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domingo, 5 de fevereiro de 2023

Embaixador da União Europeia no Brasil critica Lula por postura com Venezuela, Cuba e Nicarágua

Ignacio Ybanez Rubio, embaixador da União Europeia (UE) no Brasil
Ignacio Ybanez Rubio, embaixador da União Europeia (UE) no Brasil Cristiano Mariz/Agência O Globo

O embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, criticou, indiretamente, neste domingo, a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos regimes autoritários de esquerda em suas últimas viagens internacionais, em janeiro deste ano.

O diplomata usou um artigo publicado pelo colunista do GLOBO e da “Folha de S.Paulo” Demétrio Magnolli no qual analisa o discurso do presidente na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celec).

No artigo deste domingo, publicado na “Folha”, Demétrio aponta a falta de crítica por parte de Lula aos regimes da Venezuela, Cuba e Nicarágua. O colunista afirma que o presidente desperdiçou a “oportunidade de levantar a voz por eleições livres na Venezuela, uma abertura política em Cuba e o fim da selvagem repressão do regime de Ortega na Nicarágua”.

Ybáñez postou o artigo nas redes sociais e destacou o verso “O tempo passou na janela e só Carolina não viu”, de Chico Buarque, citado no artigo de Demétrio Magnolli.

Lula começou o seu governo tentando retomar a presença do Brasil nas agendas e negociações internacionais. Para isso, realizou logo em janeiro as suas primeiras viagens internacionais para a Argentina e Uruguai. Lá, Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernandéz, anunciaram que estão empenhados em avançar nas "discussões sobre uma moeda comum sul-americana".

Mundo - Jornal O Globo

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

O Brasil pode se tornar cada vez menos democrático (e as autoridades têm tudo a ver com isso)

Vozes - Paulo Uebel

O Brasil pode se tornar cada vez menos democrático, e as autoridades que estão tomando medidas drásticas (supostamente) em nome da democracia também podem ser responsáveis por isso
É verdade que invadir os Três Poderes e destruir o patrimônio público brasileiro é errado, e as pessoas que fizeram isso devem ser, sem dúvida, punidas.  
Por outro lado, quebrar o sigilo de pessoas que não são alvo de investigações também é errado. 
Ambas atitudes violam nossa Constituição e enfraquecem a nossa democracia. Censurar pessoas e desrespeitar o equilíbrio entre os Três Poderes também prejudica a democracia.  
Esquemas de corrupção e a impunidade de pessoas envolvidas nesses escândalos abalam a credibilidade das instituições e a própria democracia. E o que dizer então de alianças políticas com ditaduras e o financiamento delas? 
 
Com as autoridades, especialmente do Judiciário, aumentando cada vez mais seus poderes, é (muito) injusto jogar toda a culpa das ameaças à democracia brasileira nas costas de manifestantes que, embora violentos, estão longe do poder. 
Uma eventual escalada do autoritarismo do Judiciário pode, inclusive, incentivar que mais pessoas desprezem a democracia, inflamando ainda mais os descontentes com os rumos da política no país.
Enquanto os governantes, parlamentares e ministros não corrigirem suas atitudes, o Brasil seguirá sofrendo com o aumento da descrença nos processos democráticos e nas instituições públicas.

Além disso, os cidadãos que acompanham as notícias, os comentários e a opinião pública são, muitas vezes, amordaçados com a falácia de que “ou se defende a democracia brasileira ou se critica o Judiciário”. 
Uma crítica ponderada e justa jamais deveria ser qualificada como golpista em uma democracia. 
Personalidades da direita brasileira têm alertado sobre os riscos da escalada do autoritarismo do Judiciário, pelo menos, desde 2019: quando a revista Crusoé publicou a reportagem “O amigo do amigo de meu pai”, no dia 11 de abril, sobre a menção a um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (e então presidente da Corte) na Operação Lava Jato e foi censurada pelo ministro Alexandre de Moraes. O episódio marcou o avanço do Poder Judiciário em um direito fundamental: a liberdade de imprensa e de informação.

Agora, um nome importante da esquerda mundial tem reconhecido, dia após dia, os excessos do Judiciário: o escritor, advogado especialista em Direito Constitucional dos Estados Unidos e jornalista americano radicado no Brasil, Glenn Greenwald. “Existe agora, ou já existiu, uma democracia moderna onde um único juiz exerce o poder que Alexandre de Moraes possui no Brasil? Não consigo pensar em nenhum exemplo sequer próximo”, publicou o jornalista nas redes sociais
Seria razoável pensar que a esquerda brasileira pararia um pouco para pensar no assunto, já que Greenwald se consagrou como um ícone da esquerda moderna na última década. Ledo engano. Após suas críticas ao Judiciário, o jornalista passou a despertar a ira da esquerda e também a ser tratado como um pária por muitas personalidades de seu espectro político.

Mas Glenn não é o único americano a prestar atenção em eventuais excessos do poder judiciário. Em outubro do ano passado, 9 dias antes da votação do 2º turno, um artigo publicado no The New York Times (NYT) noticiava que o Brasil deu poder a um homem sobre o que pode ser dito online: o ministro Alexandre de Moraes. Internacionalmente, Moraes teve seu poder reconhecido. Neste último domingo (22), outro texto sobre o ministro foi publicado no NYT. “Ele é o defensor da democracia no Brasil. Mas será que ele é realmente bom para a democracia?”, questiona o título da reportagem escrita por Jack Nicas, correspondente do NYT no Brasil.

    As autoridades devem dar o primeiro passo: restaurar o uso de processos legais e investir na moralidade, legitimidade, razoabilidade, proporcionalidade e não excessividade de seus atos.

“Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, assumiu o papel de principal defensor da democracia brasileira. Usando uma interpretação ampla dos poderes do Tribunal, Moraes impulsionou investigações e processos, bem como o silenciamento nas redes sociais, de qualquer pessoa considerada por ele uma ameaça às instituições brasileiras”,
reportou Nicas ao veículo americano. Apesar de listar ações de Moraes que teriam sido benéficas para a democracia brasileira, o repórter do NYT também reconhece: “Alexandre de Moraes já ordenou prisões sem julgamento por ameaças postadas em redes sociais; liderou o voto que sentenciou um deputado federal a quase nove anos de prisão por ameaçar o Tribunal; ordenou busca e apreensão contra empresários com poucas evidências de irregularidades; suspendeu um governador eleito de seu cargo; e bloqueou monocraticamente dezenas de contas e milhares de publicações nas redes sociais, praticamente sem transparência ou espaço para recurso.”

