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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Uma carta de amor ao Brasil - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Naquele 7 de Setembro, quando ouvia nosso hino ser tocado ou cantarolado em algum ponto da Paulista, era como se eu estivesse em uma viagem boa no tempo quando a melodia era ouvida nos pódios pelo mundo afora


Foto: Shutterstock

Eu sei que você ficou triste com este 7 de Setembro. Nós também.

Foram muitos anos te presenteando com as ruas pintadas de verde e amarelo. Nos últimos quatro anos, então… parecia uma Copa do Mundo por ano! Amor, muito amor por você. Sua bandeira estava por todos os lados! Carros, janelas, sacadas, carros e carrinhos de bebês, sua bandeira era estampada e tatuada em jovens, idosos, crianças e animais de estimação! Sempre uma festa com milhões de convidados por todo o Brasil. Seu hino podia ser ouvido em caminhões ou em rodinhas de bar onde as pessoas celebravam o orgulho de te amar de novo!

Neste 7 de Setembro foi diferente, eu sei. Havia um presidente amigo de ditadores desfilando em carro aberto com uma primeira-dama vestida de vermelho. As ruas estavam vazias, e eu posso imaginar que você esteja pensando que não te amamos mais. Por favor, não se precipite em qualquer conclusão. As ruas estavam vazias exatamente porque havia um presidente amigo de ditadores desfilando com uma primeira-dama vestida de vermelho. As avenidas estavam fantasmagóricas exatamente porque te amamos demais. Os últimos meses foram de enorme provação para todos nós, você sabe. Desafios que nunca imaginamos encontrar. Já há algum tempo, tiranos covardes vêm tentando desvirtuar suas instituições, ignorar suas leis e a vontade do povo, censurar nossas dúvidas e amordaçar nossas ideias. E, você sabe como ninguém, resistimos como pudemos durante quatro anos.

Eu sei que a ausência do povo e o silêncio das ruas te incomodou. Foi muito difícil para nós também. Ainda estamos nos recuperando de imensas injustiças cometidas contra a sua gente. 
Inocentes estão presos, famílias estão quebradas, jornalistas e cidadãos estão sendo perseguidos e silenciados; e um perigoso regime totalitário só visto em páginas de livros de história anda assolando a sua democrática estrutura. Você é grande, às vezes consegue absorver o impacto e seguir, mas nós estamos assustados. Mesmo assim, não pense que nossa conclusão é de que perdemos tempo com tantas manifestações pacíficas para você em quatro anos. Não! Se te disserem isso, não acredite! 
Por você faríamos tudo de novo. Sigo tendo orgulho de você, de quem sou e de onde vim. O meu coração é seu, afinal, foram mais de duas décadas juntos e entrelaçados por tantos céus e estradas, não é mesmo? Você sabe que sempre foi difícil segurar as lágrimas quando tocava o seu hino em algum lugar do globo e eu, orgulhosa, colocava a mão no peito para mostrar o meu mais profundo amor e respeito por você. 

Por favor, não se chateie que nesta data as lágrimas não sejam de alegria. Não fique triste comigo, ainda sinto um orgulho imenso de você. Sua gente, mesmo tendo o espírito esmagado por tantas injustiças, segue lutando bravamente contra quem te usa sem escrúpulos e abusa de suas qualidades e belezas por projetos nefastos de poder. 

Ah… foram tantos anos sorrindo com você. E como demos muitas risadas juntos… Quando olho para as páginas da nossa relação, mesmo quando as lágrimas vinham, por alguma derrota ou decepção, suas cores sempre se destacavam e você me fazia sentir grande, potente! Apesar de todos os anos percorrendo o mundo com você nos ombros e nos uniformes, debaixo de sol e chuva, suas cores nunca deixaram de estar vibrantes. Todos sabiam de onde eu vinha porque suas cores me envolviam e brilhavam! 

Neste 7 de Setembro, essas cores e nossos corações estão desbotados. Perdoe-me a angústia nestas linhas. Peço, de coração aberto, que tente entender minha tristeza e por que não encontrei motivos para celebrações na semana do aniversário de sua Independência. 

(...)

Posso te confessar uma coisa? Naquele dia, não consegui evitar que um longo filme de mais de duas décadas com você e como atleta profissional passasse pela cabeça. Todas aquelas viagens pelo mundo com a sua bandeira talhada em nossos uniformes. Naquele 7 de Setembro, quando ouvia nosso hino ser tocado ou cantarolado em algum ponto da Paulista, era como se eu estivesse em uma viagem boa no tempo quando a melodia era ouvida nos pódios pelo mundo afora. As lembranças do passado se misturavam com as cenas da realidade diante dos meus olhos, e isso me trazia algumas lágrimas aos olhos que, algumas vezes, confesso, tentei esconder. Uma bobagem. O amor faz isso com a gente mesmo. Aquela sensação que senti tantas vezes em mundiais e olimpíadas estava de volta! 

