Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Recentemente, falando perante um grupo de apoiadores e militantes,Lula
reconheceu uma acusação de Fernando Henrique de que o PT“vaia até a
bandeira brasileira e o hino nacional”.E completou, em viva voz e
imagem: “De vez em quando ainda vaiamos”.
Pois é.
Essa esquerda tem um problema com a ideia de pátria e, principalmente,
com patriotismo. Daí o Foro de São Paulo, daí a fixação com “La Pátria
Grande” e seus desdobramentos, daí a Internacional Socialista, ou “a
Internacional”, para os íntimos,que é como camaradas e companheiros a
denominam. Marx, tataravô de todos, queria uma revolução mundial, uma
fusão de revoluções. Para ele, o comunismo adviria do vitória do
proletariado internacional na luta contra o capitalismo.
A URSS
dispunha de uma série de mecanismos para apoiar e definir estratégias
com esse fim. Apostava nisso e se espantava quando não dava certo. Os
líderes comunistas russos nunca entenderam, por exemplo, proletários
finlandeses e alemães, em defesa de suas pátrias invadidas, pegarem em
armas contra os camaradas soviéticos em 1939 e 1941...
Há vários
motivos para essas vaias a hino e bandeira. Primeiro, porque quem assim
reage precisa de um ânimo revoltoso como ponto de partida para qualquer
ação política. Segundo, porque esse ponto de partida exige divisões que,
nas últimas décadas, correspondem aos conhecidos conflitos identitários
já mundializados, como se sabe. Terceiro, por estarem convencidos de
que o Brasil é uma excrescência criada por gente muito má.
Gente que
resolveu ocupar como coisa sua o suposto paraíso perdido, a idílica
Pindorama das praias e palmeiras.
Para eles,
por fim, nosso país não foi descoberto, o 22 de abril de 1500 foi uma
aberração histórica, o Sete de Setembro é uma ficção porque o Brasil
nunca foi independente e São José de Anchieta foi um predador cultural.
Ponto e basta.
Ao sopro da
mesma ideologia, bandeiras do Brasil servem, frequentemente, para fazer
fogueira. Não obstante, vê-las nas mãos de adversários políticos e
confrontá-las com suas bandeiras vermelhas e apátridas dói como pisada
no calo.
Para quem
tem memória curta, é bom lembrar que as bandeiras do Brasil passaram a
ser usadas massivamente nas manifestações de 2013, exatamente para
diferenciar dos arruaceiros e depredadores que então iam às ruas, no
truculento estilo de sempre, protestando contra os 20 centavos a mais
nas passagens de ônibus.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
O que começou como um protesto local de caminhoneiros no Canadá,
ignorado pela mídia, agora se transformou em uma manifestação mundial
contra o fascismo da covid
Todo dia 2 de fevereiro, data que marca exatamente metade do período
entre o solstício de inverno e o equinócio da primavera no Hemisfério
Norte, diversas cidades dos Estados Unidos e do Canadá celebram o “Groundhog Day”,
uma tradição popular iniciada em 1887 que acontece nos dois países. A
celebração popular norte-americana, que é conhecida no Brasil como o
“Dia da Marmota”, deriva-se da superstição de imigrantes holandeses e
alemães do Estado da Pensilvânia de que, se uma marmota sair de sua toca
neste dia e vir sua sombra, ela voltará para sua toca e o inverno
continuará por mais seis semanas. Se o roedor não conseguir ver sua
sombra, a primavera chegará mais cedo.
Protesto de caminhoneiros no Canadá contra a obrigatoriedade de vacinação - Foto: Darryl Barton
O evento ficou mundialmente famoso devido ao filme Groundhog Day,de 1993, lançado no Brasil com o nome de Feitiço do Tempo. O roteiro apresenta o meteorologista Phil Connors, interpretado por Bill Murray, que reluta em viajar para Punxsutawney, na Pensilvânia, para cobrir as celebrações do Dia da Marmota da pequena cidade, por considerar a cobertura do tradicional evento uma perda de tempo. Já hospedado em um hotel local, ele acorda no dia seguinte e se vê preso em um looping temporal, sendo forçado a viver o feriado repetidamente. Todas as manhãs, em sua cama no Cherry Tree Inn, ele desperta com a música I Got You, Babe, de Sonny e Cher, tocando no rádio-relógio:
“They say we’re young and we don’t know / We won’t find out until we grow / Well I don’t know if all that’s true / ‘Cause you got me, and baby, I got you…”
“Dizem que somos jovens e não sabemos / Não vamos descobrir até crescermos / Bem, eu não sei se tudo isso é verdade / Porque você me tem, e baby, eu tenho você…”
Mas o filme de 1993, considerado uma das maiores comédias de todos os tempos, dirigido por Harold Ramis e produzido por Ramis e Trevor Albert, pode, no entanto, ser em alguns aspectos um ensaio sobre uma perspectiva mais atual que nunca. Em um bar local, Connor desabafa com um homem: “Eu acordo todos os dias, bem aqui em Punxsutawney, e é sempre 2 de fevereiro. E não há nada que eu possa fazer sobre isso. O que você faria se estivesse preso em um lugar, e todos os dias fossem exatamente iguais, e nada do que você fizesse importasse?”
Os dias continuam a se repetir e, sem esperança, Connors decide se comportar da pior maneira possível, já que “nada muda”. E este é o dispositivo quase escondido no filme, que acaba se tornando atemporal, como um perfeito atalho para os dias atuais, no melhor sentido de “a mesma coisa de sempre em um dia diferente”. Connors passa um número desconhecido de dias repetindo exatamente o mesmo dia várias vezes. Todas as outras pessoas vivenciam aquele dia pela “primeira” vez, enquanto Connors tem de encarar sua rotina como Sísifo, personagem da mitologia grega condenado a empurrar eternamente uma enorme pedra morro acima que, ao atingir o seu topo, cai novamente, fazendo esse processo ser repetido por toda a eternidade.
Há exatos dois anos, escrevemos sobre liberdade, sobre autonomia, sobre direitos, sobre a verdade, sobre uma pandemia que devorou o intelecto humano
O que poderia ser apenas um filme de comédia, muitas vezes tachado de tolo, na verdade mostra algumas pistas de um possível mistério central que nos aproxima de um arco moralmente mais denso e poderoso para o personagem principal.
