Amigo
do pecuarista, ex-presidente deporia por videoconferência a Sergio Moro na
segunda-feira. Lula
declarou não ter pedido a Bumlai que fizesse empréstimo fraudulento repassado a
campanhas petistas
A defesa do empresário José Carlos Bumlai desistiu de ouvir o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como testemunha de defesa nos processos da Operação Lava Jato. A
oitiva de Lula estava agendada para a próxima segunda-feira, mas deve ser desmarcada porque o petista, amigo há quase 14 anos
do pecuarista réu no petrolão, enviou uma declaração por escrito negando
"vantagens" a Bumlai. As
declarações de Lula estão datadas desta quinta-feira, data em que o Ministério Público Federal pediu a prisão
preventiva do petista no processo em que ele é investigado por suspeitas de
ter recebido benesses de empreiteiras investigadas no esquema de corrupção na
Petrobras.
Segundo os investigadores da
força-tarefa da Lava Jato, José Carlos Bumlai integrou
um esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin pela
Petrobras para operação do navio sonda
Vitoria 10000 e a concessão de um empréstimo fictício para lavar propina que seria encaminhada
ao PT. A transação envolvendo o navio sonda só ocorreu após o
pagamento de propina a dirigentes da Petrobras e ao PT. "O empréstimo teria como destinatário real o Partido dos
Trabalhadores, tendo José Carlos Bumlai sido utilizado somente como pessoa
interposta", disse o juiz Sergio Moro ao aceitar, em dezembro, a
denúncia contra Bumlai.
Também em relação ao
envolvimento de Bumlai com o esquema do petrolão, em acordo de delação premiada
o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre
a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa
gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do
pré-sal, o empresário amigo de Lula foi acionado para interceder junto ao
petista. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que
acabaram repassados a uma nora do ex-presidente Lula para a quitação da dívida
de um imóvel.
Na declaração dada por Lula
para justificar a desistência dele como testemunha de defesa, o petista não faz
referência ao episódio envolvendo sua nora e, genericamente, diz que "jamais tratamos de assuntos políticos,
muito menos de eventuais interesses do senhor Bumlai junto ao governo, órgãos
estatais ou empresas públicas". "Jamais tive conhecimento de eventual
interesse do senhor Bumlai em negócios relativos a sondas de prospecção de
petróleo, seja através do Grupo Schahin, seja de outros, assim como jamais
manifestei a quem quer que fosse que esse assunto pudesse causar-lhe problemas
ou pedi ajuda para protegê-lo de um mal cuja existência desconheço",
disse Lula.
"Nunca tive notícia de que o senhor Bumlai pudesse ter se valido de sua
relação pessoal comigo para obter qualquer vantagem ou benefício em qualquer
tipo de negócio, com contraparte pública ou privada", completou o
ex-presidente.
Em depoimento à Polícia Federal
no dia 16 de dezembro, Lula já havia negado ter pedido a Bumlai que contraísse
o empréstimo que teve o PT como destinatário e dito que também "não recebeu de Bumlai qualquer pedido para influenciar na
escolha da Schahin como operadora do navio-sonda Vitoria 10000".
"Não
solicitou a Bumlai que contraísse em seu próprio nome empréstimo no interesse
do Partido dos Trabalhadores, que não tratou com Bumlai sobre eventual
empréstimo contraído por ele em benefício do PT, que jamais tratou com Bumlai
sobre dinheiro ou valores",
concluiu o ex-presidente. A desistência de Lula como testemunha precisa ser
confirmada pelo juiz Sergio Moro.
Moro invalida
declaração por escrito de Lula em defesa de Bumlai
Defesa do
pecuarista insiste na desistência do testemunho do ex-presidente por
videoconferência e afirma que vai aguardar o Ministério Público sobre a
declaração
O juiz federal Sergio Moro decidiu
invalidar a declaração por escrito feita pelo ex-presidente Lula como
testemunha de defesa na ação penal contra o pecuarista José Carlos Bumlai. O documento
enviado ontem a Moro foi o motivo pelo qual a defesa do amigo do petista desistiu de solicitar o depoimento de Lula por
videoconferência ao magistrado, marcado para a próxima segunda-feira na Justiça
Federal de São Paulo. Apesar da decisão de Moro, a defesa de Bumlai insistiu na
desistência da oitiva do ex-presidente e afirmou que "aguarda manifestação do Ministério Público sobre o teor da declaração,
para que - se for o caso - tente buscar outros meios de prova daquele
conteúdo".
Na decisão, Moro ressaltou que
"a praxe é aceitar apenas
declarações por escrito quando de caráter meramente abonatório" e que
"declarações que digam respeito aos
fatos em apuração devem ser prestadas em juízo, sob contraditório, para terem
valor probatório".
Moro intimou a defesa do
pecuarista a decidir se insistia na desistência do depoimento de Lula,
mesmo que a declaração dele não possa ser usada como prova, ou se recuava e
mantinha o ex-presidente entre as testemunhas a ser ouvidas por Moro em
videoconferência.
Na declaração dada por Lula, o
petista diz, genericamente, que
"jamais tratamos de assuntos políticos, muito menos de eventuais
interesses do senhor Bumlai junto ao governo, órgãos estatais ou empresas
públicas". "Jamais tive conhecimento de eventual interesse do senhor
Bumlai em negócios relativos a sondas de prospecção de petróleo, seja através
do Grupo Schahin, seja de outros, assim como jamais manifestei a quem quer que
fosse que esse assunto pudesse causar-lhe problemas ou pedi ajuda para
protegê-lo de um mal cuja existência desconheço", afirmou Lula. "Nunca tive notícia de que o senhor
Bumlai pudesse ter se valido de sua relação pessoal comigo para obter qualquer
vantagem ou benefício em qualquer tipo de negócio, com contraparte pública ou
privada."
Fonte: Revista VEJA