Eu estava em uma grande — na verdade, em uma gigantesca — delegação olímpica pelo Brasil! A maior e mais bonita de todas elas! Era uma multidão feliz! E não havia lixo jogado nas ruas, não havia baderna, não havia vandalismo, não havia brigas e discussões. Havia um grande senso de civilidade e responsabilidade de te fazer feliz. Havia uma paixão profunda por você exarada no rosto das pessoas! As pessoas tinham o mesmo semblante de quando tirávamos da mala nossos uniformes novos com a bandeira do Brasil bordada na manga, como as que os soldados usam em seus uniformes nas guerras. 

(...)

Quem vive na prostituição intelectual resiste à verdade, à verdadeira luz. Neste triste 7 de Setembro, os olhos estão magoados, sim, mas entenda: agora conhecemos você como você merece ser conhecido e amado, e como você, de fato, é. Milhões de brasileiros saíram da caverna e descobriram que as sombras na parede não eram reais, que fomos manipulados e empurrados por tempo demais para que não chegássemos à superfície para apreciar o sol. 

Como escreveu Drummond, um de seus poetas mais fascinantes, também lá das minhas Gerais:

“Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”

Meu amado Brasil, apesar da tristeza, não vamos mais voltar para a escuridão. 

Leia também “As caixas de dona Ruth”

CLIQUE AQUI, MATÉRIA COMPLETA

 

Ana Paula Henkel, colunista  

 

 


 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

MPF aceita notícia-crime contra comandante do Exército

General Júlio César de Arruda é acusado de prevaricação 

 

O Ministério Público Federal (MPF) acatou uma notícia-crime contra o comandante do Exército general Júlio César de Arruda, por suposta prevaricação, informou o jornal Folha de S.Paulo, na terça-feira 17. Ele é acusado de omissão, por não ter desmobilizado o acampamento em frente aos quartéis-generais (QGs) em todo o país.

A denúncia foi protocolada por Luciene Cavalcante (Psol-SP), suplente da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Luciene vai assumir a cadeira neste ano. Luciene alega que houve “falta de empenho” do comandante do Exército em desmobilizar os acampamentos, que teriam servido para abrigar manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o edifício-sede do Supremo Tribunal Federal (STF), no último domingo 8.

 

Leia também:

Na ação, a parlamentar também citou uma “barreira” montada por soldados do Exército para proteger o acampamento na noite dos atos que registraram vandalismo, em Brasília.

“Os depoimentos feitos à Polícia Federal demonstram que o acampamento do Distrito Federal foi estratégico para o ato golpista”, alega Luciene. “Nesse sentido, é urgente investigar os relatos que dão conta da participação, seja por ação seja por omissão, do alto comando do Exército.”

O acesso ao acampamento e o desmonte das instalações só foram possíveis na manhã do dia seguinte aos ataques. A deputada também solicitou ao MPF que, além do comandante do Exército, outros militares também sejam investigados por não promoverem a desocupação dos acampamentos em frente aos QGs.

Redação - Revista Oeste
 

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Bolsonaro, soldados e policiais - O Estado de S. Paulo

Opinião

Jair Bolsonaro é o comandante supremo das Forças Armadas. Deve atuar como tal.

A presença de militares e ex-militares no governo federal é uma característica da administração de Jair Bolsonaro. Desde a redemocratização do País, nunca houve, por exemplo, tantos ministros de Estado com histórico profissional vinculado às Forças Armadas. Logicamente, essa característica do governo Bolsonaro desperta uma natural apreensão, seja pelos possíveis efeitos que essa participação pode provocar na imagem e no comportamento das Forças Armadas, seja porque, em um Estado Democrático de Direito, os militares têm uma função institucional muito clara – bem distante da política. [certíssimo - em um Estado Democrático de Direito, só que no Brasil o 'estado democrático de direito' deixa a impressão de ser flexível, ter lado e muitas vezes medidas tomadas sob a invocação do mesmo, contrariam a Constituição Federal, violam direitos, em que pese nos parecer existir a necessidade do EDD e da CF se complementarem.] 

É preciso, no entanto, destacar outra característica do governo de Jair Bolsonaro em relação aos militares que, sem muitas vezes receber a devida atenção, pode ter efeitos especialmente desastrosos. Trata-se da tentativa constante do presidente Bolsonaro de estabelecer uma relação direta, de natureza político-ideológica, com soldados e policiais, desrespeitando os limites do cargo e as respectivas esferas dessas categorias.

Essa atitude do presidente Bolsonaro pode ser observada, por exemplo, em sua frequente participação em solenidades de formatura de militares ou de policiais. Segundo levantamento do jornal O Globo, de janeiro de 2019 a dezembro de 2020, Bolsonaro participou de 24 formaturas de membros do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e das Polícias Militar, Federal e Rodoviária Federal. Na primeira metade do seu governo, esteve presente em 16 solenidades de formatura das Forças Armadas e em 8 de Polícias.