Nicas também revela que alguns ministros do Supremo Tribunal Federal começaram a conversar, privadamente, sobre pôr fim aos inquéritos de Moraes, mas que foram desencorajados após os ataques aos Três Poderes do dia 8 de janeiro. De fato, os ataques ao Palácio do Planalto, Supremo Tribunal, Câmara dos Deputados e Senado foram inaceitáveis — mas também não podem servir como pretexto para a escalada de autoritarismo. Ora, um abuso não justifica outros abusos. Por sua vez, o jornal americano The Wall Street Journal (WSJ) afirmou que a “Suprema Corte do Brasil é ameaça ainda maior à democracia que os atos de 8 de janeiro”, em texto de Mary O'Grady, editora do WSJ e membro de seu conselho editorial desde 2005, também no último domingo (22).

Cabe relembrar que a escalada de autoritarismo do Judiciário começou para proteger um ministro citado na Lava Jato em 2019. De lá para cá, o Judiciário mudou um pouco o rumo de seus alvos, mas isso foi muito antes de 8 de janeiro. O Judiciário, embora se qualifique como defensor da democracia, também tem sua parcela de responsabilidade sobre a descrença na democracia de muitos brasileiros. “Uma fonte de descrença com a democracia é a excessiva interferência das cortes. Do que adianta o sujeito votar, se esforçar para eleger pessoas que representam suas ideias se quando o eleito tenta implantá-las as cortes derrubam tudo? Os representantes do povo podem votar a favor de reforma trabalhista, de menos impostos de importação ou da privatização do ginásio do Ibirapuera, mas na hora ‘H’ a vontade que prevalece é a de não-eleitos de toga. Desse jeito é difícil convencer o povo a se entusiasmar com a democracia”, escreveu, em suas redes sociais, o jornalista e escritor best-seller Leandro Narloch.

Em abril de 2020, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então recém-liberto da prisão, criticou a decisão de Alexandre de Moraes de barrar a nomeação feita pelo então presidente Jair Bolsonaro de Alexandre Ramagem para a chefia da Polícia Federal (PF). Provavelmente preocupado com o futuro de seus poderes caso sua empreitada de voltar ao Palácio do Planalto desse certo, Lula defendeu o respeito às funções do presidente da República, dizendo que cabia a ele fazer a indicação para a PF, e que Moraes só poderia barrar a indicação caso fosse comprovado que Ramagem tivesse cometido algum ilícito que o impedisse de ocupar o cargo.

    Para proteger a democracia, não se pode tomar ações severas sem respaldo legal. O autoritarismo também não é a solução.

Antes mesmo de ser eleito, mais uma vez, Lula percebeu o perigo do Judiciário interferir nas decisões dos poderes Executivo e Legislativo. Seus apoiadores, pelo contrário, se tornaram fãs das ações que beiram o autoritarismo do Supremo
É certo que não era conveniente para Lula fazer alarde contínuo sobre isso naquela época, já que seu adversário Bolsonaro já estava (e ainda está) sob a mira do Judiciário. Lula, na verdade, foi beneficiado (a começar, é claro, por sua soltura). 
Em 2022, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) atendeu 60 pedidos do PT para remover da internet e da propaganda eleitoral conteúdos que ligassem Lula a temas incômodos, como ao crime organizado ou à corrupção, do início da corrida eleitoral até o dia 20 de outubro. Mas, e quando Lula for o alvo de eventuais interferências indevidas?

O professor de Ciência Política e coordenador do curso de Relações Internacionais do IBMEC, Adriano Gianturco, resumiu bem a situação política do Brasil: “Pedir golpe é antidemocrático. Destruir o Estado de Direito é antidemocrático. Desrespeitar o devido processo legal é antidemocrático. Mesma pessoa ser vítima, investigador e julgador é antidemocrático. Alianças políticas com ditaduras são antidemocráticas. Não permitir acesso aos atos é antidemocrático. Quebrar sigilo de pessoas não investigadas é antidemocrático. Censura é antidemocrática. Censura enviesada é antidemocrática.”

Gianturco continua: “Cercear o direito de ir e vir é antidemocrático. Financiar ditaduras é antidemocrático. Abuso de poder é antidemocrático. Penas desproporcionais são antidemocráticas. Atos inconstitucionais, ilegais e ilícitos são antidemocráticos. Calar a mídia é antidemocrático. Comprar a mídia é antidemocrático. Comprar o Congresso é antidemocrático. Asfixiar economicamente um investigado é antidemocrático. Aniquilar a oposição é antidemocrático. Desrespeitar imunidades é antidemocrático. Desrespeitar a divisão de poderes é antidemocrático. Desrespeitar o equilíbrio de poderes é antidemocrático. Bloquear estradas é antidemocrático. Ameaçar e amedrontar todo o mundo é antidemocrático”.

    Nenhuma defesa da democracia funcionará de verdade enquanto os brasileiros não voltarem a confiar nas instituições.

Lula também já foi e pode voltar a ser uma ameaça à democracia.     Há anos, seu partido nutre o desejo de regular a mídia e assim restringir a voz de seus adversários e críticos.  
Ele também capturou o Congresso por meio do Mensalão, e anos depois, viu seu partido envolvido no esquema de corrupção do Petrolão. 
Também usou o dinheiro dos pagadores de impostos para financiar ditaduras de esquerda. Mas o risco que ele representa não se resume às ações do passado. O governo Lula III estuda criar um “código penal próprio” para “crimes contra a democracia”. Isso não seria antidemocrático?

Porém, que moral o atual governo possui para defender a democracia? Para se ter ideia, o site oficial do governo chama de “golpe de 2016” o impeachment de Dilma Rousseff, o que é em si uma agressão contra a democracia, já que o impeachment foi um processo legal, democrático, constitucional e, portanto, legítimo. Chamar o impeachment de golpe é fake news e faz uma crítica injusta contra os poderes Legislativo e Judiciário. Quanto a isso, o Congresso nada fez. Também não fez nada contra os excessos do Judiciário. Assim, os parlamentares tomam sua parcela de culpa pelo enfraquecimento da democracia em razão da sua inércia.

O Brasil não pode deixar sua democracia, que já é falha, se tornar cada vez mais enfraquecida
É fácil culpar os manifestantes barulhentos e destruidores do patrimônio público de golpistas, mas não se pode isentar as autoridades de sua parcela de culpa por ações e omissões que enfraquecem a nossa democracia. 
O exemplo vem de cima. Enquanto os governantes, parlamentares e ministros não corrigirem suas atitudes, o Brasil seguirá sofrendo com o aumento da descrença nos processos democráticos e nas instituições públicas.

Para proteger a democracia, não se pode tomar ações severas sem respaldo legal. O autoritarismo também não é a solução. Nenhuma defesa da democracia funcionará de verdade enquanto os brasileiros não voltarem a confiar nas instituições. E, para isso, as autoridades devem dar o primeiro passo: restaurar o uso de processos legais, dentro dos limites do Estado de Direito, e investir na moralidade, legitimidade, razoabilidade, proporcionalidade e não excessividade de seus atos.  
As autoridades precisam ser o exemplo do que querem ver no Brasil.

Paulo Uebel, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

sábado, 30 de julho de 2022

Prendam esses números - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Para “salvar o Brasil da direita”, estão trocando a disputa política por fanatismo, histeria e rancor

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Tudo isso é falso. Chamem a polícia, então, para prender os algarismos que atestam a falsidade — ou, quem sabe, o ministro Moraes, para proibir a sua divulgação nas redes sociais, por ameaçarem a “democracia”. Também se poderia entregar o caso às “agências de checagem”, para declarar que todos esses números, além de ilegais, são “fake news inventadas pela direita.

Até outro dia, os jornalistas davam como certo que a inflação estava “fora de controle”. Quando escreviam isso, com a certeza de quem anuncia um fato científico, estava acontecendo justamente o oposto no mundo das coisas reais

 Que tal começar pela inflação? O último boletim do Banco Central, que hoje é independente do governo, informa que a inflação vai fechar 2022, de ponta a ponta, em 7,3% — são os cálculos do IPCA, ou Índice dos Preços ao Consumidor. É isso mesmo: são 7,3%, no ano inteiro. Este é um dos números mais ilegais e mais odiados de todos.

Edição 123

                   Ele desmancha, sozinho, a sentença de morte sem apelação que o “consórcio de órgãos de imprensa” e os seus analistas de mesa-redonda já tinham passado para a economia brasileira. Até outro dia, os jornalistas davam como certo que a inflação estava “fora de controle”. Quando escreviam isso, com a certeza de quem anuncia um fato científico, estava acontecendo justamente o oposto no mundo das coisas reais. A inflação, naquele preciso momento, não apenas estava sob controle; estava caindo.  

A se confirmarem as estimativas do Banco Central, que não costuma errar nesses casos, o Brasil terá, na verdade, uma das menores taxas de inflação do mundo.                                                                              Vale a pena, aí, pensar um ou dois minutos nesses 7,3%.          Isso é menos do que a inflação prevista para este ano nos Estados Unidos, que está rolando na beira dos 8,5% para os últimos 12 meses, e pode subir ainda mais; é a pior dos últimos 40 anos. Muito bem.           A pergunta a fazer, no caso, é a seguinte: você se lembra, alguma vez na sua vida, de ter visto a inflação no Brasil ser menor que a dos Estados Unidos? Está acontecendo agora; como, então, a economia brasileira poderia estar “destruída”? 

O Brasil não baixou nenhum decreto de “tabelamento de preços”; em vez disso, fez o preço da gasolina baixar. Esse é o tipo de coisa que deixa a esquerda nacional à beira de um colapso de nervos

A inflação é um índice geral; no universo das coisas mais específicas e mais próximas ao bolso das pessoas há um outro número antidemocrático, e da pior espécie. 
 Os preços dos combustíveis, pagos pelo consumidor na bomba do posto de gasolina, acabam de cair pela quarta vez seguida. 
É um desastre, para o Brasil que combate o “fascismo”. 
Anunciava-se, nesse meio, que a explosão mundial nos preços do petróleo ia mandar o Brasil e o governo Bolsonaro para o espaço; 
para o condomínio que luta em favor da democracia, do STF e da perfeição das urnas eletrônicas, por sinal, o preço do combustível subia só no Brasil, e só por culpa direta do presidente da República. E agora? 
 
Agora eles querem declarar que a redução de preços é um atentado à democracia e que o governo deve ser punido pela solução que deu para o problema. 
 O Brasil não baixou nenhum decreto de “tabelamento de preços”; em vez disso, fez o preço da gasolina baixar. Esse é o tipo de coisa que deixa a esquerda nacional à beira de um colapso de nervos. 
Sua religião econômica é a da Argentina, onde o governo mete tabela em tudo o que lhe passa pela frente, e não faz baixar o preço de nada. 
No momento, aliás, estão “reforçando o controle oficial de preços” nos supermercados — e a inflação está indo para os 65% ao ano. Como “o Bolsonaro”, que faz o contrário do que fazem os argentinos e do que manda o manual econômico do Brasil “civilizado”, pode baixar o preço dos combustíveis sem fazer tabelamento e, além disso, segura a inflação anual nos 7,3%?

Segundo a oposição, os banqueiros de esquerda e a cantora que sapateia em cima da bandeira nacional, a queda de preços dos combustíveis, mais toda a melhoria nos programas sociais que também foi aprovada no Congresso —, é coisa do mal

Isso não poderia estar acontecendomas, como é exatamente isso o que acontece, a saída da oposição é pedir ao TSE, o braço do STF que controla as eleições brasileiras, a cassação da candidatura de Jair Bolsonaro para presidente da República
A queda de preços, para a mídia, os intelectuais e o resto do “campo progressista”, foi consequência direta da “demagogia eleitoreira” do presidente; não se pode fazer uma coisa dessas. Por que não pode?    O preço dos combustíveis caiu porque o Congresso Nacional, a pedido do governo e com votação quase unânime, aprovou uma redução importante nos impostos estaduais sobre gasolina, álcool e diesel. É lei; - o STF e os governadores querem melar, mas é lei.  
 
Além do mais, como o governo federal poderia ser punido por praticar a sua obrigação de governar o país? 
Quer dizer que em ano eleitoral, então, o governo tem de ficar trancado em casa, sem fazer nada? 
Não interessa. Segundo a oposição, os banqueiros de esquerda e a cantora que sapateia em cima da bandeira nacional, a queda de preços dos combustíveis, mais toda a melhoria nos programas sociais — que também foi aprovada no Congresso —, é coisa do mal.  
Vai ser usada, como as eleições, para a “direita” continuar no governo e, em seguida, “implantar um regime autoritário” no Brasil. Não faz nexo nenhum. Mas é o que estão dizendo todos os dias. 
Há também o PIB, esse bendito PIB que ninguém sabe como é calculado, mas que é uma tragédia quando está baixo, e uma trapaça que só beneficia os ricos quando está crescendo — ou, então, é uma bobagem sem importância nenhuma para “o povo”. É o caso do Brasil de hoje. No final de 2021, era uma certeza para o FMI, os analistas dos bancos nacionais ou estrangeiros e o noticiário econômico em geral que em 2022 o Brasil estaria em recessão. Não só não iria crescer nada; 
- a economia ia andar para trás, como no segundo governo de Dilma Rousseff, que gerou a maior recessão econômica que o Brasil já teve em sua história. 
 
Vem aí, então, mais um número ilegal: o PIB brasileiro, pelos cálculos agora de julho, vai subir 2% este ano. Como assim? 
É precisamente o inverso do que todos juravam que ia acontecer; o ministro Paulo Guedes, a propósito, disse que os economistas, e analistas do “mercado”, e especialistas etc. etc. etc. iriam passar o ano inteiro revendo para cima as suas previsões. 
Estão fazendo isso, mas acham que o PIB positivo não adianta nada; já o PIB negativo, como a saúva, ia acabar com o Brasil
Para a mídia, em especial, a solução é banir esse número para um estado de semiclandestinidade, o mais longe que for possível das manchetes e dos destaques do horário nobre. 
 
Na verdade, o Brasil é um caso raro de saúde razoável num mundo de economia doente
Nesta semana, o FMI anunciou que as perspectivas de crescimento global “estão inclinadas esmagadoramente para o lado negativo” e que, se as previsões se concretizarem, a economia mundial poderá enfrentar uma das piores recessões em meio século. 
Entre as exceções estão o Brasil e o México. 
O aumento da inflação global e uma desaceleração nos Estados Unidos e na China levaram o FMI a diminuir suas projeções. “O panorama ficou consideravelmente sombrio desde abril”, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas. “As três maiores economias do mundo, os Estados Unidos, a China e a zona do euro, estão empatando nessa estagnação com grandes conseqüências para o panorama global”, estimou ele. 
 
Além do Brasil e do México, a Rússia também apresenta índices econômicos positivos em razão dos preços mais altos do petróleo devido às sanções ocidentais. 
Para a América Latina e o Caribe como um todo, o FMI elevou suas perspectivas de crescimento para este ano para 3%, uma revisão para cima de 0,5 ponto percentual “como resultado de uma recuperação mais forte nas grandes economias”: Brasil, México, Colômbia e Chile.
 
Os índices de desemprego são outra frustração de primeira grandeza. A última cifra é de 9,8%, a menor dos últimos seis anos — ou seja, menor do que era quando começou a pandemia, ou no final do governo Dilma. Neste ano, só de janeiro a abril, foram criados mais de 1 milhão de empregos com carteira assinada;  
em maio, o total de brasileiros com emprego formal estava próximo aos 42 milhões, um recorde na história do cadastro do Ministério do Trabalho, iniciado dez anos atrás. Só no mês de junho, o número disponível mais recente, foram criados 300 mil novos empregos. 
No total, com covid e tudo, o atual governo tem um saldo positivo acima de 2 milhões de vagas.  
 
Se há mais gente empregada agora do que havia antes do governo assumir, e se o STF, os governadores e os prefeitos mantiveram a economia fechada durante dois anos inteiros, o que aconteceu com o “extermínio do trabalho” anunciado com tanta paixão pelos comunicadores, influenciadores e funcionários dos “grandes veículos” de comunicação? É a mesma decepção com o comércio exterior. 
Nos últimos 12 meses o Brasil exportou quase US$ 310 bilhões, e teve um saldo próximo aos 60 bilhões na sua balança comercial; a produção agrícola, em especial, vai bater um novo recorde em 2022. 
Também aí está tudo errado. Segundo garante a nossa melhor elite financeira, o Brasil está “isolado” no mundo: países estrangeiros, bancos internacionais, altas multinacionais e fundos de investimento conduzem um boicote pesadíssimo contra a economia brasileira, para punir o presidente e seu governo pela agressão ao “clima” do planeta em geral, e os incêndios na Floresta Amazônica em particular
É outro mistério. O Brasil é o único país do mundo e da história que está sofrendo um boicote internacional e, assim mesmo, vende cada vez mais os seus produtos no exterior.     
 
O país “destruído” pelo governo atual é uma mentira; pior que isso, é uma bobagem, ou um certificado de estupidez para a frente “equilibrada” que acha uma boa ideia colocar na presidência do seu país um político que passou 20 meses no xadrez, condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove juízes diferentes. 
Para “salvar o Brasil da direita”, estão trocando a disputa política por fanatismo, pela histeria e pelo rancor; 
não respondem mais à razão, e sim aos seus tumultuados desacertos psicológicos. 
 O resultado é que estão em pleno negacionismo dos números.

Leia também “Um tribunal que joga para Lula”

J. R. Guzzo,  colunista - Revista Oeste

 

terça-feira, 1 de junho de 2021

Mais circo que pão - Merval Pereira

O Globo

Aglomerações - Trazer a Copa América para o Brasil, uma jogada política diabólica de Bolsonaro

Aparentemente, não foi preciso subornar ninguém para trazer a Copa América para o Brasil, depois que países vizinhos, todos envolvidos em crises sanitárias e políticas, ficaram inviabilizados como sede de um torneio de futebol que pode não ter importância maior, mas que, na hora do vamos ver, fará com que os torcedores esqueçam a irresponsabilidade que é organizá-la num país às vésperas de uma terceira onda da Covid-19, com 463 mil mortes nas costas e 14 milhões de desempregados.
 
[para não perder o hábito, intercalamos alguns comentários - mas o desmonte total incluindo  informações importantes e que devem ser divulgadas, pode, e até deve, ser lido no artigo A hipocrisia sobre a Copa América no Brasil, publicado no Alerta Total, Jorge Serrão, link ao  final.]

Uma jogada diabólica de Bolsonaro, em sentido político, mas também quase literal, dado o perigo de disseminação do vírus. A camisa verde e amarela da seleção brasileira, apropriada indevidamente pelos bolsonaristas, estará espalhada pelo país, dando a ilusão de que os adeptos do presidente são mais numerosos do que na realidade. Desde a Roma Antiga, pão e circo são fatores políticos fundamentais, aqui no Brasil temos hoje mais circo do que pão na mesa do cidadão comum, com a inflação e o desemprego em alta.
[a cada dia que passa e a certeza da reeleição do presidente Bolsonaro - apesar de pesquisas fajutas,  tentarem mostrar o contrário (saibam mais, lendo: Por que as pesquisas erram tanto, publicação da  Revista Oeste) o desespero dos inimigos  do Brasil e dos brasileiros aumenta e vale acusar Bolsonaro de tudo. Até praticar o suicídio já foi sugerido ao presidente. 
Por falar em  sugestões estúpidas e descabidas, os que não aceitam o capitão reeleito em 2022, poderiam começar a acusá-lo de ter se auto esfaqueado.

O Brasil ganhou [ganhou? ou comprou? neste caso utilizando uma fração dos milhões e milhões roubados pelo governo do criminoso condenado e que agora virou ídolo dos inimigos do Brasil]  o direito de sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 sete anos antes, no governo Lula, e teve um longo e tortuoso caminho até o momento decisivo. Dilma, que fora eleita com tranquilidade em 2010, chegou à Copa já capengando graças aos escândalos de corrupção que voltavam a atingir o PT com o petrolão e a Operação Lava-Jato. A vaia que a presidente petista recebeu na abertura da Copa do Mundo, a crise econômica e os desvios de dinheiro público nas obras de construções de estádios pelo Brasil afora — hoje, muitos elefantes brancos sem utilidade prática que poderão ser aproveitados agora na Copa América — levou-a fragilizada à campanha presidencial, vencida por uma vantagem mínima que já previa o desastre que encerraria prematuramente seu segundo mandato.
 
Perderam o rumo de tal forma que apesar da defesa cega feita ao isolamento e distanciamento sociais - como soluções para o fim da pandemia - já apontam que se na final for proibida a presença de público no Maracanã, o objetivo será evitar vaias ao presidente Bolsonaro.]
. [qualquer que seja o número de mortes, é e sempre será para motivos de lamentações; 
só que pior, muito pior,  é veicular como certeza o que está sendo cogitado e desejado pelos (inimigos do Brasil e dos brasileiros = adeptos do 'quanto pior,melhor'+ inimigos do presidente Bolsonaro + arautos do pessimismo + traidores da Pátria + cultores das desgraças) de, ou seja, uma terceira onda = graças a DEUS, enquanto os arautos do pessimismo expelem seus augúrios negativos, os números caem.]


Bolsonaro, como na campanha em que não precisou participar dos debates devido ao atentado que sofreu, não passará pelo teste de popularidade do Maracanã devido à pandemia. Duvido que seja autorizada a presença do público na final. Aglomeração, seja de esquerda ou de direita, não pode ser considerada uma atitude correta, por melhores que sejam os objetivos. O direito à vida deve superar as disputas políticas. Não compro a ideia de que “ir ao espaço público sempre comporta riscos, mas deixar as ruas — grande motor das transformações sociais ao longo da nossa História — como monopólio da extrema-direita, de viés neofascista, é risco maior”, como me mandou dizer numa mensagem o vereador Chico Alencar, criticando minha coluna de domingo, em que lamentava as manifestações da esquerda, por considerar que tiravam da oposição o peso moral de condenar as atitudes do presidente Bolsonaro e de seus seguidores na pandemia. Pelo jeito, Lula também concorda. Segundo Bela Megale, ele não compareceu às manifestações para preservar sua capacidade de criticar as aglomerações bolsonaristas.

Com relação ao futebol, as infecções de jogadores pela Covid-19 falam por si contra a normalização dos jogos, mesmo com protocolos de segurança rígidos e sem a presença de público. Copa América no Brasil, a esta altura do campeonato ( perdão pelo trocadilho), é uma maluquice total, um absurdo que confirma o descaso do governo Bolsonaro com a pandemia.

O Brasil está na iminência de uma terceira onda, [será que teremos  uma terceira onda? se houver, Bolsonaro será o acusado;  caso não haja o herói será
relator Calheiros, pelo discurso em cangacês castiço  proferido pelo no picadeiro da Covidão, ameaçando levar o coronavírus ao Tribunal de Nuremberg.]  quando começar a Copa América devemos estar com cerca de 500 mil mortos. É um desrespeito completo marcar um evento esportivo desse tamanho no Brasil agora, neste momento. O Japão está com dificuldade de confirmar as Olimpíadas em julho, e nós agora vamos fazer um evento dessa magnitude no Brasil... É mais uma tentativa de fingir que está tudo bem entre nós. Foi uma decisão claramente política, que a CBF ajudou a montar.

Um populismo irresponsável, quase suicida. Não há nenhum sentido, o Brasil é atualmente um pária mundial. Os brasileiros estão impedidos de viajar ao exterior, porque somos considerados uma fonte de grande disseminação do coronavírus, e vamos trazer gente de fora para fazer uma grande manifestação esportiva. Com direito a espalhar novas cepas. Acredito até que algumas seleções não venham porque a imagem sanitária do Brasil não favorece a realização de nada internacional por aqui.

NÃO DEIXE DE LER:  A hipocrisia sobre a Copa América no Brasil,

Merval Pereira, colunista - O Globo


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Quem se cala... - William Waack

O Estado de S. Paulo

Profissionais não podem reclamar quando permitem que amadores mandem na política externa

O Brasil não é participante relevante de nenhum agudo conflito internacional, seja ele de fronteiras, geopolítico, étnico, religioso ou comercial (estamos ensaiando um na questão ambiental). Por um lado, não deixa de ser uma bênção: nenhuma família brasileira vai dormir preocupada se um integrante seu estará na linha de fogo de algum confronto internacional – a não ser que se considerem como “internacional” as balas perdidas em comunidades controladas pelo narcotráfico e milícias. [consideração que ocorrendo tem procedência; aos que não sabem, no Brasil tem algumas áreas de favelas do Rio em que a polícia só pode entrar, para ações de combate ao crime,  com ampla e prévia justificativa.]

Por outro, é uma espécie de “maldição”. A nossa distância dos grandes conflitos ajuda a entender o estado de “anestesia” pelo qual a sociedade brasileira contempla confrontos internacionais. É uma espécie de mentalidade de “isolamento esplêndido”, dado nosso tamanho e posição geográfica, que nos tira o senso de urgência ou de “ameaça” de problemas vindos de fora. Política externa é um assunto para especialistas, e de escasso apelo ao grande público e só em circunstâncias excepcionais – não é parte relevante de campanhas eleitorais.

Foi preciso que no caso da vitória de Joe Biden a política externa brasileira, entregue por Jair Bolsonaro a uma desastrosa mescla de diletantes amadores e profissionais ideologizados, produzisse uma incomparável vergonha internacional para que o Senado humilhasse o Itamaraty e declarasse que o rei está nu. E que assim pelado fosse “para o inferno”, conforme as palavras do senador Major Olímpio dirigidas ao chanceler Ernesto Araujo. [de há muito somos contra Ernesto Araújo no comando do Itamaraty, só que ele continua lá, Realmente esperamos que não por influência de um senador e sim por decisão do presidente da República, Temer assuma o comando do MRE.]

A mistura de soberba com ignorância dos que formularam as posturas externas no governo Bolsonaro não permitiria mesmo prever nada diferente dos atuais resultados, mas o problema é mais grave. Integram os círculos palacianos militares com passagens por excelentes instituições de ensino (como as academias e escolas de Estado Maior), com formação profissional em relações internacionais, segurança e estratégia, e com experiência pessoal direta em confrontos lá fora, inclusive militares (como as missões de paz em vários países).

