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quarta-feira, 24 de março de 2021

Veneno em palavras e imagens - Percival Puggina

De repente me veio à lembrança o “Realejo” de Chico Buarque. Diz assim:

“Estou vendendo um realejo.

Quem vai levar? Quem vai levar? Quem vai levar?

Já vendi tanta alegra, vendi sonhos a varejo.

Ninguém mais quer hoje em dia acreditar no realejo (...)”.

Não dá para acreditar, mesmo, mas o realejo continua rodando a manivela, apesar do descrédito, vendendo sonhos, narrativas, utopias, mentiras e mistificações. Os tocadores de nossos realejos quotidianos desenvolveram uma semântica astuciosa em que adjetivos como negacionistas, genocidas, fascistas, terraplanistas são usados para significados aquém e além daquele para o que existem e nunca com o intuito de serem entendidos no sentido para o qual foram criados. Delírios de linguística orwelliana. Veneno em poção verbal e visual. O mercado de veneno atrai ilustrados e apedeutas.

Recriou um “antifascismo”, sempre pronto a causar dano a algo que outros fizeram para destruir a divergência que merecem. Contudo, visto de perto, não passa do velho fascismo com estrela vermelha. Como sempre foi, aliás, desde antes do fim da Segunda Guerra Mundial.  Esse realejo que hoje toca no Brasil o dia inteiro tem como público cativo o cidadão do sofá, anatomicamente formado por corpo, membros e sei lá mais o quê. Pode haver certa má vontade minha, mas sempre achei mais fácil acreditar em Terra plana do que acreditar na Globo, por exemplo. Ademais, querer convencer pela repetição, como vem acontecendo no Brasil, desrespeita o público. É assim no adestramento, usado por humanos com animais. E nunca ao contrário. Pelo amor de Deus, nunca ao contrário!

O fato é que se por um lado isso está acontecendo, por outro nunca foi tão fácil saber em que banda toca a sujeito que fala. A linguagem impõe-se sobre as dissimulações e funciona como impressão digital da tendência política.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 23 de março de 2021

Loquidau, a hipnose - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Nenhum dos estagiários de Coreia do Norte é tratado como ditador. São todos 'empáticos'

A epidemia de coronavírus enfeitiçou as sociedades. Parte desse feitiço está nas palavras mágicas “pandemia” e “covid” — por isso elas foram deliberadamente evitadas na frase anterior. Não que tenhamos aqui o poder de desfazer esse feitiço. É só uma pequena desobediência aos ditames de um senso comum adoecido. A covid (citando pela última vez, por razões psicossemânticas) é real. E também é hipnótica. Aparentemente, pronunciando essa palavra você adquire poderes extraordinários sobre o seu semelhante.

A hipótese acima ainda não tem confirmação científica. Mas… Dane-se. Quem transformou a ciência em licença poética não fomos nós. Já vimos de tudo, até a Organização Mundial da Saúde empurrando pomposamente a humanidade para um gueto existencial chamado loquidau (se virar ciência a gente ajeita a grafia). Enfim, foram eles que começaram.

O tal feitiço está solidamente fundado num tabu. O fato de que o vírus se espalha rapidamente pelo mundo inteiro e realmente pode ser letal em milhares de casos foi transformado na seguinte armadilha: 
ou você aceita todo o repertório de salvacionismos estúpidos e inócuos que se espalhou igualmente pelo mundo inteiro, ou você é uma criatura horrenda que despreza a vida dos outros. 
Fotografar alguém andando de bicicleta para denunciar descumprimento de loquidau e falta de empatia é o diagnóstico inequívoco dessa outra doença que se espalhou junto com a c…
Essa epidemia de dedos-duros, patrulheiros, x-9 e como mais se queira chamar os empáticos de video game se tornou o combustível perfeito para a ascensão dos tiranetes. 
Se uma grande parte da sociedade está disposta a linchar moralmente um vizinho ou um irmão que não se sujeite a qualquer boçalidade apresentada como segurança sanitária, o caminho está livre para o autoritarismo envergonhado sair do armário. E ele perdeu mesmo a vergonha.
 
Governadores e prefeitos que se apresentam como democratas limpinhos já fizeram as seguintes bondades dizendo que estão “salvando vidas”: 
- toque de recolher ilegal supostamente contra aglomerações noturnas (mantendo aglomerações diurnas nos transportes); 
bloqueio de gôndolas de supermercados fingindo que a restrição ao consumo de parte dos produtos diminuirá o contágio; 
proibição de pessoas nas ruas mesmo durante o dia se o motivo da circulação for protesto contra essas falsas medidas sanitárias; 
fechamento de comércio à força soldando portas de lojas; 
proibição a lojista de expor na vitrine número de telefone para delivery; agressão física por parte de forças de segurança pública contra cidadãos (incluindo mulheres e adolescentes) que estavam circulando sem aglomeração (eventualmente sozinhas) por espaços abertos como orlas e praças;
invasão a residências para contar o número de pessoas presentes em reuniões particulares; 
proibição ao trabalho de vendedores ambulantes ao ar livre sem restrição aos que se espremem no ambiente fechado dos ônibus; rodízios de automóveis que aumentaram aglomeração nos transportes públicos e até rodízio de pessoas por número de CPF.

Mas nenhum desses estagiários de Coreia do Norte é tratado como ditador. São todos “empáticos”.

Decide aí. Se você quer continuar sendo enxotado para dentro de casa que nem rato porque te dizem que assim você é um empático contra a c…, fique à vontade. 
Você preferia não entregar sua liberdade de bandeja a tiranetes brandindo falsa ciência, mas e a c…? 
Você não se importa com a c…?? 
É horrível ficar na berlinda dos negacionistas, fascistas e terraplanistas, né? 
Então chega disso. Veste logo a sua ética de butique e sai rastejando aliviado, que ser rato não é tão ruim assim.

Não se esqueça de calar a boca para sempre sobre os estudos em torno do tratamento precoce — esse que médicos medalhões de São Paulo e Rio prescrevem discretamente aos seus pacientes, com todo o cuidado para não atrapalhar a ação dos senhores da verdade que perseguem, insultam, estigmatizam e banem como charlatões desgraçados os que fazem referência a essa terapêutica. 

O que salva é o loquidau.

Leia também “O novo totalitarismo”

Guilherme Fiuza, colunista - revista Oeste