Não é demais lembrar que a presença do presidente da República numa solenidade das Forças Armadas não tem, por si só, nada de reprovável. Como dispõe a Constituição, o presidente da República é o comandante supremo das Forças Armadas. O que desperta preocupação no comportamento de Jair Bolsonaro são dois pontos: a alta frequência de sua participação nesses eventos – a revelar que não é algo circunstancial, mas tática política, com objetivo e método – e, principalmente, a mensagem que vem transmitindo às novas gerações de formandos de militares e policiais.

Estivesse apenas a exercer o papel de comandante supremo das Forças Armadas, o presidente Bolsonaro certamente aproveitaria esses eventos para recordar os deveres e princípios constitucionais relativos aos militares e às forças de segurança. No entanto, ele tem usado essas solenidades como palanque político-ideológico, difundindo ideias estranhas ao Estado Democrático de Direito.

No mês passado, por exemplo, o presidente Bolsonaro utilizou a cerimônia de formatura de soldados da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro para atacar a imprensa. “Não se esqueçam disso, essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei. Sempre estará contra vocês. Pensem dessa forma para poderem agir”, disse Jair Bolsonaro. [não podemos esquecer que nos discursos costumeiros em formaturas é praxe que o orador expresse elogios aos formandos, seus instrutores e também suas opiniões, incluindo eventuais desabafos;

lamentavelmente, o cerco implacável, realizado por grande parte da imprensa sobre o presidente Bolsonaro - até seus pensamentos seriam, se possível fosse, controlados - o leva a se  expressar com alguma veemência e mesmo aversão.

Temos certeza que a maioria concorda que a postura de grande parte da imprensa, em relação as autoridades policiais, especialmente a nossa valorosa POLÍCIA MILITAR, apresenta certa parcialidade condenatória aos policiais militares.]

A imprecação contra a imprensa parece ter sido retirada de algum discurso de Hugo Chávez. Sua fala não é condizente com o cargo de presidente da República, e menos ainda é adequada a uma formatura de policiais militares ou mesmo de estudantes. É tão fora de prumo o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nas formaturas de militares e de policiais que sua constante presença nesses eventos, mais do que manifestação de prestígio para as respectivas carreiras, vem causando apreensão nas altas patentes. Não é para menos. Conhecem quão árduo é formar as tropas dentro do genuíno espírito militar e quão fácil é contaminar a soldadesca com questões político-ideológicas.

Desde o início, a trajetória política de Jair Bolsonaro foi marcada pela proximidade com policiais e militares de baixa patente. Suas campanhas eleitorais para o Legislativo sempre foram voltadas para essas categorias. Isso, no entanto, não lhe dá o direito de usar o cargo de presidente da República para fazer agremiação política com soldados e policiais. Como gosta de lembrar, Jair Bolsonaro é o comandante supremo das Forças Armadas. [se percebe que os inimigos do Brasil = inimigos do presidente, dedicam uma certa aversão ao dispositivo constitucional que atribui tão elevada honra ao chefe do Poder Executivo. Não entendem que um oficial intermediário do Exército Brasileiro exerça o elevado cargo de Presidente da República Federativa do Brasil e, como consequência, de COMANDANTE SUPREMO DAS FORÇAS ARMADAS.

Tanto que tais pessoas - adeptas do quanto pior, melhor -  já tentaram forçar a realização de um terceiro turno, pediram o impeachment do capitão, tentaram e continuam tentando  desmoralizá-lo, sugeriram que se suicidasse e a popularidade do presidente Bolsonaro só aumenta.]

Bolsonaro,Deve atuar, portanto, como tal. Essa competência constitucional traz graves deveres. Descumpri-los é abrir caminho para o desastre.

 Opinião - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Militares reprovam participação de Bolsonaro em ato antidemocrático - O Estado de S. Paulo

Tânia Monteiro


Oficiais-generais ouvidos pelo 'Estado' dizem que Forças Armadas são instituições permanentes, que servem ao Estado brasileiro, e não ao governo

A presença do presidente Jair Bolsonaro na manifestação em frente ao Quartel General do Exército contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde deste domingo, provocou um "enorme desconforto" na cúpula militar. Ao Estado, oficiais-generais destacaram que não se cansam de repetir que as Forças Armadas são instituições permanentes, que servem ao Estado Brasileiro e não ao governo.

Na avaliação dos generais ouvidos pelo Estado, o protesto que chegou a pedir intervenção militar não poderia ter ocorrido em lugar pior. “Se a manifestação tivesse sido na Esplanada, na Praça dos Três Poderes ou em qualquer outro lugar seria mais do mesmo”, observou um deles. “Mas em frente ao QG, no dia do Exército, tem uma simbologia dupla muito forte. Não foi bom porque as Forças Armadas estão cuidando apenas das suas missões constitucionais, sem interferir em questões políticas.”

Eles observaram que a presença de Bolsonaro em frente ao QG teve outra gravidade simbólica. Pela Constituição, o presidente da República é também o comandante em chefe das Forças Armadas. Mesmo com cuidados para evitar críticas diretas, os generais ressaltaram que o gesto foi uma “provocação”, “desnecessária” e “fora de hora”.

