J.R. Guzzo
Um
dos assuntos preferidos do noticiário, das mesas redondas de televisão e
das conversas entre políticos e jornalistas é o impeachment permanente
do presidente da República. [pode ser conduzida por jornalistas de segundo nível, não exige conhecimento dos participantes, fatos são secundários - o importante é a empolgação que o entrevistado dá as versões e/ou palpites que apresenta e, como tudo que envolve o presidente, tem audiência e repercussão = a soma das duas sempre favorece o presidente.] Começou com Fernando Collor, o primeiro a
ser eleito pelo voto popular direto; não parou mais até hoje, num arco
que vai do “fora FHC” ao “fora Bolsonaro”.
Deu certo
com Dilma Rousseff e com o próprio Collor – o que é um índice de
aproveitamento excelente: em cinco presidentes, dois demitidos e três
sobreviventes, incluindo um vice na conta. Não funcionou com Fernando
Henrique e com Lula, nem com o “fora Temer”. Agora é a vez de Jair
Bolsonaro. A diferença entre presidentes que sofreram
o impeachment e os que escaparam não está bem no que fizeram ou
deixaram de fazer. O que conta, na verdade, é unicamente a quantidade de
votos que podem ser obtidos contra e a favor no Congresso Nacional.
Quem
quer derrubar o presidente tem três quintos dos votos dos 513 deputados
e dos 81 senadores? Ou tem ou não tem. Se tem, o impeachment é um
problema real para quem está sentado no Palácio do Planalto, como
aconteceu nos casos de Collor e de Dilma. Se não tem, o impeachment não é
nada.
Bolsonaro já sofreu mais de 60 pedidos de
impeachment nos dois anos em que está na presidência – uma média de um
pedido a casa doze dias de governo. Até agora não aconteceu nada. Na
verdade, nenhum dos pedidos sequer foi aceito pelo presidente da Câmara
dos Deputados para entrar em discussão nas comissões e plenário. Não
é que o impeachment tenha sido recusado; nem chegou a entrar no
Congresso.
Levando-se em conta que o presidente da Câmara, até o fim
deste mês, é o deputado Rodrigo Maia, um dos mais agitados inimigos do
presidente, dá para sentir o grau de dificuldade da coisa toda. Será que
seus sucessores vão fazer o que Maia não fez?
Mais
que isso, não há ninguém na rua – e nem houve nestes dois anos –
pedindo o impeachment do presidente. Sem esse combustível, não há como
acender a fogueira. Dá para levantar fumaça, mas fogo, que é bom, nada. [um lembrete para evitar que os 'inimigos do Brasil' quebrem a cara mais uma vez:
- inútil usar o argumento que a vacina demorou e alegar que a culpa foi do presidente Bolsonaro - sabemos que não foi.
Vale saber que o Japão, um país modelo de eficiência para quase tudo, só no próximo mês é que inicia a vacinação = e, desde agora, todos estão confiantes que vai haver Olimpíada em 2021, em Tóquio e com total segurança.
E os japoneses costumam honrar a palavra e ter eficiência no trato da coisa pública.]
No
impeachment de Dilma Rousseff, só para lembrar, chegou a haver multidão
de 500.000 pessoas em praça pública.
Aí o Congresso treme.
Mas enquanto
o assunto ficar entre os comunicadores, as classes intelectuais e os
advogados da OAB, [a Ordem dos Advogados antes tão prestigiada, agora é um mero palanque para os arroubos vingativos do seu atual presidente] deputados e senadores não se ligam no tema – como não
se ligam quando são odiados por aprovarem o “Fundo Partidário”, por
exemplo, ou alguma outra trapaça qualquer em seu próprio benefício.
Não
adianta dizer que Bolsonaro é o pior presidente do mundo, ou que ele
matou 200.000 brasileiros com a Covid, [aliás, duas inverdades bem mentirosas = nem a finada 'comissão nacional da INverdade', conseguiria ser tão mentirosa tanto] se a população, os deputados e os
senadores estão em outra faixa de onda.
Impeachment, nessas condições, é apenas conversa.
J.R. Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES
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