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quarta-feira, 11 de maio de 2022

Tarcísio: Indulto a Daniel Silveira foi ‘remédio’ necessário contra STF

Ao Amarelas On Air, ex-ministro faz coro às críticas de Bolsonaro ao STF, defende graça concedida pelo presidente e nega risco de ruptura institucional

Recrutado pelo presidente Jair Bolsonaro para a corrida ao Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio de Freitas prefere um tom bem mais moderado, mas faz coro ao padrinho político nas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Diante da escalada da crise entre os Poderes,  o ex-ministro de Infraestrutura e pré-candidato pelo Republicanos fala em “erros” e “provocações” do tribunal, ao sair em defesa decisões como a concessão do indulto para livrar o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) da prisão por incitar ataques ao STF.

Convidado desta semana do Amarelas On Air, programa de entrevistas de VEJA, Tarcísio classificou como um exagero a pena de oito anos e nove meses de prisão imposta ao parlamentar. Segundo ele, Bolsonaro agiu com “inteligência” e “fez o que tinha que fazer”, sem infringir a lei. “Eu fico, assim, Meu Deus. É para isso?”, afirmou, em referência à pena de prisão imposta ao parlamentar. “Vem cá, você vai condenar uma pessoa a uma pena de oito anos de cadeia porque ela emitiu uma opinião?”, continuou. “Foi uma bravata. Você vai dar oito anos de cadeia para uma bravata?”

O ex-ministro desconversou quando perguntado sobre o fato de Daniel Silveira ter desrespeitado a decisão do STF impondo o uso de tornozeleira eletrônica. Desviando sucessivamente da pergunta, encerrou: “Isso é uma questão do Daniel Silveira, com o advogado dele. Não tenho nada a ver com esse assunto”. [Em nossa opinião, o ex-ministro agiu corretamente ao não se deixar envolver por perguntas 'casca de banana' da imprensa militante - ele tem uma eleição ganha e não pode se expor a ciladas. 
Deve deixar a 'encrenca' Bolsonaro x STF com as partes envolvidas,  e aos poucos as coisas  se acomodam; 
Desde o inicio do seu mandato que o presidente vem sendo hostilizado por decisões do Supremo o que alimentou a convicção de alguns ministros que podem tudo.
Porém, desde janeiro de 2022,  que o presidente decidiu reagir a algumas supremas decisões, porém, sempre dentro das quatro linhas da Constituição Federal.]

Tarcísio disse não ver nenhum risco de uma ruptura institucional, pavimentada pelo discurso de Bolsonaro contra o STF. “Não há golpe, não há caminho golpista, não há nada disso. O presidente não agiu um milímetro fora da regra do jogo até hoje. Nem um milímetro. O próprio caso Daniel Silveira, o que o presidente fez diante de uma decisão do Supremo Tribunal Federal? Aplicou um remédio, aplicou um instrumento, previsto na Constituição. Agiu dentro da regra do jogo? Totalmente. Totalmente dentro da regra do jogo. Essa é a atitude esperada de alguém que vai promover uma ruptura? Claro que não.”

Tarcísio evitou, entretanto, reproduzir o discurso de Bolsonaro a respeito do processo eleitoral e da segurança da urna eletrônica. Ele defendeu que “nenhum sistema é inviolável” e que é necessário um “aprimoramento constante”. Mas ressaltou que muitos agentes inclusive as Forças Armadas – estão empenhados na fiscalização das eleições. “Já tem gente bastante experiente gastando energia para analisar esse processo como um todo. Eu tenho que confiar no trabalho desses profissionais. Então eu não tenho nenhuma desconfiança em relação a isso.”