Quando Connors percebe que não é louco e que pode, na verdade, viver para sempre sem consequências(se não há amanhã, como ser punido?), ele se entrega ao seu “eu adolescente”.Fuma dezenas de cigarros sem medo de julgamentos ou doenças, dirige embriagado, usa um leque de mentiras para levar muitas mulheres para a cama, rouba dinheiro e se perverte de uma maneira descontrolada. Depois de mais uma noite de orgias e bebedeira, ele declara: “Não vou mais jogar pelas regras deles!”.
Algum tempo depois de abusar de uma liberdade que acreditava ter, Connors é tomado por um vazio inexplicável e se torna suicida,percebendo que toda a gratificação material e sexual do mundo não se sustenta espiritualmente. De qualquer forma, ele culpa a marmota e, em um pacto de assassinato-suicídio, mata o roedor. Mas nem isso faz com que Connors acorde de seu pesadelo. Depois de inúmeras tentativas de tirar sua própria vida, ele continua acordando no dia seguinte, sem ser o dia seguinte. No fim, exausto e sem expectativas de sair daquela maldição, resolve dar uma guinada. Começa a tocar piano, ler poesia, decide ajudar os moradores locais em assuntos grandes e pequenos, incluindo pegar um menino que cai de uma árvore todos os dias, mas que nunca lhe agradece, apaixona-se pela pessoa que jamais imaginaria se apaixonar; e começa a prestar atenção no amor em várias camadas e vertentes.
Ele, então, descobre que há algumas coisas que não pode mudar, mesmo repetindo-as todos os dias. E, em sua dedicação pelo seu presente, finalmente acorda em 3 de fevereiro, destravando o ciclo interminável do Dia da Marmota. A maldição é suspensa quando Phil Connors agradece pelo dia em que acabou de viver, deixando o melhor que podia no presente, mesmo sabendo que teria de repetir tudo mais uma vez no dia seguinte. Connors lentamente percebe que o que faz a vida valer a pena não é o que você obtém dela, mas o que você coloca nela.
Uma das ideias centrais de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão cuja obra exerceu uma influência profunda na história intelectual moderna, é imaginar a vida como uma repetição sem fim dos mesmos eventos que repetimos.
Como isso moldaria suas ações?
O que você escolheria para viver por toda a eternidade?
Mas esse existencialismo não explica o apelo mais amplo de um filme aparentemente bobo que conversa com nossa atual realidade e sociedade. É na ressonância religiosa, que tanto tentam expurgar de nossa vida cotidiana(vide as eternas ordens de lockdowns para igrejas e templos, a tentativa da diminuição da importância da fé), que o filme chamou minha atenção na última vez a que o assisti. Connors vai para sua própria versão do inferno, do qual ele é libertado ao abandonar seu egoísmo e se comprometer com atos de amor da vida real de quem está à sua volta.
Peças inesperadas no tabuleiro Desde 2020, quando sento semanalmente para pensar no assunto que abordarei em meu artigo semanal, às vezes tenho a sensação de que estamos vivendo no filme de 1993, no Dia da Marmota.
O que você faria se estivesse preso em um lugar, e todos os dias fossem exatamente iguais?
Há exatos dois anos, escrevemos sobre liberdade, sobre autonomia, sobre direitos, sobre a verdade, sobre uma pandemia que devorou o intelecto humano e sobre personagens que continuam desafiando as novas leis do silêncio impostas ao mundo. Martin Kulldorff, Jonathan Isaac, Robert Malone, Joe Rogan, Eric Clapton, Novak Djokovic, Aaron Rodgers, Nicki Minaj, quantos nomes temos trazido para demonstrar a bravura de homens e mulheres que continuam, com declarações firmes, expondo os covardes.
Nomes que decidiram não aceitar mais as guilhotinas virtuais e a imposição de que todos nós temos de sentar no sofá quente dos lobbies. Mas, mesmo depois de tantos excepcionais exemplos, o que mudou? Estamos vivendo um eterno Dia da Marmota? Aonde vamos chegar? Estamos, realmente, fazendo tudo o que podemos fazer para estancar essa insanidade?
O que você fez, aí mesmo, perto de você, para quebrar esse ciclo medonho?
Em toda revolução importante, e acredito que estamos dentro de uma, peças inesperadas podem surgir. A última movimentação nesse tabuleiro, crucial para a sobrevivência da liberdade como a conhecemos no mundo, foi brilhantemente feita pelos canadenses, mais especificamente os caminhoneiros canadenses. O que começou como um protesto local, ignorado pela mídia, agora se transformou em uma manifestação mundial contra o fascismo da covid. Após as medidas do governo canadense de impor vacinas para caminhoneiros que cruzam a fronteira EUA–Canadá, os motoristas lançaram um movimento de protesto apelidado de “Freedom Convoy”, que começou na Província da Colúmbia Britânica, no início da semana passada, e chegou à capital canadense, Ottawa, na última sexta-feira.
(...)
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, saiu às pressas da capital para um destino não informado e disse essa semana que os manifestantes que estavam em Ottawa eram uma “pequena minoria de marginais” que mantêm “visões inaceitáveis que não representam as opiniões dos canadenses que pensam nos outros”. Tamara Lich, uma das principais organizadoras do grupo Freedom Convoy 2022, disse, em um vídeo postado na conta do Facebook do grupo — perfil que foi derrubado pela plataforma: “Este é um evento familiar, seremos pacíficos e não instigaremos nada. Estamos todos preparados para ficar aqui o tempo que for preciso. Estamos juntos para recuperar nossas liberdades”.
(...)
Na Holanda, motoristas realizaram seu próprio protesto de comboio, “tudo e todos sobre rodas” são bem-vindos. Aqui nos EUA, caminhoneiros planejam o início de um grande comboio, que deverá sair da Califórnia nas próximas semanas e atravessar o país até a capital, Washington, DC, para protestar contra a tirania do inútil passaporte vacinal, que não bloqueia a transmissão do vírus.
Achatar a curva, lockdown, vacina, tranca tudo e não questiona nada, transmissões em alta, nova cepa, passaporte vacinal, agora vamos achatar a curva, lockdown, vacina, tranca tudo e não questiona nada, transmissões em alta, passaporte vacinal…
E o rádio-relógio continua tocando a mesma música. E a vida segue imitando a arte. E se o amanhã que deixaremos para os nossos filhos for o mesmo de hoje?
Um conto draconiano que sufoca qualquer palavra contra os tiranos?
Uma repetição sem inspiração, sem propósito e sem esperança?
(...)
Não dá mais para procrastinarmos o encontro com a realidade, que vai requerer um esforço de todos nós. Cada dia que vivemos não é tão diferente do anterior. No entanto, as mudanças existem e estão nos detalhes que precisam da nossa coragem para ser exaltados e para seguir seu caminho da transformação. Às vezes, só estamos entediados e repetindo nossos maus hábitos porque estamos no piloto automático, dentro no nosso próprio feitiço do tempo. E nos acomodamos, ouvindo a música de Sonny e Cher, esperando que o feitiço se quebre sozinho… “Dizem que somos jovens e não sabemos / Não vamos descobrir até crescermos…”.
Nessa tragicomédia que estamos vivendo, o que fazemos, de fato, como os caminhoneiros canadenses, para quebrar o feitiço que tentam nos impor nos últimos dois anos?
Os tempos são assustadores, mas a inspiração está por toda parte. Não interessa mais se tudo não passa de um sonho ruim ou um pesadelo. É chegada a hora de despertar.
Aborto, drogas e casamento gay: a tríade do progressismo europeu - Foto: EFE/EPA/Szilard Koszticsak
No último artigo,
hesitei ao escrever que as ideias progressistas vêm da Europa e consistem na
tríade aborto-drogas-gays. Afinal, outro polo exportador de progressismo são os
Estados Unidos, cuja obsessão por raça não se enquadra nessa tríade. Mencionei
a Argentina como grande receptadora das ideias progressistas da Europa. Na
verdade, enxergo a Argentina como uma Europa sem Plano Marshall: em vez de
Mussolini, eles tiveram Perón, não lutaram na II Guerra e seguem idolatrando o
Mussolini deles até hoje.
Façamos então um teste. Tem
cota racial na Argentina? Pesquisando “cuotas raciales Argentina”,
encontrei artigos sobre o Brasil e até texto falando mal de Bolsonaro.
Mas cuotas raciales na Argentina, que é bom, nada. Ou seja: a Argentina,
aquele país onde o presidente fala “todes”, onde tem casamento gay
desde 2010, onde o aborto foi descriminalizado, tudo democraticamente e
sem canetadas de um STF, não tem cuotas raciales en las universidades.
Fiquemos
assim:existem dois conjuntos de ideias chamados de progressistas ou
politicamente corretos. Um é de matriz europeia, outro de matriz
norte-americana. Enquanto um tem a tríade aborto-droga-gay, o outro é
obcecado por raça.
Por que europeu não dá bola pra lei racial? A ideia de racismo leva a nossa mente direto para a Alemanha. No entanto, as leis raciais são uma invenção dos EUA aplicada aos negros que os
alemães importaram para aplicar aos judeus. As leis raciais surgem no
sul escravista dos Estados Unidos em 1877 e começam a se federalizar com
Woodrow Wilson em 1913, quando o vagabundo Adolf Hitler tinha 24 anos e
encontrava um rumo na vida na condição de soldadinho austríaco. Nos
Estados Unidos, a descentralização conseguiu dar uma segurada nos
projetos eugenistas das autoridades médicas e dos políticos entusiastas.
Na Alemanha, toda a estrutura centralizadora do poderoso Estado
prussiano foi posto nas mãos de Hitler e seus médicos eugenistas, que se
inspiravam nos norte-americanos. Não dá para dizer que os
norte-americanos sejam mais racistas do que os alemães. Ainda assim, foi
dos EUA que saiu o racismo de Estado.
A razão para
isso é muito simples. Nos EUA, o critério-chave da cidadania é o
nascimento em solo nacional. Você pode ser preto, branco, amarelo ou
verde, e a lei, até segunda ordem, irá considerá-lo um American.
Para os Estados Unidos se tornarem racistas, foi necessária uma
gambiarra jurídica, as famigeradas leis Jim Crow. A raiz legal do país
faz dele, de fato, a terra da liberdade.
Já na
Europa, o critério-chave da cidadania se confunde com a raça. Um casal
de imigrantes negros pode chegar criança à Europa, constituir família na
Europa, e ainda assim os seus filhos e netos não serão cidadãos
europeus. Nascerão e morrerão como estrangeiros dentro do país em que
construíram suas vidas. Isso só aparece para o grande público durante a
Copa do Mundo, quando as seleções europeias saem providenciando
cidadania para os jogadores de futebol negros. (Não sei detalhes, mas
países latinos com ex-colônias parecem mais propensos a negligenciar o jus sanguinis paraconceder
cidadania a africanos das ex-colônias. O Portugal salazarista, mesmo,
considerava Angola e Moçambique estados portugueses.)
Assim,
uma legislação etnocêntrica dispensa os europeus de inventarem leis
racistas.
Eles já vivem em um solo habitado por cidadãos brancos e
não-cidadãos negros. Evidentemente, isso cria um barril de pólvora de
ressentimento e culpa.
Brancos sem cidadania na Europa Mas o critério é, frisemos, etnocêntrico, não racial. Um casal de italianos
que migrasse para a Alemanha antes da União Europeia também viveria
como um perfeito estrangeiro. O europeu é bastante sedentário: veja-se
que no Brasil, onde há uma migração interna muito grande, um acriano e
um gaúcho se entendem perfeitamente em português, mas um italiano de
Nápoles e um do Piemonte, não, pois há a barreira do dialeto. Antes da
descoberta da América, os europeus migravam muito pouco, então faz
sentido que o seu critério de cidadania histórico seja étnico.
Quem
eram os estrangeiros nesse critério?Os judeus. Eram estrangeiros
errantes, viviam em guetos separados dos cristãos desde a Idade Média
até Napoleão. Foi Napoleão, no século XIX, quem saiu conquistando a
Europa e emancipando judeu. Portugal se diferencia do
resto da Europa por ter resolvido a questão judaica em 1497. Tendo que
deixar o Reino livre de todos os judeus por pressão espanhola, Portugal
deu uma solução que hoje diríamos ser bem brasileira: em vez de matar ou
expulsar todo mundo, batizou todo mundo e proibiu sinagogas. Mas o
batismo podia ser mera formalidade; ademais, se você abrisse uma
sinagoga, ninguém ia lá verificar, ou, se verificasse, você molhava a
mão.
