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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Aborto: “Você concorda que um problema não se resolve matando alguém?” - Cristina Graeml

VOZES - Gazeta do Povo

Entrevista: Jacyr Leal, médico obstetra

 
Aborto é palavra feia. Um disfarce de liberdade para esconder o assassinato cometido contra o mais inofensivo dos seres, aquele que ainda nem nasceu. Mesmo quando autorizado por lei, é ato associado a motivo torpe e cometido sem qualquer chance de defesa à vítima.

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No Direito Penal chama-se qualificadoras ou agravantes as circunstâncias que tornam um crime ainda mais reprovável. Cometer um atentado à vida de outra pessoa sem ser por legítima defesa, ainda mais quando a vítima não tem forças ou condições de reagir, são motivos mais que suficientes não só para condenação, mas também para aumento de pena.

Melhor seria falar em "defesa da vida" para divulgar a entrevista que fiz com o Dr. Jacyr Leal, médico obstetra, com especialização em medicina fetal e quase quatro décadas de experiência trazendo bebês ao mundo, depois de cuidadoso atendimento a gestantes ou, acolhimento, como ele prefere dizer.

Leia mais: Convicções Gazeta do Povo - Defesa da vida desde a concepção
Aborto ou defesa da vida?


O uso da palavra aborto no título e no texto é estratégico. A intenção aqui é acionar os algoritmos de busca, já que mulheres em desespero com a confirmação de uma gravidez não planejada costumam digitar aborto na internet, em busca de informações sobre formas clandestinas de impedir o desenvolvimento do próprio filho.

Vai que elas caem nesta entrevista e aceitam repensar a proposta que lhes foi imposta por uma sociedade cada vez mais egoísta e movida por ideologia! Vai que aceitam ouvir o que este médico tem a dizer.

Jacyr Leal, na condição de defensor da vida desde a concepção, posiciona-se abertamente contra a ideia de que embriões, fetos e até bebês possam ser esfacelados e arrancados do ventre de suas mães.
O médico não julga ou recrimina as pacientes apenas porque elas, em momento de desespero, não veem outra saída a não ser, livrar-se daquela vida "inoportuna" para resolver o que pensam ser um mero "problema".

Argumentos pró-vida
Depois de quase quatro décadas de experiência atendendo e acolhendo gestantes, Jacyr Leal desenvolveu uma forma bastante contundente de provocar reflexão sobre aborto. O intuito é sempre salvar a vida dos bebês, missão que tem levado a cabo com sucesso na quase totalidade dos casos.

Atualmente o médico grava também vídeos para divulgar suas ideias contra o aborto nas redes sociais e dá palestras para levar adiante a proposta de defesa da vida desde a concepção. O vídeo mais recente publicado em seu canal no YouTube começa com uma série de perguntas.

Lula pró-aborto tenta confundir o debate sobre saúde pública e menospreza a vida
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"Você concorda que um problema não se resolve matando alguém?
Que uma sociedade não sobrevive com respostas simples?
Você sofre uma afronta e a única solução que enxerga é matar o outro? 

Destruir? Abortar?
Me perdoe o modo de tratar esse tema, mas é importante.
Sou obstetra, faço sempre uma criança nascer, nunca, morrer."

Jacyr Leal, médico obstetra, em vídeo disponível no YouTube

Vale a pena acompanhar a entrevista completa e se municiar de mais argumentos para, também você, poder atuar como defensor da vida. Você verá um profissional experiente emocionado até ao falar de vidas oriundas de estupro, situação na qual o aborto é permitido no Brasil. "As crianças costumam nascer com 'a cara da mãe'. E, com certeza, têm avós. Vai deixar o neto deles ser morto?", pergunta o médico segurando o choro, ao revelar o que costuma dizer para gestantes que sofreram violência sexual e engravidaram de forma traumática.

Até mesmo a argumentação do médico sobre dar chance de vida a fetos anencéfalos é digna de consideração. 

Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

domingo, 24 de janeiro de 2016

Uma servidora pública de Campina Grande - A teoria da ‘bosta seca’ ameaça a Lava-Jato

A médica Adriana Melo tem 45 anos e trabalha há 16 no setor de medicina fetal do Isea, a principal maternidade pública de Campina Grande. Entre outubro e novembro do ano passado, compartilhou a angústia de duas pacientes grávidas de bebês que nasceriam com microcefalia. A ela a medicina deve o estabelecimento da relação entre o vírus zika e a má formação do cérebro de milhares de crianças. Não é pouca coisa, nem foi fácil. 

Desde agosto, médicos do Nordeste quebravam a cabeça para saber o que estava acontecendo, e a rede pública de Pernambuco alertou para a suspeita da conexão entre o vírus e a anomalia nos bebês. Adriana Melo suspeitou que se estava diante de um novo padrão de microcefalia: “Eu nunca tinha visto casos de destruição do cérebro dos fetos com tamanha virulência”. 

