Análise Política
Claro que uma opção seria a abolição do poder de veto, como algumas vezes se aventou. Mas a chance de isso acontecer é zero.
No mais das vezes, diria William Shakespeare, costuma ser muito barulho por nada. Ou quase nada.
Se as iniciativas pela reformulação do Conselho e pela ampliação de uma
governança global baseada na entidade sediada em Nova York não chegaram a
caminhar quando as Nações Unidas exibiam alguma ascendência, mais
dificuldades ainda enfrentarão na nova era marcada pela
“desglobalização”. Esta merece uma análise à parte, mas, em função dela,
a ONU vem perdendo substância aceleradamente, com o impulso ocidental a
que os blocos e instituições dominadas pelas potências do Norte
político tomem seu lugar.
A política exterior brasileira parece estar tateando em busca de um novo
ponto de equilíbrio, entre as pressões políticas crescentes, que tendem
a se tornar insuportáveis, do atlantismo e a força gravitacional dos
parceiros majoritariamente responsáveis por a economia brasileira
continuar caminhando. O governo Luiz Inácio Lula da Silva parece meio
espremido entre não afrontar Washington neste momento de alta tensão e
impedir a obstrução dos vasos econômicos comunicantes com Pequim. Vai
precisar de talento.[que não possui; exceto se deixar por conta do ministro França, o do atraso.]
Um caminho possível é o da Índia e da Turquia, a neutralidade ativa. Mas
os turcos têm o trunfo de serem o flanco oriental da Organização do
Tratado do Atlântico Norte, e não melindrar a Índia é estratégico para o
Ocidente. Este não pode se dar ao luxo de empurrar os indianos para
perto da entente de fato entre russos, chineses e iranianos.
O Brasil se vê restringido por aquele provérbio feito inicialmente para
os mexicanos, mas que a Doutrina Monroe faz sempre ver que é para o
conjunto das Américas: “Tan lejos de Dios y tan cerca a los Estados
Unidos”.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político