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domingo, 6 de agosto de 2017

Rio de Janeiro: uma cidade sitiada


Atuação do Exército evidencia a falência da polícia no combate ao tráfico

Ocupação militar altera a paisagem e a rotina dos cariocas. A atuação do Exército evidencia a falência da polícia no combate ao tráfico – e os resultados começam a aparecer

 TROPAS Soldados em Copacabana e tanque nos Arcos da Lapa (abaixo): presença assusta população, mas reduz criminalidade (Crédito: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo)
Tanques de guerra não combinam com as belas paisagens do Rio de Janeiro. Elas sempre inspiraram paz, esperança e compaixão. Mas é assim que a cidade maravilhosa vive atualmente: obrigada a conviver com blindados, comboios, tanques de guerra. A caminho das praias, do Cristo Redentor, em avenidas e favelas, por todos os lugares há sinais da ocupação militar que começou em 28 de julho e ficará até 31 de dezembro, pelo menos. É agressivo ver um tanque de guerra no meio do Largo do Machado, um dos lugares preferidos do escritor Machado de Assis (1839-1908), que morou na região. 

Ou dar de cara com militares fortemente armados na Praia Vermelha, sob um céu azul da cor do mar e aos pés do bondinho para o Pão de Açúcar. Não há pesquisa recente sobre a aprovação popular, mas é bem provável que ainda vigore o resultado do levantamento feito na década de 1990, registrado no livro “Controles e Autonomia: as Forças Armadas e o Sistema Político Brasileiro”, de Samuel Alves Soares, no qual 89% dos entrevistados aprovavam ações militares no combate ao crime no Rio de Janeiro.

Na última década, o estado pediu ajuda de forças militares para conter a violência 12 vezes. O moço anônimo que vende pipoca perto do metrô de Botafogo diz ao amigo: “Uma cidade tão linda, né, cara? Por que não dá certo?” Em sua forma simples, ele escancara a paixão e o orgulho dos cidadãos, ricos ou pobres, pela geografia estonteante da capital, e também a decepção.

Inclusive com as várias outras vezes em que acreditaram que a derradeira solução viria, e não veio. O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, parece se dirigir a eles quando diz que dessa vez tudo será feito para “diminuir a criminalidade e dar uma sensação de segurança que não seja passageira, mas real.” Como disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, em palestra: “A princípio, a criminalidade tira férias, mas quando as Forças Armadas vão embora, volta tudo.” Ambos defendem estratégias baseadas em inteligência, e não em ocupação de comunidades, e a médio prazo. [as ações de inteligência são de grande necessidade, mas, só a ocupação demorada das favelas, precedida de cerco e varredura, levando a asfixia dos criminosos e de seus depósitos de armas e drogas - atingindo-os no bolso e depois na própria liberdade ou mesmo os levando ao abate - é que resolverá em definitivo o problema.]
A socióloga Julita Lemgruber tem criticado, reiteradamente, a falência das ocupações. Segundo ela, os 15 meses das forças no complexo de favelas Maré custaram R$ 600 milhões. “Algo mudou? Sim, a desenvoltura de jovens desfilando fortemente armados, hoje, na Maré e no Alemão”, diz. Ela defende que esse dinheiro poderia ser melhor aproveitado em programas sociais, voltados para a juventude pobre desses locais. Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, garantiu que haverá um orçamento extra de “centenas de milhões de reais” em ações sociais, sem detalhar como.

(...)

Selfies com soldados
Thiago Muniz, 30 anos, morador do Leme, trabalha em plataforma petrolífera e estava embarcado quando o Plano Nacional de Segurança Pública para o Rio foi posto em prática. Ao desembarcar, levou um susto. “A situação é muito grave. Mas eu sinto mais medo do que segurança ao ver blindados espalhados pela cidade.” Outros conterrâneos têm feito selfies com soldados, como a modelo e atriz Viviane Araújo. E uma outra parcela parece estar indiferente, anestesiada. Dois jovens surfistas passam por dois soldados igualmente novos, na orla, e os quatro olham, de forma melancólica, para as ‘armas’ mútuas: as imensas pranchas carregadas pelos surfistas e os grandes fuzis nas mãos dos rapazes de botas e verde oliva. Outra cena, postada no Facebook, talvez explique um pouco do clima reinante. Ela foi registrada em Copacabana e descreve o momento em que o motorista de um ônibus grita da janela ao ver três soldados do exército fortemente armados: “Ô, filho da p…!”. Os soldados olham, furiosos, para o autor do xingamento. Tensão em volta. Até que um dos militares se alegra e, soltando o fuzil, acena para o ônibus, respondendo com uma intimidade que só grandes amigos se permitem: “Fala, viado!” Todos riem da situação. E a vida segue no Rio.