Funcionou assim até D. Sebastião ficar encantado
em Alcácer-Quibir e deixar a Coroa na mão da Espanha, com sua temível
Inquisição. Os ex-judeus então começam a cultuar a figura d’O Esperado,
pois D. Sebastião voltaria e instauraria um paraíso terrestre. Surge o
sebastianismo, uma heresia perseguida pela Inquisição. E, sendo a
Inquisição muito mais relaxada no Brasil, aqui se tornou um bom lugar
para ser sebastianista. Ao cabo, os ex-judeus não só foram integrados à
nacionalidade portuguesa, apagando a ideia de um português étnico, como
criaram um poderoso símbolo nacional. Só a Península
Ibérica entrou na modernidade sem guetos. Assim, não é de admirar que a
mania racial tenha sido importada da América pelos europeus menos
civilizados e usada contra os judeus. Toda essa Europa que se manteve
com guetos judaicos hoje tem guetos de imigrantes, tudo não-cidadão.
O
nome de gueto é aplicado no Brasil a favelas. Curiosamente, porém,
gringos que vêm para o Brasil fazem turismo em favela, mas não em no-goareas
europeias. A favela brasileira é cheia de eleitores, de cidadãos e de
gente que fala o mesmo idioma que os demais brasileiros. Quem tem gueto é
quem aponta o dedo para nós.
Individualismo radical Penso que o que caracteriza melhor o progressismo de matriz europeia é o
individualismo radical, a atomização da sociedade. Por mais que
reconheçamos o amor romântico entre gente do mesmo sexo, e por mais que o
casamento cristão moderno seja centrado nesse tipo de amor, ninguém
razoável discordará de que as relações entre homens gays costumam ser
mais fugazesdo que as relações tradicionais entre homens e mulheres com
filhos. A fugacidade do casamento me parece ser uma meta desse tipo de
progressismo.
Filhos são um tipo de laço entre
casais. Para impedir esses laços, basta vender o aborto como grande
ícone de liberação feminina. A mulher ideal, então, faz sexo loucamente –
sem se prender a nenhum homem – e, acontecendo de ficar grávida, irá ao
médico tirar. Caso o bebê nasça – e natalidade da Europa é pequenininha
–, tem o Estado de bem-estar social para bancar o bebê e deixar a
mulher dispensar o homem e até os avós. Assim, a vida
ideal desse tipo de progressista se divide entre o trabalho bem
remunerado e a balada, esta regada a drogas caras. Nas banlieues ficam os não-cidadãos responsáveis pelo trabalho braçal.
Presidente é, agora, a perfeita expressão do sistema que diz desprezar
A
causa do fracasso eleitoral [sic] de Jair
Bolsonaro nas eleições
municipais é simples de ser resumida. Ele interpretou de
maneira equivocada a onda disruptiva que o levou ao Palácio do Planalto em
2018. Achou que tinha sido o criador desse fenômeno político quando, na
verdade, apenas surfava a onda.
O
fato é que essa onda, depois de arrebentar o alvo primordial (as forças
políticas ao redor do PT), se espraiou, perdeu sentido e direção, dividiu-se
entre seus vários componentes antagônicos. Esvaziou-se, com Bolsonaro achando
que apenas falando, apenas no gogó, manteria o ímpeto de uma onda dessas – um
fenômeno político raro.
Na
verdade, a principal lição oferecida a Bolsonaro pelas eleições do último
domingo é a do primado da organização, capilaridade e peso das agremiações
partidárias no horizonte político mais extenso. Pode-se adjetivar como se
quiser o conjunto de partidos que elegeu o maior número de prefeitos e
vereadores ou colocá-los onde se preferir no espectro político. O denominador
comum entre eles é a existência de estruturas profissionais voltadas para a
política.
É
exatamente o que Bolsonaro desprezou logo que assumiu. Trata-se de um dos
aspectos mais relevantes para ilustrar o fato de o presidente eleito com 57
milhões de votos há apenas dois anos ter um desempenho tão pífio como cabo
eleitoral. Todo dirigente populista, não importa a coloração política, cuida de
criar um movimento para chamar de seu – com seus emblemas, palavras de ordem
(ou “narrativa”), mitos e, sobretudo, uma estrutura razoavelmente hierárquica e
definida, com sede e endereço.
Embora
tivesse à disposição da noite para o dia um grande número de deputados federais
e seus correspondentes recursos públicos, o surfista da onda política atuou
para implodir o partido pelo qual se elegeu e não conseguiu colocar de pé nada
parecido a uma agremiação consolidada com um mínimo de coesão. É bem provável
que Bolsonaro tenha sido vítima do mito que criou para si mesmo (e dá provas
quase diárias de acreditar nisso piamente): a de ter sido escolhido por Deus e
beneficiado por um milagre (sobreviver à facada) para conduzir o povo do
Brasil.
Com
tal ajuda “de cima”, é só esperar as coisas acontecerem. Ocorre que mesmo os
homens tornados mitos por desígnio divino precisam, como dizem os alemães, do
“Wasserträger”, aquele que vai trazer a água. E isto não se consegue apenas com
redes sociais. Foi outro aspecto interessante das eleições de domingo: a
demonstração dos limites de atuação das ferramentas digitais, que adquiriram
relevância permanente como instrumentos de mobilização, sem serem capazes por
si só de garantir predominância na luta política.
Passada
a onda disruptiva(alívio para alguns, desperdício de oportunidade histórica
para outros), o que se pode prever para as próximas eleições, em relação às
quais Bolsonaro sacrificou qualquer outro plano? Se ele foi capaz, em 2018, de
vencer o “establishment” e o jeito convencional de fazer política, ainda por
cima dispondo de menos recursos que seus adversários “tradicionais”, em 2022
Bolsonaro só tem chances dentro do que ele mesmo chamou de “sistema”.
Do
qual, ironicamente, o “outsider” acabou se tornando uma perfeita expressão:
vivendo para o próximo ciclo frenético de manchetes, sem um plano ou estratégia
de longo prazo, cuidando em primeiro lugar de seus interesses familiares e
paroquiais, cultivando popularidade com programas assistenciais e preocupado
acima de tudo em ficar onde está. É onde a onda nos deixou.
Quarentenas são necessárias para controlar o contágio, mas têm de ser breves
Uma jornada de milhares de quilômetros começa com um único passo. A
jornada por esta pandemia será longa e difícil. Não temos como saber
onde ela vai terminar, embora seja difícil não especular. Em vez disso, o
que precisamos fazer é nos concentrar nos passos que temos logo à
frente se quisermos evitar cair de nosso caminho estreito, num
morticínio de um lado ou numa devastação econômica do outro.
Se não evitarmos essas calamidades num futuro próximo, corremos o risco
de mergulhar no caos mais à frente. E mesmo que conseguirmos fazer isso,
não retornaremos à normalidade que até recentemente tínhamos como
certa. Para isso, precisamos pelo menos esperar por uma cura ou uma
vacina. Os danos econômicos e sociais durarão ainda mais.
