Investigadores querem fazer levantamento de armas das forças de segurança do estado
O
relógio marcava 2h50m quando o silêncio do Estácio foi quebrado por uma rajada
de disparos. O procedimento fazia parte da
reconstituição do assassinato de Marielle Franco Anderson Gomes. O
laudo só deverá ficar pronto em 30 dias, mas investigadores confirmaram que a
arma utilizada no crime foi uma submetralhadora HK MP5. Era a resposta crucial
que precisavam para abrir uma nova frente de apuração: levantar todas as armas
desse tipo que pertencem às forças de segurança do estado e, em seguida, fazer
uma perícia em todas elas. O assunto vem sendo discutido entre a Delegacia de
Homicídios da capital e o gabinete da intervenção federal.
Heckler & Koch - HK MP5
Por ser
considerada obsoleta em comparações com modelos semelhantes, a HK MP5 não
costuma estar entre as armas usadas em operações no Rio. Segundo um
especialista, a submetralhadora deixa policiais em desvantagem durante
confrontos com traficantes porque seus disparos não têm longo alcance. Pelo
mundo, ocasionalmente é adotada em intervenções contraterroristas. No Brasil,
grupos de elite das Forças Armadas a utilizam, e no Rio, especificamente, é
empregada por equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e da
Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil em escolta de
presos ou incursões cirúrgicas a comunidades conflagradas.
UTILIZADA
NO SEQUESTRO DO ÔNIBUS 174
Foi
justamente uma HK MP5 que um atirador do Bope usou durante o sequestro do
ônibus 174, em 12 de junho de 2000, no Jardim Botânico. Ele acabou atingindo,
acidentalmente, a professora Geisa Firmo Gonçalves, que morreu. Mesmo
obsoleta, a submetralhadora tem boa precisão, e conta com três pontos de apoio.
Agrupa os tiros no ponto mirado pelo atirador — explicou o especialista, que
pediu para não ser identificado.
‘Mesmo obsoleta, a submetralhadora tem boa
precisão, e conta com três pontos de apoio. Agrupa os tiros no ponto mirado
pelo atirador’
-
Especialista sobre a
arma usada na morte de Marielle e Anderson
Na
reconstituição do assassinato de Marielle e Anderson, foram efetuadas seis
rajadas com armas diferentes — antes de cada uma, policiais acionavam uma
sirene, alertando que disparos de balas de verdade seriam feitos em um trecho
do Estácio. Peritos tinham como objetivo permitir que quatro testemunhas do
crime comparassem o som dos tiros, para apontar o mais parecido com o que
ouviram na noite de 14 de março. A
reprodução simulada do crime mobilizou cerca de 200 homens do Exército e da
Polícia Militar, além de agentes da Guarda Municipal e da CET-Rio. Entre as
testemunhas presentes estava uma assessora de Marielle, que, no momento do
assassinato, viajava ao lado da vereadora no banco de trás do carro dirigido
por Anderson. Atualmente, ela mora no exterior, e veio ao Rio somente para
participar da reconstituição. A cada momento em que descrevia cenas do crime,
chorava copiosamente.
Orlando de Curicica e Marcello
Siciliano foram envolvidos no crime por uma testemunha-chave do inquérito que
prestou quatro depoimentos à DH, em troca de proteção policial. Ela
trabalhava para o miliciano, e disse que presenciou conversas entre os dois
sobre a “necessidade” de matarem a vereadora, que estaria atrapalhando ações de
um grupo paramilitar na Zona Oeste. Ainda segundo a testemunha-chave, quatro homens foram encarregados da
execução, incluindo um PM da ativa e um policial reformado.
Nesta
quinta-feira, o ministro da Segurança Pública, Raul
Jungmann, confirmou que Orlando e Siciliano estão entre as pessoas investigadas
por suspeita de envolvimento no duplo homicídio. Os dois negam qualquer
participação no crime.
PRONUNCIAMENTO
DE TEMER
Após o
ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ter dito (na quinta-feira) que a
investigação está chegando à etapa final, o Palácio do Planalto fechou uma
estratégia para apresentar ao país as informações finais do caso. É cogitada a
possibilidade de o presidente Michel Temer fazer um pronunciamento sobre a
conclusão da polícia.
Autoridades
do Rio e de Brasília disseram ontem ao GLOBO que o comandante da intervenção
federal na segurança pública do estado, general Walter Braga Netto, está
encarregado de comunicar diretamente ao presidente o desfecho da investigação.
Anteontem, durante uma reunião, Temer ouviu relatos sobre o caso.
O Globo