Sabe-se por relatos e conversas pessoais que esses profissionais desprezam o amadorismo e a estupidez dos conselhos dados ao presidente pelas figuras nas quais confia em matéria de assuntos internacionais, à testa delas um de seus filhos. Lamentam abertamente os disparates do ministro das Relações Exteriores, tido nesses círculos como figura patética, e o fato de que energias políticas preciosas são gastas apenas para minimizar danos (como no caso da política comercial com a China).

Nesse caso os militares são vítimas da própria formação e do respeito à hierarquia. Não há nada mais difícil para um fardado do que rebelar-se contra um chefe, mesmo achando que está produzindo besteiras (como é o caso atual). Ocorre que é tênue e, para quem está envolvido nas decisões, difícil de ser identificada a linha que separa “lealdade” e “cumprimento da missão” da cumplicidade com a irresponsabilidade com que são tratados os interesses da Nação.

Os danos causados ao País pela política externa de Bolsonaro são graves em várias áreas e as consequências de isolamento, de ser “pária” internacional (do qual, espantosamente, se orgulha o chefe do Itamaraty) estão apenas no início – e isto não se refere apenas à derrota de Trump. Se é que admitem que a reputação das instituições às quais pertencem também estão sendo arranhadas, esses oficiais ou ex-oficiais nos círculos de decisões relevantes preferem permanecer quietos. Mais um caso na longa galeria de militares profissionais que, ao se calarem, consentem. 

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 8 de junho de 2020

É grave a decisão de ocultar dados sobre a Covid-19 - Editorial - O Globo

Governo Bolsonaro retarda divulgação de números, tenta omitir total de mortos, mas recua após pressão

Uma das atitudes elogiáveis do Ministério da Saúde, antes mesmo de o Brasil registrar o primeiro caso de Covid-19, era a transparência. Em entrevistas coletivas, o então ministro Luiz Henrique Mandetta orientava a população sobre como se prevenir de um vírus que já se anunciava devastador. Com a chegada da pandemia, em fins de fevereiro, os informes diários do ministério serviam para divulgar números, traçar um panorama da evolução da doença, fazer projeções sobre o fim da epidemia e desmistificar fake news que contaminavam as redes.

Porém, desde a saída de Mandetta e de seu sucessor, Nelson Teich, ambos por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, a transparência se tornou artigo tão escasso quanto respiradores. As coletivas foram esvaziadas, o ministério passou a divulgar os números cada vez mais tarde, e a metodologia das estatísticas foi alterada. Desde sexta, omitiu-se o total de mortos e infectados. No domingo, diante da repercussão negativa do fato, a pasta recuou.

O governo alegou que o atraso era para evitar subnotificações e inconsistências. Mas Bolsonaro admitiu que a intenção era impedir que os dados fossem veiculados no “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Alguém precisa avisar ao presidente que manipular números da Covid-19 ou retardar a divulgação, para que não entrem no “JN”, é inútil — até porque eles são informados em edições extraordinárias. A manobra não reduzirá o tamanho da tragédia.


[a personalidade do presidente Bolsonaro,  mais uma vez, transforma uma guerra - no mínimo uma batalha - praticamente ganha em um embate com grandes possibilidades de derrota.
A alteração de horário da divulgação dos números do coronavírus, os números dos infectados e dos mortos, para 22h., pode até ter contrariado alguns órgãos de imprensa, mas no geral era correto. 

Permitia que os números que começam a chegar dos estados por volta das 17h fossem conferidos, compilados e então divulgados - em uma versão definitiva para aquele dia - havendo tempo até para correções.
Tanto que apesar do descontentamento, dos 'especialistas' em nada - percebam que dia sim, dia não eles, os 'especialistas',  profetizam o inicio do pico da pandemia e a única modificação é que adiam sempre a tal data - nenhuma partideco ou algum famoso advogado (ansioso por ser tornar conhecido) recorreram à Justiça. Não havia espaço para intervenção do Poder Judiciário.

Só que agora, o presidente resolveu mudar a forma de apresentação dos dados - nada muda, apenas o MS deixa de ser redator de noticiários, já que as modificações podem ensejar a necessidade do uso de uma calculadora.
Simples, soma e subtração.
Mas, com sua mania de conflito, o presidente Bolsonaro conseguiu abrir espaço para que haja alguma intervenção do Poder Judiciário a pretexto de facilitar o entendimento dos relatórios - nada sério, só que abriu as portas e os inimigos do Brasil, da liberdade e do presidente Bolsonaro, vão aproveitar.

A propósito, as manifestações de ontem, contra o Presidente da República, foram insignificantes. 
A maior parte dos que compareceram foi para protestar contra a morte, nos Estados Unidos, do George Floyd.
Excluindo os que tinham tal propósito, restariam alguns gatos pingados.
Serão desmascarados nas próximas - caso tenham coragem de ir as ruas sem pegar carona em protesto por outras razões.]


A questão se torna mais grave diante do anúncio de que o governo iria recontar o número de mortos. O ex-futuro secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Wizard, disse que os dados são “fantasiosos ou manipulados”. E que estados e municípios inflam as estatísticas para receber mais recursos. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) reagiu com indignação, dizendo que o governo “insulta” a memória das vítimas.

O ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou, no sábado, numa rede social, que a “manipulação de dados é manobra de regimes totalitários” e que “o truque não vai isentar a responsabilidade pelo eventual genocídio”. O Brasil está se tornando uma espécie de pária pelo comportamento de seu presidente e pelo desastroso gerenciamento da crise. Ocultar ou manipular dados sobre a Covid é ato de extrema gravidade. Governos precisam desses números para planejar o combate à doença, e a sociedade tem todo o direito de ser informada sobre a pandemia.

Felizmente, as instituições estão funcionando, e tentativas de manipulação não deverão surtir efeito. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o corpo técnico da Casa poderia tabular os números junto às secretarias estaduais de Saúde. O TCU também sinalizou que faria o mesmo. Não há como escapar da realidade. Com mais de 37 mil mortos, e sem ter atingido ainda o pico da epidemia, o Brasil já é o terceiro país com maior número de óbitos, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. A cada minuto, morre um brasileiro vítima do novo coronavírus. Esconder esses números não fará desaparecer o letal Sars-CoV-2.

Editorial - O Globo


sábado, 23 de novembro de 2019

STF pode ajudar na inteligência financeira – Editorial - O Globo




Há chance de veredicto sobre sigilo reduzir insegurança jurídica no enfrentamento da corrupção

Embora seja formalmente um julgamento em que o Supremo avaliará o recurso extraordinário contra a quebra de sigilo fiscal, pela Receita, de um posto de combustíveis no interior de São Paulo, o processo ganhou ampla dimensão. A partir do voto do relator do recurso, ministro Dias Toffoli. 