Análise da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE) esclarece a ruptura econômica que vem por aí. Esta não é uma
recessão comum ou mesmo uma depressão causada por um colapso na demanda.
A atividade econômica está sendo desligada, em parte porque as pessoas
temem entrar em contato umas com as outras e em parte porque os governos
disseram que elas precisam ficar em casa. O impacto imediato dessas
ações poderá ser uma redução no PIB do G-7, o grupo das sete nações mais
industrializadas, em algo entre 20% e 30%. A cada mês que grandes
partes de nossas economias permanecerem fechadas, o crescimento anual
poderá cair 2 pontos porcentuais.
Além disso, os custos são repartidos de forma desigual. Os trabalhadores
não capacitados sofrem mais com a perda de empregos. Pessoas e empresas
capazes de trabalhar online continuam trabalhando. Aqueles que não
conseguem fazer isso, não. E os custos também não são divididos igualmente em termos globais.
Muitos países emergentes e em desenvolvimento estão sendo afetados pelo
colapso da demanda externa, a queda nos preços das commodities e uma
fuga de capital sem precedentes, ao mesmo tempo em que têm de
administrar a pandemia com sistemas de saúde altamente inadequados. As
quarentenas são particularmente brutais nos países com assistência
social limitada ou mesmo nenhuma,e com grandes números de pessoas que
subsistem com o que ganham diariamente numa economia informal frágil.
É correto perguntar se essa carnificina econômica pode ser justificada.
Entre os países de alta renda, a Suécia vem adotando a postura menos
restritiva. Uma comparação com a Noruega torna essa concessão clara: o
desemprego vem crescendo menos na Suécia também, mas muito menos do que
no país vizinho; mesmo assim, o número de mortes também é maior na
Suécia. Deveríamos ser gratos pela experiência sueca. Podemos aprender com ela, de uma maneira ou de outra.
Minha opinião, porém, em linha com a dos especialistas em saúde e
grandes economistas, é de que as quarentenas são necessárias para evitar
um colapso dos sistemas de saúde e controlar a doença. Mas elas
precisam ser breves. É impossível manter as pessoas confinadas
indefinidamente sem que haja grande sofrimento e danos sociais e
econômicos. Isso obviamente é verdade onde os governos são incapazes de
oferecer as custosas medidas de proteção social possíveis nos países de
alta renda.
As quarentenas precisam ser um espaço curto para respirar, antes de
passarmos para o que um grupo de especialistas alemães chama de uma
“estratégia adaptada ao risco”. Durante as quarentenas, os governos
precisam fazer tudo o que for necessário para evitar essas intervenções
pesadas novamente. Eles não têm muito tempo para fazer isso: uns poucos
meses, não mais.
Fazer os confinamentos valerem a pena, para permitir que vivamos sem
eles, é o primeiro passo essencial. O segundo passo é minimizar os danos
econômicos. Aqui, o foco precisa estar no dia de hoje, e não no elevado
endividamento público e outros fardos do futuro. Assim como na guerra, é
preciso sobreviver ao presente se quisermos ter um futuro que valha a
pena. Levando-se em conta o que é preciso fazer para gerenciar o impacto
econômico devastador, além de reabrir as economias o mais rapidamente,
dentro de uma maneira razoavelmente segura, há três considerações
essenciais.
Primeiro,proteger os fracos, tanto dentro dos países como entre eles.
Uma doença ameaça a todos. A maneira de responder é uma medida de nossos
padrões éticos. É indispensável garantir uma segurança econômica básica
para todos se esses não puderem trabalhar. Uma renda básica universal e
temporária é uma opção óbvia. De modo parecido, e tão importante
quanto, é preciso encontrar meios para apoiar economias vulneráveis. Há
muitas possibilidades radicais.
Uma delasé uma nova e enorme emissão de Direitos Especiais de Saque do
Fundo Monetário Internacional (FMI), com doações por países de alta
renda de suas parcelas em um fundo em benefício dos países em
desenvolvimento mais vulneráveis. Também crucial será uma suspensão dos
pagamentos de serviços das dívidas enquanto a crise durar.
Em segundo lugar, não provocar danos. O maior golpe viria da destruição
completa do sistema comercial. Isso tornaria imensamente mais difícil
restabelecer a prosperidade global depois do fim da crise.
Em terceiro lugar, abandonar crenças desgastadas. Governos já desistiram
de velhas regras fiscais, e com razão. Os bancos centrais também
precisam fazer tudo que for preciso. Isso significa financiar o
orçamento dos governos. Os bancos centrais fingem que o que eles estão
fazendo é reversível e portanto não se trata de financiamento monetário.
Se isso os ajudar a agir, isso é bom, mesmo que provavelmente não seja
correto.
Na zona do euro, eles falam muito em eurobônus. Mas o apoio que importa
terá de vir do Banco Central Europeu. Não há alternativa. Ninguém
deveria se importar. Sempre há maneiras de gerenciar as consequências.
Até mesmo “dinheiro jogado de helicóptero” poderia muito bem ser
justificado numa crise tão profunda.
Escolhas mais dolorosas que essas surgem. Uma emergência como esta será
usada por aspirantes a tiranos para aumentar seu poder. Ao mesmo tempo,
algumas liberdades terão de ser deixadas de lado temporariamente. Administrar concessões tão dolorosas depende de altos graus de confiança
e integridade, características pouco evidentes nas democracias de hoje.
