J. R. Guzzo
Lula cismou que seu advogado tem de ir para o STF; é a confusão definitiva entre questão pública e capricho pessoal, é a vingança do condenado
O
presidente Lula está armando o que pode vir a ser o maior escândalo em
toda a história do Poder Judiciário do Brasil – a nomeação do seu
advogado pessoal, Cristiano Zanin, para um dos lugares a serem abertos no Supremo Tribunal Federal.
Ele ficaria lá até 2051, quando fará 75 anos e seria obrigado a se
aposentar.
Serão quase 30 anos como ministro do Supremo; Zanin, hoje,
tem 47. Jamais, em qualquer ponto da existência do País, um presidente
da República chegou a esse ponto de degeneração ao tomar uma decisão de
governo.
Na verdade, não há nenhum país sério em todo o mundo em que o
chefe da Nação se rebaixe a fazer o que Lula,
segundo o noticiário, está querendo – colocar na principal Corte de
Justiça do Brasil um empregado que cuida dos seus interesses materiais e
cuja independência em relação ao governo será igual a três vezes zero.
Por
sua conduta prática, pelo que diz em público e pelas decisões que tem
tomado, Lula mostrou nos últimos dois meses que tem tudo para fazer um
governo de calamidades, o pior que o País já teve – sim, pior até do que
o de Dilma Rousseff.
Com essa história de Zanin, porém, ele vai além.
Prova, aí, que está perdendo o controle sobre si mesmo e sobre as
obrigações do seu cargo; mergulhou naquela zona mental sinistra onde os
controles morais desaparecem e o indivíduo começa a ter certeza de que
nada do que ele queira, absolutamente nada, pode lhe ser negado.
O mundo
exterior deixa de existir.
Não há mais qualquer respeito pela opinião,
pelos argumentos ou pela inteligência de ninguém.
Não
há, para Lula, nada que esteja fora dele e mereça a mínima
consideração. Não entende que seu cargo envolva deveres – só tem
desejos.
Ele cismou, agora, que o seu advogado tem de ir para o STF; lá,
naturalmente, deve continuar lhe prestando obediência.
É a confusão
definitiva entre questão pública e capricho pessoal.
Ninguém faz uma
insensatez dessas, salvo, talvez, em alguma republiqueta bananeira de
terceira categoria.
Lula não precisa de mais um serviçal no STF;
já tem, ali, todo o apoio que um político pode desejar e a certeza de
que nos próximos cem anos a “Corte Suprema” não mexerá uma palha contra
ele, faça o que fizer, ou contra qualquer figura do seu entorno.
Seus
riscos jurídicos, hoje, são nulos. Mas ele quer Zanin no STF; é a
necessidade de humilhar a sociedade brasileira – que humilhação pode ser
maior do que ter seu advogado particular como ministro do STF? É,
também, a obsessão de provar que sua vontade está acima de tudo. É,
enfim, a vingança do condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele
está dizendo: “Vocês me puseram na cadeia. Agora, vão ter de engolir o
meu advogado no tribunal de Justiça mais importante do País”.
Uma
das duas nulidades que estão no STF exercendo as funções de “mulher”
disse, na ânsia de agradar a Lula, que a nomeação de um ministro
obviamente subordinado ao presidente da República é “normal”. Normal,
com certeza, para este Supremo que tirou Lula da prisão e lhe entregou a
Presidência;
normal para quem vive de aberrações, viola a Constituição o
tempo todo e dirige um regime de exceção.
Mas é o que pode haver de
mais anormal em qualquer sistema de Justiça que se dá o mínimo respeito.
Havia muita preocupação, até há pouco, com “a imagem do Brasil no
exterior”; a dignidade do País estaria sendo destruída pelo governo
anterior.
E agora, como fica essa imagem? Quem, em qualquer democracia
do primeiro mundo, vai achar “normal” um despropósito como esse?
Zanin,
se for mesmo nomeado, será uma mancha eterna na história do STF.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo