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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Lançamento do Pix nos EUA traz preocupações mundo afora - Daniel Lopez

Gazeta do Povo - VOZES

“PIX” norte-americano revela tendência global preocupante

 

Imagem ilustrativa.| Foto: Pixabay

Com três anos de atraso se comparado ao Brasil, os Estados Unidos lançaram mês passado o FedNow, o “Pix americano”, o seus sistema de pagamentos instantâneos. 
Você poderia ficar muito alegre com isso, celebrando nosso pioneirismo na tecnologia de pagamentos instantâneos. Em tese, fomos mais rápidos que o país mais poderoso do mundo. 
 Mas eu não vejo grandes motivos para comemoração, uma vez que, para o cidadão atento, algo estranho está em jogo.

Em outubro de 2020, uma matéria do InfoMoney abriu meus olhos para essa questão. O sobretítulo era bem sugestivo: “Sem papel”. O título trazia um insight ainda mais importante: “Pix é o primeiro passo do BC no caminho da substituição da moeda em espécie pelo real digital, dizem especialistas”. Ou seja, ficava claro que o Pix não era um fim em si, mas uma ponte, uma fase de transição, o início de um processo para uma realidade completamente distinta, não apenas para as transações financeiras, mas para a economia em geral e a sociedade como um todo.

O mundo inteiro caminha no sentido da substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital. Um cenário distópico, porém, cada vez mais real.

Para aqueles que estavam pensando que o Brasil havia sido pioneiro e singular nessa ideia “inovadora”, trata-se, na verdade, de uma tendência global. Ou, melhor dizendo, uma agenda mundial. Cada vez mais temos visto um fortalecimento dos bancos centrais ao redor do planeta, conquistando presença crescente na sociedade. 
O mundo inteiro caminha nesse sentido da substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital. 
Essa mudança viabilizará o monitoramento da pegada de carbono, o estabelecimento do crédito de carbono e, consequentemente, do crédito social. Um cenário distópico, porém, cada vez mais real.

Parece inevitável o avanço do poder estatal sobre o poder social. Se você ainda não percebeu isso, faço um convite para ler um artigo de fevereiro de 2020, com o título: “Federal Reserve apresenta Fedcoin, sua criptomoeda ameaçadora”. No texto, há uma frase do economista Robert Wenzel que abriu meus olhos sobre toda essa agenda de mudança: “Uma moeda digital criada pelo Fed poderia ser um dos passos mais perigosos tomados por uma agência do governo. Colocaria, nas mãos do governo, a possibilidade de criar uma moeda digital com a capacidade de rastrear todas as transações em uma economia — e proibir transações por algum motivo. Em termos de liberdade individual no futuro, isso seria um pesadelo”. Fica a reflexão.

O fato de os Estados Unidos terem inaugurado o seu Pix mostra que seu processo de substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital (Fedcoin) está em processo acelerado. Por aqui, a crise sanitária e o auxílio emergencial criaram um cenário muito propício para a inauguração do Pix
No caso norte-americano, a justificativa surgiu posteriormente, com a chamada “desdolarização” do mundo, junto ao fim do “petrodólar”.
 
A digitalização das moedas mundo afora pode parecer algo muito empolgante para os chamados early adopters, ou seja, aqueles que adotam novas tecnologias ou novos produtos antes dos demais. 
Porém, o processo inspira preocupação naqueles que entendem o rumo que as coisas têm seguido em todo o planeta. 
No Pix, fomos pioneiros. Mas, quanto ao segundo passo a inauguração da moeda digital controlada pelo Banco Central – quem você acha que será o primeiro: Brasil ou EUA? Deixe sua opinião nos comentários. Que Deus nos proteja.

Daniel Lopez, jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’.-  Gazeta do Povo - VOZES
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Manual do Linchador Moderno - Guilherme Fiuza

Ilustração: Montagem/Shutterstock
Ilustração: Montagem/Shutterstock

Acusar alguém de homofóbico é pouco. Você precisa ir além. Pode continuar catando pretextos para afetar preocupações raciais, sexuais, ambientais, etc, mas cuidado para não terminar o serviço antes da hora. Hoje em dia, frases lindas contra o preconceito e a favor das minorias podem até soar como gafe — se você não conseguir prejudicar alguém com isso.

Para facilitar a atualização da sua conduta inclusiva (que inclui você nas panelas certas), segue aqui uma lista de cinco princípios éticos fundamentais ao alpinista moderno: 

Vigie seus vizinhos obsessivamente. Assim você aumentará suas chances de flagrá-lo indo do carro até o elevador sem máscara, ou jogando um papel fora da cesta de lixo, ou comendo carne vermelha na segunda-feira. Colha sua munição para denunciá-lo. Se você conseguir expulsá-lo do condomínio por motivos idiotas pode até virar herói do bairro; 


Fique atento ao que dizem os seus colegas de trabalho nos momentos de descontração. Você pode dar a sorte de flagrar um deles contando como foi sua dieta de emagrecimento e denunciá-lo por gordofobia. Não se esqueça de gravar a conversa. Aí você expõe na sua rede social e diz que a empresa não pode manter no quadro de funcionários uma pessoa horrível como aquela. Uma horda de linchadores educadíssimos com certeza vai aderir ao seu chamado e com certeza algum diretor covarde da empresa demitirá o seu colega, te transformando no herói do mês;

Vasculhe o passado dos seus amigos. Você haverá de encontrar algum registro — nem que seja um bilhete — com algum tipo de manifestação gravíssima para os dias de hoje, tipo “virei a noite e fui para o trabalho que nem um zumbi” (você pode transformar isso em declaração racista) ou então “cheguei em casa bêbado que nem um gambá” (você pode denunciar seu amigo por preconceito contra os gambás, desafiando-o a provar que esse animal gracioso e inofensivo para as mudanças climáticas tenha hábitos alcoólicos). Só descanse quando tiver espalhado geral que esse amigo querido por tanta gente era na verdade um ser abjeto, ou seja, só considere a sua missão cumprida quando ele não tiver mais ninguém na vida. Yes!

 Reserve pelo menos meia hora diária antes de dormir para bisbilhotar pessoas públicas e o que elas andaram dizendo (bisbilhotar relaxa). Nesse território está a sua Mega-Sena. E lembre-se: quem procura acha. Você pode alegar que há uma multidão nesse garimpo e não é muito provável que você, logo você, vá encontrar a pepita de ouro. Engano seu. Hoje em dia tem ouro pra todo mundo. Basta ter paciência — e não desanimar na primeira esquina do Facebook. “Fulana está linda.” Pronto! 
Se essa frase tiver sido postada, por exemplo, por um companheiro de time do Maurício Souza, você já sabe o caminho: avisa correndo à Fiat e à Gerdau que o meliante misógino foi pego em flagrante de assédio sexual e moral, portanto não merece mais viver em sociedade. 
Se for da seleção, conta logo ao Renan também, que ele desconvoca na hora. 
Fim de papo. Mais um CPF cancelado. Ai, que delícia de linchamento!

Por questão de ética, não vamos te esconder a verdade: um dia o linchado pode ser você. Quando isso acontecer, não hesite: bata o pé, esperneie e chore bem alto. Com um pouco de sorte, mamãe te escuta e te salva desse mundo mau.

Leia também “A repressão identitária”
 
Guilherme Fiuza,  colunista - Revista Oeste