Mas o teste é agora. Os governos que não conseguirem enfrentar esses
desafios correm o risco de colapsar. Sistemas políticos que produzem
tais governos correm o risco de perder sua legitimidade. Precisamos
acertar nos próximos passos. Tudo vai depender disso. (Tradução de Mário Zamarian)
Valor Econômico - Martin Wolf , editor e analista do Financial Times
Dois aviões de carga e passageiros já decolaram para o Peru a fim de repatriar brasileiros. Eles vão pousar em Cusco. Eu vi algumas gravações de brasileiros que lá estão fazendo esse apelo e o governo brasileiro está atendendo. É aquela velha história de não deixar ninguém para trás. Os americanos, ingleses, alemães fazem isso, e nós também fazemos isso. É a solidariedade brasileira. Vírus esperto A primeira vítima do coronavírus a ter alta aqui em Brasília é uma advogada de 48 anos. Ela provavelmente foi infectada em um seminário no início de março. Fizeram novamente o teste, passou o ciclo e deu negativo para a doença. Ela disse que só sentiu dor de cabeça e cansaço. O meu avô me dizia, quando eu ficava gripado, que não adianta tomar remédio, vai passar. As doenças têm um ciclo, que pode ser de sete, 10 ou 12 dias. É muito esperto esse vírus. Quando uma pessoa saudável pega coronavírus pode até não ter sintomas, mas ela pode infectar outros e assim chega em uma pessoa mais fragilizada. Para interromper o ciclo da doença é preciso que nós continuemos lavando bem as mãos e mantendo distância de outras pessoas, embora elas pareçam estar saudáveis. A vítima fatal mais jovem do coronavírus tinha 25 anos. Era um paulistano, motorista de aplicativo, que sofria de bronquite e foi essa doença que fez com que ele morresse, lamentavelmente. As mortes pelo vírus no Brasil estão concentradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Medo é mau conselheiro É um grande dilema que estamos passando:outros estados que não registram muitos casos de coronavírus devem ou não parar? Porque se parar a economia significa que teremos uma recessão violenta ou uma depressão econômica, o que seria ainda pior. A gente fica entre um e outro. É aquela história da filósofa Philippa Foots, um guarda-chave está vendo um trem em alta velocidade e percebe que se o trem continuar vai atropelar cinco trabalhadores que estão na linha do trem. E se ele conseguir desviar, somente um trabalhador será atropelado. O que ele vai fazer? É terrível pensar nisso agora, mas vamos tomar as decisões corretas com serenidade porque o medo apavora e não é bom conselheiro. Vamos nos livrar do medo e enfrentar com coragem essa situação. LEIA TAMBÉM: Virose, - Virose, neurose e psicose. É uma rima, não é solução Não dá para parar de produzir riqueza porque senão vai ser pior. Vai chegar um momento em que não haverá mais recursos nem para pagar a folha de pagamento do funcionalismo público federal e muito menos para as empresas privadas. Há ideias de reduzir os salários do setor público; de dar um bônus para todos de maneira igual, inclusive para o setor público, tanto Judiciário, Legislativo quanto Executivo; e de congelar os salários até que tudo volte ao normal. Todos estão atentos com isso. Já há pessoas saindo da crise aqui no Brasil. Como disse aquele naturalista inglês “ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo
A ditadura de Kim Jong-un quer aumentar de 20.000 para 1 milhão o número turistas estrangeiros por ano no país
O governo do país mais fechado do mundo aposta, ironicamente, no
turismo para atrair moeda forte. As lojas estatais da Coreia do Norte
que atendem turistas aceitam yuans (o dinheiro chinês), dólares e euros.
Os funcionários já sabem as taxas de conversão de cabeça e dão troco em
moeda estrangeira. Vinte agências estatais fazem a recepção dos
turistas estrangeiros e os tours. A maior delas tem oitenta
funcionários.
Sete hotéis recebem os estrangeiros em Pyongyang. Para a produção da reportagem de capa desta semana,
VEJA ficou no Yanggakdo (“Chifre de Carneiro”), o maior e mais
“luxuoso” deles, que equivaleria a um três estrelas no Brasil. Lá o
estudante americano Otto Warmbier, de 23 anos, que visitava o país como
turista, foi acusado de “invadir” um andar reservado aos norte-coreanos e
“roubar” um cartaz de propaganda do partido, em janeiro de 2016.
Condenado a 15 anos de prisão e trabalhos forçados, ele foi torturado
até entrar em coma e repatriado em junho de 2017 para os Estados Unidos,
onde morreu em seguida.
A história não é um grande incentivo ao turismo, mas o governo
estabeleceu a meta de aumentar de 20.000 para 1 milhão o número de
visitantes estrangeiros por ano. Para isso, está terminando a construção
de um arranha-céus de aço e vidro, com 105 andares, que será o Hotel
Ryugyong (“Salgueiro”).
Dos atuais turistas, 90% são chineses. Os restantes são na maioria
alemães, franceses, australianos e japoneses. O regime tenta equilibrar a
necessidade de atrair moedas fortes com a de evitar que os estrangeiros
entrem no país (ou saiam dele) com informações “perniciosas”. Ao
comprar os pacotes, os turistas são avisados de que não podem levar
teleobjetivas (lentes fotográficas de aproximação),publicações,
símbolos americanos e qualquer conteúdo que possa ser considerado
ameaçador.
É proibido fazer imagens de militares e desaconselhável fotografar
pessoas de perto. Os motoristas dos ônibus se recusam a parar durante os
percursos do hotel aos pontos turísticos. Pedidos para caminhar nas
ruas, mesmo trajetos curtos com os guias, são recebidos com suspeição.
Árvores grandes foram plantadas na beira das estradas para evitar o
registro de cenas de trabalhadores rurais trabalhando com as mãos nuas,
ferramentas rudimentares ou tratores obsoletos.
Na saída do país, os policiais verificam as imagens nas câmeras,
computadores, cartões de memória, pen drives e discos rígidos de todos
os estrangeiros. O que lhes parecer impróprio é apagado. A inspeção é
mais rigorosa no aeroporto. Na estação de trem de Sinuiji,na fronteira
com a China, o foco maior é nas mercadorias. Fica a dica.
Historicamente, muitos magistrados usaram a lei como instrumento de opressão e tirania
A
campanha contra a corrupção atinge décadas de existência, no mundo e no
Brasil. Fenômeno social, político, econômico, suas causas e seus
resultados têm muitos sentidos. Erro é o entender com análises que o
cindem entre o bem e mal, o aceitável e o proibido. Oportunismos vários
recortam a vida coletiva de maneira maniqueísta: o nosso lado nunca
sofre erros; já o canto oposto... responde por tudo o que dissolve os
laços éticos. Tais indignações sempre são seletivas. Pode nosso parceiro
cometer as piores vilanias, ele encontrará desculpas em nossas almas.
Mas as hostes inimigas, mesmo em caso de pecadilho, transformam-no no
agente de Lúcifer.
Se escutamos fanáticos que agem segundo
slogans, pouco podemos reclamar do seu primarismo. Seitas seguem líderes
de modo apaixonado. Basta que sejam ouvidas falas contrárias às do
agrupamento, logo os gestos se tornam agressivos. O pensamento exige
diálogo entre diferentes (a mesmice impede saberes novos), mas o
sectário nada capta sobre realidades complexas. Preocupa, no entanto,
encontrar pessoas que deveriam dedicar-se à reflexão, mas aceitam
esquemas binários. Elas racionalizam fatos, dão aos parceiros frases
para justificar táticas hediondas.
