Mercado
recebe mal o balanço da Petrobras e ações têm forte oscilação
Na
abertura, as ações da estatal chegaram a cair mais de
7% e figuraram entre as maiores baixas do Ibovespa, mas no fim da manhã
as perdas eram menores
Se havia
dúvida sobre como o mercado receberia o balanço da Petrobras, que mostraram uma perda de R$ 6,2
bilhões com corrupção, agora elas
acabaram.
As ações da Petrobras abriram
com queda expressiva nesta quinta-feira, 23 após a empresa ter anunciado
ontem que encerrou 2014 com prejuízo de
R$ 21,587 bilhões. No fim da manhã, porém, a queda já era menor. Às 10h25, o papel
preferencial (PN) cedia 7,39% e o ordinário (ON) recuava 5,03%, ambos no topo das maiores baixas do
Ibovespa.
Às 11h10, porém, a
ON já subia 0,30% e a PN recuava 3,73%. O principal índice da Bolsa,
no mesmo momento, registrava
desvalorização de 0,68%, aos 54.245 pontos. Um bom sinal veio hoje com a
elevação, pelo HSBC, da projeção de preço-alvo para ações PN da Petrobras de R$
7 para R$ 9. Ainda assim, a maioria do
mercado se desfaz das ações da companhia.
Para calcular as perdas com corrupção, a Petrobras considerou a a aplicação de
um porcentual fixo sobre o valor total de todos os contratos entre 2004 e abril
de 2014. Os mesmos 3% que foram indicados nos depoimentos do ex-diretor de
abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que depois de preso pela Polícia
Federal, revelou o esquema em delação premiada.
A Petrobras reconheceu em seu balanço financeiro de 2014, divulgado com
atraso, a perda de R$ 6,194 bilhões por causa de gastos relacionados
à corrupção, feitos de 2004 a 2012, e identificados nas investigações da
operação Lava Jato, da Polícia Federal. Outros R$ 44,636 bilhões foram registrados como perdas
após revisão no valor de ativos. Com isso, registrou prejuízo de R$ 21,587 bilhões
em 2014, o primeiro resultado negativo anual desde 1991. A estatal
pontuou que as investigações internas e externas ainda estão em andamento, mas
que já toma medidas jurídicas necessárias perante as autoridades brasileiras
para buscar ressarcimento pelos prejuízos sofridos, incluindo aqueles
relacionados à sua reputação. A Petrobrás espera inclusive, entrar com ações
cíveis contra membros da Lava Jato.
Dívida da
estatal cresce e bate recorde
O endividamento total da Petrobras aumentou
31% em 2014 e atingiu R$ 351 bilhões, um recorde no setor de petróleo mundial. O presidente da
companhia, Aldemir Bendine, reconheceu que a delicada situação da estatal é o "desafio central" para a
retomada do crescimento. Outro indicador que aponta a capacidade da empresa de
pagar suas dívidas, a alavancagem subiu 36% na
comparação com 2013, expondo a urgência da estatal em conseguir novos recursos.
A alavancagem é medida pela relação
entre o total de endividamento líquido e a sua capacidade de geração de caixa
(Ebtida) para pagar o que deve. Nesse indicador, a estatal ultrapassou a marca
de 4,7 vezes. Um nível considerado adequado pela própria estatal,
por meio de seu conselho de administração, seria de 2,5
vezes. Para efeito de comparação,
a Exxon, maior petroleira do mundo, registrou alavancagem de 0,48 em 2014. "A companhia passou por um período de dificuldade onde foi a mais
prejudicada. Hoje, a gestão de dívidas é um dos desafios centrais da Petrobras.
Passada a limpo, retomará a capacidade enorme de geração de valor para os
acionistas e toda a sociedade brasileira", afirmou Bendine. Segundo a
estatal, a alta no endividamento se deve a uma
depreciação cambial de 13,4%.
A viabilidade do pagamento das dívidas da companhia
está ligada ao prazo contratado. De acordo com o balanço, nos próximos
três anos, a companhia deverá amortizar cerca de R$ 45 bilhões por ano. Nos
anos seguintes, o nível se elevará até atingir o volume de R$ 208 bilhões em
2020. Esses prazos estão relacionados à expectativa da companhia de aumentar
sua produção. De acordo com o último Plano de Negócios, de 2014, a estatal prevê dobrar
a produção atual, de 2,6 milhões de barris por dia para 4 milhões de barris. Ontem,
a diretoria informou que está revisando o Plano de
Negócios, para parâmetros mais realistas, de acordo com o atual cenário
mundial.
Piora
A situação da Petrobras começou a se deteriorar a
partir de 2010, quando adotou uma política
de preços de combustíveis ajustadas à política macroeconômica do governo.
Por três anos, a
companhia represou reajustes de preços e sacrificou seu caixa para evitar uma
alta da inflação. A estatal
estima que as perdas chegaram a R$ 80 bilhões no período. Segundo os dados divulgados ontem, o
endividamento líquido da companhia ficou em R$ 282 bilhões, descontadas as
disponibilidades de caixa e financiamentos contratados no último ano. Mesmo com
esses descontos, a Petrobras ampliou em 27% seu endividamento.
A alavancagem é um dos itens
fundamentais na análise da segurança financeira da companhia para as agências de classificação de risco, por
exemplo. A Moody´s atribuiu à
fragilidade do indicador o motivo de retirar da empresa, em fevereiro, a nota de grau de investimento. Essa
nota indica aos investidores que a empresa representa um risco muito baixo. As outras duas agências globais, a Standard & Poor’s (S&P)
e a Fitch sinalizaram que poderiam também rebaixar a Petrobras.
Diante do grande desafio, Bendine informou que vai detalhar as estratégias para
reduzir o endividamento no Plano de Negócios e Gestão para os próximos cinco
anos, em um prazo estimado de 30 dias. Segundo ele, será preciso "controlar a ansiedade para entender a
companhia daqui para frente". "A
melhora do endividamento se dará com a melhor geração de caixa, com a nossa
financiabilidade. Já demonstramos que temos credibilidade com os organismos
financeiros, como os recentes financiamentos obtidos. E se houver demanda com
nosso plano de desinvestimentos", afirmou.
As informações são do
jornal O
Estado de S. Paulo.