Havia uma pista: todas as pacientes tiveram manchas vermelhas na pele e coceiras durante as primeiras semanas da gravidez. Quando a doutora Adriana começou sua caminhada, havia no mundo apenas a suspeita da relação entre casos de microcefalia e o zika. O vírus se tornara epidêmico na Polinésia em 2014. No Brasil, sabia-se apenas que o número de bebês que nasciam com essa anomalia vinha aumentando, sobretudo no Nordeste. O zika era visto ainda como uma modalidade branda de dengue. 

O governo da Paraíba custeou a viagem das duas mulheres para serem examinadas em São Paulo, e em novembro, por iniciativa de Adriana Melo, a Fiocruz recebeu material colhido nas pacientes. Em poucos dias, bateu o martelo. Duas semanas depois, o Ministério da Saúde decretou uma emergência sanitária. Haviam-se passado três meses desde o aparecimento das primeiras suspeitas. 

O sistema de vigilância epidemiológica nacional dormiu no ponto. Nada de novo. Quando Oswaldo Cruz, baseado em pesquisas americanas feitas em Cuba, quis combater a febre amarela atacando o Aedes aegypti, a burocracia da Saúde e alguns marqueses da medicina duvidaram dele. A febre era coisa do clima, logo, culpa do Padre Eterno. No caso da doutora Adriana Melo sucedia algo semelhante. Ela dizia algo novo, o zika tinha relação com casos de microcefalia, portanto o problema estaria no maldito do mosquito, nada a ver com a alimentação da mãe ou até mesmo com consumo de drogas. 

Apesar da tonitruância da decretação de emergência (sem que se saiba o que isso significa na vida real), o Ministério da Saúde procura tranquilizar a população: nem todas as mulheres que tiveram zika terão bebês microcéfalos, assim como nem todos os Aedes aegypti que andam por aí transmitem zika. Tudo bem, mas em 2014 o Brasil teve 147 casos de microcefalia. Admita-se que esse número esteja contaminado por uma subnotificação, Fique-se com o dobro, seriam 294. Em apenas quatro meses, os casos suspeitos já chegaram a 3.893. Segundo a Fiocruz, os registros poderão chegar a 16 mil neste ano. A última desgraça envolvendo mulheres grávidas deu-se no século passado, quando gestantes que tomaram o remédio talidomida pariram bebês defeituosos. Em todo o mundo, afetou 10 mil nascituros num período de cerca de cinco anos. 

Dentro do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, o Ministério da Saúde baixou uma Diretriz para Estimulação Precoce para crianças que nascem com microcefalia. Ele relaciona-se com o Plano Viver Sem Limite e com a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, que por sua vez são contemporâneos do Programa de Aceleração do Crescimento. Fica combinado assim. 

A doutora Adriana tem doutorado pela Unicamp, seu salário é de R$ 3.800 mensais por 20 horas de trabalho semanais. Com bonificações de produtividade pode chegar a R$ 6 mil. Mantém uma clínica privada onde ganha mais trabalhando menos. A maternidade do Isea só atende pelo SUS (sem segunda porta), e na equipe de medicina fetal há quatro médicos. Desde que ela saiu por aí para confirmar a relação entre o zika e a microcefalia, recebeu críticas, muxoxos e silêncios. Ajuda, só da prefeitura da cidade e do fabricante de equipamentos Samsung, que doou um aparelho de ultrassonografia à maternidade. A rede pública de Campina Grande (680 mil habitantes) não tem máquina de ressonância magnética. Quando lhe perguntam o que precisa para facilitar seu serviço no Isea, responde: “Recursos para pesquisas”. 

A teoria da ‘bosta seca’ ameaça a Lava-Jato
O repórter Jânio de Freitas mostrou que o maior inimigo da Operação Lava-Jato está em Curitiba. É a teoria da “bosta seca”, enunciada em maio por um procurador. Nela, não se deve mexer em incongruências existentes nos processos contra os larápios. Assim, se um depoimento de Alberto Youssef foi desmentido por Paulo Roberto Costa, seria melhor deixar a bosta em paz. 

Jânio mostrou coisa pior. Em julho, Paulo Roberto Costa disse o seguinte à Polícia Federal, tratando da figura de Marcelo Odebrecht: “Eu conheço ele, mas nunca tratei de nenhum assunto desses com ele, nem põe o nome dele aí, porque ele, não, ele não participava disso”. 

A partir dessas palavras, os procuradores escreveram o seguinte: “Paulo Roberto Costa, quando de seu depoimento (...), consignou que, a despeito de não ter tratado diretamente o pagamento de vantagens indevidas com Marcelo Odebrecht...”. 

Puseram o nome de Odebrecht. Seus advogados apontaram o absurdo e requereram ao juiz Sérgio Moro a volta do processo à instrução processual. Moro deu uma resposta estarrecedora: “O processo é uma marcha para a frente. Não se retorna às fases já superadas”. Achou que o pedido era “meramente protelatório”, pois as provas pretendidas eram “desnecessárias e irrelevantes”. 

O pedido era de fato protelatório, mas Moro pode tentar saber o que houve. Como bosta seca é seca bosta, vamos em frente. Até o dia em que os tribunais de Brasília forem colocados diante dos montinhos de cocô escondidos nos processos.


Fonte: O Globo - Elio Gaspari