Baseado em tal constatação,
Jean-Paul Sartre distingue o filósofo do ideólogo. O primeiro busca o
verdadeiro, o segundo dispensa a busca factual e lógica. O próprio
Sartre agiu com as duas faces, a filosófica e a ideológica. A primeira,
ao investigar a liberdade, os atos intencionais da consciência. A
segunda, ao defender regimes como o da União Soviética. Mas ele se
ergueu contra a invasão da Hungria em 1956. O mesmo indivíduo pode
assumir certa atitude, depois outra. Imaginemos povos inteiros, cuja
oscilação entre o pacífico e o truculento, o moral e o criminoso, conduz
às guerras.
A campanha contra a corrupção exige cautelas. Na
História temos casos de indivíduos que, ao guerrear o que julgavam
corrupto, foram vencidos. O símbolo dos justiceiros encontra-se em
Savonarola, “profeta desarmado”. Quando vencia, massas o seguiam, ébrias
de certezas. Ai dos pecadores! Acabou na fogueira e a República seguiu
costumes de antanho. A frase maquiavélica sobre o monge não é exata:
suas armas estavam na mente dos que o idolatravam. Quando popular, o
dominicano não precisava mover exércitos. A massa crente, ruidosa como o
vendaval, servia-lhe como arma. No Brasil, surgem inúmeros
profetas, sobretudo no Judiciário, líderes da campanha em prol da pureza
radical. Quase nenhum deles recorda a experiência do irado monge. Usam a
receptividade do tema em estratos da população para atacar corruptos,
reais ou supostos. Olvidam o fato notório: a fama aparece e some em
pouco tempo. Uma sociedade abriga os mais contraditórios interesses e
causas. Em determinado instante, certo tema ocupa as mentes e os
corações. Quando surge outra ameaça, o interesse público a teme e
amplia. Todos os que estudaram a famosa Operação Mãos Limpas
conhecem o seu instante de glória, quando muitos políticos foram presos,
expulsos da vida oficial. Mas depois vieram as réplicas. Juízes e
promotores perderam apoio, a Grande Causa foi obliterada pelo ramerrão
político ou eleitoral. Partidos foram destroçados. Mas outros, tão
corrompidos quanto, surgiram para controlar o Legislativo e o Executivo.
E tutto rimane come sempre... Magistrados fundaram partidos que poucos
votos tiveram. Hoje eles andam pelo mundo para explicar o seu fracasso.
Poucos atores da Mani Pulite criticaram a si mesmos, pois, como é
“evidente”, a culpa da hecatombe corrupta deveria ser atribuída aos
outros, os ardilosos que agem nas sombras... Outra nota do fanatismo:
ele é orgulhoso, deseja para si a perfeição plena. Os defeitos, ora,
encontram-se nos terrenos alheios...
O Judiciário brasileiro
procura se defender das críticas a ele enviadas pelos diversos setores
políticos, sociais, ideológicos, econômicos. As reações contra
magistrados a eles soam como crimes de lesa-majestade... divina. Tal
atitude foi resumida pela ministra Cármen Lúcia ao inaugurar o atual ano
de trabalho. “Não há civilização nacional enquanto o direito não assume
a forma imperativa, traduzindo-se em lei. A lei é, pois, a divisória
entre a moral e a barbárie”.
O nobre Rui Barbosa que nos
desculpe, mas é árduo identificar plenamente “lei” e “juízes”.Da Ágora
que condenou Sócrates aos tribunais de exceção do século 20 (e do
21...), muitos e muitos juízes usaram a lei como instrumento de opressão
e tirania. É recomendável a leitura do livro tremendo de Eric Voegelin,
Hitler e os Alemães. No Brasil da era Vargas e do regime imposto em
1964, juízes em grande quantidade “aplicaram imperativamente as leis” de
modo inclemente e desumano. Tais normas ofendiam o Direito, a
liberdade, a dignidade dos governados. Cito um correto comentário ao
discurso da magistrada: ela não mencionou, mas o Poder Judiciário, “com
frequência crescente, descumpre as leis, criando-as à revelia do
Congresso, instituição moldada para legislar. (...) As decisões da
Justiça devem ser respeitadas. Mas é igualmente certo que, em primeiro
lugar, quem deve respeitar a lei é o juiz. O fundamento para o respeito
às decisões judiciais não é a autoridade do magistrado, como se sua voz
tivesse um valor especial por si só. A decisão da Justiça tem seu
fundamento na lei, votada pelo Legislativo e sancionada pelo Executivo”(O Estado de S. Paulo, A responsabilidade do Judiciário, 2/2/2018, A3).
As
ordens do Supremo Tribunal Federal são atenuadas mesmo por instâncias
inferiores do Judiciário. O caso da Súmula Vinculante de número 11 é
claro. Enquanto tal situação permanecer, e o cidadão for humilhado pelo
poder sem peias de juízes, sempre que ouvirmos suas falas com ataques à
vida social brasileira, devemos proclamar: medice, cura te ipsum
(médico, cura a ti próprio)!
Nem bem os militantes lulistas comemoravam uma
suposta superioridade do ex-presidente sobre o Juiz Sérgio Moro no seu
depoimento em Curitiba, novas delações surgem, liberadas pelo relator da
Lava Jato no Supremo ministro Edson Fachin, para acabar com a enganosa
sensação de vitória da véspera. São declarações divulgadas pelo STF, não
vazadas para a imprensa.
Trata-se da íntegra das declarações do
casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura que revelam,com
riqueza de detalhes e contas bancárias em diversos países, os meandros
do financiamento de campanhas presidenciais no Brasil (de Lula e Dilma) e
na Venezuela (de Chavez) pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade
Gutierrez sob a coordenação direta dos ex-presidentes Lula, Dilma e do
ditador da hora na Venezuela Nicolas Maduro, nossa trinca bolivariana.
A
fugaz sensação de vitória se baseia mais na capacidade histriônica do
ex-presidente do que nas suas declarações, que foram vagas quando
tratavam de sua pessoa, e peremptórias quando se referiam à falecida
Dona Mariza. Lula nunca sabia de nada, Dona Mariza era quem dava as
ordens. Lula se sai bem sempre que não precisa dar atenção aos
fatos, aos números, essas coisas concretas da realidade. Quando se trata
de tergiversar, de discursar, de enrolar. É uma espécie de Rolando
Lero, o personagem de Chico Anisio interpretado pelo ator Rogério
Cardoso, num eterno palanque.
