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quarta-feira, 20 de julho de 2022

Reação visa mostrar a militares que interferência na eleição não será tolerada - O Estado de S.Paulo

Mariana Carneiro, Julia Lindner e Gustavo Côrtes

Mais do que rebater as informações falsas de Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas, as reações das Cortes superiores ontem miravam as Forças Armadas. Não caiu bem a prometida interferência militar no processo eleitoral – conforme mostrou o Estadão, os fardados se propuseram a fazer uma apuração paralela do pleito.  

[COMENTANDO: Desculpem perguntar, mas o 'povão' tem dificuldade em perceber o que não é dito, não é mostrado, e por isso insiste na pergunta que não quer calar:  qual foi a reação? em termos concretos o que  foi feito? ]

Luiz Fux, presidente do STF, que de início não queria se manifestar, mudou de ideia após conversar por vídeo com Edson Fachin, que preside o TSE. Magistrados relatam nos bastidores o intuito de demonstrar que tanto Fachin quanto Alexandre de Moraes, futuro presidente do TSE, não estão isolados, têm respaldo do conjunto do Judiciário e que interferências não serão admitidas.

POLOS. As falas de Bolsonaro foram assunto de Lula na reunião fechada que ele teve com lideranças do MDB anteontem. Aos presentes, Lula disse que a maior prova da lisura das urnas é que, apesar de ir contra o establishment, ele chegou à Presidência. É o mesmo argumento que os críticos de Bolsonaro usam. O de que, se existisse fraude, o candidato “outsider” jamais teria sido eleito.


Sinais Particulares, por Kleber Sales. Ministro Edson Fachin, presidente do TSE

 Coluna do Estadão - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A onda acabou - William Waack

O Estado de S. Paulo 

Presidente é, agora, a perfeita expressão do sistema que diz desprezar

A causa do fracasso eleitoral [sic]  de Jair Bolsonaro nas eleições municipais é simples de ser resumida. Ele interpretou de maneira equivocada a onda disruptiva que o levou ao Palácio do Planalto em 2018. Achou que tinha sido o criador desse fenômeno político quando, na verdade, apenas surfava a onda.

O fato é que essa onda, depois de arrebentar o alvo primordial (as forças políticas ao redor do PT), se espraiou, perdeu sentido e direção, dividiu-se entre seus vários componentes antagônicos. Esvaziou-se, com Bolsonaro achando que apenas falando, apenas no gogó, manteria o ímpeto de uma onda dessas – um fenômeno político raro.

Na verdade, a principal lição oferecida a Bolsonaro pelas eleições do último domingo é a do primado da organização, capilaridade e peso das agremiações partidárias no horizonte político mais extenso. Pode-se adjetivar como se quiser o conjunto de partidos que elegeu o maior número de prefeitos e vereadores ou colocá-los onde se preferir no espectro político. O denominador comum entre eles é a existência de estruturas profissionais voltadas para a política.

É exatamente o que Bolsonaro desprezou logo que assumiu. Trata-se de um dos aspectos mais relevantes para ilustrar o fato de o presidente eleito com 57 milhões de votos há apenas dois anos ter um desempenho tão pífio como cabo eleitoral. Todo dirigente populista, não importa a coloração política, cuida de criar um movimento para chamar de seu – com seus emblemas, palavras de ordem (ou “narrativa”), mitos e, sobretudo, uma estrutura razoavelmente hierárquica e definida, com sede e endereço.

Embora tivesse à disposição da noite para o dia um grande número de deputados federais e seus correspondentes recursos públicos, o surfista da onda política atuou para implodir o partido pelo qual se elegeu e não conseguiu colocar de pé nada parecido a uma agremiação consolidada com um mínimo de coesão. É bem provável que Bolsonaro tenha sido vítima do mito que criou para si mesmo (e dá provas quase diárias de acreditar nisso piamente): a de ter sido escolhido por Deus e beneficiado por um milagre (sobreviver à facada) para conduzir o povo do Brasil.

Com tal ajuda “de cima”, é só esperar as coisas acontecerem. Ocorre que mesmo os homens tornados mitos por desígnio divino precisam, como dizem os alemães, do Wasserträger”, aquele que vai trazer a água. E isto não se consegue apenas com redes sociais. Foi outro aspecto interessante das eleições de domingo: a demonstração dos limites de atuação das ferramentas digitais, que adquiriram relevância permanente como instrumentos de mobilização, sem serem capazes por si só de garantir predominância na luta política.

Passada a onda disruptiva (alívio para alguns, desperdício de oportunidade histórica para outros), o que se pode prever para as próximas eleições, em relação às quais Bolsonaro sacrificou qualquer outro plano? Se ele foi capaz, em 2018, de vencer o “establishment” e o jeito convencional de fazer política, ainda por cima dispondo de menos recursos que seus adversários “tradicionais”, em 2022 Bolsonaro só tem chances dentro do que ele mesmo chamou de “sistema”. 

