Desde o início da pandemia, a educação pública em São Paulo vem sendo dirigida por sindicatos de professores, médicos oficiais e um consórcio de burocratas e políticos
O anúncio foi feito com a naturalidade com que se anuncia os horários de funcionamento para os shopping centers, os borracheiros ou os parques aquáticos. “Qual é o problema?”, perguntam os responsáveis pela decisão. Qualquer coisa, é só procurar o serviço de atendimento digital que está aí para resolver as emergências. Todos eles, ali, vivem num mundo onde tudo se resolve online, no home office e no delivery; não há, para os habitantes dessa bolha, a necessidade de uma vida fora de “casa”.
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A pergunta mais sensata que se poderia fazer diante disso tudo é a seguinte: “Os médicos, os professores e as autoridades enlouqueceram?” Não bastou, pelo jeito, manter as escolas fechadas durante o ano de 2020 inteiro; querem dobrar a aposta e repetir a dose em 2021. E depois, se a mídia continuar anunciando 1.000 mortes de covid por dia? As aulas “presenciais” serão suspensas por um terceiro ano consecutivo? E depois? E no ano seguinte?
Também não é uma boa ideia perguntar aos gestores da covid qual a sugestão que eles fazem para os milhões de alunos que não dispõem de computadores, nem de pais com tempo livre para ficarem acompanhando as lições ao seu lado. Muitos, nos fins de mundo à beira do Rodoanel e outras quebradas, não têm nem escolas; imagine-se, então, escolas online. A qualquer observação desse tipo, os que mantêm as salas de aula fechadas vêm com uma resposta automática: “Negacionismo”.
Desde o início da pandemia, a educação pública em São Paulo vem sendo dirigida por sindicatos de professores, médicos oficiais e um consórcio de burocratas e políticos – com a colaboração de muitos grupos de pais de alunos e outros crentes do “distanciamento social”. As autoridades que assinam atos administrativos e aparecem nas entrevistas coletivas foram atropeladas; suas declarações são, na maior parte do tempo, apenas um reflexo das forças que estão realmente tomando as decisões. Vai ser difícil mudar isso.
JR Guzzo, jornalista - Coluna O Estado de S. Paulo - 27 janeiro 2021
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