J.R. Guzzo
A Argentina está mal; há muito tempo, na verdade, não está tão mal como
agora.
A dívida externa desabou para aqueles abismos onde se agitam os
países falidos e sem meios para pagar o que devem.
É, no momento, a pior
do mundo, e precisa que o Fundo Monetário Internacional, os credores e
órgãos financeiros internacionais entrem em ação – naturalmente, com
todo aquele drama ruim que vem com esse tipo de intervenção. A inflação
passou dos 60% ao ano - e quando as coisas chegam a esse nível fica
difícil consertar com medicação natural.
Não há crescimento algum; a
economia vive em recessão. Para todos os efeitos práticos, o país não
tem mais uma moeda própria.
Nem os argentinos querem o peso; a única
moeda que faz sentido para eles é o dólar.
A capacidade para saldar as
dívidas internacionais está próxima ao zero. Vai tudo ladeira abaixo.
Manifestante protesta contra o governo argentino, em Buenos Aires.| Foto: EFE
É nisso que deu, como não poderia deixar de ser, a política econômica esquerdosa do seu governo peronista – uma mistura mortal de “socialismo”, gasto público sem controle, doação de dinheiro para sindicatos e cartórios de todas as naturezas, “nacionalismo” e tudo o que sobra no repertório do “anticapitalismo”.
O governo taxa as exportações agrícolas, a única área firme de toda a economia argentina.
Acha que vai resolver problemas metendo imposto nas grandes fortunas.
Dificulta em tudo o que pode a atividade produtiva.
Pense em alguma coisa errada que um governo possa fazer em sua política econômica – o governo argentino com certeza está fazendo isso. Vive-se, lá, no mundo dos “controles de preços”, dos tabelamentos, das empresas estatais encarregadas de resolver tudo, da perseguição à iniciativa privada, do “Estado” como o Deus diante de quem todos têm de se ajoelhar. Sempre dá num desastre. Está dando em outro, mais uma vez.
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Para todos os efeitos práticos, o país não tem mais uma moeda própria. Nem os argentinos querem o peso; a única moeda que faz sentido para eles é o dólar
Quanto mais a economia da Argentina afunda, entretanto, mais o governo se convence que está no caminho certo; vai “aprofundar”, em consequência dessas convicções, o que está fazendo do errado.
O problema, para eles, não é o peronismo; na sua opinião, é a falta de mais peronismo.
É realmente extraordinário, diante de todas essas realidades, que a Argentina e a sua administração econômica sejam um modelo para Lula e o PT na presente campanha eleitoral.
O ex-presidente, inclusive, imagina um “pacto” com a Argentina (e a “América Latina”) para que “todos juntos”, como irmãos de continente e de ideologia, possamos nos transformar na luz que ilumina o mundo.
Não ocorre a Lula que a Argentina está dando errado.
Também não lhe ocorre que o Brasil, com 360 bilhões de dólares em reservas, está numa situação absolutamente oposta em termos de meios de pagamento; tem, portanto, necessidades e interesses muito diferentes, e deveria tratar da sua própria vida, em vez de abraçar pacientes internados na UTI.
Mas Lula se imagina como o homem mais importante do mundo;
tem sonhos confusos de comando, achando que pode usar a excelente situação das contas públicas brasileiras que receberá, caso seja eleito, para doar dinheiro à Cuba, Venezuela e outras economias em colapso.
O Brasil, à essa altura, é muito pouco para a sua mania de grandeza cada vez mais agressiva.
Em nenhum momento lhe passa pela cabeça que o desastre econômico da Argentina é um sinal do tipo; “Não tente nada parecido”.
Ele se considera acima desse tipo de consideração, mesmo porque sabe muito bem que ele, seus amigos bilionários e a companheirada não vão sofrer consequência nenhuma pelo desastre que causarem; vão se dar muitíssimo bem, ao contrário.
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