Clarissa Oliveira, colunista - Blog em VEJA 

 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Lula assume o comando geral



Lula cumpriu o que se propunha a fazer em sua viagem a Brasília na quinta-feira: assumiu de fato o comando do PT e do governo. Para botar tudo em pratos limpos, reuniu-se com o Diretório Nacional do partido e, à noite, no Palácio da Alvorada, com os ministros que colocou no Planalto, mais o seu preposto na presidência do PT. A presidente Dilma Rousseff também estava presente. Diante dos correligionários usou e abusou de seus melhores recursos retóricos para estabelecer as novas diretrizes para tempos de guerra. 

Fez pose de herói e de vítima, deu conselhos e aplicou reprimendas, divertiu-se com a ironia e o deboche, permitiu-se a modéstia e a humildade, explodiu em ímpetos de valentia, tudo junto e misturado. Nos aplausos que recolheu deve ter encontrado consolo para a decadência de seu prestígio no mundo real, no qual 54% dos brasileiros afirmam que “de jeito nenhum” votariam nele em 2018.

Ordenou Lula ao PT: chega dessa história de falar mal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Levy, Lula sabe, é necessário para fazer o ajuste fiscal, botar as contas do governo em ordem e dar um jeito na lambança que “Dilminha” promoveu em seus primeiros quatro anos de desgoverno. Assim, conformem-se por enquanto os petistas e filopetistas remanescentes, porque “as coisas estão difíceis, mas vão melhorar”.

Quanto a Eduardo Cunha, Lula também sabe, é importante para evitar que progridam as tentativas das “elites” de promover o impeachment de Dilma. Até hoje a chefe do governo só fez e falou bobagens, mas agora ela está sob controle e é necessário que permaneça onde está para permitir que seu padrinho dê um jeito nas coisas para chegar a 2018 com alguma chance de se candidatar mais uma vez ao posto que nunca deveria ter deixado. Portanto, nada de ficar falando em contas na Suíça e irrelevâncias desse tipo, até porque não se deve “prejulgar” ninguém.

Para dramatizar a necessidade de apoio ao ajuste fiscal e enquadrar o PT, que se inclinava a formalizar um pedido de afastamento de Joaquim Levy e divulgar críticas à “política econômica” de Dilma, na reunião do Diretório Nacional Lula não teve o menor constrangimento de dar o dito por não dito. Ele afirmara, dias antes, que o ministro da Fazenda tinha “prazo de validade”. Também admitiu, pela primeira vez publicamente, o estelionato eleitoral praticado no ano passado: “Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e fazer o que dizíamos que não íamos fazer. E isso é um fato”.
 
Essa confissão dá bem a medida dos extremos a que Lula está disposto a chegar para evitar o naufrágio do projeto de poder do PT, que faz água por todos os lados desde que, ao assumir o segundo mandato, Dilma meteu na cabeça que teria competência para assumir sozinha o comando político do governo.

Falando aos petistas como se já fosse candidato à Presidência, Lula preocupou-se também em minimizar a importância do cerco da Polícia e do Ministério Público Federal a si e a sua família, como consequência do inevitável surgimento de suspeitas a respeito da repentina prosperidade do clã Da Silva. Na falta de melhores argumentos, apelou para o deboche: “Disseram que uma nora minha recebeu R$ 2 milhões. Aí, vão perguntar quem é rico na família. Daqui a pouco uma nora entra com um processo contra a outra para ter o dinheiro repatriado”.

Além da participação na reunião do diretório petista, Lula almoçou com a liderança do PCdoB, a sempre fiel linha auxiliar do PT, onde repetiu os principais pontos de seu pronunciamento aos petistas. À noite, jantou no Palácio da Alvorada com Dilma, os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, além do presidente nacional do PT, Rui Falcão. Em todas essas ocasiões ressurgiu em grande estilo a prodigiosa metamorfose ambulante expressão cunhada por ele próprio para demonstrar que se considera acima do Bem e do Mal. Era o líder populista que não tem o menor escrúpulo de falar apenas o que acredita que as pessoas querem ouvir ou o que as circunstâncias políticas exigem. Está aí o homem que governa de novo o País, agora e mais uma vez sem intermediários.

Fonte: Editorial do Estadão