Desigualdade
Segundo o ministro Paulo Guedes, 90% da
receita do Brasil banca o funcionalismo público. Se isso não for
concentração de renda, eu não sei mais o que é.
Em poucos
países do mundo se faz tanto barulho e se fala com tanta indignação contra a concentração de renda
como no Brasil. Ao mesmo tempo não existe, possivelmente, nenhum outro onde os
concentradores de renda sejam tão protegidos como aqui. Mais que isso: são
considerados vítimas, e estão sempre no primeiro lugar da fila dos que vivem
pedindo dinheiro ao Tesouro Nacional.
Não são
os ricos propriamente ditos – uma parte desses
concentra renda até dormindo, pois as suas atividades não podem ser
exercidas, nem que eles queiram, sem sugar os recursos da maioria. Ponha aí
a turma que vive dos juros da dívida pública, os fornecedores do governo, os
operadores de monopólios e cartéis. Os
concentradores de renda de que se trata aqui são os que ficam com a
maior parte dos recursos do Estado por força das leis que fazem aprovar em seu
favor. Descrevem a si próprios como “povo”. Acusam
as “elites”. Mas na hora de dividir a riqueza
nacional ficam com quase tudo para si próprios.
Os mais
falados, no
momento, são os 12 milhões de funcionários públicos
federais, estaduais e municipais – um número que não tem nenhum nexo
para um país com os níveis de pobreza do Brasil. Pois bem: eles estão
entre os que mais exigem da sociedade – mais aumentos
salariais, mais benefícios, mais aposentadorias – e são os que têm mais
defensores no mundo político.
Mas
são justamente esses que consomem, acredite se quiser, 90% de
tudo o que a população paga de impostos – pelo menos é o que disse o
ministro da Economia, Paulo Guedes, no dia em que comparou servidores a "parasitas". Ficamos assim, então:
de um lado, 12 milhões de funcionários que levam 9 em cada 10 reais
arrecadados pelo fisco, e de outro 200 milhões que pagam tudo e ficam
com aquele 1 real que sobrou dos 10. Se isso não é concentração de renda direto
na veia, o que seria?
O pior da
história é que a imensa maioria paga muito; cada real que sai do seu bolso, e vai para o bolso
do funcionalismo, é um real a menos no seu patrimônio e no orçamento que tem
para viver. Até o presente momento, e não chegamos nem na metade do mês de
fevereiro, a população já tinha pago R$ 350 bilhões em impostos para os
três níveis da administração. Nessa toada, estima-se que o total arrecadado em
2020 vai superar, de longe, os R$ 3 trilhões. Está bom assim – ou é
preciso ainda mais dinheiro para dar ao funcionalismo, principalmente para as
suas castas mais ricas, mais influentes e mais poderosas para arrancar dinheiro
do cofre público?
[não
sou 'expert' em números, talvez por isto cheguei a seguinte conclusão:
-
é dito que 90% da receita banca o funcionalismo, afirmação confirmada
quando exemplifica que de cada 10 reais arrecadados, 9 vão para bancar os
12.000.000 de funcionários públicos, conforme informação do ministro Paulo
Guedes;
-
cita doze milhões de funcionários públicos, o que significa que, 5,7% da
população do Brasil é de funcionário público - impossível, visto que nos
doze milhões estão inclusos: militares, membros do MP, Poder Judiciário, Poder
Legislativo - os integrantes dessas categorias não são funcionários
públicos, são regidos por legislação especíica e não alcançam sequer um milhão
de integrantes = se atingissem tal número, ainda restaria 11.000.000 de
funcionários públicos, um absurdo.
O
contexto da fala do ministro Guedes contempla os funcionários públicos
federais.
Não
temos dados exatos para afirmar, mas, ousamos considerar que ainda se incluindo
no rol dos "funcionários públicos federais" todos os
aposentados, pensionistas, etc, não será alcançado nem os 10.000.000.
-
sem contar que sendo a arecadação federal estimada para todo o ano de 2020 de
R$ 3 trilhões, 2,7 trilhões seriam destinados ao pagamento dos
funcionários públicos, restando R$ 300 bilhões para todo o resto.
IMPOSSÍVEL.]
O Bolsa
Família, que atende 13,5 milhões de famílias no Brasil inteiro, vai receber, em 2020, um
total de R$ 30 bilhões. Todo o orçamento federal para a educação, este
ano, está em R$ 100 bilhões. O da saúde não passará muito dos R$ 130
bi. Faça as contas e veja, aí, quem é que está concentrando renda nesse
país.
J.
R. Guzzo, jornalista - Vozes/Gazeta do Povo