''Palpite'' de Mourão sobre reforma ministerial e movimentação de assessor dele [que já exonerado pelo vice] a favor do impeachment de Bolsonaro pioram a relação entre o vice e o chefe do Executivo. Com novos capítulos do mal-estar, aumentam as chances de os dois não formarem chapa em 2022
A má relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão
parece ter chegado ao ápice. Desde o início da semana trocando indiretas
sobre qual deve ser a composição ministerial do governo, os dois
ficaram ainda mais distantes depois de um assessor do general ter
alertado o chefe de gabinete de um parlamentar sobre a possibilidade de o
Congresso ter de começar a se preparar para analisar um pedido de
impeachment contra o comandante do Palácio do Planalto.
Mourão
tentou colocar panos quentes na situação ao exonerar o assessor
envolvido no caso, Ricardo Roesch Morato Filho. Na quinta-feira, quando
os diálogos de Ricardo foram revelados pelo site O Antagonista, o vice
já havia se manifestado dizendo que “lealdade é uma virtude que não se
negocia” e, ontem, reforçou o seu posicionamento.
Segundo Mourão, o que aconteceu “foi uma situação
lamentável”. “Em primeiro lugar, porque não concordo com processo de
impeachment, não apoio isso. Acabou. Em segundo lugar, porque não é a
forma como eu trabalho. Então, uma troca de mensagens imprudente gera um
ruído totalmente desnecessário no momento que a gente está vivendo”,
comentou o general.
Apesar das declarações à imprensa, até
ontem, Mourão ainda não tinha abordado o tema com o presidente. Ele
justificou que, como “é um problema da minha cozinha interna”, o caso já
está “resolvido”. “Assunto encerrado”, enfatizou.
Na live de
quinta-feira, Bolsonaro criticou Mourão por outro motivo: os comentários
sobre reforma ministerial. O general antecipou que o ministro das
Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está perto de ser exonerado. “Quem
troca ministro é o presidente da República. O vice falou que eu estou
para trocar o chefe do Itamaraty”, afirmou Bolsonaro, na transmissão. “O
que nós menos precisamos é de palpiteiros na formação do meu
ministério. E deixo bem claro: todos os meus 23 ministros eu que escolho
e mais ninguém. Se alguém quiser escolher, que se candidate em 2022.”
Os novos capítulos do mal-estar aumentam as chances de o presidente optar por concorrer à reeleição em 2022 sem o general como vice. Nos últimos meses, o chefe do Executivo já vinha sendo alertado, sobretudo por conselheiros mais ideológicos, que o vice parecia não mais se importar com os interesses do governo.
As ameaças de um
“golpe” contra Bolsonaro acabaram reforçando o argumento. “Qualquer um
que prestar atenção no comportamento de Mourão, nos últimos dias, verá
que ele vem se posicionando como contraponto ao presidente”, frisou um
interlocutor do mandatário, ao Blog do Vicente, do Correio.
O
general, contudo, rechaçou qualquer interesse em tirar Bolsonaro da
cadeira do Planalto. É o que afirmaram, reservadamente, pessoas mais
próximas do vice. Ele admitiu, sim, insatisfação por não ter tanta
importância para as tomadas de decisão do Executivo, mas deixou claro,
assim como nas respostas que deu a jornalistas, que nunca será desleal
ao presidente, mesmo que haja divergências entre os dois.
Política - Correio Braziliense
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