Ou, para elevar o rumo dessa prosa,
da espécie do Teodorico Raposo, o Raposão, de "A Relíquia" de Eça de
Queiroz, que se faz passar por beato para enganar a tia. Carola Titi, e
se tornar o herdeiro de sua fortuna. Raposão, ao final da vida,
se convence de que não teria sido deserdado se afirmasse sempre que a
relíquia que havia trazido da Terra Santa era a camisola de Maria
Madalena, e não a de Miss Mary, uma prostituta que conhecera na viagem.
Os
detalhes contados por João Santana e sua mulher Monica Mouratambém
colocam por terra a fama de “presidenta honesta” de Dilma Rousseff, ou
do republicanismo de seu governo. A presidente tinha sempre informações
sobre as operações da Polícia Federal, e avisava aos marqueteiros quando
o cerco apertava. Sugeriu que passassem um tempo no exterior e
chegou a criar um sistema de mensagens em código para informá-los das
investigações. Era Dilma também, segundo o relato dos dois, quem
comandava as negociações para pagamento de Caixa 2 para sua campanha
eleitoral.
Santana chegou a contar que o próprio Lula autorizava
os pagamentos mais altos, tendo o ex-ministro Palocci dito sempre que a
última palavra era “do chefe”. O ex-presidente tinha uma maneira
maliciosa de se referir aos pagamentos da Odebrecht, contou João
Santana. Perguntava se “os alemães” o estavam tratando bem.
Todos os detalhes estão lá, até mesmo o pagamento de contas pessoais da
então presidente Dilma, e todos os relatos batem com outros, de outros
delatores. A retórica palanqueira de Lula pode se impor em determinados
momentos, mas suas contradições e as histórias dos que o rodearam
nesses anos todos de corrupção organizada pelo seu governo não deixam
dúvidas de que ele estava sempre no comando do esquema.
Até mesmo
um documento rasurado encontrado em seu apartamento,demonstrando que
já havia a intenção de ficar com o triplex em vez da unidade simples,
serviu para que colocasse a culpa nos policiais que estiveram lá para a
condução coercitiva. “Quero saber quem rasurou”, disse Lula, jogando a
culpa para quem encontrou o documento. Os mesmos a quem ele já
havia ameaçado, dizendo que voltaria à presidência e não se esqueceria
da cara de nenhum deles. Vai ser processado pela Associação dos
Delegados de Polícia Federal.
No comunicado deste sábado, a
organização gaba-se do "novo" modus operandi utilizado por "um soldado
do EI" para cometer os assassinatos
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou neste sábado o
ataque que fez 84 mortos na quinta-feira na cidade francesa de Nice, um
massacre cuja magnitude, modo de operação e perfil do autor colocam a
França frente a "um novo tipo de atentado".
Na
quinta-feira à noite, o tunisiano Mohamed Lahouaiej-Bouhlel semeou o
terror ao lançar o caminhão que dirigia contra uma multidão que assistia
à queima de fogos de artifício por ocasião do feriado da Queda da
Bastilha na Promenade des Anglais. Ele matou 84 pessoas, incluindo dez
crianças. Cinco crianças seguiam neste sábado em estado crítico, incluindo um menino de oito anos que ainda não foi identificado.
O
autor do ataque, que o grupo extremista Estado Islâmico apresentou em
sua reivindicação como um "soldado do EI", parecia até o momento ser um
desequilibrado, desconhecido dos serviços de inteligência e que não
teria ligações com o Islã radical. O ministro francês do
Interior, Bernard Cazeneuve, declarou neste sábado que o autor do ataque
"parece" ter se "radicalizado muito rapidamente", e falou de "um ataque
de um novo tipo", que "mostra a extrema dificuldade do combate ao
terrorismo". O ministro ressaltou que agora, "indivíduos
sensíveis à mensagem do Daesh (sigla em árabe do Estado Islâmico)
envolvem-se em ações extremamente violentas, sem necessariamente terem
participado de combates, sem necessariamente terem sido treinados".
Falhas na segurança? Mohamed
Lahouaiej-Bouhlel, de 31 anos e motorista de entregas, em vias de
divórcio, era conhecido da justiça apenas por fatos "de ameaças, atos de
violência, roubo e vandalismo cometidos entre 2010 e 2016". De acordo com seu pai, ele sofreu de depressão no início dos anos 2000 e não tinha qualquer ligação com a religião. "De
2002 a 2004, ele teve problemas que causaram um colapso nervoso. Ele
ficava irritado, gritava, quebrava tudo na frente dele", disse Mohamed
Mondher Lahouaiej-Bouhlel à AFP na frente de sua casa na cidade de
Msaken (leste da Tunísia).
Quatro homens próximos do tunisiano
foram colocados sob custódia. A ex-mulher do homem, morto pela polícia
após o atropelamento de famílias inteiras e turistas na famosa Promenade
des Anglais, permanecia sob custódia neste sábado de manhã. Oito
meses após os ataques jihadistas de Paris (130 mortos), o país voltou
ao luto nacional por três dias, mas desta vez a coesão não se manteve,
com vários líderes políticos da direita e da extrema-direita acusando as
autoridades de falhas na segurança.
Neste contexto de tensão, o
presidente socialista François Hollande reuniu um Conselho de Crise
neste sábado e pediu "coesão" e "unidade" na França, denunciando "as
tentações de dividir um pais", segundo o porta-voz do governo Stéphane
Le Foll. Muitos jornais questionavam neste sábado como um
caminhão frigorífico de 19 toneladas conseguiu entrar na quinta à noite,
em meio às comemorações do 14 de julho, em um local reservado aos
pedestres e protegido pelas forças de segurança, mobilizadas por um
estado de emergência.
Pelo menos 17 estrangeiros também foram
mortos no ataque, incluindo três alemães, dois americanos, três
tunisianos e três argelinos. Um minuto de silêncio será observado na segunda-feira às 12h00 (7h00 de Brasília) no país em memória das vítimas. O
presidente francês anunciou a prorrogação por mais três meses do estado
de emergência imposto após os ataques de 13 de novembro.
O EI,
um grupo ultrarradical sunita que anunciou em 2014 o estabelecimento de
um"califado islâmico" em áreas sob seu controle na Síria e no Iraque,
realizou ataques mortais em vários países do mundo que deixaram centenas
de mortos e feridos. O grupo extremista lança apelos frequentes
para que seus simpatizantes realizem ataques em países envolvidos na
coalizão internacional liderada por Washington, que realiza desde
setembro de 2014 ataques aéreos contra posições extremistas na Síria e
no Iraque.