Governo corre para tentar levar
proposta à votação na Câmara este ano
Segundo
um parlamentar da base, os deputados se queixam da pressão de algumas
categorias de servidores em vários estados, para constranger quem é a favor da
mudança nas regras da aposentadoria - até mesmo em locais públicos, como
aeroportos. Também continua vivo o lobby de auditores fiscais, juízes e
procuradores.
Animados
com a possibilidade de novas concessões, os policiais federais, cuja
aposentadoria especial foi mantida, passaram nesta terça-feira a defender uma
idade mínima diferenciada para as mulheres da profissão, de 52 anos. A dos
homens é de 55 anos.
Confirmada
a possibilidade de o governo ceder ao lobby dos servidores, o argumento de que
a reforma tem por objetivo reduzir privilégios do funcionalismo público frente
a trabalhadores do setor privado ficaria comprometido. Números do economista
José Márcio Camargo mostram que, em 15 anos, a aposentadoria do servidor custou
R$ 500 bilhões a mais do que os gastos com a saúde, por exemplo. Os
tucanos defendem que os servidores que ingressaram antes de 2003 possam
continuar se aposentando com integralidade (último salário da carreira) e
paridade (mesmo reajuste dos ativos), desde que paguem um pedágio, que poderia
ser de 30% sobre a idade que falta para requerer o benefício pelas regras
atuais (60 anos, homem, e 55, mulher). Pela proposta do governo, esses
benefícios somente serão assegurados se o funcionário atingir a idade mínima de
65 (homem) e 62 anos (mulher).
O PSDB
também defende benefício integral na aposentadoria por invalidez permanente, mesmo
que o problema que causou a incapacidade ocorra fora do ambiente de trabalho, e
teto do INSS (hoje R$ 5.531) para acumular pensão e aposentadoria. O relator da
proposta, deputado Arthur Maia (PPS-BA), já busca uma alternativa intermediária
ao limite imposto pelo governo de até dois salários mínimos, segundo um líder
governista.
Para o
relator, no entanto, o governo deve acatar apenas as modificações que os
partidos estão sugerindo na última hora se elas forem fundamentais para virar
votos contrários e facilitar a aprovação da reforma. Segundo um parlamentar da
base aliada, o PSDB sinalizou que pode fechar questão em torno do texto
alternativo, que será apresentado à bancada nesta quarta-feira. - O mais
importante é saber o quanto o acolhimento dessas propostas terá apoio à
aprovação da reforma - destacou Arthur Maia, que também sinaliza com fechamento
de questão.
O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez nesta terça-feira uma grande reunião
com os partidos que compõem o chamado Centrão (PP, PR, PSD, PRB, entre outros)
para tratar da reforma da Previdência. PR e PSD deixaram claro que não votarão
a favor, contou um líder da base. - O ideal
é que a Câmara vote a reforma este ano. O próximo ano é muito difícil. Com o
carnaval no meio de fevereiro, é difícil encontrar calendário para Câmara e
Senado. Estou fazendo tudo o que posso - afirmou Maia, que ainda não sabe
quando porá a reforma em votação.
No
Planalto, a avaliação é que, se não for aprovada neste ano pelos deputados, a
mudança nas aposentadorias estará completamente inviabilizada. Mas, aprovada na
Câmara em 2017, a reforma teria um horizonte favorável entre os senadores, já
que o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tem se mostrado
disposto a pautar a emenda constitucional com rapidez. - Se não
passar na Câmara neste ano, podem esquecer a reforma. É conto da carochinha
achar que no ano que vem haverá mais apoio - reclamou um assessor do
presidente.
Um dia
após afirmar que a reforma deveria ser votada ainda em dezembro, o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, declarou nesta terça-feira que é "muito
cedo" para falar sobre a votação na Câmara. - Existe
uma avaliação que vai ser feita, e não há nenhum tipo de compromisso com prazo,
e sim com aprovar (a reforma) - disse Meirelles depois de evento do banco
JPMorgan, em São Paulo.
Ainda
assim, o ministro sinalizou que espera votar o texto ainda na gestão Temer.
O governo
tem recebido sinalizações de parlamentares de que o desgaste de votar a reforma
em 2018, ano eleitoral, seria grande demais. Temer espera que a resistência à
reforma, que foi desidratada, siga diminuindo. Para
convencer os políticos, o Executivo orientou os líderes da base a procurarem os
parlamentares para conversar e apontar que pontos do texto podem ser
negociados, à exceção de idade mínima, com regra de transição para os atuais
trabalhadores e convergência de regras entre os regimes do setor privado (INSS)
e setor público.
Estudo do
Ministério da Fazenda mostra que o déficit per capita no setor público, de R$
78,6 mil, supera em mais de 15 vezes o do regime privado, de R$ 5,1 mil. O
rombo do INSS ficou em R$ 149,7 bilhões em 2015 para pagar 29,18 milhões de
pessoas; no setor público, foi de R$ 77,2 bilhões para pagar 980 mil
servidores. [aposentadoria máxima para o setor privado = R$ 5.531,00, que é também o valor máximo sobre o qual o trabalhador contribui e com alíquota variável de 8% a 11%;setor
setor público, aposenta com o valor integral do último salário, mas, contribui sobre o máximo que recebe e alíquota de única de 11%.
Mais detalhes, clique aqui.]
O Globo