acordo de delação premiada. Cabe
lembrar que na conversa com Temer nos porões do Palácio do Jaburu, gravada por
Joesley, o empresário pede um substituto do político baiano para tratar com ele
assuntos importantes representando o presidente. Recebeu a indicação de Rocha
Loures.
O poder destrutivo desta colaboração poderia rivalizar com o de Lúcio
Funaro, operador financeiro de Eduardo Cunha e de outros peemedebistas. Funaro
fechou acordo de delação, e começam a surgir relatos na imprensa. Como o de que
Temer recebeu propina de contrato da construção de Angra 3. Janot deve deixar
de ser fonte de dor de cabeça para Temer na segunda-feira. Mas há várias outras
ameaças contra o presidente, inclusive dentro da própria procuradoria.
Fonte: Editorial - O Globo