À reportagem, os generais não esconderam o mal-estar. Afinal, Bolsonaro os deixou em “saia justa”. Chefes militares não podem se pronunciar. O Estado ouviu sete oficiais-generais, sendo cinco do Exército, um da Aeronáutica e um da Marinha. Eles lembraram que o País tem uma “verdadeira guerra” a ser vencida e que não é possível gastar energia com alvos diferentes. Houve quem observasse que o presidente enfrenta “resistências”, inclusive do Congresso, mas todos avaliam que a presença dele na manifestação provocou ainda mais a ira dos representantes do Executivo e do Judiciário. [em que pese a proibição de pronunciamentos dos chefes militares, a matéria deixa a impressão de que sete chefes militares resolveram contrariar uma proibição - estranho, muito estranho;

a matéria deixa a impressão de que os sete chefes militares foram contrários à presença do Presidente - mas, o último parágrafo reduz este número para quatro, reduzindo o placar contra a presença do presidente para 4x3, deixando o espaço para  qualquer interpretação equivocada de um dos militares, torne Bolsonaro vencedor por 4 a 3.

Oportuno lembrar, que ontem foi aniversário do Exército Brasileiro  e o presidente Bolsonaro, na condição de comandante supremo das Forças Armadas, foi ao Forte Apache saudar o aniversariante.
Quando chegou no QG a manifestação já estava ocorrendo e o presidente optou por saudar os manifestantes, mas nada disse contra o isolamento social, que fez questão de respeitar.]  

Por conta da presença do presidente na manifestação, houve necessidade de reforço da guarda do QG. Isso acabou passando uma imagem que também foi considerada ruim pelos generais. Os soldados deslocados para a guarda estavam de plantão e tiveram de sair às pressas para o local da manifestação e, de certa maneira, proteger Bolsonaro da multidão.  No momento, os militares da ativa do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, sob a batuta do Ministério da Defesa, tentam focar seus trabalhos no combate à pandemia do novo coronavírus, sem emitir qualquer posicionamento político sobre as polêmicas.

A atitude do presidente, ainda segundo a análise de um dos militares, passa um sinal trocado para a sociedade. As avaliações tiveram uma dose de desabafo por parte dos generais. Eles ressaltaram passam o tempo todo tentando separar o governo do Exército, já que há sempre quem lembre da presença de militares em cargos de ministro no Palácio do Planalto.  Um general contemporizou lembrando que “não é a primeira vez” que acontece uma manifestação em frente a um quartel. Outro emendou que “as manifestações pacíficas e ordeiras são expressões legítimas da democracia”. Um terceiro lembrou que podem pegar as gravações que não vão ver o presidente atacando ninguém, mas falando de liberdade e de emprego. O clima, porém, era de desconforto.

Tânia Monteiro, jornalista - Folha de S. Paulo


sábado, 22 de fevereiro de 2020

Brasil todo vive tensão em relação com a polícia - Video no qual Bolsonaro informa que não possui habilitação para dirigir retroescavadeira

A decisão já repercutiu nas forças policiais de outros estados. A Associação dos Praças do Estado do Amazonas (Apeam) compartilhou a notícia em sua página no Facebook afirmando que os reajustes foram realizados “após diversos protestos”:

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

PROFISSÃO MILITAR - SERVIÇO E SERVIDÃO - General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva

As Forças Armadas são o braço armado da nação, por ela constituídas com a missão de protegê-la interna e externamente. A nação nelas confia, pois crê, piamente, que seus soldados são preparados para guardá-la de eventuais inimigos externos e, algumas vezes, de grupos internos hostis à liberdade, à democracia, à coesão e à paz social. A nação nunca se sentiu ameaçada pelos seus soldados, embora algumas mentes radicais e ideológicas assim tentem convencê-la.

Ora, a carreira das armas se traduz em serviço ao Estado, cumprindo o arcabouço legal que rege a profissão. Porém, acima desse nobre serviço, existe uma intangível servidão do soldado à nação, esta sim detentora primária de sua lealdade, acima de tudo e de todos, aí incluídas pessoas, organizações, partidos e grupos de qualquer natureza.
 
Acima do serviço está a servidão incondicional à nação, servidão que prevalece, inclusive, sobre a obediência às leis quando isso implicar em riscos à sobrevivência da Pátria. Aspecto difícil de explicar, mas fácil de perceber, pois de fato, sempre foi assim. Até quando? Até a sociedade amadurecer e se engrandecer moralmente, obrigando, com toda firmeza, as lideranças política, jurídica e legislativa a governarem pelo bem comum e não pelo delas próprias.

O militar faz um juramento quando ingressa no Exército e eu destaco o trecho que diz: “--- dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria ---". O juramento não tem tempo de duração. Portanto, na reserva ou reformado, o militar continua servindo ao cultuar e propagar os valores que fazem da servidão militar a grandeza da missão do soldado. A ela continuamos vibrantemente algemados, cientes de que o nosso compromisso nunca foi entre nós e pessoas ou entidades de qualquer natureza, mas sim entre nós e a Pátria.


A Verdade Sufocada - Transcrito em 05 janeiro 2020 

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Chuva negra - Merval Pereira

O Globo
A crise ambiental em que o país está metido pode ser letal para o agronegócio, que já entendeu isso

Estamos em Los Angeles em novembro de 2019. A poluição é tão forte que a luz do sol, que quase não aparece durante o dia, é sombria. Antecipando em três meses as previsões de Ridley Scott, o dia virou noite na segunda passada em São Paulo. Tal qual a Los Angeles de “Blade Runner”, ou Tóquio de “Chuva negra”, obras primas do diretor Ridley Scott, a poluição e as queimadas na Amazônia provocaram uma chuva literalmente negra, e não metafórica como no cinema.

A atmosfera ameaçadora de “Blade Runner” anunciava um futuro dominado pela chuva ácida, causada pela presença de gases ricos em enxofre e azoto na atmosfera. A queima de combustíveis fósseis é um agravante. A chuva e a fumaça que dominam a atmosfera do filme ainda não são permanentes nas grandes cidades, mas fenômenos como o que aconteceu em São Paulo são vistos em diversos locais do mundo, como em Pequim, na China, cuja atmosfera volta e meia é dominada pela poluição.

Um hábito chinês, mais pessoas a cada dia usam máscaras nas ruas, assim como em “Chuva negra”, os habitantes de Tóquio andam permanentemente de guarda-chuvas. As queimadas da Amazônia vêm alimentando protestos pelo mundo, e ontem a situação chegou a um ponto crítico quando o presidente francês Emannuel Macron pediu uma reunião dos países mais desenvolvidos do mundo, o G7, para tratar do que chamou uma “calamidade para Humanidade”. A reação imediata do governo brasileiro foi afirmar que a reunião do G7, “sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21”. Está certo, mas, ao sacar a carta do patriotismo, Bolsonaro está estimulando uma teoria da conspiração que alimenta a paranoia de muitos. A de que os “estrangeiros” estão querendo nossas riquezas amazônicas.

Na Ordem do Dia pelo 25 de agosto, Dia do Soldado, o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, afirmou, nessa linha, que incautos insistem em tutelar a Amazônia: “Não se enganem. Os Soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para defender e repelir qualquer tipo de ameaça.” Seria mais produtivo que a reação brasileira fosse menos emocional, e mais científica. Poderiam informar que, para a Nasa, a atividade total de incêndios na Bacia Amazônica neste ano “esteve próxima da média em comparação com os últimos 15 anos”. Os técnicos salientam que, embora nos estados do Amazonas e Rondônia os incêndios tenham aumentado, estão abaixo da média em Mato Grosso e Pará, segundo estimativas do Global Fire Emissions Database.

Se o governo brasileiro não se mostrasse oficialmente tão avesso à proteção ambiental, na retórica muito mais do que na prática até o momento, e tão adversário das ONGs que atuam na Amazônia, a ponto de o presidente Bolsonaro acusá-las de estarem colocando fogo nas florestas de propósito, para prejudicar a imagem do Brasil no exterior e continuar ganhando verbas que foram cortadas, seria mais fácil lidar com esse problema.A situação ambiental é tão delicada e grave que, quando Bolsonaro tentou juntar os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, todos consideraram um escândalo, sinal de que o meio ambiente seria relegado a segundo plano. Hoje, se ele voltar ao tema, anunciando que a ministra Teresa Cristina acumulará as pastas, todos vão achar ótimo. Só tirar o elefante da sala já desanuviaria o ambiente.

A ministra da Agricultura tem se mostrado sensata e cuidadosa no trato da questão ambiental, que passou a ser uma preocupação dos agricultores que dependem da imagem do país no exterior a fim de conquistar mercados para a exportação, ou no mínimo mantê-los. A crise ambiental em que o país está metido pode ser letal para o agronegócio, que já entendeu isso. Bolsonaro disse que, se nossas exportações para a Europa forem prejudicadas pela crise ambiental, a culpa terá sido da imprensa, que fez sensacionalismo sobre suas acusações de participação das ONGs nos incêndios.
Diz-se que elogio em boca própria é vitupério. No caso, vitupério de Bolsonaro é elogio.
 
Merval Pereira, jornalista - Coluna em O Globo
 
 

terça-feira, 29 de maio de 2018

Constituição não prevê intervenção militar após 7 dias e 6 horas de greve

Áudio compartilhado no WhatsApp diz que o artigo 1º da Constituição prevê intervenção em casos como a greve de caminhoneiros. Tudo mentira

A greve dos caminhoneiros, que entrou no oitavo dia nesta segunda-feira, 28, e o desgaste político que a paralisação da categoria causou ao governo do presidente Michel Temer (MDB) alvoroçaram os saudosistas da ditadura militar e os entusiastas de uma “intervenção militar constitucional”. Não são poucos os boatos que têm circulado no WhatsApp e nas redes sociais nos últimos dias afirmando que os militares estão prestes a tomar o poder.

Uma dessas lorotas, compartilhada no aplicativo de mensagens por meio de um áudio, era exata: a intervenção militar teria se dado à meia-noite desta segunda-feira. O emissor da mensagem, que fala como um dos caminhoneiros em greve, diz que esse era o prazo de “sete dias e seis horas”, previsto pela Constituição para que os militares “retirassem à força” o governo.

Veja abaixo a transcrição do áudio:
“Pedro, é o seguinte, na Constituição, no artigo primeiro, fala que são sete dias e seis horas para o Exército poder tomar conta de tudo, tomar a frente, chegar lá com todo seu comboio dos tanques militares, caminhões, soldados, chegar lá na frente do plenário em Brasília e retirar à força o governo. Hoje está no sexto dia. Vai dar sete dias e seis horas na segunda-feira à meia-noite. As tropas já estão mobilizando as carretas, os tanques já estão passando. Passou aqui ontem três carretas e seis tocos com os homens dentro deles. 

Os próprios rodoviários avisou (sic) a gente que o governo já caiu, é só questão de a gente segurar. A gente não pode afrouxar agora. O presidente e a mídia, a mídia comprada, toda essa mídia comprada, eles estão falando que o Rodoanel liberou, não, nada liberou. Eles estão reorganizando a rodovia, porque no estado de São Paulo existe um mandato, um assinado judicial que não pode ficar nenhum veículo parado na faixa de rolamento e acostamento, então eles estão organizando os caminhões. O Exército está em Brasília organizando os caminhões. Tem que aguentar até segunda-feira meia-noite, que é o dia da intervenção militar. Não tem mais boca, o governo perdeu, já era, acabou, só que a gente tem que segurar. É o artigo primeiro da Constituição brasileira, sete dias e seis horas”.

Como todos sabem, a intervenção militar alardeada pela mensagem apocalíptica não aconteceu à meia-noite desta segunda-feira. Comboios das Forças Armadas não estão cercando o “plenário” e o governo do presidente Michel Temer, embora enfraquecido politicamente, não acabou.

Isto posto, cabe ressaltar que nem o artigo 1º da Constituição Federal nem qualquer outro artigo preveem que os militares possam tomar o poder após sete dias e seis horas de greve de alguma categoria. É risível imaginar essa norma escrita na Carta Magna de qualquer país democrático. O primeiro artigo da Constituição promulgada em 1988 diz o seguinte:
"Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."

O artigo 142 da Constituição de 1988, amplamente evocado pelos intervencionistas como base para a tal “intervenção constitucional”, também é claro sobre quem manda nas Forças Armadas:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

[ As Forças Armadas podem intervir? SIM - clique aqui e comprove que uma INTERVENÇÃO MILITAR pode ser CONSTITUCIONAL.]
 
O trecho acima quer dizer que uma iniciativa do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica para garantir a lei e a ordem só pode ocorrer a partir de iniciativa dos “poderes constitucionais”, isto é, Executivo, Legislativo e Judiciário. Quando há problemas na segurança pública, por exemplo, o presidente pode acionar os militares por meio de decretos de Garantia da Lei e da Ordem, as populares GLOs, utilizadas recentemente em crises no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Outra medida possível, como vemos atualmente no Rio, é a intervenção federal — e não “intervenção militar”, embora conduzida por um interventor militar — na segurança pública. Neste caso, a intervenção teve de ser aprovada também pelo Congresso Nacional e impede que os parlamentares aprovem qualquer Proposta de Emenda à Constituição (PEC) durante sua vigência.

Qualquer ação militar em nome da lei e da ordem tomada fora desses parâmetros é, portanto, inconstitucional. Costuma-se chamar de “golpe” qualquer ação das Forças Armadas contra os “poderes constitucionais”, especialmente o Executivo e presidentes democraticamente eleitos.

Como o Me Engana que Eu Posto frequentemente alerta ao leitor, “denúncias” e notícias bombásticas propagadas exclusivamente no WhatsApp, ao largo da imprensa profissional, como é o caso, devem ser vistas com alto grau de desconfiança. Revistas, jornais, rádios e emissoras de TV com jornalistas profissionais têm coberto ostensivamente a greve dos caminhoneiros e são os meios mais indicados para obter informação em meio a tanta desinformação e fake news.

Agora você também pode colaborar com o Me Engana que Eu Posto no combate às notícias mentirosas da internet. Recebeu alguma informação que suspeita – ou tem certeza – ser falsa? Envie para o blog via WhatsApp, no número (11) 9 9967-9374.

Veja

 

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Empulhação

Não adianta chamar o Exército e deixar a lei ao lado dos criminosos

As Forças Armadas, com o Exército à frente, são a organização mais respeitada do Brasil. Dão de 10 a 0 no Supremo Tribunal Federal, no Ministério Público, nos juízes que ganham o “auxílio-moradia”, na mídia e no Congresso Nacional. Ganham de longe de qualquer organização civil ─ sindicatos, empresas estatais ou privadas, confederações disso ou daquilo, clubes de futebol, OABs e similares. É melhor nem falar, então, da Igreja Católica e das CNBBs da vida ─ e muito menos desses lúgubres “movimentos sociais”, entidades de “minorias” e outros parasitas que vivem às custas do Tesouro Nacional. Enfim, as Forças Armadas têm mais prestigio que qualquer outra coisa organizada que exista neste país. Militar não rouba. Militar não falta ao serviço. Militar não é nomeado por político. 

É exatamente por essas razões ─ por ter nome limpo na praça, e valer mais aos olhos do público do que todos os três poderes juntos ─ que o Exército foi chamado para defender um Rio de Janeiro invadido, tomado e governado na prática por um exército de ocupação de criminosos. Mas é só por isso, e por nada mais: o governo chamou os militares, porque esta é a única maneira de tentar mostrar à população que estáfazendo alguma coisa” contra a derrota humilhante que lhe foi imposta pelos bandidos. O Exército não pode derrotar o crime no Rio de Janeiro. Nenhum exército foi feito para isso, em nenhum lugar do mundo. Pode haver algum alívio durante um certo tempo, mas depois a tropa tem de sair ─ e aí o crime volta a mandar, porque é o crime, e não o governo e sua polícia, quem manda no Rio de Janeiro.

O governo Michel Temer, no caso, é culpado por empulhação ─ mas só por empulhação. Pela situação do crime no Brasil, com seus 60.000 assassinatos por ano, recordes de roubos, estupros e violência em massa, e a entrega da segunda maior cidade do país à bandidagem, as responsabilidades vão muito além. A culpa pelo desastre, na verdade, é conjunta ─ o que não quer dizer, de jeito nenhum, que ela é dos cidadãos. Ela é de todos os que têm algum meio concreto de influir na questão e não fazem o seu dever. 

Como é possível enfrentar a sério o crime se temos leis, um sistema Judiciário e agentes do Estado que protegem ativamente os criminosos? Afinal, do jeito em que está a ordem pública no Brasil, eles têm praticamente o direito de cometer crimes. A maior parte da mídia mantém uma postura de hostilidade aberta à polícia ─ nada parece excitar tanto o fervor do noticiário do que as denúncias contra a “violência policial”. Obedece, ao mesmo tempo, a mandamentos de simpatia e compreensão perante os criminosos, sempre tratados apenas como “suspeitos”, vítimas da situação “social” e portadores prioritários de direitos. A maior parte dos 800.000 advogados do país é contra qualquer alteração que torne menos escandalosa a proteção e garantias fornecidas ao crime pelas leis atualmente em vigor. Policiais são assassinados em meio à mais completa indiferença ─ policial bom é policial morto, parecem pensar governo, oposição e quem está no meio dos dois

Os bispos, as ONGs, as entidades de defesa dos direitos humanos, as variadas “anistias” internacionais que andam por aí, as classes intelectuais, procuradores, juízes, políticos e mais uma manada de gente boa são terminantemente contra a repressão ao crime. Punição, segundo eles, “não resolve”. Sua proposta é esperarmos até o Brasil atingir o nível educacional, cultural e social da Noruega ─ aí sim, o problema estará resolvido.

A jornalista Dora Kramer, na sua coluna da última edição de VEJA, escreveu o que está para ser dito há muito tempo e ninguém diz: a cidade do Rio de Janeiro vive, hoje em dia, como se estivesse ocupada por uma tropa de invasão nazista. Nem mais nem menos. Um invasor do país tem de ser combatido com guerra, e não com decretos, criação de “ministérios de segurança” e a intervenção de um Exército que é mandado à frente de combate com as mãos amarradas. Não tem estratégia clara. Não tem missão definida. Não tem a proteção da lei. Não tem o direito de usar suas armas dentro da finalidade para a qual elas foram projetadas e construídas. Não tem meios adequados sequer para proteger os seus próprios soldados ─ muito menos, então, para atacar o inimigo. [uma Constituição Federal com um artigo que só concede direitos, que proíbe tudo a quem tentar qualquer ação de recuperação da lei e da ordem.

Tudo é proibido ao policial, tudo é permitido ao bandido.

Só um exemplo: um policial, no estrito cumprimento do DEVER LEGAL, tenta impedir a ação criminosa de um bandido, que reage atirando contra o policial;
por felicidade, o bandido tomba morto - logo todos, começando pela própria Polícia Civil (especialmente se o policial que não se deixou matar for um policial militar) já começam as investigações considerando o policial sobrevivente um bandido.

Alguém lembra daquela turista que morreu em Santa Teresa quando o condutor do veículo que a transportava tentou "furar" uma barreira policial?

O delegado já começou as investigações pedindo a prisão do oficial PM que comandava a blitz? faltou pouco para o delegado dizer que os policiais militares erraram quando tentaram parar o veículo a tiros; deixasse por conta do delegado ele recomendaria que os policiais deveriam se atirar na frente do veiculo, tomando precauções para não machucar algum dos ocupantes da Van.
Nenhuma autoridade da policia civil ou do ministério público teve a preocupação de perguntar ao condutor da Van quais suas razões para 'furar' uma blitz?]

Enquanto for assim, o Rio continuará entregue aos invasores.

J R Guzzo - VEJA 

 

domingo, 6 de agosto de 2017

Rio de Janeiro: uma cidade sitiada


Atuação do Exército evidencia a falência da polícia no combate ao tráfico

Ocupação militar altera a paisagem e a rotina dos cariocas. A atuação do Exército evidencia a falência da polícia no combate ao tráfico – e os resultados começam a aparecer

 TROPAS Soldados em Copacabana e tanque nos Arcos da Lapa (abaixo): presença assusta população, mas reduz criminalidade (Crédito: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo)
Tanques de guerra não combinam com as belas paisagens do Rio de Janeiro. Elas sempre inspiraram paz, esperança e compaixão. Mas é assim que a cidade maravilhosa vive atualmente: obrigada a conviver com blindados, comboios, tanques de guerra. A caminho das praias, do Cristo Redentor, em avenidas e favelas, por todos os lugares há sinais da ocupação militar que começou em 28 de julho e ficará até 31 de dezembro, pelo menos. É agressivo ver um tanque de guerra no meio do Largo do Machado, um dos lugares preferidos do escritor Machado de Assis (1839-1908), que morou na região. 

Ou dar de cara com militares fortemente armados na Praia Vermelha, sob um céu azul da cor do mar e aos pés do bondinho para o Pão de Açúcar. Não há pesquisa recente sobre a aprovação popular, mas é bem provável que ainda vigore o resultado do levantamento feito na década de 1990, registrado no livro “Controles e Autonomia: as Forças Armadas e o Sistema Político Brasileiro”, de Samuel Alves Soares, no qual 89% dos entrevistados aprovavam ações militares no combate ao crime no Rio de Janeiro.

Na última década, o estado pediu ajuda de forças militares para conter a violência 12 vezes. O moço anônimo que vende pipoca perto do metrô de Botafogo diz ao amigo: “Uma cidade tão linda, né, cara? Por que não dá certo?” Em sua forma simples, ele escancara a paixão e o orgulho dos cidadãos, ricos ou pobres, pela geografia estonteante da capital, e também a decepção.

Inclusive com as várias outras vezes em que acreditaram que a derradeira solução viria, e não veio. O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, parece se dirigir a eles quando diz que dessa vez tudo será feito para “diminuir a criminalidade e dar uma sensação de segurança que não seja passageira, mas real.” Como disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, em palestra: “A princípio, a criminalidade tira férias, mas quando as Forças Armadas vão embora, volta tudo.” Ambos defendem estratégias baseadas em inteligência, e não em ocupação de comunidades, e a médio prazo. [as ações de inteligência são de grande necessidade, mas, só a ocupação demorada das favelas, precedida de cerco e varredura, levando a asfixia dos criminosos e de seus depósitos de armas e drogas - atingindo-os no bolso e depois na própria liberdade ou mesmo os levando ao abate - é que resolverá em definitivo o problema.]
A socióloga Julita Lemgruber tem criticado, reiteradamente, a falência das ocupações. Segundo ela, os 15 meses das forças no complexo de favelas Maré custaram R$ 600 milhões. “Algo mudou? Sim, a desenvoltura de jovens desfilando fortemente armados, hoje, na Maré e no Alemão”, diz. Ela defende que esse dinheiro poderia ser melhor aproveitado em programas sociais, voltados para a juventude pobre desses locais. Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, garantiu que haverá um orçamento extra de “centenas de milhões de reais” em ações sociais, sem detalhar como.

(...)

Selfies com soldados
Thiago Muniz, 30 anos, morador do Leme, trabalha em plataforma petrolífera e estava embarcado quando o Plano Nacional de Segurança Pública para o Rio foi posto em prática. Ao desembarcar, levou um susto. “A situação é muito grave. Mas eu sinto mais medo do que segurança ao ver blindados espalhados pela cidade.” Outros conterrâneos têm feito selfies com soldados, como a modelo e atriz Viviane Araújo. E uma outra parcela parece estar indiferente, anestesiada. Dois jovens surfistas passam por dois soldados igualmente novos, na orla, e os quatro olham, de forma melancólica, para as ‘armas’ mútuas: as imensas pranchas carregadas pelos surfistas e os grandes fuzis nas mãos dos rapazes de botas e verde oliva. Outra cena, postada no Facebook, talvez explique um pouco do clima reinante. Ela foi registrada em Copacabana e descreve o momento em que o motorista de um ônibus grita da janela ao ver três soldados do exército fortemente armados: “Ô, filho da p…!”. Os soldados olham, furiosos, para o autor do xingamento. Tensão em volta. Até que um dos militares se alegra e, soltando o fuzil, acena para o ônibus, respondendo com uma intimidade que só grandes amigos se permitem: “Fala, viado!” Todos riem da situação. E a vida segue no Rio.


Fonte: Revista Isto É