Fonte: Revista Isto É 

 

 

sábado, 15 de julho de 2017

Selfies, cafezinho e baderna

Cabe agora discutir os problemas éticos e legais levantados pelo episódio, lamentável sob qualquer ângulo, de um grupo de senadoras ocupando a mesa do plenário para tentar barrar, na marra, a votação da reforma trabalhista – de mais a mais, um avanço para o restabelecimento da normalidade nas relações entre capital e trabalho. A cena surreal configurou um acinte ao povo, à ordem constituída, à democracia. Ninguém que assistiu ao ocorrido encarou de forma passível, serena, tamanha petulância.

Esse Congresso, entretanto, é extraordinário. Seus titulares, majoritariamente os da oposição, como digníssimos representantes ungidos pelo voto, possuem ideias por assim dizer medievais, ultrapassadas, sobre como resistir. Não são suficientes medidas regimentais, protestos ao microfone ou articulação de bancada. Recorrem à obstrução física, na base da força. Imaginam-se guerrilheiros em tempos sombrios de uma ditadura longínqua, muito embora proclamem ter promovido a modernização e a redemocratização do País. Seja como for, qualquer um classificaria como abominável, ridículo, beirando o escárnio, aquele comportamento das parlamentares. Ele dá a exata dimensão da decadência a que chegou a política brasileira. Foram as petistas Gleisi Hoffmann, Fátima Bezerra e Regina Sousa, além de Vanessa Grazziotin (do PCdoB), meras marionetes manipuladas como em um jogral lobista de sindicalistas da CUT, esses contrariados principalmente com o fim do imposto que banca as suas agremiações. 

Por oito intermináveis horas, as senadoras tomaram de assalto a Mesa Diretora e a transformaram em um picadeiro com direito a show de palhaçadas, cafezinho, lanche e “selfies”. Atuaram tal qual colegiais que se rebelam na sala de aula. Faltou o corretivo da direção. O patético espetáculo é altamente representativo do casuísmo “made in Brazil”, clássico recurso de anarquistas quando perdem o argumento e partem para a arruaça pura e simples, numa atitude de desespero. O ardil leguleio, contra o princípio da razão e da dignidade, preenche o vazio do interesse público, colocado em segundo plano quando o que se está em jogo é a disputa partidária, a guerra pela tomada de poder. O País vive tempos difíceis, de advogados chicaneiros, de empresários desavergonhados (alguns poucos, é verdade) e de políticos cuja hombridade nas ações segue questionável. 

Esses últimos são os piores. Os congressistas, de modo geral, habitam um mundo onde as versões predominam sobre os fatos, as declarações e atitudes são usadas mais para esconder do que para mostrar. Aquelas senadoras da fuzarca não estavam preocupadas com eventuais perdas ou retrocessos dos direitos trabalhistas. Muito menos agiam em prol do interesse público. Contou mais o que poderiam levar no intento de sabotar qualquer projeto desenvolvimentista do Executivo. Incorreram naturalmente em quebra de decoro. E no caso de algumas delas, não foi sequer a primeira falta passível de condenações judiciais. Mas para elas pouco importa. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, recém-eleita para comandar a sigla, que o diga. Ela adotou a tática do tumulto, das negociatas deploráveis e da gritaria em sessões do Congresso como método de política. Quer misturar todos no mesmo balaio de malfeitos e bagunça para escapar de suas penas e livrar correligionários, ainda mais graduados, do mesmo fim. 

Agora Gleisi e sua trupe sonham fervorosamente com a deposição do presidente Temer. Trabalham a qualquer custo, e fazendo uso de métodos nada republicanos, para isso. Com estafante insistência de uns tempos para cá falam de uma deposição a ser feita para salvar o Brasil do caos. Não admitem que foram eles os próprios responsáveis por tamanho caos. A decadência moral, a ambiguidade ideológica e os fins inconfessáveis de retomada do Planalto para servir de abrigo contra eventuais ofensivas da lei não lhes permitem esclarecer que a transição para um novo governo em mandato-tampão não é garantia nenhuma (ao contrário) de supressão do azougue. Os designados do parlamento continuarão tomando cafezinho, mancomunando entre si no seu universo paralelo e promovendo despautérios como o da semana passada, de acordo com as suas conveniências – que quase nunca coincidem com as da Nação.

Fonte: Editorial - Revista Isto É - Carlos José Marques, diretor editorial