O clima de desconforto com o governo também ficou evidente durante a coletiva que o titular da Fazenda concedeu ontem com Nelson Barbosa. Os dois chegaram ao compromisso com cara de poucos amigos. Em seu discurso, Levy ainda passou nas entrelinhas um recado ao governo. "Eu acredito firmemente na necessidade da sustentabilidade fiscal e que se deva encontrar os meios para tanto. Eu acho que se houver ambiguidade em relação a isso fica mais difícil a gente garantir o crescimento. Se a gente não quer mero corte de despesas, tem que ser acompanhado com um programa sério de aumento de eficiência do gasto. É um trabalho bastante forte que tem que ser feito. É desafio do governo e da sociedade", disse o ministro. As ambiguidades seriam as resistências de dentro do próprio governo à implementação do ajuste fiscal.
Segundo reportagem do jornal O Globo, integrantes do governo já revelam decepção com o desempenho do ministro à frente da pasta. Quando foi nomeado ao cargo, havia a expectativa de que Levy, um "homem do mercado", conseguisse "blindar" o país da avaliação ruim das agências de risco e emplacasse com mais agilidade as medidas de austeridade.
Além do reconhecimento do déficit no próximo ano, Levy foi derrotado na redução da meta fiscal - de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) - e no tamanho do contingenciamento de cortes no Orçamento deste ano. "Ele ia fazer o quê? Acabar com o Bolsa Família? Não pagar aposentado?", questionou um aliado do Planalto ao Globo.