Estão em foco, no voto de Toffoli, o Ministério Público; o ex-Conselho de Controle de Atividades Financeiras, rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira (UIF); o Banco Central, em cuja jurisdição está a UIF, além da própria Receita. O peso deste julgamento aumentou quando Toffoli aceitou em julho pedido de liminar de advogados do senador Flávio Bolsonaro (PSL) contra o compartilhamento de dados de movimentações financeiras atípicas do filho do presidente da República, feito pelo Coaf, de quando ele ainda era deputado estadual fluminense. E estendeu a medida a todos os inquéritos semelhantes. Mais de 900. 

O posto paulista serve de mote para o Supremo tratar dos limites do avanço do Estado sobre a privacidade financeira da sociedade, questão vital na democracia. O julgamento se converte em balizador dos organismos de investigação, um aspecto estratégico no combate à corrupção. Além do mais, o caso terá “repercussão geral”, ou seja, definirá referenciais para os tribunais de todo o país. Ao começar a leitura do seu longo voto, na quarta, e que se estendeu ao início da sessão de quinta, Toffoli ressaltou que o processo nada tinha a ver com Flávio Bolsonaro. Inútil, até porque, sendo um caso de repercussão geral, atingirá todos os recursos desse tipo.

A pouca clareza do voto de Toffoli funcionou como estímulo a prognósticos negativos para o julgamento, do ponto de vista do crucial enfrentamento da corrupção. A sessão de quinta, porém, começou a afastar temores, mesmo que apenas só mais um dos nove ministros restantes tenha votado — Alexandre de Moraes. Há sinais de que não haverá um perigoso tolhimento dos organismos de fiscalização, mas a clarificação de regras para ordenar melhor o fluxo de informações entre eles, sem risco de ferir o preceito constitucional da privacidade.

Mesmo que o ministro Alexandre de Moraes possa ter parecido pouco rígido na graduação da remessa de informações (UIF/Receita) ao MP, há convergências entre sua posição e a do relator Toffoli em aspectos do rito a ser seguido neste circuito de remessa e recebimento de dados. Ainda é necessário definir se, além da Receita, objeto da reclamação, também serão incluídos no julgamento os demais entes que atuam no âmbito da inteligência financeira. Mas os votos do relator e de Moraes, junto a tendências conhecidas de outros ministros, indicam haver grande possibilidade de o combate à corrupção ser preservado, e com mais segurança jurídica. Sem que o Brasil se torne um pária por romper tratados de que participa para o combate à lavagem de dinheiro, instrumento usado pelo crime organizado dentro e fora do país.



Editorial - O Globo

domingo, 16 de junho de 2019

O pêndulo de justiça de Moro

O Brasil passou nos últimos cinco anos por uma depuração moral extraordinária com resultados concretos e o resgate do respeito às forças republicanas. Não há como negar a evolução a que se assistiu no campo do combate à corrupção e aos privilégios e no desarme de quadrilhas profissionais que saquearam o erário. Existe um personagem que, indiscutivelmente, protagonizou o processo, liderando uma cruzada que gerou na sociedade um misto de admiração e gratidão, cujos efeitos irão perdurar por décadas, sem ressalvas, em quaisquer hipóteses ou circunstâncias. O nome dele é Sergio Moro, o agora ex-juiz, hoje na condição de ministro, que galvaniza o reconhecimento por um trabalho tido pela maioria como impecável, capaz de projetá-lo mundialmente, para além das cercanias dos patrióticos fãs diretamente beneficiados pelos seus feitos. Decerto, Moro quebrou paradigmas de impunidade. Enfrentou grandes corporações em continuada prática venal e os “capos” do colarinho branco. 

Impôs a primazia da lei mesmo no inexpugnável ambiente dos poderosos e assim angariou méritos capazes de catapultá-lo à condição de herói nacional, escrevendo seu nome nos anais da história. Por sua monumental contribuição à Justiça, Moro tem merecido reverências dos brasileiros. É ovacionado e aplaudido em público por onde passa. Homenageado nas ruas, retratado como exemplo a ser seguido, em qualquer protesto ou manifestação contra malfeitos. Assumiu a condição de uma unanimidade – rara numa sociedade marcada por desmandos e abusos de autoridades. Nessa estratosfera de um quase semideus não havia como prever que ele seria atingido por um míssil de acusações versando justamente sobre a sua atividade fim: a defesa do Estado de Direito, de maneira firme e intransigente como é de se esperar de um magistrado. Por palavras e atos, ele teria, mesmo que inadvertidamente, atravessado a linha que separa o legal do justo. Influenciado e dirigido investigações. Trocado informações indevidas com colegas da Procuradoria. Maculado o papel de independência cabível a um juiz. Ferido o devido rito processual.

 Essas acusações brotam de uma reportagem veiculada pelo site “The Intercept Brasil” que traz mensagens atribuídas ao ainda juiz Moro e ao procurador da força-tarefa na Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol. São, diga-se de passagem, diálogos extraídos de maneira criminosa, por tráfico ilegal no aplicativo de celular Telegram, que não podem servir de prova em tribunal algum por se tratar de interceptação sem mandado judicial, ferindo a privacidade de autoridades constituídas, em um grave atentado previsto na Constituição. Seria, portanto, inadmissível o uso de seu teor em qualquer eventual ação, muito embora detratores de Moro, de fora e de dentro das cortes legais, mesmo em instâncias superiores, sonhem com a ideia de penalizá-lo e as suas deliberações pelo desvio de conduta. 

Quanto às conversas, elas foram, de fato, no mínimo inapropriadas por envolver duas figuras públicas no pleno exercício de decisões judiciais. No pêndulo da Justiça, Moro oscilou da condição de referência à pária entre os colegas e reacendeu a discussão entre diversas cabeças pensantes do País sobre um antigo dilema humano que questiona se os fins justificam os meios. A resposta natural é não. Fora do primado das regras que orientam a Carta Magna e o Estado Democrático de Direito só restam anarquia e barbárie. Dito isso é preciso dar peso e medidas ao que está em jogo. Evoluir a discussão para a seara das perdas e danos. O diálogo entre Moro e Dallagnol sugere diversas interpretações, parte delas nada desabonadoras aos envolvidos. Em primeiro lugar, não existem ali tratativas ou um conluio de agentes forjando circunstâncias para engaiolar delinquentes a qualquer custo. Não são forças mancomunadas para o delito. Quando muito, se verifica uma proximidade de relações com o objetivo colaborativo. Não se pode desconsiderar o fato de os processos da Lava-Jato estarem solidamente fundamentados em provas. 

