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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Lula, Fausto e a esfinge do petróleo - Alon Feuerwerker

A tática de Luiz Inácio Lula da Silva no intrincado xadrez do clima parece clara. Segue a receita tradicional: bater bumbo para a narrativa do momento, buscar articulações que ampliem a superfície política de contato, reduzindo assim a pressão exercida sobre o Brasil pelas forças externas, e, entrementes, ir tocando a vida de acordo com as necessidades práticas, preenchendo o tempo com ataques continuados aos adversários políticos do momento.

Posto que a realidade material nunca consegue ficar circunscrita aos discursos, alguma hora os fatos terão, porém, de se impor.   
Logo o governo brasileiro terá de decidir a autorização ou não para explorar o petróleo na foz do Amazonas. 
E autorizar trará necessariamente custo reputacional [em nossa opinião 'custo reputacional' é um valor que só incide sobre boa reputação - qualidade que a folha corrida do cidadão mostra ser ele desprovido.]que  para um presidente empenhado em se apresentar como liderança planetária nos assuntos do momento, entre os quais brilha o clima.

E tem pelo menos outro nó aí. A reindustrialização, agora repaginada como neoindustrialização (também para reduzir a área de atrito com os antidesenvolvimentistas), ocupa lugar central nos planos governamentais, sem ela vai ser difícil reduzir estruturalmente as altas taxas de desemprego. [neo industrialização com  as  taxas extorsivas de impostos que nos alcançarão nos próximos dias?] O PIB projetado é bom, mas a beleza dos números deve-se na maior parte ao agronegócio, cuja vocação não é empregar. Serviços e indústria comem poeira.

Qual é a real, então? Não haverá reindustrialização sem energia barata. Aliás, encarecimento da energia causa desindustrialização. Que o diga a Alemanha.  
E, posto que o preço nunca está imune à lei da oferta e da demanda, fica claro que é ficção reindustrializar sem energia abundante. 
O papel e o Power Point aceitam tudo, mas alguma hora governos têm de entregar o que projetaram para o futuro.

Pois se há algo certo sobre o futuro é que ele sempre chega.

O Brasil tem um dos perfis energéticos mais limpos, graças principalmente às hidrelétricas. Mas o potencial hídrico ainda inexplorado concentra-se na Amazônia, a construção das barragens ali enfrenta oposição cerrada
. [afinal, uma imensidão das terras localizadas na Amazônia é reserva indígena - o governo Bolsonaro acabou em 31 dezembro 2022, mas, a declaração '
‘Hoje, o maior latifundiário do País é o índio’, diz Nabhan', permanece atual e os indígenas são especialistas em cobrar pedágio de tudo.]   Ah, há também o etanol, mas a cana sofre a concorrência dos alimentos pela área plantada. Um desafio adicional para o país que aceitou o dogma de, também para ajudar a salvar o planeta, congelar a fronteira agrícola.

As energias eólica e solar vêm em franca expansão, mas não deixam de ter impacto sócio-ambiental. 
 Seus custos estão caindo rapidamente, mas a oferta nem de longe será capaz de atender a demanda imediata. 
O mesmo vale para a energia nuclear. Ou o Brasil acelera a exploração de petróleo e gás, ou a reindustrialização acelerada continuará confinada aos discursos e às apresentações.
 
É provável que, com o tempo, as soluções pragmáticas acabem se impondo, e o presidente sempre terá à mão o argumento de, afinal, estarmos um período de transição energética, daí precisarmos usar todas as fontes disponíveis. 
Mas Lula neste tema não joga em casa, não tem com ele a torcida incondicional dos mecanismos construtores de opinião pública nem a simpatia da arbitragem.
 
Mais um detalhe. Em 2014, a acusação de que adversários parariam a exploração do pré-sal e privilegiariam as energias limpas foi decisiva na reeleição de Dilma Rousseff.  
Agora, Mefistófeles aparentemente veio acertar a fatura. 
A ver se Lula, como Fausto, consegue escapar de ter de pagar toda a conta. 
 
Alon Feuerwerker,  jornalista e analista político

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Brasil pode perder grau de investimento se Levy falhar, aponta OCDE



"Os riscos para as perspectivas incluem o fracasso em alcançar o ajuste fiscal anunciado, o que está sendo visto como um teste decisivo para a melhora das políticas macroeconômicas", diz o relatório anual Economic Outlook

[Levy já falhou, já errou já dançou: basta ler a sucessão de notícias ruins da economia brasileira, apenas de hoje, para ver que Levy já era.
Para salvar o Brasil sabe aos BRASILEIROS  DE BEM - especialmente os conectados a redes sociais, blogs -  diariamente apontar uma falha da Dilma e equipe.
Ela não aguenta ou pede pra sair ou é impedida.] 
 
