É óbvio que o governador de São Paulo, João Doria, prepara sua
candidatura à Presidência em 2022. É mais óbvio ainda que entregar uma
vacina contra o coronavírus será um trunfo na campanha. Também é
óbvio que o presidente Jair Bolsonaro é candidato à reeleição, vendo,
neste momento, João Doria como seu principal adversário. Logo, Bolsonaro
não vê com bons olhos a vacina do Doria, ainda mais que ele,
presidente, é negacionista e não tem a “sua” vacina.
Vai daí, se conclui que há uma espécie de guerra da vacina entre o
governador paulista e o presidente. E isso coloca os dois no mesmo nível
— como se ambos estivessem usando a questão da vacina apenas como
instrumento político. Está muito errado. Doria está ao lado dos
principais líderes mundiais que, com o apoio de infectologistas e
sanitaristas, entenderam que a vacina é a única saída para as crises de
saúde e econômica. Como outros dirigentes, o governador paulista foi
atrás da vacina. E está entregando. [está entregando? quando? em quais locais? ao que se sabe a tal 'vacina do Doria' - a chinesa coronovac - está na Anvisa aguardando autorização para uso emergencial, mesma situação em que está a 'vacina do Bolsonaro' - a da Fiocruz;
Só que a chinesa apresentou seu pedido com elevada falta de documentos - o que está travando a análise do seu pedido (cada documento solicitado implica na parada da análise até que o documento seja entregue). A da Fiocruz, apresenta menor falta de documentos.]
Se isso traz uma vantagem
política para Doria, é outra história, que se vai conferir lá em 2022.
Mas o fato é que o governador entregou uma vacina, em condições de uso
imediato. Tem estocado nada menos que 8 milhões de doses e um programa
viável de produção em massa do imunizante. Parênteses: deixamos de
lado as informações técnicas (eficácia, segurança etc.), primeiro
porque o leitor encontra ampla cobertura nas outras páginas e, segundo,
porque os especialistas ouvidos concordam que se trata de uma boa
vacina, bastante bem testada.
Já voltando a Bolsonaro, ele
desdenhou a doença e os mortos. Não moveu um dedo para obter vacinas. Ao
contrário, debochou do que ele e seu pessoal chamam de “vachina”, disse
que ela poderia causar danos irreparáveis a quem a tomasse e que ele,
presidente, não a tomaria, nem qualquer outra. Isso quando líderes
mundiais tomam a picada em público para mostrar à população a
necessidade da imunização. [a picada é em público - só que não se comprova qual vacina está sendo inoculada = com certeza as lideranças do Reino Unido, Estados Unidos, Rússia e outros países que contam não estão recebendo o produto chinês. No Vaticano, Sua Santidade Papa Francisco e o Papa Emérito Bento XVI, receberam o imunizante da Pfizer.]
Portanto, não se pode dizer que há uma guerra das vacinas entre Doria
e Bolsonaro. Se é para usar esse termo, então se deveria dizer que há
duas guerras. Uma, do Doria, para obter a vacina. Outra, do presidente,
para bloquear a vacina. Doria ganha. Mas o presidente tem ainda
uma arma poderosa, a Anvisa, agência sob seu controle, de que depende a
autorização de uso emergencial da CoronaVac. [até o presente momento, nenhuma exigência apresentada pela Anvisa às farmacêuticas foi contestada, tendo o próprio presidente do Butantã declarado que é normal a solicitação de que documentos faltantes sejam apresentados.]
Em circunstâncias
normais e com pessoas normais, a gente diria que ninguém seria louco a
ponto de bloquear um remédio que pode salvar milhares de vidas. Mas não
há nada de normal quando se trata de Bolsonaro e sua turma. Cabe à
sociedade, às pessoas, às instituições e às lideranças conscientes
exercer pressão para que a vacina seja liberada a tempo e para que o
governo federal compre ou autorize a compra a de qualquer outra vacina,
por instituições públicas e privadas.
Por outro lado, é óbvio que
Doria fez marketing político em cima da vacina. Basta ver a quantidade
de fotos que sua assessoria distribuiu, mostrando o governador exibindo
as caixinhas de vacina.Não deveria ter feito? Ou deveria ter
sido, digamos, mais reservado? Poderia, mas o governador tem seu
argumento: mostrar o andamento do processo para a população. [argumento que será a lápide da sepultura política do governador paulista se sua vacina não for aprovada.
Quanto ao interesse político, com ou sem vacina o João Doria não é páreo para o capitão Bolsonaro.]
A ver. De todo modo, pegou mal a divulgação parcelada do
resultado dos testes, começando pelos melhores e entregando a eficácia
geral de 50% só no final, depois da pressão da imprensa e de
especialistas. No fim, acabou tudo sendo bem explicado, mas o
governador não poderia ter cometido esse equívoco, ele que é justamente
um especialista em marketing. Deixou no ar uma desconfiança
desnecessária, que tem de ser dissipada à custa de muita informação.
Tudo
considerado, o fato é o seguinte: o Brasil tem uma boa vacina já aqui
estocada; a vacinação pode começar imediatamente; governadores e
prefeitos pelo país afora declaram ter tudo pronto para iniciar a
imunização; o número de mortos passa de mil por dia.
Vacina já! [Os malefícios da covid-19 não podem, nem devem, ser desprezados e uma vacina EFICAZ e SEGURA, aprovada pela Anvisa ou por órgãos tipo FDA,é extremamente necessária e urgente - a vacina chinesa ainda não foi aprovada por nenhum de órgãos reguladores do quilate do FDA, Anvisa.
O número de mortos assusta, deve ser lamentado, mas continuam morrendo milhares e milhares de pessoas das doenças tradicionais: cardiovasculares, tuberculose, enfisema, câncer e outras.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista