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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Em discurso, Bolsonaro faz aceno ao mercado e manda recado a opositores

Especialistas avaliam que discursos de Bolsonaro mantiveram consonância com a equipe econômica, ao priorizar reformas e austeridade fiscal, mas careceram de apelo à união. Deputado da oposição denuncia suposta agressão à democracia e desrespeito às diferenças 

Outrora criticado pela maneira intempestiva de tomar decisões, o presidente Jair Messias Bolsonaro foi elogiado ao tomar atitudes inesperadas no primeiro dia de governo. Durante a cerimônia repentinamente interativa, Bolsonaro quebrou protocolos, ao permitir que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, falasse no parlatório do Palácio do Planalto antes mesmo de se dirigir à população.  Bolsonaro também contrariou recomendações do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e desfilou em carro aberto, acompanhado da mulher  e de um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ).

No discurso como presidente, Bolsonaro avisou que vai “combater a ideologia de gênero”, mas pediu “paciência com as diferenças”. Prometeudar condições de trabalho às polícias e às Forças Armadas”, atacar “a criminalidade e a corrupção” e “trabalhar incansavelmente para que o Brasil escreva um novo capítulo de sua história”. 
“Quero agradecer a Deus por estar vivo. Pelas mãos de profissionais que operaram um verdadeiro milagre. Com humildade, volto a esta Casa, onde, por 28 anos, estive como parlamentar. Me deram a oportunidade de crescer e de amadurecer”, declarou no Congresso Nacional.

Para Geraldo Tadeu, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os discursos de campanha de Bolsonaro foram “recolocados” nas duas vezes em que o presidente se manifestou ontem. “Em nenhum momento, percebi o presidente fazendo referência à união de todos, uma postura que faltou para o ‘presidente de todos os brasileiros’, como ele se apresentou”, explicou. O cientista político acredita que trechos das manifestações de Bolsonaro foram pensados para “mandar recados” às entidades com as quais ele não concorda. “Quando falou da ideologização nefasta para tradições e do reforço ao direito à propriedade, ele mandou um recado direto aos movimentos sem-terra”, complementa Tadeu. [óbvio que o movimento conhecido como 'movimento sem terra' - mst é uma organização ilegal (sequer tem personalidade jurídica) e criminosa - já que promove e/ou estimula invasão de propriedades alheias;

pela ilegalidade e por se tratar de uma organização criminosa, aquela quadrilha tem que ser desmantelada e seus líderes presos.]

Ao condenar o “politicamente correto” no comunicado à nação, o presidente exclui os chamados grupos multiculturais, explica o especialista. “Notei uma visão limitante, quando ele enfatiza a necessidade de ‘entrega e renúncia’ para a recuperação moral do país. A menção de ataque ao ‘gigantismo estatal’ atende à demanda neoliberal, apesar das tendências (de origem) nitidamente mais estatais por parte do presidente. Não houve tema novo e, no tom, se assemelhou ao discurso de posse do Donald Trump, de um ‘entrante’ com olhar e palavras ligados à conjuntura percebidas no mundo, com ótica global”, acrescentou Tadeu.


No âmbito econômico, André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, disse que o discurso sinaliza que Bolsonaro está alinhado com as ideias da equipe econômica, o que agrada ao mercado. “Ele tratou das reformas, de um país menos burocrático e eficiente. Eu achei que essa parte do discurso foi muito bem colocada. Do ponto de vista do mercado, é tudo que se queria ouvir”, destacou.

Perfeito também ressaltou que, apesar de o Congresso ter sido renovado, as declarações apontam para uma aproximação com os parlamentares. “Isso é essencial para a aprovação das reformas”, destacou. O economista-chefe destacou, porém, que Bolsonaro se propõe a ser “muito revolucionário” ao “alterar tudo” o que é colocado em prática até então na estrutura de governo e na economia. “Eu só acredito vendo. Não porque não creio nele, mas porque é muito forte essa proposta”  O economista José Márcio Camargo — que foi o coordenador da equipe econômica do então candidato à Presidência Henrique Meirelles — disse que o discurso está de acordo com a “execução” proposta pela equipe econômica. “Foi enfático ao destacar a necessidade de reformas, de austeridade fiscal e de fim dos privilégios. Foi muito claro nesse sentido”, avalia. Camargo participou de reuniões do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Hélio Zylberstajn, economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, declarou que foi um discurso forte e bem marcado pelas escolhas ideológicas que ele representa, mas “sem surpresas” com o que ele defende para a economia.


