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domingo, 8 de março de 2020

Presidente oficializa a manifestação - Merval Pereira

O Globo

Ação e reação - Bolsonaro apoia manifestação

Apenas, com a fala explícita, Bolsonaro, em tempos de coronavírus, lavou as mãos, dissociando-se da original manifestação baseada do “foda-se” o Congresso dito pelo General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em conversa vazada. Quando apoiou reservadamente o movimento, em grupo de WhatsApp, Bolsonaro desencadeou crise institucional que ainda assombrava a manifestação convocada por seus seguidores nas mídias sociais. 

Distorcendo o sentido original da manifestação para ampliá-la em direção a uma improvisada advertência popular aos mandatários do país, inclusive ele próprio, Bolsonaro oficializa a manifestação e tira de seu apoio o caráter conspiratório. Mas se exime de culpa caso ela retome seu rumo inicial de criticas aos que não “deixam o homem trabalhar”, no caso ele próprio. Foi um lance improvisado, sem dúvida, pois até mesmo seu filho Eduardo estava pedindo a correligionários que não fossem à manifestação para não criar embaraços políticos a seu pai. Bolsonaro foi além e liberou os manifestantes. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já tentara fazer isso, sem sucesso, junto aos movimentos populares de direita que organizam a manifestação. Sugeriu que ela fosse a favor das reformas, e não contra o Congresso. Mas não tem força política fora de sua área, nem a habilidade do presidente Bolsonaro, que consegue transformar as piores derrapadas em jogadas de mestre para os já convencidos.

O General Augusto Heleno, que pelo jeito gosta de uma disjuntiva, disse que é mentira que a manifestação seja contra a democracia, apesar de temas como intervenção militar ou fechamento do Congresso e do Supremo façam parte da pauta de reivindicações. Ontem, contei aqui que ao ser consultado pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia sobre o temor de deputados de estarem sendo grampeados nas conversas telefônicas ou gravados em encontros no Palácio do Planalto no inicio do governo, o ministro tranquilizou-o: “Isso aí acabou”. Uma negativa que traz consigo uma afirmação de que em algum momento houve.  

Como autor intelectual da manifestação, pois foi ele quem sugeriu que o povo fosse convocado para impedir a “chantagem” do Congresso sobre o Executivo, o General Augusto Heleno sabe que ninguém quer “calar o povo” criticando a manifestação, mas travar uma marcha antidemocrática que estava sendo estimulada pelo próprio governo. Na verdade, ninguém faz marcha a favor de alguma coisa, mas contra. Marcha a favor do aborto é contra a legislação que o proíbe ou restringe. Marcha a favor do Governo é contra os que não o deixam atuar. E ao dizer que o presidente Bolsonaro está encontrando resistências de grupos corruptos que combate, o General Heleno está endossando os manifestantes que acusam Congresso e Supremo de impedir o presidente de ir adiante.

De fato, o presidente Bolsonaro, com sua rede nos meios sociais, está criando um ambiente no país que obscurece sua incapacidade de gestão com a sombra de uma suposta manobra de “forças ocultas” que o impedem de avançar.  Já vimos esse filme antes, numa tentativa de golpe do então presidente Jânio Quadros, que não deu certo. Mas Bolsonaro está tendo o cuidado de tentar criar um ambiente propício a um autogolpe, jogando seus seguidores - que hoje já não representam a maioria do povo brasileiro (sic)  - contra as instituições que dão limites ao Executivo: imprensa independente, Legislativo e Judiciário.  Haverá reações institucionais. [será que as reações, caso ocorram terão apoio legal?  - das leis e não dos que as interpretam conforme as conveniências, interpretações que lembram a pergunta de alguns pareceristas: 'ok... um parecer?.... contra ou a favor....?"]


Merval Pereira, jornalista - O Globo


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Os sem noção



Certos setores da esquerda estão convencidos de que os mais de 54 milhões de brasileiros que reelegeram a presidente Dilma Rousseff são de esquerda, e que a vitória significou uma autorização para aprofundamento de um programa socializante no país, com uma Constituinte convocada por "plebiscito popular" (como se fosse possível outro tipo de plebiscito, palavra originada do latim plebiscitu - decreto da plebe) para realizar uma reforma política, instituição de mecanismos de participação popular - já derrotado no Congresso - e a inevitável "democratização dos meios de comunicação", que nada mais é do que o controle pelo governo dos órgãos independentes de informação.