Não há indicação de que Moro e os promotores tenham buscado interferir nessa realidade fática dos documentos. Mesmo juízes apontam que ali nada se viu além da mera combinação de etapas operacionais, já previamente autorizadas e em andamento, que estavam a necessitar acertos de logística. O ministro do Supremo Luis Roberto Barroso afirmou, ao analisar a troca de mensagens divulgadas, que o fato incontornável é que a corrupção existiu e que precisa continuar a ser enfrentada como vinha sendo.  
“Tenho dificuldade em entender a euforia que tomou os corruptos e seus parceiros”.
No mesmo tom, o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique foi taxativo: “Houve comentários impróprios, mas o resto é tempestade em copo d’água”. No parecer predominante entre os especialistas em direito, se Moro e Dallagnol quebraram alguma norma de conduta — algo ainda a ser comprovado, no entender deles, dado que as frases dispersas colhidas até aqui apenas sugerem, não apontam cabalmente — serão passíveis de sanções pela corregedoria do CNJ. Nada além disso. Difícil diante de tantas evidências e do tsunami de práticas ilícitas, depoimentos e julgamentos em diversas instâncias que atestaram a roubalheira, que aconteça um retrocesso na Lava Jato desconsiderando o trabalho realizado até aqui. 

No caso do ex-presidente Lula, por exemplo, que tem novo julgamento na semana que vem em um festival de recursos sem fim, não existe nada nas conversas do promotor e do então juiz que o absolva das acusações. Condenado em três instâncias, inclusive pelo STJ, ele conseguiu amplo direito a defesa e encontra-se com os devidos processos já julgados e instruídos. No mundo jurídico é tida como ingênua a ideia de agentes da lei não conversarem em determinado momento sobre diligências e o modus operandi para executá-las. A troca de informações, mensagens e dúvidas ocorre na verdade de maneira corriqueira. Uma proximidade que, a depender do teor do que for tratado, pode despertar suspeitas. Em países como EUA, Itália e Portugal, para citar alguns casos, a figura do “juiz de instrução”, que trabalha com as partes para consolidar provas, é aceitável e até incentivada. Desde que amparada por ampla publicidade dos assuntos abordados. Por aqui não. Mas seria um modelo a avaliar. No episódio envolvendo Moro, muitos acreditam que por ora não é possível falar em ilegalidade e sim em comportamento inadequado, longe de macular a virtuosa operação. 

Por essa vertente de argumentos são lembrados casos considerados mais escabrosos e menos defensáveis – que estão a reclamar explicações faz algum tempo. Dentre eles, as gravações envolvendo o ministro do Supremo Gilmar Mendes e o então investigado senador Aécio Neves, que procurava ajuda, ficaram na memória popular. Bem como a cervejada do então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, devidamente aparamentado de óculos escuros para não ser notado, com o advogado do empresário Joesley Batista, que foi atrás do presidente Temer para gravá-lo em conversas comprometedoras. Não menos estranhas foram as seguidas visitas dos advogados de Lula ao então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratativas que despertaram desconfianças.

O que esses episódios demonstram no conjunto é uma frágil fronteira das relações, costumeiramente atravessada com o risco de se extrapolar papéis pelo caminho. Em todas as esferas, registre-se, do STF à PGR, passando pelos demais tribunais. Moro, o personagem da hora, como alvo da bandidagem de hackers, foi entregue à forra daqueles que o querem ver pelas costas: políticos, advogados, magistrados, um cem número de inimigos que foram afetados, se incomodaram ou invejam o tamanho de suas realizações no âmbito da Lava Jato.

 Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três


quinta-feira, 16 de maio de 2019

Bolsonaro corre o risco de virar um pária


São cansativas as comparações entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, como se o brasileiro fosse uma versão tropical do americano. Os dois não apenas têm personalidades e históricos de vida distintos como também governam em contextos extremamente diferentes.

Jair Bolsonaro nunca terá um partido poderoso como o Republicano, conforme lembra o brasilianista Brian Winter, do Council of the Americas. Tampouco terá uma economia com o vigor da americana. Ao tentar agir como seu ídolo de Washington, corre o risco de ser tratado como pária global, como observamos na sua desastrada excursão pelos EUA mesmo após a mudança de destino de Nova York para Dallas.

Sempre que sofre críticas ou se envolve em escândalos, Trump pode desviar o assunto e citar os espetaculares números da economia americana. Se criticarem a renegociação do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), o presidente pode responder que a taxa de desemprego atingiu seu patamar mais baixo desde que Neil Armstrong pisou na lua em 1969, e que a inflação segue controlada abaixo de 2%. Caso condenem a guerra comercial contra a China, o atual ocupante da Casa Branca pode argumentar que o PIB cresceu a uma taxa anualizada de 3,6% no primeiro trimestre deste ano. Em momentos de polêmica, que dados positivos Bolsonaro tem para citar da medíocre performance da economia brasileira, ainda que não seja o responsável?

E, além da economia, Trump tem o amparo do Partido Republicano. Caso sofra acusações e ataques dos democratas na Câmara, Trump sabe que poderá contar com a proteção dos republicanos no Senado, onde eles têm maioria. As eleições ainda estão distantes e, certamente, os EUA estarão divididos como em 2016. Mas cerca da metade do país apoiará Trump porque o presidente disputará a reeleição como candidato do Partido Republicano. Sabem que, se vencer, nomeará mais juízes conservadores para a Suprema Corte da forma como fez duas vezes neste primeiro mandato. Bolsonaro não tem nem uma fração desta força no Congresso brasileiro, e Sérgio Moro poderia ser nomeado para o Supremo mesmo se Bolsonaro ainda fosse um deputado do baixo clero.

As posições de Trump sobre o meio ambiente, incluindo a decisão de se retirar do Acordo de Paris, são condenadas internacionalmente e podem ter efeitos gravíssimos para o futuro da Humanidade. Mas quase nenhum país pode se dar ao luxo de esnobar o presidente dos EUA por esta medida. Já Bolsonaro será repudiado por suas políticas ambientais, conforme observamos na decisão do Museu de História Natural de Nova York de cancelar um evento no qual o brasileiro seria homenageado.

Para completar, Trump não depende do brasileiro. Bolsonaro é quase irrelevante para o presidente americano. Mesmo na Venezuela, a estratégia contra a ditadura de Maduro não seria muito diferente se o Brasil fosse governado pelo general Mourão. Chama a atenção também que Trump não saiu em defesa de Bolsonaro na briga do presidente brasileiro com Bill de Blasio, prefeito de Nova York. Afinal, seria uma ótima oportunidade para o presidente dos EUA alfinetar seu inimigo que governa a sua cidade natal. Pode ter sido por achar irrelevante ou por não querer se associar a Bolsonaro. Tampouco o líder americano celebrou nas redes sociais a visita do brasileiro a Washington neste ano. Muito estranho.

 Guga Chacra - O Globo