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terça-feira, 12 de julho de 2022

A receita infalível para o abismo econômico no qual a Argentina se afunda - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo

 A Argentina está mal; há muito tempo, na verdade, não está tão mal como agora.  
A dívida externa desabou para aqueles abismos onde se agitam os países falidos e sem meios para pagar o que devem. 
É, no momento, a pior do mundo, e precisa que o Fundo Monetário Internacional, os credores e órgãos financeiros internacionais entrem em ação – naturalmente, com todo aquele drama ruim que vem com esse tipo de intervenção. A inflação passou dos 60% ao ano - e quando as coisas chegam a esse nível fica difícil consertar com medicação natural. 
Não há crescimento algum; a economia vive em recessão. Para todos os efeitos práticos, o país não tem mais uma moeda própria. 
Nem os argentinos querem o peso; a única moeda que faz sentido para eles é o dólar. 
A capacidade para saldar as dívidas internacionais está próxima ao zero. Vai tudo ladeira abaixo.


Manifestante protesta contra o governo argentino, em Buenos Aires.| Foto: EFE

É nisso que deu, como não poderia deixar de ser, a política econômica esquerdosa do seu governo peronista – uma mistura mortal de “socialismo”, gasto público sem controle, doação de dinheiro para sindicatos e cartórios de todas as naturezas, “nacionalismo” e tudo o que sobra no repertório do “anticapitalismo”.  
O governo taxa as exportações agrícolas, a única área firme de toda a economia argentina. 
Acha que vai resolver problemas metendo imposto nas grandes fortunas
Dificulta em tudo o que pode a atividade produtiva. 
Pense em alguma coisa errada que um governo possa fazer em sua política econômica – o governo argentino com certeza está fazendo isso. Vive-se, lá, no mundo dos “controles de preços”, dos tabelamentos, das empresas estatais encarregadas de resolver tudo, da perseguição à iniciativa privada, do “Estado” como o Deus diante de quem todos têm de se ajoelhar. Sempre dá num desastre. Está dando em outro, mais uma vez.

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Para todos os efeitos práticos, o país não tem mais uma moeda própria. Nem os argentinos querem o peso; a única moeda que faz sentido para eles é o dólar

Quanto mais a economia da Argentina afunda, entretanto, mais o governo se convence que está no caminho certo; vai “aprofundar”, em consequência dessas convicções, o que está fazendo do errado. 
O problema, para eles, não é o peronismo; na sua opinião, é a falta de mais peronismo. 
É realmente extraordinário, diante de todas essas realidades, que a Argentina e a sua administração econômica sejam um modelo para Lula e o PT na presente campanha eleitoral. 
O ex-presidente, inclusive, imagina um “pacto” com a Argentina (e a “América Latina”) para que “todos juntos”, como irmãos de continente e de ideologia, possamos nos transformar na luz que ilumina o mundo.  
Não ocorre a Lula que a Argentina está dando errado. 
 
Também não lhe ocorre que o Brasil, com 360 bilhões de dólares em reservas, está numa situação absolutamente oposta em termos de meios de pagamento; tem, portanto, necessidades e interesses muito diferentes, e deveria tratar da sua própria vida, em vez de abraçar pacientes internados na UTI.
Mas Lula se imagina como o homem mais importante do mundo
tem sonhos confusos de comando, achando que pode usar a excelente situação das contas públicas brasileiras que receberá, caso seja eleito, para doar dinheiro à Cuba, Venezuela e outras economias em colapso. 
O Brasil, à essa altura, é muito pouco para a sua mania de grandeza cada vez mais agressiva. 
 
Em nenhum momento lhe passa pela cabeça que o desastre econômico da Argentina é um sinal do tipo; “Não tente nada parecido”. 
Ele se considera acima desse tipo de consideração, mesmo porque sabe muito bem que ele, seus amigos bilionários e a companheirada não vão sofrer consequência nenhuma pelo desastre que causarem; vão se dar muitíssimo bem, ao contrário.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A onda acabou - William Waack

O Estado de S. Paulo 

Presidente é, agora, a perfeita expressão do sistema que diz desprezar

A causa do fracasso eleitoral [sic]  de Jair Bolsonaro nas eleições municipais é simples de ser resumida. Ele interpretou de maneira equivocada a onda disruptiva que o levou ao Palácio do Planalto em 2018. Achou que tinha sido o criador desse fenômeno político quando, na verdade, apenas surfava a onda.

O fato é que essa onda, depois de arrebentar o alvo primordial (as forças políticas ao redor do PT), se espraiou, perdeu sentido e direção, dividiu-se entre seus vários componentes antagônicos. Esvaziou-se, com Bolsonaro achando que apenas falando, apenas no gogó, manteria o ímpeto de uma onda dessas – um fenômeno político raro.

Na verdade, a principal lição oferecida a Bolsonaro pelas eleições do último domingo é a do primado da organização, capilaridade e peso das agremiações partidárias no horizonte político mais extenso. Pode-se adjetivar como se quiser o conjunto de partidos que elegeu o maior número de prefeitos e vereadores ou colocá-los onde se preferir no espectro político. O denominador comum entre eles é a existência de estruturas profissionais voltadas para a política.

É exatamente o que Bolsonaro desprezou logo que assumiu. Trata-se de um dos aspectos mais relevantes para ilustrar o fato de o presidente eleito com 57 milhões de votos há apenas dois anos ter um desempenho tão pífio como cabo eleitoral. Todo dirigente populista, não importa a coloração política, cuida de criar um movimento para chamar de seu – com seus emblemas, palavras de ordem (ou “narrativa”), mitos e, sobretudo, uma estrutura razoavelmente hierárquica e definida, com sede e endereço.

Embora tivesse à disposição da noite para o dia um grande número de deputados federais e seus correspondentes recursos públicos, o surfista da onda política atuou para implodir o partido pelo qual se elegeu e não conseguiu colocar de pé nada parecido a uma agremiação consolidada com um mínimo de coesão. É bem provável que Bolsonaro tenha sido vítima do mito que criou para si mesmo (e dá provas quase diárias de acreditar nisso piamente): a de ter sido escolhido por Deus e beneficiado por um milagre (sobreviver à facada) para conduzir o povo do Brasil.

Com tal ajuda “de cima”, é só esperar as coisas acontecerem. Ocorre que mesmo os homens tornados mitos por desígnio divino precisam, como dizem os alemães, do Wasserträger”, aquele que vai trazer a água. E isto não se consegue apenas com redes sociais. Foi outro aspecto interessante das eleições de domingo: a demonstração dos limites de atuação das ferramentas digitais, que adquiriram relevância permanente como instrumentos de mobilização, sem serem capazes por si só de garantir predominância na luta política.

Passada a onda disruptiva (alívio para alguns, desperdício de oportunidade histórica para outros), o que se pode prever para as próximas eleições, em relação às quais Bolsonaro sacrificou qualquer outro plano? Se ele foi capaz, em 2018, de vencer o “establishment” e o jeito convencional de fazer política, ainda por cima dispondo de menos recursos que seus adversários “tradicionais”, em 2022 Bolsonaro só tem chances dentro do que ele mesmo chamou de “sistema”. 

Do qual, ironicamente, o “outsider” acabou se tornando uma perfeita expressão: vivendo para o próximo ciclo frenético de manchetes, sem um plano ou estratégia de longo prazo, cuidando em primeiro lugar de seus interesses familiares e paroquiais, cultivando popularidade com programas assistenciais e preocupado acima de tudo em ficar onde está. É onde a onda nos deixou.

William Waack, colunista - O Estado de S. Paulo