Popularidade
Os sinais de popularidade à frente do Planalto não refletem a carreira do isolado deputado Jair Bolsonaro. Entre os aliados, os temas das rodas de conversa no Congresso são a esperança para o futuro. “As palavras podem até mentir, mas as atitudes falam a verdade. O que adianta fazer um belíssimo discurso e depois todo mundo ser preso? Os valores familiares estão distorcidos. Bolsonaro vai colocar em prática tudo o que disse. Essa coisa de militância aguerrida é coisa da esquerda. A nossa é espontânea”, explica o deputado novato Júnior Bozzella (PSL-SP).

No contraponto, opositores não se acanhavam em dizer que eventuais falhas de Jair Bolsonaro no plenário da Câmara poderiam se repetir no parlatório do Planalto. “Ele fez o discurso tosco de sempre. Não apresentou nenhuma ideia, usou aquela repetição de chavões e o resultado foi um pronunciamento de auto-ajuda. Nada do que ele disse tem valor no governo. Não dá para fazer um ‘chamamento’ para que o Congresso marche rumo ao Planalto, a fim de ajudar na administração. Além disso, o presidente não respeita a democracia, que pressupõe o respeito à diferença, e fica alfinetando quem não concorda com seu pensamento”, declara o também deputado Paulo Pimenta (PT-RS). [esse deputado Paulo Pimenta é mais um dos que desistiram de prestigiar o presidiário nas festas de final de ano.]


Correio Braziliense


 


 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Oposição vai acionar PGR contra Dilma na terça



Partidos decidiram recuar da tentativa de impeachment após parecer jurídico do ex-ministro Miguel Reale Jr. recomendar somente o pedido de ação penal

Os líderes da oposição decidiram ingressar na Procuradoria-Geral da República contra a presidente Dilma Rousseff, pedindo a abertura de investigação sobre as chamadas pedaladas fiscais - manobra do governo para camuflar as contas públicas e atingir a meta de superávit primário. Parlamentares do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade vão protocolar o pedido de investigação na próxima terça-feira.

A decisão atende orientação do ex-ministro da Justiça Miguel Reale Junior, que nos últimos meses se debruçou sobre uma série de denúncias contra a presidente Dilma. Embora a oposição esperasse um parecer com embasamentos jurídicos para o pedido de impeachment, o jurista recomendou, neste momento, um pedido de ação penal. A proposta de afastamento, no entanto, não está descartada.  "Há uma sucessão de informações que estão chegando e elas serão analisadas com muita responsabilidade. Nós não anteciparemos a nossa agenda. Hoje há um documento extremamente consistente que mostra que houve cometimento de crime comum, e é essa ação que o conjunto das forças de oposição vai impetrar", disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG) nesta quinta-feira.
"Nós, como oposição, temos a responsabilidade de tomar as providências que a sociedade exige. Mas ninguém pode agir com excessos. Nós estamos agindo com ponderação e argumentos jurídicos consistentes, que nos levam a fazer uma representação junto à PGR", afirmou o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).

O pedido de investigação representa um recuo dos opositores da presidente Dilma Rousseff. Depois de o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), anunciar que já havia elementos suficientes para protocolar o pedido de impeachment, no final de abril, o presidente da legenda, Aécio Neves, entrou em campo para frear a bancada. A ideia era unir as oposições e anunciar uma decisão conjunta no dia 6 de maio - o que também não aconteceu. 

Na ocasião, foi anunciado que o jurista Miguel Reale ainda analisava denúncias contra a presidente e que os partidos iriam esperar a chegada da Marcha pela Liberdade, que caminha de São Paulo a Brasília, prevista para o dia 27.  Em resposta, os líderes do Movimento Brasil Livre sustentaram que está mantido o plano de apresentar ao Congresso Nacional o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na próxima quarta-feira.