A decretação da prisão preventiva do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo trouxe preocupação extra ao núcleo político ligado à presidente afastada Dilma Rousseff. Paulo Bernardo é casado com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que integra a tropa de choque de Dilma e é um dos principais braços de defesa da presidente na comissão de impeachment, no Senado. A prisão dele, na avaliação de interlocutores da presidente afastada, acaba por enfraquecer a sua defesa durante os trabalhos da comissão.
Dilma
precisa de 28 votos de senadores para conseguir se manter no cargo e até agora
a conta é que possui 22 votos. O Placar do Estadão
aponta 18 votos a favor da presidente
afastada.
Apesar de
assessores de Dilma dizerem que Paulo Bernardo, que foi
ministro da petista e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não
ser uma pessoa que estava próxima a ela por agora, este não é o caso da sua mulher, Gleisi, que mantém contato com a
petista. Além da prisão de Bernardo,
a condução coercitiva do ex-ministro da Previdência
Carlos Gabas também é outro problema, pela proximidade que tem com a presidente
afastada.
Gabas, inclusive, foi atendido pela comissão de ética da
Presidência da República e está sob
período de quarentena. Ou seja, durante
seis meses ele permanecerá afastado de qualquer função pública recebendo
salário de ministro, por conta das funções que assumiu nos últimos tempos e
pelo conhecimento que possui de questões estratégicas de governo.
Em um
domingo de agosto de 2013, a presidente Dilma Rousseff driblou a segurança e
saiu pelas ruas de Brasília como “carona”
na moto Harley Davidson de Carlos Gabas, de onde chegou
a ser fotografada. A preocupação
não se limita a Dilma, mas também a Lula.
Assessores da presidente lembram
que este é mais um baque para o ex-presidente, já que Paulo Bernardo é muito
ligado a ele e ao tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que está preso pela
Operação Lava Jato.
Outro problema que foi lembrado, e que não é preocupação
especificamente da presidente afastada, mas de petistas, é sobre os reflexos desta nova prisão sobre as eleições
municipais, já que Paulo Bernardo é uma importante liderança do partido. O PT já vem
encontrando dificuldades em vários Estados e a prisão de Paulo Bernardo acaba
por ser mais um golpe contra o partido. O próprio governo petista sabe
das dificuldade de reverter a “onda
negativa” da opinião pública em relação à sua volta ao Planalto, que
reconhece ser muito remota de acontecer.
Mas a legenda precisa desta tropa de choque
atuante insistindo na tese do golpe para reforçar o discurso do PT nas
eleições e tentar, de alguma forma, manter a militância mobilizada. Ao falar
sobre o enfraquecimento da defesa de Dilma na comissão do Senado, um dos
interlocutores de Dilma reconheceu que os acontecimentos deixam a defesa dela
sem argumento, ou pelo menos, atrapalha bastante os seus planos.
Gleisi
e a tropa de choque de Dilma acusam reiteradamente o presidente em exercício, Michel
Temer, e sua equipe em função dos desdobramentos Operação Lava Jato, que está
direcionada para o PMDB e rendeu três baixas ao governo peemedebista. Com a
operação desta quinta-feira, o argumento dos petistas,
mirando nos peemedebistas, acaba abatido e caindo por terra.
Já no
Palácio do Planalto, a prisão preventiva de Paulo
Bernardo vem como um alívio para os peemedebistas porque tira um pouco do PMDB
do foco. O partido estava sob alvo da PF no último mês, o que vinha
atrapalhando a tentativa de Temer de sustentar uma agenda positiva para
emplacar o seu governo. A prisão de
Bernardo, que não é provisória, mas preventiva, ressalta um dos
interlocutores de Temer, veio em um importante momento no qual os peemedebistas
têm conseguido vitórias em votações no Congresso e precisam consolidar os votos
na comissão do impeachment.
Temer precisa de 54 votos. Nas
contas do Planalto, a base possui entre 58 e 60 votos. Mas a margem é considerada muito
estreita e este é um dos motivos do empenho pessoal do presidente em exercício,
que destina diariamente boa parte de sua agenda a receber parlamentares e
manter interlocução direta com senadores, em busca de garantir os votos. Na terça-feira passada, por exemplo, Temer
foi à festa Junina na casa do senador Zezé Perrela (PTB-MG), lembrando que ali estariam presentes pelo menos 60 senadores.
“Esse trabalho tem de ser
construído todo dia”, não se cansa de repetir Temer, segundo um de seus
interlocutores.
Fonte: Estadão