Por isso, as primeiras nomeações do segundo governo Dilma estão provocando grande decepção e divisões na esquerda, que constatam com pesar que, reeleita, a presidente leu com mais pragmatismo o resultado das urnas e foi buscar nas hostes adversárias o homem adequado para estabilizar a economia que ela conseguiu desestabilizar nos primeiros quatro anos.

A nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda está sendo digerida com muito custo, mas as pressões maiores estão voltadas para os novos ministros da Agricultura, Katia Abreu, e para o do Desenvolvimento, Armando Monteiro, dois dirigentes de associações patronais. Politicamente mais frágeis, tornaram-se exemplares de como o ministério tem uma tendência nada revolucionária, que poderia bem ter sido escolhido pelo candidato da oposição Aécio Neves.

A análise está correta, mas a ignorância que essa esquerda demonstra das raízes profundas que ancoram as nomeações mostra que um governo que se guiasse por suas obsessões não teria muito futuro. Foi assim também no primeiro governo Lula, que nomeou Roberto Rodrigues para a Agricultura e Luiz Fernando Furlan para o Desenvolvimento, além de colocar o banqueiro internacional e deputado federal tucano Henrique Meirelles no Banco Central.

Dilma repete a dose, claramente influenciada pela experiência de seu tutor Lula, mas com diferenças contra si importantes. A começar por que quem estava no comando era Lula, a única liderança incontrastável no PT. Quem ousou confrontá-lo, como Cristovão Buarque ou Suplicy, ou saiu do partido ou ficou nele sem importância. Sem falar que os tempos econômicos no mundo são outros, muito adversos.

Na economia, Lula tinha um petista de alta estirpe no comando da equipe, Antonio Palocci, e estava portanto blindada a movimentação conservadora da nova política econômica para colocar as contas nos trilhos. Para melhorar a situação, Palocci convenceu-se mesmo de que o caminho ortodoxo era o único possível para o crescimento do país, depois de longas trocas de ideias com Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central que o PT demonizou na eleição presidencial passada.

Mas foi para Arminio que Joaquim Levy telefonou antes de aceitar a proposta de trabalho petista, pois ele integrou a equipe que preparava o programa econômico para um eventual governo do PSDB. Os economistas que Palocci acolheu em sua equipe foram permanentemente perseguidos por setores petistas que não se conformavam com as novas orientações. Marcos Lisboa, Murilo Portugal, o próprio Levy, só permaneceram no ministério enquanto Palocci lhes dava respaldo. Com sua saída, no segundo governo Lula, abriu-se espaço para que a dupla Dilma Rousseff no Gabinete Civil e Guido Mantega na Fazenda fosse desmontando as conquistas feitas pelos "conservadores", preparando a derrocada que seria o primeiro governo Dilma.

Nem mesmo os fatos negativos produzidos nos últimos quatro anos são suficientes para convencer esses grupos esquerdistas que sua receita de aumento de gastos sem base na arrecadação, gerando déficit primário em vez de superávit; aumento da dívida bruta com a utilização dos bancos públicos como biombos; descontrole da inflação; balança de pagamentos negativa, levou o país a uma situação de descontrole que só mesmo um salto triplo carpado como o dado por Dilma poderia mudar a perspectiva futura do país.

Eles ainda acreditam que os eleitores da classe média emergente e os pobres que recebem o Bolsa Família votaram em Dilma ideologicamente, e não entendem que o que esses eleitores fizeram foi votar a favor do conservadorismo, acreditando erradamente que estavam ajudando a manutenção do emprego e do salário. A permanecer essa disputa ideológica contra a realidade que se impõe, vai ser muito difícil Joaquim Levy levar adiante seu projeto. E o escorpião, fiel à sua natureza, vai ferrar quem poderia levá-lo a atravessar o rio a salvo da correnteza.

Fonte: Merval Pereira