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domingo, 13 de maio de 2018

Reconstituição do caso Marielle confirma o uso de uma submetralhadora


Investigadores querem fazer levantamento de armas das forças de segurança do estado


O relógio marcava 2h50m quando o silêncio do Estácio foi quebrado por uma rajada de disparos. O procedimento fazia parte da reconstituição do assassinato de Marielle Franco Anderson Gomes. O laudo só deverá ficar pronto em 30 dias, mas investigadores confirmaram que a arma utilizada no crime foi uma submetralhadora HK MP5. Era a resposta crucial que precisavam para abrir uma nova frente de apuração: levantar todas as armas desse tipo que pertencem às forças de segurança do estado e, em seguida, fazer uma perícia em todas elas. O assunto vem sendo discutido entre a Delegacia de Homicídios da capital e o gabinete da intervenção federal.

Heckler & Koch - HK MP5

Por ser considerada obsoleta em comparações com modelos semelhantes, a HK MP5 não costuma estar entre as armas usadas em operações no Rio. Segundo um especialista, a submetralhadora deixa policiais em desvantagem durante confrontos com traficantes porque seus disparos não têm longo alcance. Pelo mundo, ocasionalmente é adotada em intervenções contraterroristas. No Brasil, grupos de elite das Forças Armadas a utilizam, e no Rio, especificamente, é empregada por equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil em escolta de presos ou incursões cirúrgicas a comunidades conflagradas.

UTILIZADA NO SEQUESTRO DO ÔNIBUS 174
Foi justamente uma HK MP5 que um atirador do Bope usou durante o sequestro do ônibus 174, em 12 de junho de 2000, no Jardim Botânico. Ele acabou atingindo, acidentalmente, a professora Geisa Firmo Gonçalves, que morreu. Mesmo obsoleta, a submetralhadora tem boa precisão, e conta com três pontos de apoio. Agrupa os tiros no ponto mirado pelo atirador — explicou o especialista, que pediu para não ser identificado.
 ‘Mesmo obsoleta, a submetralhadora tem boa precisão, e conta com três pontos de apoio. Agrupa os tiros no ponto mirado pelo atirador’

- Especialista sobre a arma usada na morte de Marielle e Anderson
Na reconstituição do assassinato de Marielle e Anderson, foram efetuadas seis rajadas com armas diferentes — antes de cada uma, policiais acionavam uma sirene, alertando que disparos de balas de verdade seriam feitos em um trecho do Estácio. Peritos tinham como objetivo permitir que quatro testemunhas do crime comparassem o som dos tiros, para apontar o mais parecido com o que ouviram na noite de 14 de março. A reprodução simulada do crime mobilizou cerca de 200 homens do Exército e da Polícia Militar, além de agentes da Guarda Municipal e da CET-Rio. Entre as testemunhas presentes estava uma assessora de Marielle, que, no momento do assassinato, viajava ao lado da vereadora no banco de trás do carro dirigido por Anderson. Atualmente, ela mora no exterior, e veio ao Rio somente para participar da reconstituição. A cada momento em que descrevia cenas do crime, chorava copiosamente.

Orlando de Curicica e Marcello Siciliano foram envolvidos no crime por uma testemunha-chave do inquérito que prestou quatro depoimentos à DH, em troca de proteção policial. Ela trabalhava para o miliciano, e disse que presenciou conversas entre os dois sobre a “necessidade” de matarem a vereadora, que estaria atrapalhando ações de um grupo paramilitar na Zona Oeste. Ainda segundo a testemunha-chave, quatro homens foram encarregados da execução, incluindo um PM da ativa e um policial reformado.
Nesta quinta-feira, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, confirmou que Orlando e Siciliano estão entre as pessoas investigadas por suspeita de envolvimento no duplo homicídio. Os dois negam qualquer participação no crime.

PRONUNCIAMENTO DE TEMER
Após o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ter dito (na quinta-feira) que a investigação está chegando à etapa final, o Palácio do Planalto fechou uma estratégia para apresentar ao país as informações finais do caso. É cogitada a possibilidade de o presidente Michel Temer fazer um pronunciamento sobre a conclusão da polícia.
Autoridades do Rio e de Brasília disseram ontem ao GLOBO que o comandante da intervenção federal na segurança pública do estado, general Walter Braga Netto, está encarregado de comunicar diretamente ao presidente o desfecho da investigação. Anteontem, durante uma reunião, Temer ouviu relatos sobre o caso.

O Globo
 

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