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sábado, 11 de janeiro de 2020

A guerra da empulhação - Editorial - IstoÉ

Sejamos pragmáticos: essa é a guerra que o endiabrado Trump sonhava para desviar a atenção sobre o seu processo de impeachment. A guerra da empulhação. E todo mundo caiu nessa. Até o bajulador mandatário dos trópicos, o Messias Bolsonaro, que não entendeu nada das reais intenções do ídolo — ou entendeu e se deixou levar, típico dele! Um conflito armado contra os inimigos terroristas (o marketing nesse sentido pega bem) poderá, torce e imagina Trump, levar ao alinhamento automático dos conterrâneos em torno de sua liderança, às vésperas da eleição. E aí acabam as resistências e a batelada de denúncias, que ganham o rumo do escanteio, do quase esquecimento. É o que o beligerante chefe do mundo livre precisa no momento. Trump tem razões políticas pessoais, mais do que de qualquer outra natureza, para essa provocação desmedida ao regime dos aiatolás. 


E leva o mundo junto. Ingleses enviaram navios para a região do Golfo. Chineses, russos e demais europeus também entraram na praça de combate. Alertas, ameaças, críticas partem de lado a lado e no xadrez da diplomacia as peças vão se movendo estrategicamente. O único peão suicida a pular casas na frente, de improviso, sem qualquer noção do que está em jogo em seu prejuízo, é o governo brasileiro. Bolsonaro no papel de estafeta foi logo emprestando apoio e incentivo às ações fora de tom do presidente americano — criticadas inclusive por seu staff militar e por aliados políticos. Sem nenhuma razão concreta para tanto, o capitão do Planalto voltou a prestar vassalagem incondicional ao líder yankee. E foi repreendido. Inclusive pelos parceiros iranianos, que pediram explicações. Diplomatas tiveram de, em seu nome, contemporizar. Remendar o estrago. E nem poderia ser diferente. Alguns dirão que a opção de Bolsonaro de tomar um lado é correta. Apelam à visão desvirtuada e maniqueísta de uma disputa entre o bem e o mal para sustentar o argumento.
[Bolsonaro e o próprio Trump aprenderam que uma guerra, especialmente se não for de defesa - o Irão não tem a menor condição de atacar território brasileiro ou americano - só começa se quem for participar (os militares) concordarem.] 
 
Ingenuidade pura. Lamentavelmente não é tão binário e cristalino o quadro. Há diversas nuances e questões na mesa. Para o Brasil, por exemplo: o Irã não pode ser encarado como esse vilão implacável que a tudo destrói e nada acrescenta. 
 No ano passado acumulou-se um saldo de US$ 2 bilhões de superávit na balança com o Irã. Lucro líquido na veia. 
Mais de 20% das receitas comerciais de exportação nacional tiveram origem na região do Golfo e é preciso ficar atento a essa variável que pode, de uma hora para outra, virar, a depender dos humores e precipitações irascíveis do capitão e de seu chanceler sem freio, Ernesto Araújo. O Itamaraty já errou feio em liderar uma manifestação contra o Irã recentemente, classificando generais de terroristas. [Presidente Bolsonaro o senhor classificou, corretamente, o Brasil como 'pequeno demais para essa guerra'.
O Ernesto Araújo falou bobagem e fica dificil até explicar sua crise verborrágica, falou muito para dizer o que ficaria melhor não sendo dito - tenta posar de 'falcão' sem medir as consequências.
Um diplomata, especialmente o chefe dos diplomatas, precisa antes de tudo ser diplomata.
Talvez já passe da hora de trocar um pseudo falcão por um diplomata autêntico.]

Renunciou a histórica imparcialidade — também entendida como esperta ambiguidade — prevista na Constituição, para trabalhar abertamente a favor da causa trumpista. A chancelaria orquestrou de maneira direta e apelou, durante encontro em Bogotá na Conferência Hemisférica contra o Terrorismo, para que os países latinos cerrassem fileiras, ombro a ombro, com os EUA em uma eventual ofensiva contra o regime iraniano. O que isso quer dizer não ficou claro. Teriam os brasileiros de pegar também em armas? Vai saber! O certo é que o propalado viés pacífico, de isenção da Nação, foi para as calendas. Até aqui, em mais de um ano de gestões e aproximações com o time de Trump, Bolsonaro não angariou sequer um único intento ou vantagem efetiva em troca dos afagos que fez ao aliado. Liberou da necessidade de vistos os americanos, sem contrapartidas. [medida que ainda está atravessada na garganta de milhões de brasileiros.]

Renunciou a vantagens na OMC numa desastrada manobra, também não ganhando nada de volta. Acatou preços competitivos de produtores de combustíveis dos EUA para vender com facilidades por aqui, em detrimento dos fornecedores locais. Em suma, incorporou uma subserviência despropositada e irresponsável. Seria por mera admiração ou tática ideológica? Em Washington, os seguidores mais fanáticos aplaudiram a audácia do líder Trump, tomaram conta da legenda republicana e abafaram a ira do velho e experiente establishment do partido. Mas as derrapagens do presidente estão a causar estupor em todo o planeta. Anos atrás, antes que Trump alcançasse o poder, França, Grã-Bretanha, Alemanha, China e Rússia, alem dos EUA, em um histórico acordo, amarraram um entendimento nuclear com os persas para frear a corrida armamentista já em franca escalada na região. Trump entrou e mandou tudo às favas. O risco bélico retornou com potencial destruidor, em um nível incomparável desde a Segunda Grande Guerra. Agora é torcer para não acontecer o pior. [não haverá guerra.]

 Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três - IstoÉ


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Ídolos com pés de barro - Nas entrelinhas

Moro empunha sozinho a bandeira da ética e divide com Bolsonaro a bandeira da ordem. Uma parte da oposição, ao se alinhar com o ministro, projeta sua liderança ainda mais”

Uma das histórias mais conhecidas do Livro do Antigo Testamento é a interpretação de um sonho do rei da Babilônia Nabucodonosor II, assim traduzido pelo profeta Daniel: “Ó rei, tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; era de um brilho extraordinário, mas de um aspecto terrível. Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro”.

Nabucodonosor II contemplava a estátua quando uma pedra se desprendeu da montanha, sem intervenção de mão alguma, e esmigalhou os pés da estátua, porque a argila e o ferro nunca deram boa liga. “Então, na queda, com a mesma pancada foram feitos em pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro”, que viraram pó e foram levados pelo vento sem que deixassem vestígios, uma óbvia analogia com a ascensão e queda dos impérios.

Além de grande guerreiro e estrategista militar, Nabucodonosor II foi responsável por transformar a Babilônia em uma cidade de gigante imponência. Sua construção mais famosa são os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Na narrativa bíblica, era um rei pagão, que havia sido designado por Deus para cumprir seus propósitos. Seu reinado é o contexto da vida dos profetas Jeremias, Ezequiel e Daniel.

No segundo sonho narrado por Daniel, Nabucodonosor II viu uma grande árvore sendo cortada. Ao interpretá-lo, o profeta previu que o rei seria castigado por seu orgulho com sete anos de loucura, o que teria acontecido, na narrativa bíblica. Nesse período, acreditava ser um animal, um caso severo de licantropia clínica, segundo os especialistas. Quando recobrou o entendimento, obviamente, deu glória a Deus. Nabucodonosor morreu entre agosto e setembro de 562 a.C., com aproximadamente 70 anos de idade. Sucedido por seu filho, Evil-Merodaque, pouco depois o Império Babilônico entrou em declínio, sendo liquidado pelos persas.

Como sabemos, a Era dos Impérios acabou com o fim do colonialismo, mas os ídolos de pé de barro continuaram se multiplicando mundo afora. Os sonhos de Nabucodonosor II, por isso mesmo, se tornaram uma espécie de lição para os políticos não se embriagarem com o poder. No momento, na constelação de políticos em grande evidência, três astros brilham mais do que os demais. O presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. É dispensável dizer quem no momento encarna com perfeição a passagem bíblica, mas essa história se repete com muita frequência na política brasileira, e ninguém tem o monopólio do papel de ídolo com pés de barro.

O novo mito
A novidade da pesquisa DataFolha, divulgada ontem, é o alto índice de aprovação do ministro da Justiça, Sérgio Moro, com 53% de bom e ótimo, 23% de regular, 21% de ruim e péssimo, em meio à desaprovação do governo Bolsonaro, que tem 36% de ruim e péssimo, 32% de regular e 30% de bom e ótimo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, o segundo mais bem avaliado, vem bem atrás: 39% de ótimo e bom, 33% de regular e 23% de ruim e péssimo. [Moro tem feito um excelente trabalho, ao que se soma que o presidente Bolsonaro, pelo seu próprio estilo, assume posições que o tornam um pára-raios desviando atenção do ministro Moro.
A pasta do ministro Guedes tem suas próprias encrencas e não concorre com a do ministro Sérgio Moro.
O indiscutível é que Bolsonaro como presidente e Moro como vice em 2022, serão imbatíveis em uma eleição.
Somando ao prestígio dos dois uma recuperação na economia e na segurança, os 80.000.000 serão um piso, para os dois, dispensando um segundo turno.]
Esse resultado, se for mantido nesse patamar, obviamente, transformará Moro numa alternativa de poder em 2022. Uma contradição política como essa, quando aflora, pode ser antagônica ou não. Tudo vai depender do nível de entendimento entre Bolsonaro e Moro daqui para frente. Se se tornar antagônica, Moro terá de sair do governo. A pesquisa reflete uma realidade na qual Bolsonaro está sofrendo os desgastes da desaprovação de seu governo, ao contrário do seu ministro da Justiça.[a chapa invencível é Bolsonaro como presidente e Moro como vice, em 2026 haverá o  necessário para Moro ser o candidato a presidente, desde que consiga um vice.
Em vôo solo, Moro perde tudo. 
Um ponto é importante: não ocorrendo mudança profunda na Constituição Federal, Moro terá que decidir entre ser 'supremo' ministro, com as comodidades do cargo, ou ser vice-presidente da República - cargo bem mais pesado do que o ministro do STF.]  

Moro empunha sozinho a bandeira da ética, por causa do caso Queiroz, e divide com Bolsonaro a bandeira da ordem. Uma parte da oposição, ao se alinhar com o ministro da Justiça, acaba projetando sua liderança ainda mais. O ex-juiz federal de Curitiba não é nem corre o risco de virar um ídolo com pés de barro, como Lula e Bolsonaro, respectivamente. Ainda encarna o mito do herói por sua atuação na Operação Lava-Jato. O herói é sempre aquele que entra em ação quando os outros estão paralisados. Realiza aquilo que outro poderia ter feito, mas não fez; ou melhor, o que todos os demais deixaram de fazer.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense