Governo Bolsonaro retarda divulgação de números, tenta omitir total de mortos, mas recua após pressão
Uma
das atitudes elogiáveis do Ministério da Saúde, antes mesmo de o Brasil
registrar o primeiro caso de Covid-19, era a transparência. Em
entrevistas coletivas, o então ministro Luiz Henrique Mandetta orientava
a população sobre como se prevenir de um vírus que já se anunciava
devastador. Com a chegada da pandemia, em fins de fevereiro, os informes
diários do ministério serviam para divulgar números, traçar um panorama
da evolução da doença, fazer projeções sobre o fim da epidemia e
desmistificar fake news que contaminavam as redes.
Porém, desde a saída de Mandetta e de seu sucessor, Nelson Teich, ambos por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, a transparência se tornou artigo tão escasso quanto respiradores. As coletivas foram esvaziadas, o ministério passou a divulgar os números cada vez mais tarde, e a metodologia das estatísticas foi alterada. Desde sexta, omitiu-se o total de mortos e infectados. No domingo, diante da repercussão negativa do fato, a pasta recuou.
O governo alegou que o atraso era para evitar subnotificações e inconsistências. Mas Bolsonaro admitiu que a intenção era impedir que os dados fossem veiculados no “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Alguém precisa avisar ao presidente que manipular números da Covid-19 ou retardar a divulgação, para que não entrem no “JN”, é inútil — até porque eles são informados em edições extraordinárias. A manobra não reduzirá o tamanho da tragédia.
[a personalidade do presidente Bolsonaro, mais uma vez, transforma uma guerra - no mínimo uma batalha - praticamente ganha em um embate com grandes possibilidades de derrota.
A alteração de horário da divulgação dos números do coronavírus, os números dos infectados e dos mortos, para 22h., pode até ter contrariado alguns órgãos de imprensa, mas no geral era correto.
Permitia que os números que começam a chegar dos estados por volta das 17h fossem conferidos, compilados e então divulgados - em uma versão definitiva para aquele dia - havendo tempo até para correções.
Tanto que apesar do descontentamento, dos 'especialistas' em nada - percebam que dia sim, dia não eles, os 'especialistas', profetizam o inicio do pico da pandemia e a única modificação é que adiam sempre a tal data - nenhuma partideco ou algum famoso advogado (ansioso por ser tornar conhecido) recorreram à Justiça. Não havia espaço para intervenção do Poder Judiciário.
Só que agora, o presidente resolveu mudar a forma de apresentação dos dados - nada muda, apenas o MS deixa de ser redator de noticiários, já que as modificações podem ensejar a necessidade do uso de uma calculadora.
Simples, soma e subtração.
Mas, com sua mania de conflito, o presidente Bolsonaro conseguiu abrir espaço para que haja alguma intervenção do Poder Judiciário a pretexto de facilitar o entendimento dos relatórios - nada sério, só que abriu as portas e os inimigos do Brasil, da liberdade e do presidente Bolsonaro, vão aproveitar.
A propósito, as manifestações de ontem, contra o Presidente da República, foram insignificantes.
A maior parte dos que compareceram foi para protestar contra a morte, nos Estados Unidos, do George Floyd.
Excluindo os que tinham tal propósito, restariam alguns gatos pingados.
Serão desmascarados nas próximas - caso tenham coragem de ir as ruas sem pegar carona em protesto por outras razões.]
A questão se torna mais grave diante do anúncio de que o governo iria recontar o número de mortos. O ex-futuro secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Wizard, disse que os dados são “fantasiosos ou manipulados”. E que estados e municípios inflam as estatísticas para receber mais recursos. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) reagiu com indignação, dizendo que o governo “insulta” a memória das vítimas.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou, no sábado, numa rede social, que a “manipulação de dados é manobra de regimes totalitários” e que “o truque não vai isentar a responsabilidade pelo eventual genocídio”. O Brasil está se tornando uma espécie de pária pelo comportamento de seu presidente e pelo desastroso gerenciamento da crise. Ocultar ou manipular dados sobre a Covid é ato de extrema gravidade. Governos precisam desses números para planejar o combate à doença, e a sociedade tem todo o direito de ser informada sobre a pandemia.
Felizmente, as instituições estão funcionando, e tentativas de manipulação não deverão surtir efeito. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o corpo técnico da Casa poderia tabular os números junto às secretarias estaduais de Saúde. O TCU também sinalizou que faria o mesmo. Não há como escapar da realidade. Com mais de 37 mil mortos, e sem ter atingido ainda o pico da epidemia, o Brasil já é o terceiro país com maior número de óbitos, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. A cada minuto, morre um brasileiro vítima do novo coronavírus. Esconder esses números não fará desaparecer o letal Sars-CoV-2.
Porém, desde a saída de Mandetta e de seu sucessor, Nelson Teich, ambos por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, a transparência se tornou artigo tão escasso quanto respiradores. As coletivas foram esvaziadas, o ministério passou a divulgar os números cada vez mais tarde, e a metodologia das estatísticas foi alterada. Desde sexta, omitiu-se o total de mortos e infectados. No domingo, diante da repercussão negativa do fato, a pasta recuou.
O governo alegou que o atraso era para evitar subnotificações e inconsistências. Mas Bolsonaro admitiu que a intenção era impedir que os dados fossem veiculados no “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Alguém precisa avisar ao presidente que manipular números da Covid-19 ou retardar a divulgação, para que não entrem no “JN”, é inútil — até porque eles são informados em edições extraordinárias. A manobra não reduzirá o tamanho da tragédia.
[a personalidade do presidente Bolsonaro, mais uma vez, transforma uma guerra - no mínimo uma batalha - praticamente ganha em um embate com grandes possibilidades de derrota.
A alteração de horário da divulgação dos números do coronavírus, os números dos infectados e dos mortos, para 22h., pode até ter contrariado alguns órgãos de imprensa, mas no geral era correto.
Permitia que os números que começam a chegar dos estados por volta das 17h fossem conferidos, compilados e então divulgados - em uma versão definitiva para aquele dia - havendo tempo até para correções.
Tanto que apesar do descontentamento, dos 'especialistas' em nada - percebam que dia sim, dia não eles, os 'especialistas', profetizam o inicio do pico da pandemia e a única modificação é que adiam sempre a tal data - nenhuma partideco ou algum famoso advogado (ansioso por ser tornar conhecido) recorreram à Justiça. Não havia espaço para intervenção do Poder Judiciário.
Só que agora, o presidente resolveu mudar a forma de apresentação dos dados - nada muda, apenas o MS deixa de ser redator de noticiários, já que as modificações podem ensejar a necessidade do uso de uma calculadora.
Simples, soma e subtração.
Mas, com sua mania de conflito, o presidente Bolsonaro conseguiu abrir espaço para que haja alguma intervenção do Poder Judiciário a pretexto de facilitar o entendimento dos relatórios - nada sério, só que abriu as portas e os inimigos do Brasil, da liberdade e do presidente Bolsonaro, vão aproveitar.
A propósito, as manifestações de ontem, contra o Presidente da República, foram insignificantes.
A maior parte dos que compareceram foi para protestar contra a morte, nos Estados Unidos, do George Floyd.
Excluindo os que tinham tal propósito, restariam alguns gatos pingados.
Serão desmascarados nas próximas - caso tenham coragem de ir as ruas sem pegar carona em protesto por outras razões.]
A questão se torna mais grave diante do anúncio de que o governo iria recontar o número de mortos. O ex-futuro secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Wizard, disse que os dados são “fantasiosos ou manipulados”. E que estados e municípios inflam as estatísticas para receber mais recursos. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) reagiu com indignação, dizendo que o governo “insulta” a memória das vítimas.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou, no sábado, numa rede social, que a “manipulação de dados é manobra de regimes totalitários” e que “o truque não vai isentar a responsabilidade pelo eventual genocídio”. O Brasil está se tornando uma espécie de pária pelo comportamento de seu presidente e pelo desastroso gerenciamento da crise. Ocultar ou manipular dados sobre a Covid é ato de extrema gravidade. Governos precisam desses números para planejar o combate à doença, e a sociedade tem todo o direito de ser informada sobre a pandemia.
Felizmente, as instituições estão funcionando, e tentativas de manipulação não deverão surtir efeito. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o corpo técnico da Casa poderia tabular os números junto às secretarias estaduais de Saúde. O TCU também sinalizou que faria o mesmo. Não há como escapar da realidade. Com mais de 37 mil mortos, e sem ter atingido ainda o pico da epidemia, o Brasil já é o terceiro país com maior número de óbitos, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. A cada minuto, morre um brasileiro vítima do novo coronavírus. Esconder esses números não fará desaparecer o letal Sars-CoV-2.