O fracasso do ajuste fiscal executado atualmente pela equipe econômica é um dos maiores riscos enfrentados pela economia brasileira. A avaliação é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, falhar no esforço para controlar as contas públicas, diz a entidade, o País poderia perder o grau de investimento.
"Os riscos para as perspectivas incluem o fracasso em alcançar o ajuste fiscal anunciado, o que está sendo visto como um teste decisivo para a melhora das políticas macroeconômicas", diz o relatório anual Economic Outlook, divulgado na manhã desta quarta-feira, 03, em Paris. "Além de reduzir o investimento, isso (o fracasso do ajuste fiscal) poderia resultar na perda de grau de investimento do Brasil", completa o texto.

Outro risco vem da estatal Petrobras. Para a entidade, que funciona como um grupo de países para o desenvolvimento econômico, a maior dificuldade relacionada à empresa seria o surgimento de problemas maiores que o esperado, especialmente se as investigações levarem a mais falências na cadeia de petróleo e gás no Brasil. Ainda no campo dos riscos, a OCDE nota que o nível dos reservatórios de água aumentou recentemente. Mesmo assim, "a possibilidade de um racionamento de energia ou água continua". Problemas no abastecimento poderiam gerar impacto negativo na economia brasileira como os vistos nos anos 2000, diz o estudo.

Otimismo
No entanto, a OCDE usou tom relativamente otimista para avaliar o ajuste fiscal adotado pela equipe de Levy. Enquanto o governo brasileiro e a entidade se aproximam, a OCDE afirma em relatório anual que as novas metas de superávit primário compõem "um ajuste fiscal significativo" e dá um voto de confiança ao afirmar que os novos parâmetros fiscais vieram acompanhados de "medidas concretas".

No relatório, a entidade reconhece que o espaço da política macroeconômica brasileira é "severamente limitado pela necessidade de restaurar a confiança e preservar a classificação de grau de investimento". Diante da deterioração fiscal e aumento da inflação, a OCDE diz que "reconstruir a confiança nas políticas macroeconômicas continua como prioridade".  Por isso, explica o relatório, o governo brasileiro anunciou em janeiro "um ajuste fiscal significativo, com metas de superávit primário de 1,2% e 2% do PIB para 2015 e 2016".  Além de usar tom elogioso para a meta de economia do governo, a organização diz que os novos parâmetros "são apoiados por medidas concretas para reduzir gastos e, em menor medida, para aumentar as receitas". "Isso deu credibilidade ao plano de consolidação", diz o relatório.

Banco Central
 Além de elogiar a nova política fiscal, a entidade ressalta que o Banco Central "adotou estratégia mais ambiciosa para trazer a inflação de volta à meta de 4,5% no fim de 2016". Para isso, aumentou os juros. Apesar de reconhecer que as previsões do mercado para os preços continuam acima da meta, o relatório tem discurso semelhante ao do governo e destaca que "as expectativas de inflação diminuíram, provavelmente como resultado dessas políticas fiscais e monetárias mais fortes".

O documento também elogiou o realinhamento das tarifas públicas. Apesar de aumentar a inflação, a medida adotada em setores como a energia elétrica "visa garantir que os sinais estejam estão no lugar certo para que os mercados funcionem bem".

Concessões
Não foi apenas a política fiscal do governo Dilma Rousseff que ganhou avaliação positiva da OCDE. No relatório, a entidade usa elogios para falar sobre o plano de Brasília de lançar um novo conjunto de concessões com maior participação privada. A OCDE também elogia as iniciativas na direção do livre comércio com a União Europeia e o México.  "O plano de lançamento de uma nova rodada de concessões, especialmente no transporte, é fundamental para a eliminação dos estrangulamentos e promover um maior crescimento", diz o relatório. "Parcerias Público-Privadas deverão desempenhar um papel muito maior nas próximas concessões em linha com a menor participação dos bancos públicos, em particular do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)", completa o documento.

Outros elogios também foram direcionados à iniciativa do governo federal de tentar retomar negociações comerciais. "A recente decisão de reiniciar as negociações comerciais com a União Europeia e o início de um acordo de comércio livre amplo com o México são bem-vindos", diz o documento Economic Outlook.  Apesar disso, a entidade continua cobrando outras reformas do Brasil. Para a organização, a ampla mudança do sistema de impostos, redução das barreiras comerciais e encargos administrativos "poderiam estimular a concorrência e acelerar significativamente a recuperação" da economia.

Desemprego
O relatório da OCDE também destacou o aumento do desemprego no Brasil. No Economic Outlook, a entidade chama atenção que o fenômeno de aumento do desemprego deve se limitar apenas ao ano de 2015 no País.  "O desemprego, que até agora era isolado dos níveis de atividade baixa e pelo declínio da participação laboral dos mais jovens, deverá aumentar durante o ano de 2015", diz o relatório, que não trouxe previsão numérica para a taxa. A OCDE diz apenas que o aumento do desemprego deverá ser limitado a este ano, já que o índice deverá "voltar a cair lentamente a partir de 2016".

Fonte: Agência Estado