Ricardo Noblat
Uma vez que atraia os holofotes, com ele está tudo bem
Se o deputado, segundo
Mourão, não se chamasse Eduardo Bolsonaro, mas sim Eduardo Bananinha, as
relações do Brasil com a China estariam cem por cento. Mas por carregar
o sobrenome do pai, ele desatou uma crise diplomática entre os dois
países que está longe de terminar. Mourão pediu desculpas ao governo
chinês. Pequim ainda não
respondeu se as desculpas de Mourão serão aceitas. A mais recente nota
da embaixada da China no Brasil, distribuída ontem à noite, foi mais
dura do que a anterior e renovou a cobrança para que Eduardo peça
desculpas e apague os desaforos que escreveu na sua conta no Twitter.
O povo chinês é o único
que tem sua história de milênios escrita à medida que era construída.
Hoje, se diria: em tempo real. Seus governantes não só a conhecem bem
como podem consultá-la a qualquer momento. Como reagiu a dinastia A ou B
em tal situação? Quais foram mesmo os efeitos do “milênio perdido”?
Sem que tivesse ainda a
bomba atômica, a China de Mao Tse-Tung foi capaz de encarar ao mesmo
tempo a União Soviética e os Estados Unidos, as potencias nucleares à
época. É o país mais populoso e antigo do mundo. No final do século XIX,
seu PIB era superior à soma do PIB da Europa com o PIB dos Estados
Unidos.
Pois foi com essa gente
que Bananinha resolveu brigar. Se ele tivesse lido o livro “Sobre a
China”, escrito por Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano e
o principal responsável pela aproximação entre os Estados Unidos e a
China, é possível que não fizesse o que fez. Mas Bananinha nunca ouviu
falar de Kissinger. Quando cotado pelo pai
para ser embaixador do Brasil em Washington, ele fez um curso relâmpago
sobre diplomacia para responder à sabatina no Senado. Ouviu falar pela
primeira vez do Barão do Rio Branco, de Oswaldo Aranha, da anexação do
Acre, essas coisas básicas. Mas, sobre a China, necas de pitibiriba.
A China não estava no seu
radar. De resto, Bananinha gosta de viajar pelo mundo como turista,
interessado nos cartões postais de cada lugar e indo às compras. Cultura
nunca foi seu forte. Formado em Direito, fez concurso para escrivão da
Polícia Federal e passou. Era mais fácil do que o concurso para
investigador ou delegado.
Quando adolescente, seus
amigos o chamavam de Loide, uma referência ao filme “Debi & Loide –
Dois idiotas em apuros”. Gostava de namorar e de surfar, de acordo com
seu perfil publicado na mais recente edição da revista Piauí. E de fumar
o que o ex-presidente Bill Clinton fumou uma vez, mas sem tragar. Mantinha distância da
política. Até que seu pai decidiu que ele deveria disputar um mandato de
deputado federal em São Paulo. Ordem dada, missão cumprida. Entrou na Câmara como
um liberal. À procura de um papel, virou um extremista de direita. Como pai, não gosta de
ler livros. Informa-se nas redes sociais. Repete o que está no Google e o
que o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho lhe ensina. Foi ele que
descobriu Olavo para sua família. Embora disponha de um exemplar do
livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de
Olavo, nunca o leu.
Certamente, Eduardo não
se deixará abater pela alcunha de Bananinha. Na vida real, é um boa
praça travestido de guerreiro pintado para a guerra contra o comunismo e
à cata do reconhecimento do pai. Empenha-se para parecer cada vez mais
com ele e – quem sabe? – sucedê-lo como chefe político da família. Estar no epicentro de uma
crise que preocupa o presidente da República não subtrairá a Bananinha
um minuto de sono. O brilho dos holofotes é o que fascina o único dos
Bolsonaro que sonhou um dia em ser modelo. Ele ainda guarda suas
primeiras fotos como aspirante a modelo. Se mostradas, fariam enorme
sucesso. [a lista de defeitos do Eduardo Bolsonaro é enorme;
o comentário sobre a China vale igual à soma dos dez maiores defeitos da lista.
Mas, cabe reconhecer que ele não tem o defeito que o fenomenal Lulinha, o biólogo filho do Lula, tem: Eduardo é HONESTO. Aloprado, porém,honesto e qualquer brasileiro prefere um filho aloprado, 'bananinha' que um filho desonesto - foi Lulinha o primeiro da família Lula da Silva a partir para o mundo das propinas.]
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
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