Do qual, ironicamente, o “outsider” acabou se tornando uma perfeita expressão: vivendo para o próximo ciclo frenético de manchetes, sem um plano ou estratégia de longo prazo, cuidando em primeiro lugar de seus interesses familiares e paroquiais, cultivando popularidade com programas assistenciais e preocupado acima de tudo em ficar onde está. É onde a onda nos deixou.

William Waack, colunista - O Estado de S. Paulo

 

terça-feira, 8 de outubro de 2019

A arma do Congresso - Merval Pereira

O Globo

Só recentemente Bolsonaro começou a se relacionar com deputados e senadores na linguagem que eles entendem:  liberando verbas e cargos para seus indicados

 
O levantamento do pesquisador da USP Guilherme Faria Guimarães, divulgado pelo Globo, que demonstra que o presidente Jair Bolsonaro é o presidente que teve mais vetos derrubados pelo Congresso nesses primeiros 9 meses de governo desde 1988, reflete a dificuldade que o novo governo tem no relacionamento com os parlamentares.  Dos 33 vetos analisados, oito (24%) foram rejeitados de forma parcial ou total. Entre 1988 e 2014, apenas oito de 1.103 proposições vetadas foram rejeitadas pelo Congresso. É certo que a comparação não obedece aos mesmos parâmetros, pois, só a partir de 2013, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a tornar obrigatória a análise dos vetos pelo Congresso, é que os parlamentares passaram a derrubá-los.

Uma resolução interna, em seguida, obrigou os parlamentares a analisarem as normas vetadas em até 30 dias. Mesmo assim, a então presidente Dilma teve 9,5% dos vetos derrubados, e no governo Temer, o número aumentou para 14%.   O presidente Bolsonaro começou a governo optando por não ter uma base governista formal. Tentou negociar por bancadas: evangélica, da bala, da saúde, e assim por diante. Como essas bancadas são transversais aos partidos, pensava poder contornar as direções partidárias, e negociar diretamente com os parlamentares. Não deu certo.

Teve que negociar com os partidos,
mas foi uma relação conflituosa desde o início, pois Bolsonaro baseou sua campanha vitoriosa à presidência da República na demonização da política tradicional, se apresentando como representante da “nova política”, contra o que seria a “velha política”. Apesar de estar na política por quase 30 anos, dizia-se um “outsider” por ser do chamado “baixo clero” e nunca ter participado das negociações de cúpula do Congresso.

Essa relação conflituosa do governo Bolsonaro com o Congresso tem como consequência o número recorde de derrubada de seus vetos,  uma forma de pressão dos políticos contra o Palácio do Planalto, que já teve que mudar de negociador parlamentar várias vezes nesses primeiros meses. ó recentemente Bolsonaro começou a se relacionar com deputados e senadores na linguagem que eles entendem: liberando verbas e cargos para seus indicados. O governo, que não tem uma base formal e articulada, começa a fazer o jogo da política tradicional.

A reviravolta tem a ver com os episódios envolvendo seu filho Flávio quando deputado estadual no Rio. Desde que surgiu a figura do Queiroz, hoje tristemente famoso, tem havido uma série de ações para controlar as investigações, com o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), cujo presidente Dias Toffoli participou de um estranho “pacto republicano” entre os três Poderes da República a pretexto de proteger a governabilidade de nossa democracia.  As ações de investigação do antigo Coaf ( Conselho de Controle de Atividades Financeiras) foram restringidas por ordem do STF, e a transferência do Ministério da Justiça para o Banco Central, com o nome de Unidade de Inteligência Financeira, limitou ainda mais a atuação do controle financeiro, que havia detectado “operações atípicas” de Queiroz.

Também a Receita Federal teve sua atuação limitada por decisões judiciais, e por legislações aprovadas pelo Congresso. A importância de ter o apoio do Senado, onde está hoje o filho Flavio, e que vai decidir o futuro do outro filho, Eduardo, como embaixador em Washington, está demonstrada pela manutenção do senador Fernando Bezerra como líder do Governo, depois de acusado pela Polícia Federal de participação em esquema criminoso em obras públicas.

Outro acordo político, desta vez de ordem interna, é o que mantém no cargo o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio, mesmo depois de indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas como participante do esquema de financiamento ilegal do PSL. Não há nada que envolva diretamente o presidente Bolsonaro no esquema que teria sido montado por seu partido PSL, pois seu nome não está na planilha que baseia a acusação. O presidente pensa inclusive em deixar o partido pelo qual concorreu. Mas a dificuldade que está tendo em tirar seu ministro  indica uma mudança de comportamento em relação ao combate à corrupção, outra pedra de toque de sua campanha vitoriosa.


Merval Pereira, jornalista - O Globo